BATTLESTAR GALACTICA: PRODUTOR FALA DO FINAL DA SÉRIE

domingo | 22 | março | 2009

Ronald Moore, produtor-executivo de Battlestar Galactica, falou ao Hollywood Reporter sobre o final da série, que será exibido na próxima sexta nos Estados Unidos, sobre Caprica e até Jornada nas Estrelas.

Moore disse não ter ideia de como os fãs vão reagir ao episódio final da série, mas garantiu que a equipe produziu o desfecho que desejava. O produtor também definiu que não há planos para reunir o elenco em outro programa. Caprica, o prelúdio de Galactica, que se passa 50 anos antes da série-matriz, tem elenco distinto.

Entre os problemas enfrentados na produção, Moore comentou que a equipe levou algum tempo para acertar a direção do personagem Lee (James Bamber), e que não foi possível produzir alguns enredos, mas reconhece que são problemas comuns do trabalho. Perguntado sobre o suposto projeto de longa-metragem que a Universal estaria desenvolvendo com Glen Larson, criador da série original, Ron Moore disse não saber nada sobre o assunto.

Autor de vários roteiros de Jornada nas Estrelas, incluindo “All Good Things”, o episódio final da Nova Geração, Moore deu os parabéns à equipe que está produzindo o novo longa da série. Na opinião dele, voltar ao início era exatamente o que a franquia precisava para ser revitalizada. Moore atualmente passa por situação similar, com Caprica. Segundo o produtor, a nova série é um drama terrestre, o que muitos fãs podem não apreciar. Moore considera a idéia um risco calculado e uma oportunidade de atrair pessoas que vêem a ficção científica com desconfiança. Ele também considera que os fãs de Galactica assistem à série pela interação dos personagens e não simplesmente para ver alguma coisa explodindo.

O produtor também comentou que os executivos de Hollywood precisam rever sua idéia de que as séries com episódios isolados são menos arriscadas pois exigem menos do público. Na opinião de Moore, histórias como Galactica ou outras séries com longos arcos atraem os fãs mais dedicados e dão espaço aos melhores dramas. O produtor e roteirista também disse que espera que sua ideia de fazer uma série de ficção científica com um drama que dialogasse com os dias de hoje influencie outros programas a fazer o mesmo.

O episódio final de Battlestar Galactica foi ao ar no dia 20, no Sci Fi Channel dos EUA.
>> OMELETE – por Ederli Fortunato


O MUNDO É DOS NERDS

domingo | 22 | março | 2009

Você pode até não admitir, mas eis que finalmente eles despertaram. Aquilo que foi plantado no cinema há anos atrás, pelo filme “A Vingança dos Nerds“, já aconteceu. Os nerds estão dominando o mundo e a porta de entrada deles foi justamente a Internet. O mundo da programação, da linguagem de dados e outras coisas da área de informática já fazem parte do cotidiano de todas as pessoas. E isso só é possível porque há algum tempo atrás essas mesmas figuras que antes eram esquisitas, de óculos e espinhas, passavam o dia inteiro trancadas no quarto lendo e estudando. Pois bem, o que isso tem a ver com cinema? Tudo.

Simplesmente, porque aqueles que eram crianças antigamente, que viviam pregados em histórias em quadrinhos e não perdiam um número nas bancas cresceram e estão aí, ativos e se tornando nomes de peso do filão cinematográfico. O próprio segmento de adaptações de HQ’s é pensado para agradar aos fãs espalhados pelo mundo todo, vide a Comic-Con de San Diego. Se eles gostarem, o público todo vai gostar. Foi o que aconteceu com Sam Raimi e seu “Homem-Aranha“, um sucesso de bilheteria absoluto. Raimi inclusive já deu entrevistas dizendo que era perseguido pelos garotos do colégio, assim como Peter Parker.

Kevin Smith é outro exemplo da safra que está presente no “movimento nerd“. Seus filmes sempre possuem personagens que incluem alguém viciado em cultura pop, HQ’s e coisas do gênero. Quentin Tarantino é um dos maiores Q.I.’s de Hollywood e seus filmes praticamente dominam a cultura mundial. Não há como falar de cinema e não citar “Pulp Fiction” ou “Kill Bill”. E o mundo dos nerds não seria o mesmo sem J.J. Abrams. O homem por trás de “Lost”, uma das séries mais comentadas dos últimos anos, está dirigindo simplesmente a maior jornada da ficção científica: “Star Trek”. E ainda Steven Spielberg, George Lucas, Christopher Nolan e uma série de nerds antigos que dominaram a cena.

nerds_love_buttonEstamos nos acostumando a ver nerds e geeks no cinema. Aliás, dá pra perceber em Hollywood que, até em comédias-paródia, músculos e cultura exagerada ao corpo são sinônimos de mente vazia. Entre os adolescentes que ainda cultuam “High School Musical” ou “Gossip Girl“, salvam-se alguns filmes que vem justamente tratar do contrário desse universo, fazendo até mais sucesso. “Superbad” veio pra mostrar que os garotos que “não pegam ninguém” e são absolutamente sem-graça tem tudo pra fazer sucesso quando têm a chance. “Juno” está aí pra mostrar que nem só de futilidades e vaidade vive uma garota adolescente, e ainda assim você se apaixona por ela. Finalmente, ter passado a infância lendo, preso a videogames e HQ’s está começando a valer a pena.
>> RAPADURA BLOG – por Marcos Nascimento


LIGEIA DE EDGAR ALLAN POE: O NOVO POSTER DO FILME

sábado | 21 | março | 2009

Edgar Allan Poe's Ligeia

Um novo pôster foi divulgado para a promoção do terror “Ligeia”, novo longa inspirado nos trabalhos de escritor Edgar Allan Poe. A direção está nas mãos de do estreante Michael Staininger e protagonizando temos Wes Bentley (“O Motoqueiro Fantasma”) e Kaitlin Doubleday (“Aprovados”). 

Escrito por John Shirley, roteirista e produtor de “O Corvo”, o longa conta a história de Jonathan Merrick (Bentley), um famoso escritor e professor, que é enfeitiçado pela bruxa Ligeia Romanova (Sofya Skya). Portadora de uma doença fatal, a única saída da garota é roubar almas das outras pessoas para manter sua imortalidade. Totalmente fora de si, Merrick e sua noiva Rowena (Doubleday) terão de resolver esse mistério e mandar de uma vez por todas a bruxa para as profundezas.

No elenco temos Mackenzie Rosman (da série “O Sétimo Céu”), Michael Madsen (“A Filha do Chefe”), Eric Roberts (“Santos e Demônios”), Cary-Hiroyuki Tagawa (“Planeta dos Macacos”), Christa Campbell (“O Sacrifício”) e Lydia Hull (“O Dono da Festa”).

Para assistir o trailer clique aqui, no site oficial. A data de estréia ainda não foi divulgada.
>> CINEMA COM RAPADURA – por Pablo Cordeiro


“X-MEN ORIGINS – WOLVERINE”: ASSISTA AO NOVO COMERCIAL DE TV

sábado | 21 | março | 2009

Vídeo tem cenas novas dos mutantes coadjuvantes

Um novo comercial de TV de X-Men Origins: Wolverine foi divulgado. O começo tem cenas já vistas, mas, assim que começam a ser apresentados os mutantes coadjuvantes, surgem trechos inéditos.

Com direção de Gavin Hood, o filme contará a origem do mutante canadense, sua passagem pelo programa Arma X e seu relacionamento com vilões e aliados. O filme entra em cartaz no Brasil em 30 de abril.
>> OMELETE – por Marcelo Hessel

Assista:


“LESBIAN VAMPIRE KILLERS”: MAIS FOTOS DO FILME CAÇADORES DE VAMPIRAS LÉSBICAS

sábado | 21 | março | 2009

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A produção inglesa Lesbian Vampire Killers ganhou mais fotos. Tinha mesmo que ter esses nerds como protagonistas? Podia ser um filme de vampiras lésbicas caçando um grupo rival de vampiras lésbicas…

No filme, James Corden e Matthew Horne interpretam os dois sujeitos que desafiam a horda homossexual de chupadoras de sangue. A direção é de Phil Claydon. Lesbian Vampire Killers estreia nesta sexta-feira no Reino Unido.
>> OMELETE – por Marcelo Hessel

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O SPIRIT DOS QUADRINHOS

sábado | 21 | março | 2009

Crédito: reprodução

A partir desta semana, o cinema vai levar Spirit a um rol enorme de pessoas que nunca ouviram falar do personagem mascarado. Isso vai levar a um comportamento semelhante ao visto em outras adaptações para a tela grande. Criam-se dois Spirits: um em forma de filme, outro em quadrinhos.

Para a grande massa, que até então ignorava a existência do herói, a que versão que irá valer será a cinematográfica. Para quem já leu as histórias impressas, a referência serão os comics norte-americanos.

“Spirit – O Filme” estreia nesta sexta-feira. A se pautar pelo trailer, a caracterização visual tem um ar noir, carregado de cromaquis, repetindo “Sin City”, longa de 2005. O déjà-vu tem razão de ser. “Sin City” foi co-dirigido pelo criador da série em quadrinhos, Frank Miller. É o mesmo Miller que está à frente desta adaptação de Spirit.

O filme tem de ser visto para, só então, ser emitido um juízo sobre ele. É o difícil método do crítico: só opinar sobre a obra após dar a ela a chance de ser apreciada. Até lá, não custa recuperar o Spirit original, o dos quadrinhos, até para dar a oportunidade ao grande público, que ora passa a ter acesso ao herói, de conhecê-lo melhor. 

A primeira história de Spirit foi publicada nos Estados Unidos em 2 de junho de 1940. Saiu num suplemento dominical, distribuído a jornais de todo o país. O caderno tinha 16 páginas. Trazia três histórias em quadrinhos completas. Spirit era o carro-chefe. Cada aventura dele era contada em sete páginas. Will Eisner (1917-2005) foi convidado a tocar o projeto. Criaria a história principal e editaria as demais. Foi assim que imaginou Spirit. O resultado foi um herói mascarado, sem poderes, que lutava contra o crime.

A história de estreia mostrava como o detetive Denny Colt se tornou o espírito, nome usado em algumas das aventuras dele publicada no Brasil. O vilão da vez era o Dr. Cobra. O cientista era procurado pela polícia. Colt descobre onde está escondido. Quando tenta capturá-lo, é atacado e dispara contra um enorme frasco. O tiro libera um líquido, que atinge o detetive. Imediatamente, entra em estado de animação suspensa. Dado como morto, é enterrado no cemitério Wildwood, em Central City.

Danny Colt, surpreendentemente, acorda, foge do túmulo e captura Cobra. Prefere que todos pensem que está morto e adota a persona de Spirit e passa a ajudar a polícia.

Crédito: reprodução Crédito: reprodução

 

Poucas pessoas sabem a identidade de Colt. Duas delas: o Comissário Dolan, da polícia, que o vê como filho, e Ébano Branco, jovem e ingênuo parceiro do herói. Na primeira história, Spirit não usava máscara. O pano sobre os olhos surgiu por conta da popularidade dos super-heróis. O gênero havia surgido dois anos antes, com Super-Homem. A máscara, segundo Eisner, foi uma exigência de quem bancava o suplemento dominical. “A máscara era um pouco boba, tanto eu como o ‘Spirit’ nos sentíamos inseguros, mais isto impediria o desenrolar da história e eu deixei ficar assim”, disse o quadrinhista.

A imposição da máscara não foi a única mudança nas histórias seguintes. Aos poucos, Eisner dividiu o espaço dado ao herói com outros personagens. Eram figuras secundárias, algumas criadas apenas para aquela narrativa, mas que alcançavam status de protagonistas. Pelo menos naquela trama. O desenhista começou a fazer contos nas sete páginas de que dispunha. Foi – hoje se vê – um ensaio do que consolidaria no fim da década de 1970 com as graphic novels. O formato das graphic novels era a forma que Eisner encontrou para produzir histórias em quadrinhos autônomas, adultas,  como se fossem romances.

Graphic novels, na verdade, foi o nome que os norte-americanos popularizaram para o que a Europa e a Argentina já faziam anos antes na forma de álbuns. Mas o nome colou e Eisner ajudou a abrir um caminho até hoje explorado pelo mercado editorial estadunidense. Ele mesmo criou vários trabalhos assim, bastante autorais. Spirit foi publicado na década de 1940 e no começo da seguinte. Eisner deixou o personagem para se dedicar a outras tarefas empresariais. Mas a marca ficou. Ficaram também as inovações. Temáticas, de uso da linguagem, de construção narrativa.

Crédito: reprodução Crédito: reprodução 

 

No Brasil, Spirit fou publicado por muito tempo na revista “Gibi”, publicada pelo grupo “O Globo”, de Roberto Marinho (1904-2003). A publicação – que completa 70 anos agora em 2009 – teve o herói mascarado nas duas fases da revista. “Duas” porque a revista voltou a ser editada em 1974. Nas bancas, houve também algumas edições especiais, lançadas pela Rio-Gráfica Editora. E outras iniciativas, todas de curta duração. A NG Editorial lançou entre 1987 e 1988 seis números de uma revista homônima.

A Abril publicou outra revista mensal entre junho de 1990 e setembro de 1991. Foi cancelada no número 16. Em nota, a Abril disse que a revista voltaria reformulada. Voltou. Mas não pela Abril, mas, sim, pela Metal Pesado/Tudo em Quadrinhos. Foi uma edição única, intitulada “Will Eisner´s Spirit Magazine”, lançada em 1997. Outra tentativa ocorreu numa parceria entre as editoras Acme e Devir. A nova revista foi lançada entre 1999 e 2000. Teve oito números. Paralelamente às bancas, a L&PM lançou em livrarias cinco álbuns do personagem. O primeiro saiu em 1985 – teve pelo menos quatro edições – e o último, em 1991.

A pessoa que vir Spirit no cinema e se interessar pelo personagem vai encontrar várias graphic novels de Will Eisner. Mas não Spirit. No máximo, pode encontrar algum álbum perdido da L&PM, material hoje esgotado. Ou álbuns de luxo do personagem, importantes, publicados em inglês. O Spirit descrito acima não dá as caras por aqui há um bom tempo. Nas bancas, há um encadernado da Panini com novas aventuras do personagem, feitas por outros quadrinistas. Não se engane. Não é o mesmo Spirit. Prefira os sebos.
>> BLOG DOS QUADRINHOS – por Paulo Ramos


“CREPUSCULO” EM ANIME NO JAPÃO

sexta-feira | 20 | março | 2009

Segundo reporta o site oficial do canal americano Sci Fi Channel, o filme “Crepúsculo” terá a sua versão em anime no Japão. A afirmação vem da própria diretora durante os comentários em áudio do DVD, conforme segue nesse trecho da conversa:

Ator Robert Pattinson (Edward Cullen): “Eu pareço um asiático nesta cena. Estou parecendo um personagem de anime.”

Hardwicke: “Ei, eu acho que irão fazer uma versão em anime lá no Japão. Então você será um personagem de anime.”

Hardwicke dirigiu a adapatação do primeiro livro da série de Stephenie Meyer, mas ainda não foi definido se irá dirigir as sequencias. O DVD e Blu-ray de “Crepúsculo” chegarão nas lojas no dia 21 de março nos EUA e será distribuido pela produtora Summit Entertainment, a mesma que irá lançar, em 23 de outubro, o longa em computação gráfica “Astro Boy”, baseado no mangá de Osamu Tezuka.
>> OHAYO! – por Tom Marques


“PRESSÁGIO: EM NOVO FILME, NICOLAS CAGE MERGULHA FUNDO NA FICÃO CIENTÍFICA

sexta-feira | 20 | março | 2009

O ator Nicolas Cage já combateu terroristas, traficantes, prisioneiros e até ele próprio em uma carreira diversificada, mas em “Presságio” ele pode ter encontrado seu adversário mais difícil até agora – a mãe natureza.

O filme estreia nos cinemas dos Estados Unidos na sexta-feira (20), e mais uma vez mostra o ator ganhador do Oscar salvando a humanidade, desta vez em um papel que aborda os limites entre ficção científica e fantasia.

Para o ator, este filme marca mais um distanciamento dos filmes de ação direta como “A lenda do tesouro perdido”, que se tornaram seus maiores trunfos nas bilheterias.

Cage, 45, ganhou fama representando tipos românticos e excêntricos em filmes de baixo orçamento, como “Despedida em Las Vegas” (1995), que lhe rendeu o Oscar de melhor ator.

Mais tarde ele se reinventou como um herói de filmes de ação em “A outra face”, “Con Air – A rota da fuga” e outros trabalhos. “Nesta época, Hollywood me via como um tipo excêntrico, e não necessariamente um ‘excêntrico viril'”, disse Cage em entrevista, falando sobre sua imagem camaleônica.
 
Excentricidade
Agora ele está mais uma vez lançando pontes sobre gêneros distintos, com filmes que abordam a fantasia e a ficção científica, mas continua a explorar sua imagem de herói de ação com um traço de excentricidade, sua marca registrada.

Seus próximos papéis incluem o de herói de quadrinhos em “Kick-Ass”, um feiticeiro em “The sorcerers apprentice” e um cavaleiro do século 14 em “Season of the witch”. Em “Presságios” ele faz o papel de John Koestler, um pai solteiro e professor de astrofísica que decodifica uma mensagem que profetiza desastres. Cabe a Kostler avisar o resto do planeta.

A mensagem é passada a Koestler por seu filho, que viaja com ele. Koestler também entra em conflito com seu próprio pai, um pastor cristão, enquanto o filme explora temas como paternidade, espiritualidade e destino.

Destino
Cage, que tem dois filhos e foi casado três vezes, incluindo as uniões com a atriz Patricia Arquette e com Lisa Marie Presley, disse que o filme fala sobre temas que têm significado para ele.

“Eu não acredito em acidentes. Eu acho que tudo acontece, sim, e leva a alguma outra coisa. Acredito em causa e efeito”, declarou.

Sua crença em predestinação pode dar a impressão de que o sobrinho do diretor de “O Chefão”, Francis Ford Coppola, acredita que os contatos de sua família fizeram dele uma aposta certeira para o mundo das artes. Mas Cage disse que isso não é verdade.
 
“Acho que tudo é uma questão de predestinação, mas também acho que se eu fosse eu e não tivesse nascido na família na qual nasci, ainda assim teria ido atrás de algum tipo de atividade expressiva”, explicou.
>> G1 – DA REUTERS


“EXTERMINADOR DO FUTURO 4”: LINDA HAMILTON É CONFIRMADA NO FILME

sexta-feira | 20 | março | 2009

Linda Hamilton

Segundo o site CHUD, Linda Hamilton fará uma participação em Exterminador do Futuro: A Salvação, o quarto capítulo da saga O Exterminador do Futuro. Linda – que foi Sarah Connor, mãe de John Connor, nos dois primeiros filmes – não vai poder ser vista no longa, e sim, ouvida.

De acordo com uma fonte do site, a voz da atriz surge no começo do filme narrando o início da história.

Ambientada em 2018, a trama acompanha John Connor (Christian Bale), o homem destinado a liderar a resistência humana contra a Skynet e seu exército de Exterminadores. Mas o futuro no qual Connor foi criado para acreditar foi parcialmente alterado pela chegada de Marcus Wright (Sam Worthington), um estranho cuja última memória é a de estar no corredor da morte. Connor precisa entender se Marcus foi enviado do futuro ou resgatado do passado, se é aliado ou inimigo.

Completam o elenco Anton Yelchin (Kyle Reese), Moon Bloodgood (Blair Williams), Common (Barnes), Charlotte Gainsbourg (Kate Connor), Jadagrace (Star) e Helena Bonham Carter.

O roteiro é de Michael Ferris e John Brancato, a mesma dupla responsável por O Exterminador do futuro 3: A rebelião das máquinas, McG (As Panteras: Detonando) será o diretor.

O filme estréia em 21 de maio de 2009 no EUA.
>> ENTRETENIMENTO NEWS – por Júnior

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“UP”: DESENHO ANIMADO ABRIRÁ PELA PRIMEIRA VEZ O FESTIVAL DE CANNES

sexta-feira | 20 | março | 2009

Animação em 3-D ‘Up’, da Pixar, conta história de um homem que
viaja em balões de hélio para a América do Sul

A animação em 3-D ‘Up’, da Pixar, vai abrir o Festival de Cannes deste ano. O anúncio foi feito nesta quinta-feira, 19, pelos organizadores da premiação.  O filme é uma comédia que conta a história de um homem de 78 anos que viaja em balões de hélio para a América do Sul.

 A escolha marca o retorno de Cannes a filmes mais populares depois do ano passado, quando o drama “Ensaio sobre a Cegueira” abriu o festival.”Up” é a primeira animação escolhida para a abertura do festival de cinema mais prestigiado do mundo. Ainda não está decidido se o filme concorrerá a algum prêmio.

 A Pixar, subsidiária da Disney, espera que “Up” repita o sucesso de outros desenhos como “Toy Story”, “os Incríveis”, “Procurando Nemo” e “Wall-e”. O festival de Cannes vai do dia 13 ao 24 de maio. A estreia de “Up” nos EUA está marcada para 29 de maio. O elenco completo do festival será anunciado em 23 de abril.
>> O ESTADO DE SÃO PAULO – por Associated Press

Confira abaixo o trailer legendado:


“ONDE VIVEM OS MONSTROS”: SAIU O PRIMEIRO PÔSTER

sexta-feira | 20 | março | 2009

onde-moram-os-monstros_posteraO novo filme de Spike Jonze, a mente por trás de Quero Ser John Malkovich e Adaptação (e genro do lendário Francis Ford Coppolla) divulgou recentemente em seu blog o primeiro pôster de seu novo filme, Onde Vivem os Monstros. Veja ao lado.

Onde Vivem os Monstros conta as aventuras de um garoto chamado Max, que foge de casa depois de ser mandado para a cama sem jantar. Durante suas aventuras, Max veste uma roupa de lobo (a razão, aliás, do seu castigo) e encontra diversas criaturas místicas.

O filme, a ser lançado em 3 de outubro de 2010, mesclará atores reais, marionetes e animação digital. Entre interpretações reais e vozes, estão no elenco Catherine Keener, Benicio Del Toro, Forest Whitaker, Lauren Ambrose, Catherine O´Hara, Tom Noonan, Michael Berry e James Gandolfini.
>> HQ MANIACS – por Thiago “Dinobot” Colás


ANNE STEELYARD: UMA CORAJOSA ARQUEÓLOGA EM QUADRINHOS

sexta-feira | 20 | março | 2009

anne-steelyard_capaA romancista americana Barbara Hambly é uma autora versátil, embora nem sempre sucesso de vendas. Já escreveu fantasia, ficção histórica, mistério, bem como livros baseados no universo de franquias como Star Trek, Star Wars e A Bela e a Fera.

Agora, Hambly decidiu ampliar ainda mais seus horizontes. Há pouco tempo, lançou nos EUA através da Penny-Farthing Press a graphic novel Anne Steelyard and the Garden of Emptiness: An Honorary Man. Haverá duas continuações a serem lançadas em breve – os três volumes narram a história da arqueóloga e exploradora Anne Steelyard. A arte é de Claude St. Aubin, Alex Kosakowski, Ron Randall e Mike Garcia.

De acordo com Barbara, sua protagonista é levemente inspirada em Gertrude Bell, renomada arqueóloga que trabalhou no Oriente Médio um pouco antes do começo da 1ª Guerra Mundial. “Anne também tem cabelos ruivos, mas a semelhança termina aí”, diz a autora.

Hambly queria contar uma aventura com toques de mistério sobrenatural. Diferente da outra arqueóloga famosa nos jogos, cinema e quadrinhos, Anne não tem à sua disposição a fortuna de Lara Croft. Na época em que vive, as expectativas de seu pai são de que se case com um aristocrata e que se transforme em uma dama da sociedade.

Assim, Anne Steelyard é uma mulher inteligente e ambiciosa, em um mundo onde os homens dominam a economia, as universidades e a política. Para ela, escavar cidades e tesouros do passado não é um caminho para a fama e fortuna, e sim uma promessa de liberdade. Este é o pano de fundo para a história, repleta de aventuras no deserto, cavalgadas com beduínos, lutas com demônios da areia e com xeiques assassassinos secretamente a serviço dos alemães.
>> HQ MANIACS – por Andréa Pereira


“ESTRANHOS NO PARAÍSO”: TERRY MOORE FAZ EDIÇÃO ESPECIAL

sexta-feira | 20 | março | 2009

O escritor e desenhista Terry Moore não conseguiu deixar em paz as personagens que lhe tornaram famoso. Ele acaba de anunciar em seu blog que fará uma edição especial de Estranhos no Paraíso, revisitando a série após a conclusão.
 
Ele divulgou também a capa da edição, que você pode conferir acima.
 
Desde o final da série, em 2007, Moore se envolveu em duas novas séries na Marvel e lançou sua nova criação, Echo, pela sua própria editora, a Abstract Studios.
>> OMELETE – por Érico Assis


O QUE DIZEM POR AÍ SOBRE OS QUADRINHOS?

sexta-feira | 20 | março | 2009

hq_bla-blaO que leitores famosos e artistas consagrados dos quadrinhos pensam sobre a nona arte e o que andaram dizendo sobre o assunto?

Essas questões são respondidas no site Quotes On Comics, uma compilação de depoimentos curtos, opiniões e até excertos de letras de músicas, ditos ou escritos por diversas personalidades, sobre as HQs.

Os textos, que podem ser lidos em sequência ou escolhidos por autor, revelam a diversidade de pessoas que amam – e outras que odeiam – os quadrinhos e formam um banco de dados de citações que pode servir de material de argumentação e fonte de pesquisa ou, simplesmente, como uma divertida leitura.

Dentre frases de achaques, como uma de Fredric Wertham (o psiquiatra norte-americano que desencadeou a “caça às bruxas” aos gibis nos anos 1950), há testemunhos singelos de celebridades, como o cantor Elvis Presley, e outros contundentes, como o do cineasta Ang Lee, que afirmou: “Crianças não lêem mais quadrinhos. Elas têm coisas mais importantes para fazer – como jogar videogame”.

O Quotes On Comics atualiza diariamente o número de citações – até o fechamento desta nota, já estavam registradas 150 delas.
>> UNIVERSO HQ – por Marcus Ramone


WATCHMENSCH: DR. MANHATTAN VIRA BROADWAY EM PARÓDIA DE WATCHMEN

quinta-feira | 19 | março | 2009

‘Watchmensch’ tira sarro das adaptações de HQ no cinema.
Quadrinho de 24 páginas tem roteiro de Rich Johnston.

Capa da HQ 'Watchmensch', de Rich                Johnston e Simon Rohrmuller (Foto: Reprodução/CBR)A onda de paródias de “Watchmen”, a HQ que virou filme, está voltando aonde tudo começou: os quadrinhos. Foi lançada, no último dia 14 nos Estados Unidos, uma versão cômica da conceituada graphic novel, batizada de “Watchmensch”.

A HQ de 24 páginas é assinada por Rich Johnston, colunista do site especializado Comic Book Resources, e tem desenhos de Simon Rohrmuller (clique para ler um preview, em inglês, de 6 páginas).

Além de brincar com os nomes dos superheróis da HQ original — Rorschach vira Spottyman (algo como “manchinha”), Nite Owl vira Nite Nurse (enfermeira noturna), Dr. Manahttan vira Broadway e Ozymandias, Ozzyosbourne — “Watchmensch” tira sarro da onda de adaptações de quadrinhos em Hollywood e do imbróglio judicial recente que chegou a ameaçar o lançamento de “Watchmen”.

Em vez de super-heróis, os personagens da paródia são descritos como “um time de advogados que mantiveram negociações com a indústria de quadrinhos tem de se unir novamente contra uma conspiração”.
>> G1, em São Paulo

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WATCHMEN: DVD DE “CONTOS DO CARGUEIRO NEGRO” NO BRASIL

quinta-feira | 19 | março | 2009

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O DVD da animação Contos do Cargueiro Negro já está em pré-venda no Brasil, com data de lançamento prevista para 27 de abril.

O disco, distribuído pela Paramount, vem com áudio em inglês e português, e legendas nestas duas línguas e também em espanhol.

A animação conta com direção de Mike Smith e Daniel DelPurgatorio e produção de Zack Snyder. A trama narra a provação de um náufrago, enquanto ele tenta voltar à sua cidade natal e alertar sua família da iminente chegada de um navio fantasma. O náufrago é dublado por Gerard Butler, o Leônidas de 300. A intenção da Warner Bros. é mais tarde lançar uma edição de luxo de Watchmen, com Contos do Cargueiro Negro inserido no filme, tal qual acontece no gibi.

No mesmo DVD está também o documentário Sob o Capuz, baseado na biografia do Coruja original e com depoimentos dos atores do filme.

Nos extras, há ainda o documentário Story Whitin a Story: The Books of Watchmen e o primeiro capítulo da versão motion comics de Watchmen.

Watchmen se passa em 1985, em uma América alternativa, onde super-heróis uniformizados são parte da sociedade e o Relógio do Juízo Final, que mede a tensão entre os EUA e a União Soviética, marca permanentemente cinco para meia-noite.

Quando um de seus antigos colegas é assassinado, Rorschach desvenda uma trama para matar e desacreditar todos os super-heróis, do passado e do presente. Conforme ele reencontra sua antiga legião de combatentes do crime – um grupo de heróis aposentados, onde apenas um possui de fato superpoderes – Rorschach vislumbra uma ampla e perturbadora conspiração relacionada ao passado deles e com conseqüências catastróficas para o futuro.

No elenco, estão Billy Crudup (Dr. Manhattan), Jackie Earle Haley (Rorschach), Malin Akerman (Espectral II), Matthew Goode (Ozymandias), Patrick Wilson (Coruja II), Jeffrey Dean Morgan (Comediante) e Carla Gugino (Espectral I). O filme conta com Zack Snyder, de 300, na direção.
>> HQ MANIACS – por Andréa Pereira

Assista abaixo o trailer do DVD da animação dos Contos do Cargueiro Negro, trama paralela a Watchmen – O Filme.


MAURICIO DE SOUSA PRESENTEIA RONALDO COM DESENHO

quinta-feira | 19 | março | 2009

mauricio-de-sousa_ronaldo2O treino do Corinthians na tarde de terça-feira, dia 17 de março, foi diferente. Mauricio de Sousa, o criador da Turma da Mônica, esteve por lá para homenagear o atacante Ronaldo com um desenho do jogador, ao estilo da turminha.

Acompanhado por parentes e amigos, o cartunista acompanhou o treino enquanto esperava para falar com o jogador. No encontro, os dois trocaram autógrafos e posaram para fotos. O cartunista, entretanto, confessou torcer pelo São Paulo.

mauricio-de-sousa_ronaldoMauricio de Sousa já adaptou para os quadrinhos os jogadores Pelé, Ronaldinho Gaúcho (cuja revista mensal é publicada atualmente pela Panini Comics) e até mesmo Diego Maradona.

Na década de 60, criou a Turma da Mônica. Os personagens fizeram sua estréia pela Editora Continental, passando pela Editora Abril de 1970 a 1986, pela Editora Globo de 1987 a 2006 e a partir de 2007 são publicados pela Panini Comics. Além de fazer sucesso nos quadrinhos, a Turma da Mônica já rendeu filmes, desenhos animados e uma grande variedade de produtos licenciados, conquistando não só o Brasil como também diversos outros países.
>> HQ MANIACS – por Andréa Pereira


“A NOITE DOS PALHAÇOS MUDOS”: ATORES VENCEM PRÊMIO SHELL

quinta-feira | 19 | março | 2009

Crédito da foto: site da Revista Bacante

Domingos Montagner e Fernando Sampaio venceram o 21º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo na categoria Melhor Ator. A cerimônia de entrega foi na terça-feira à noite. A dupla – mostrada na foto acima – venceu pelo trabalho na peça “A Noite dos Palhaços Mudos“. Os personagens-título são baseados em quadrinhos feitos por Laerte.

A peça da companhia La Mínima teve outras duas indicações ao prêmio: direção, Alvaro Assad, e música, Marcelo Pellegrini. Na peça, os dois personagens mudos tentam resgatar um nariz de palhaço, mantido por uma organização que tenta exterminar a classe circense.

O programa “Metrópoles”, da TV Cultura, exibiu uma reportagem sobre a peça em 2008. A matéria mostra um pouquinho da atuação de Domingos Montagner e Fernando Sampaio. E traz um depoimento de Laerte. Segundo ele, a dupla recriou os palhaços no palco. A reportagem mostra também um trechinho de outra adaptação, a de “Piratas do Tietê“.
>> BLOG DOS QUADRINHOS – por Paulo Ramos


A FÉ NO MARAVILHOSO

quinta-feira | 19 | março | 2009

Clássico do escritor cubano Alejo Carpentier permite
revisitar o projeto de uma estética latino-americana

Desconcertado com a inversão de aparências, começa a se perder no labirinto de uma ação que se enreda e se desenreda em si mesma.” (Alejo Carpentier) Concerto Barroco (Companhia das Letras, 88 págs.).Lezama Lima, se perfila entre os maiores expoentes das letras cubanas e latino-americanas em todos os tempos.Bolero de Ravel em Paris; na estréia de Stravinsky em Veneza; assistiu a vários concertos de Villa-Lobos e teve oportunidade de comentá-los em artigos de jornal. Assim, identificou em Villa-Lobos, já em 1928, tendo Carpentier apenas 24 anos, “um dos poucos artistas nossos que se orgulham da sensibilidade americana, sem se preocupar em desnaturá-la”.Auguste Comte, cujo delírio foi levado particularmente a sério no Brasil, onde surgiu uma igreja e um culto verdadeiro. Portanto essa leitura do novo, do insólito, deu-se em duas mãos de direção.

Em raros momentos um novelista se aproximou tanto da música como Alejo Carpentier (1904-1980), de quem sai agora, em português,

Mais conhecido entre nós por seu extraordinário romance O século das luzes, no qual relata as vicissitudes da Revolução Francesa no mundo colonial e demonstra, de modo dramático, a impostação das liberdades burguesas no mundo caribenho, em Concerto Barroco, com a mesma sensibilidade e criatividade, revela-se um outro lado fascinante desse escritor que, junto com

Perguntado certa vez sobre o que o mobilizava além da literatura, esse jornalista, editor e funcionário do serviço diplomático de Cuba respondeu: “A música, indubitavelmente”. Com pai e avó músicos, “a prática da música foi coisa corrente em minha família desde várias gerações. Daí que eu estudei a técnica musical com grande facilidade, apaixonando-me, desde a adolescência, pelos problemas da arte sonora”.

Como jornalista e, depois, como diplomata, ele mesmo foi testemunha de vários momentos cruciais da história da música. Esteve presente na criação do

Uma estética da fé
Como concepção estética, Alejo Carpentier desenvolveu o conceito de barroco como uma espécie de universal do espírito humano. Escreveu, no ensaio “O barroco e o real maravilhoso”: “Nossa natureza é indômita, como nossa história, que é a história do real maravilhoso e do insólito na América (…) e se nosso dever é o de revelar este mundo, devemos mostrar, interpretar nossas coisas. E estas coisas se apresentam como coisas novas a nossos olhos. A descrição é inequívoca, e a descrição de um mundo barroco há de ser necessariamente barroca”.

Por insólito ele entendia a própria carnavalização da política e da vida social tentando reproduzir uma Europa que mal se compreendia do lado de cá do Atlântico. Como exemplo ele cita a “religião positivista” de

Durante o período no qual prevaleceu a leitura europeizada do novo mundo, isto é, dos séculos XVI ao final do XIX, a preocupação básica foi a de integrar esse novo no inteligível, evitando rupturas profundas na linguagem ocidental. Pode-se dizer que, desde os cronistas coloniais até os cientistas viajantes, a submissão da realidade percebida à linguagem européia constitui o esforço mais notável.

concerto-barroco_carpentieraLogo nas primeiras páginas de Concerto Barroco há a descrição de um quadro, onde esta submissão fica clara: “Um Montezuma entre romano e asteca, com um ar de César coroado com penas de quetzal, aparecia sentado num trono em que se mesclavam o estilo pontifical e o de Michoacán”. Sob essa dualidade de referências, temos a assunção do barroco como a nossa primeira e autêntica expressão, o que se deu sob a égide do modernismo.

Muitos analistas indicam o barroco como uma invenção moderna, um “não-estilo” se tomado em termos históricos. Carpentier preferiu relacioná-lo com a fé. “Muitos se esquecem de que o maravilhoso começa a sê-lo de maneira inequívoca quando surge de uma inesperada alteração da realidade (o milagre), de uma revelação privilegiada da realidade, de uma iluminação inusual ou singularmente favorecedora das inadvertidas riquezas da realidade, de uma ampliação das escalas e categorias da realidade, percebidas com particular intensidade em virtude de uma exaltação do espírito que o conduz de certa forma a um ‘estado limite’. Para começar, a sensação do maravilhoso pressupõe a fé”.

Este ponto de vista místico, formado mais pelos sentidos do que pela razão, é a plataforma estética de Carpentier. Analisando, por exemplo, a arquitetura de Havana, suas ruas mal traçadas, as sacadas que se projetam sobre a rua de forma desordenada, produzindo sombras na calçada, comenta: “Alguém chega a se perguntar, hoje, se não se oculta uma grande sabedoria nesse mal traçado que ainda parece ditado por uma necessidade primordial ― tropical ― de jogar o esconde-esconde com o sol, buscando superfícies, arrancando sombras, fugindo de seus tórridos anúncios de crepúsculo”.

Assim, a sustentação do pseudo “mal feito” não corresponde ao erro, e permite vislumbrar um acerto que não pertence ao domínio da racionalidade.

A experiência musical como literatura
Não à toa, Carpentier considerava Concerto Barroco a sua “suma teológica”. Ela não traz a discussão sobre a música e a composição musical para dentro do romance, mas coloca a novela na andadura da própria composição musical: a feitura de uma ópera sobre Montezuma, de autoria de Antonio Vivaldi e, ao que parece, depois repetida por outros autores.

O tema operístico da conquista do México é tratado no Concerto Barroco como uma alegoria dentro da alegoria novelística, isto é, como o “real maravilhoso” de sua teoria estética sobre o mundo colonial.

No enredo da novela, em inícios do século XVIII, um milionário da prata mexicana deixa a terra natal para uma temporada de luxos e prazeres em Veneza. Chegando à cidade em pleno carnaval, e após passar pela decadente Madri, o amo e seu criado Filomeno são protagonistas de uma história que desemboca na idéia da ópera, fazendo confluir a música do Velho e do Novo Mundo.

O milionário, fantasiado de Montezuma numa cidade carnavalizada, e o negro Filomeno, “que não vira necessidade de fantasiar-se ao perceber a que ponto parecia máscara sua cara natural entre tantas antefaces brancas”, encontram o Padre Ruivo que, ouvindo a história da conquista, identifica nela um “bom tema para uma ópera”, arrastando-os em seguida para um convento de freiras e hospedaria de órfãs, onde, em meio a todo tipo de bebidas, os nomes das moças “foram se reduzindo ao instrumento que tocavam. Como se as moças não tivessem personalidade, ganhando vida em som”.

Alça-se um “concerto grosso” onde Antonio Vivaldi, com ímpeto, lança-se no frenético “alegro” das 70 mulheres, enquanto Domenico Scarlati fazia escalas vertiginosas no cravo. Nesse ínterim, é Filomeno que entra em cena, com uma bateria de panelas, tachos e caldeirões, golpeando-os com colheres e escumadeiras, sinfonizando-se com violinos, oboés, rabecas, pianos de manivela, violas de gambá, num verdadeiro escândalo do céu. “Diabo de negro!, exclamava Vivaldi, quando quero marcar um compasso, ele me impõe o dele. Vou acabar tocando música de canibais.”

As dificuldades da ópera são várias. Por exemplo, “amor de negro com negra seria motivo de riso; e amor de negro com branca, não é possível ― pelo menos no teatro”. Mas o enredo produzido pelo libretista vai contornando todas as dificuldades de tal forma que, ao final, ao milionário mexicano tudo parece “falso, falso, falso”. Deuses semelhantes aos diabos inventados por Bosch? Hernán Cortés perdoando seus inimigos e celebrando casamentos com os conquistados? Os próprios conquistadores “tentando remedar a fala mexicana?” Ora, mas nenhuma dessas objeções faz sentido numa ópera: “Não me venha com história quando se trata de teatro. O que conta aqui é ilusão poética…”.

Se a fidelidade histórica não conta, entende-se também porque, afinal, aparecem na novela referências à Torre Eiffel, a Louis Armstrong e tantas outras que parecem estranhas numa novela que, aparentemente, se ambientava no século XVIII ― aquele do ciclo de óperas ‘”montezumianas”.
>> TRÓPICO – por Carlos Alberto Dória
1 – Alejo Carpentier, “Ese musico que Llevo Dentro”, tomo I, Havana, Editorial Letras Cubanas, 1980, pág. 7.
2 – Ibidem, pág. 46.
3 – Alejo Carpentier, “Ensayos”, Havana, Editorial Letras Cubanas, s/d, pág. 123-124.
4 – Alejo Carpentier, “La Ciudad de las Columnas”, Havana, Editorial Letras Cubanas, 1982, pág. 84.


‘CREPUSCULO’: SÉRIE ONLINE FAZ PARÓDIA MUSICAL

quarta-feira | 18 | março | 2009

Vídeo curioso do dia: o primeiro episódio de Twilight – The Musical — uma série online sobre adolescentes, vampiros e cactos. Como o nome já entrega, é uma brincadeira com o fenômeno teen Crepúsculo. Sem dúvida deve ser mais engraçado para quem viu o filme ou leu o livro, mas a idéia não é ruim não. Clique em HD para ver em alta qualidade (100% em inglês).
>> SUPER – por André Sirangelo


JORNADA NAS ESTRELAS: ESCRITOR HARLAN ELLISON PROCESSA ESTÚDIO

quarta-feira | 18 | março | 2009

O escrior Harlan Ellison abriu processo na última sexta-feira, em uma corte federal de Los Angeles, contra a CBS Paramount e o Writers Guild Award (o sindicado dos escritores dos EUA), reclamando compensação financeira relativa a um episódio da telessérie original de Jornada nas Estrelas.

Segundo Ellison, a Paramount não lhe pagou os direitos referentes à exploração do seu roteiro para o episódio The City on the Edge of Forever (Cidade à Beira da Eternidade), que foi ao ar pela primeira vez em 1967. O processo ainda diz que o Writers Guild não cumpriu o seu papel de agir em benefício do escritor e falhou no que diz respeito a advogar por uma representação justa da classe.

No entanto, a única coisa que Ellison pede do Writers Guild é o pagamento das custas do processo e o valor simbólico de US$ 1.

Já o problema com a Paramount é bem maior. Segundo Ellison, o estúdio não o informou que conceitos criados por ele em The City on the Edge of Forever foram usados como base para a trilogia de romances de Jornada nas Estrelas conhecida como The Crucible (escrita por David R. George III) e como material de merchandising. Segundo o processo, e tomando como base os valores estipulados pelo Writers Guild, Ellison tem direito a 25% de tudo o que foi arrecadado com o licenciamento e publicação de produtos baseados nesse episódio.

Ellison disse que tentou negociar com a Paramount, mas que as conversas não deram certo e sobre essa tentativa ele publicou uma nota onde se lê: “a arrogância, a pomposa e imperial falta de interesse daqueles que ´têm mais o que fazer´, que farão com que suas assistentes lhe retornem as ligações, que não lêem ou criam nada e só sentam ao redor de uma mesa e contam papel… até que alguém apareça e enfie um processo debaixo dos seus narizes. Pro inferno com a ofuscação e a falsidade. Eles estão com o meu dinheiro. Paguem-me! E paguem os outros escritores dos quais vocês roubaram idéias que lhes renderem centenas de milhares de milhões de dólares”.

Criada em 1966, a série Jornada nas Estrelas conta a história da nave Enterprise e de seus tripulantes, que exploram o espaço sideral. São liderados pelo Capitão James T. Kirk, pelo oficial de ciências alienígena Spock e pelo médico de bordo Leonard McCoy. Jornada nas Estrelas se tornou uma das séries de ficção científica mais reverenciadas no mundo, tendo gerado quatro spin-offs, um série animada, inúmeros livros e quadrinhos, além de uma série de dez filmes, com o décimo primeiro já a caminho.
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


DRAGONBALL EVOLUTION GANHA ADAPTAÇÃO ROMANCEADA

quarta-feira | 18 | março | 2009

A editora JBC lança ainda este mês a adaptação romanceada e bilíngue (português e inglês) de Dragonball Evolution, o filme que transporta para o cinema o famoso mangá de Akira Toriyama. O romance foi escrito por Stacia Deutsch e Rhody Cohon.

A produção estreia nos cinemas do Brasil em 9 de abril. O filme da 20th Century Fox traz Goku, Bulma, Mestre Kame, Yamcha e Chichi enfrentando o demoníaco Piccolo. Depois de confinado em uma urna por dois mil anos, o vilão pretende reunir todas as sete Esferas do Dragão para se vingar daqueles que o trancafiaram. O livro narra em detalhes todos os acontecimentos do filme – desde o treinamento do jovem Saiyajin com seu avô Gohan até a épica batalha final entre Goku e Piccolo.

Dragonball Evolution tem 200 páginas (oito delas coloridas) no formato 14 x 21 cm e custa R$ 24,90.

O filme conta com direção de James Wong e no elenco estão Justin Chatwin (Goku), James Marsters (Piccolo), Jamie Chung (Chichi), Eriko Tamura (Mai), Joon Park (Yamcha), Emmy Rossum (Bulma) e Chow Yun-Fat (Mestre Kame).
>> HQ MANIACS – por Andréa Pereira


SHONEN MAGAZINE! SHONEN SUNDAY!: FELIZ ANIVERSÁRIO!!!

quarta-feira | 18 | março | 2009
Shonen Magazine

Saíram as duas edições comemorativas dos cinquenta anos das publicações semanais mais tradicionais de mangá no mundo! A Shonen Magazine da Kodansha, que parecia anormalmente quieta em comparação com a Sunday quanto à data, está lançando três edições consecutivas comemorando a data – e artistas convidados como Naoki Urasawa e Takehiko Inoue darão as caras. Embora isso não seja pouco, a Magazine poderia ser bem mais barulhenta: ela está prestes a fechar a primeira década deste novo século como a maior rival da toda-poderosa Shonen Jump; seu título derivado, a Shonen Magazine mensal, ocupou o terceiro lugar no ranking das antologias mais vendidas do Japão, tomando o pódio da Shonen Sunday.

Shonen Sunday

Na Shonen Sunday da Shogakukan, por sua vez, veremos o aguardado one-shot (história curta, de cerca de trinta a cinquenta páginas) feito em parceria entre Rumiko Takahashi e Mitsuru Adachi – além de dvds com trailers de animes clássicos baseados em obras que foram publicadas pela editora – além de um curta-metragem inédito de Inu-Yasha exibido apenas no evento It’s a Rumic World, dedicado à autora.

Em todo caso, este é um evento de primeira linha. E essas capas – especialmente a da Magazine, muito legal – marcam um momento histórico. Parabéns às duas – e espero testemunhar a comemoração de 100 anos de aniversário dessas duas publicações, mesmo que estejamos todos bem velhinhos quando esse momento chegar.
>> MAXIMUM COSMO – por Lanaster


FRINGE ESTREIA NO BRASIL

terça-feira | 17 | março | 2009

fringe_cartazFinalmente a nova série de J.J. Abrams (Lost), Fringe, vai estrear no Brasil. Depois de ser a estréia mais aguardada dos Estados Unidos em 2008, o Warner Channel lança a série no dia 17 de março, terça-feira, as 22 horas.

Fringe é uma série de ficção científica que pode ser definido como uma mistura de Lost com Arquivo X, puxando mais pra este último. Quando ocorre um acidente aéreo em Boston que mata todos os passageiros, a agente especial do FBI Olivia Dunham é chamada para investigar. Mas coisas estranhas começam a acontecer e o seu parceiro, o agente especial John Scott, quase morre durante a investigação, Olivia procura desesperadamente por ajuda e acaba conhecendo o Dr. Walter Bishop, considerado o Einstein da nossa geração.

A primeira temporada teve garantidos 22 episódios e a audiência se mantem estável perto dos 9 milhões de espectadores.

O trio J.J. Abrams, Alex Kurtzman e Robert Oci podem até servir para criar excelentes programas para a televisão e até mesmo para o cinema – Lost não deixa dúvidas disso. Fringe, tem um episódio piloto deveras dramático e com uma acentuada dose de terror, seguindo uma linha tênue entre Arquivo X, Millenium e Exterminador do Futuro – Skynet não fugiu do “roubo” deste trio fenomenal. É uma lástima que histórias antigas tão boas sejam pegas de formas descaradas por Abrams & Cia. Oh, claro, vale recordar: Frankenstein também encabeça a lista de idéias que o trio-sensação pegou emprestado para criar Fringe.

O gênesis acontece no avião – o criador de Lost parece amar Boings –, Fringe enaltece que quem tem estômago fraco não deve assistir à série. Um homem possui uma caneta de insulina na sua maleta, ao passar mal durante uma tempestade elétrica ele a injeta em seu corpo. O tempo avança alguns segundos e ele anda pelo corredor do avião passando mal. A aeromoça vai atrás dele a fim de contê-lo, mas sem sucesso. O terror começa quando o passageiro desequilibrado se vira para a tal funcionária da companhia aérea e sua face toda translúcida e quase derretida é mostrada. Ele vomita em cima dela e o caos toma conta da aeronave. O destaque vai para a cena em que o co-piloto sai da cabine do avião e, ao voltar-se para o comandante, seu queixo cai como se a sua carne estivesse podre, esfacelada, como a de um corpo em estado de decomposição.

O avião está no piloto automático. Graças ao sistema ultra high-tech do aeroporto de Boston – o vôo partiu de Hamburgo (Alemanha) para território americano – a aeronave consegue pousar sozinha. Porém, nenhum sinal de vida é detectado a bordo. E quem é chamado para investigar? O FBI em conjunto ao Departamento de Segurança Nacional. A Agente Olivia Dunham e o Agente Scott.

Eis o começo aterrador de Fringe. As referências com Arquivo X ficam mais óbvias quando Dunham e Scott entram em cena. É como se cético e crente dessem suas mãos – e isto acontecerá no final do episódio, mas não vem ao caso contar spoilers.

O desenrolar do episódio piloto é meio dilacerado, e torna muitas coisas confusas; ou seria algo proposital de Abrams para gerar perguntas e mais perguntas como em Lost? Na melhor das hipóteses, é melhor pensar que ele quis conquistar o público logo de cara, pois ninguém mais agüenta esperar três ou quatro anos para obter respostas.

E todo o destaque de todo o piloto vai para o Dr. Walter Bishop, um cientista recrutado pelo Exército Americano para fazer parte do programa Calvin, que envolve experiências como controle mental, teleportação, projeção astral, invisibilidade, mutação genética e reanimação (sente só o terror). Em uma das cenas, ele usa LSD na Agente Dunham para que ela entre na mente do Agente Scott, já que ele é infectado, após uma explosão, com o vírus que matou centenas no avião.

O desenrolar do roteiro de Fringe leva as pessoas a uma espécie de Skynet, na qual uma das diretoras diz que a tecnologia é tamanha que ninguém mais consegue controlá-la; destaque para o seu braço robótico, melhor que o de Arnold em Exterminador do Futuro 1 e 2. E aí que você chega a pensar: “Quem será o novo John Connor?”. Talvez seja o filho do Dr. Walter Bishop, interpretado pelo ex- Dawson´s Creek, Joshua Jackson. Por falar nele, de tão preocupado que o seu pai fica, é bem capaz que o homem seja uma espécie de experimento criado por, ninguém menos, que Bishop.

Então fica assim: Fringe pode empolgar bastante no começo, pela excelente cena do avião, mas no desenrolar da história, as referências à Arquivo X, uma dose de Millenium e a nova Skynet do século XXI, para quem conhece estes três bem, ficará desapontado. Antes de dar uma nota 3 para Fringe, é melhor esperar por cinco ou oito episódio para ver o que está por vir. Mas reflita comigo: se Heroes está para Watchmen, Fringe pode estar para Arquivo X… Só faltava a frase: “Eu Quero Acreditar”.
>> HEROI – por Cassius Medauar


LITERATURA E MUNDO VIRTUAL

segunda-feira | 16 | março | 2009

Minton Hatoum: haverá uma simbiose entre tela e papel

Minton Hatoum: haverá uma simbiose entre tela e papel

Alguns leitores me perguntam se a internet prejudica a literatura. Outros, em tom apocalíptico, afirmam que o mundo virtual vai acabar com a poesia e com a prosa. Discordo dos últimos, mas antes vou tentar responder aos primeiros.

O mundo virtual permite o acesso de milhões de pessoas a obras de autores cujos direitos autorais caíram em domínio público. Há discussões literárias em salas virtuais, onde geralmente debatem-se ideias sobre livros, e não sobre a vida dos autores, que ajuda pouco quando se quer fazer uma leitura analítica de uma ficção ou de um poema. Na internet você pode encontrar vários ensaios literários de qualidade, mas muitos – talvez a maioria – só existem nos livros. Por exemplo: se os admiradores da obra de Julio Cortázar quiserem aprofundar sua leitura dos contos “As armas secretas” ou do romance “Rayuela” (O jogo de amarelinha) e as relações dessas narrativas com o jazz, o surrealismo e outras influências importantes na ficção do escritor argentino, certamente terão de ler o livro “O escorpião encalacrado”, de Davi Arrigucci Jr. Depois dessa leitura os leitores podem promover um debate na rede virtual sobre a obra de Cortázar.

Mesmo se o assunto a ser pesquisado for vulgar, escabroso, ou eticamente desastroso, como a “Era Collor” – sim, esse mesmo que assumiu a presidência de uma comissão no nosso triste senado – o pesquisador terá de recorrer aos livros sobre aquele momento histórico.

Penso que o livro, enquanto fonte de saber, de invenção e conhecimento, não sairá tão cedo de circulação. Curiosamente, muitos textos disponíveis na internet foram ou serão publicados em brochura. Mais do que uma ironia, trata-se de uma simbiose entre a comunicação eletrônica e a tradicional, ou entre a tela e o papel. Essa interação me parece irreversível, mas é provável que a sobrevida do livro seja muito mais longa que a dos jornais impressos. E isso por vários motivos: a imprensa escrita foi consolidada no século XIX, enquanto o livro data de 500 anos atrás. O culto ao livro como objeto está tão arraigado que dificilmente será substituído – ao menos nas próximas décadas – pelo livro eletrônico. Uma outra razão diz respeito à prática da leitura e ao hábito do leitor. Sei que é possível ler um jornal inteiro na internet; mas é menos provável que alguém leia Guerra e Paz (de Tolstói) na tela, pois há milhões de leitores acometidos de um mal crônico: a fotofobia. Para esses leitores, que gostam de fazer anotações na margem das páginas e que têm uma relação quase sensual, senão passional com a palavra escrita, o livro é insubstituível.

Quanto aos apocalípticos, que veem na mídia eletrônica o fim da literatura, penso que o suporte da palavra literária não é nem será decisivo para os bons textos em prosa ou poesia. Se isso acontecer, então o destino da humanidade será um mundo em que a imaginação e a fantasia não terão lugar nem vez. Mas abolir tudo isso significa antes abolir a essência mesma do ser humano: a capacidade de inventar por meio da palavra. E essa capacidade não é atributo apenas dos escritores, mas também dos leitores, que são mais numerosos e, não poucas vezes, mais aptos de dar forma e sentido aos sonhos e pesadelos da língua literária.
>> TERRA MAGAZINE – por Milton Hatoum


“JAPANESE SPIDER-MAN”: ARANHA TRASH

segunda-feira | 16 | março | 2009

Marvel coloca na rede a bizarra série de TV japonesa
dos anos 70 com o herói

Você conhece a história de cor e salteado. Peter Parker, fotógrafo do Clarim Diário, é picado por uma aranha radioativa e se transforma no Homem-Aranha. Simples assim.
Isso tudo deste lado do mundo mundo, é claro. No Japão dos anos 70, o enredo tomou um rumo bastante diferente. Autorizada pela editora Marvel, que detém os direitos comerciais do cabeça de teia, a Toei (produtora responsável por clássicos como “Jiraya, o Incrível Ninja” e “Jaspion”) filmou outra versão da trama.

É a série que agora aparece sob o nome de “Japanese Spider-Man” no site da editora (marvel.com/animation/japanese_spider-man), para quem quiser conferir o que foi que fizeram por lá com o amigão da vizinhança. O primeiro capítulo já está no ar, com áudio em japonês e legendas em inglês. Os próximos devem vir em seguida, um por semana.

“Tokusatsu”
O texto que introduz o vídeo já alerta: “Não é o Homem-Aranha com que a maior parte dos fãs está acostumada, mas é divertido, frenético e de graça”. E bota “não acostumados” nisso. Fica até difícil falar das diferenças, porque pouca coisa se manteve na versão japonesa, a começar pelo protagonista, o motoqueiro Tayuka Yamashiro, que só se parece com o fotógrafo Peter Parker no branco dos olhos -que são puxados!

No “Japanese Spider-Man”, Yamashiro se transforma em herói ao receber um bracelete de presente do alienígena Garia, que veio do planeta Aranha.
A série segue o modelo dos “tokusatsu” -séries japonesas com heróis e efeitos especiais, como “Power Rangers”, “Changeman” e similares. O Homem-Aranha tem até um robô gigante, o Leopardon, que de aranha só tem teias pintadas no peito.
Hoje, os “tokusatsu” se tornaram “trash” e “cult”, e a série tem efeitos especiais tão toscos que arranca boas risadas.
>> FOLHA DE SÃO PAULO – por Diogo Bercito

 

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MAcGYVER VAI VIRAR FILME

segunda-feira | 16 | março | 2009

Excelente noticia para os fãs da antiga série de TV estrelada por Richard Dean Anderson, o mesmo ator que mais tarde estrelaria a série Stargate. A New Line se uniu a filha do criador da série, Dino De Laurentiis, e parece que vai sair mesmo um filme baseado em MacGyver.

Para quem não se lembra, MacGyver era um agente secreto que sempre tinha missões muito perigosas, quase sempre era capturado e conseguia se salvar usando o que quer que tivesse a mão, como juntar um chiclete com álcool e um palito de fósforo e fazer uma bomba caseira.

Claro que não era bem isso que falamos acima, todos os truques que o herói usava na tela eram testados para saber se funcionariam de verdade. MacGyver foi cancelada em 1992 mas se tornou eterna, pois todo mundo se lembrava do heroi e seus truques e várias comediantes continuaram a fazer piada disto.

O mais recente e famoso é Will Forte que criou o personagem MacGruber para o Saturday Night Live, um agente secreto que também faz milagres com o que tem a mão, mas claro que sempre as coisas dão errado.

Veja abaixo que legal uma propaganda da Pepsi que passou no superbowl usando MacGruber com uma participação especialíssima do MacGyver original.
>> HEROI – por Cassius Medauar


TURMA DA MÔNICA JOVEM GANHA CARD GAME

segunda-feira | 16 | março | 2009

Os personagens criados por Maurício de Sousa vêm fazendo sucesso em suas versões adolescentes, vivendo aventuras no estilo mangá dentro da revista Turma da Mônica Jovem. Acompanhando o sucesso, a Panini lança nesta segunda-feira em bancas o livro ilustrado e card game Turma da Mônica Jovem: 4 Dimensões Mágicas.

São 110 cards que remetem ao primeiro arco de histórias da Turma da Mônica Jovem, publicado nas quatro primeiras edições da revista.

A coleção conta também com cards especiais, com cenas que mudam conforme o movimento (lenticulares), além da imagem do primeiro beijo da Mônica e do Cebolinha. O livro ilustrado traz ainda um guia de referência com os personagens e regras para que se possa jogar entre amigos, de diferentes maneiras.

O livro ilustrado, com 32 páginas no formato 13,7 x 20,8 cm custa R$ 3,00. Cada pacote com quatro cards custa R$ 1,00.

A Turma da Mônica foi criada por Mauricio de Sousa na década de 1960 e fez sua estréia pela Editora Continental, passando pela Editora Abril de 1970 a 1986, pela Editora Globo de 1987 a 2006 e a partir de 2007 sendo publicada pela Panini Comics. Além de fazer sucesso nos quadrinhos, a Turma da Mônica já rendeu filmes, desenhos animados e uma grande variedade de produtos licenciados, conquistando não só o Brasil como também diversos outros países.
>> HQ MANIACS – por Andréa Pereira sobre release


ECLIPSE: DESMENTIDA A CONTRATAÇÃO DO DIRETOR JUAN ANTONIO BAYONA

segunda-feira | 16 | março | 2009

Presidente de produção do estúdio nega boato a blogueiro do LA Times

Está cada vez maior o risco de uma notícia errada viajar o mundo. Com a agilidade da Internet bastam poucos segundos para uma fagulha virar incêndio. Foi o que aconteceu na manhã dessa quinta com a contratação do espanhol Juan Antonio Bayona, de O Orfanato, para dirigir Eclipse, terceiro filme da série iniciada em Crepúsculo.

A notícia surgiu no blog Deadline Hollywood e logo foi confirmada na Variety. E com um grande veículo especializado dando tudo como certo não demorou para todo o mundo – inclusive nós aqui do Omelete – logo sair espalhando a grande notícia, uma vez que Bayona já provou que entende do riscado.

Porém, enquanto a notícia borbulhava web afora mais rapidamente que epidemia zumbi em hospital, um dos blogueiros do jornal LA Times estava almoçando com Erik Feig, o presidente de produção da Summit, estúdio que produz a série, que ficou chocado com o anúncio que ele não havia feito. “O cargo de diretor de Eclipse não foi oferecido a Juan Antonio ou qualquer outra pessoa. Nós encontramos com três ou quatro talentosos cineastas e ainda vamos conversar com mais uns três ou quatro antes de tomar qualquer decisão. Não oferecemos o trabalho a ninguém ainda“, disse ele ao jornal angelino.

Ao que parece, o boato começou quando Bayona aproveitou uma viagem a Los Angeles para conversar com alguns executivos da Summit na quarta, e um posterior encontro do espanhol com a autora da série, Stephenie Meyer. O diretor, apadrinhado por Guillermo del Toro, teria dito a amigos que não sabe se aceitaria um trabalho desses, pois assumir o filme no seu terceiro capítulo significaria herdar atores e pegar personagens já desenvolvidos, o que limitaria muito o seu poder criativo.

O que é fato até agora é que Eclipse estreia em 30 de junho de 2010. Melissa Rosenberg atualmente escreve o roteiro. Lua Nova chega aos cinemas em 20 de novembro deste ano.
>> OMELETE – por Marcelo Forlani


STEPHEN KING: IT (A COISA) CLÁSSICO DO TERROR VAI VIRAR FILME

segunda-feira | 16 | março | 2009

Roteirista de Invasores vai adaptar o romance para a Warner

stephen-king_ita

Um dos maiores clássicos de Stephen King, A Coisa (It) ganhará um longa-metragem de cinema.

A Warner Bros. está desenvolvendo a adaptação. Dave Kajganich (Invasores) adaptará o maciço romance de King, com mais de 1.000 páginas, sob a supervisão dos produtores Dan Lin, Roy Lee e Doug Davison.

A aterrorizante história já foi adaptada para a TV em 1990 como um telefilme seriado – lançado em vídeo no Brasil. Na trama, um grupo de garotos volta para a sua cidade natal depois de crescidos para cumprir uma promessa: enfrentar o palhaço Pennywise, uma criatura disfarçada que está assassinando crianças.

A adaptação ainda não tem data de início prevista
>> OMELETE – por Érico Borgo


DEPOIS DE WATCHMEN, DC INDICA O QUE LER

segunda-feira | 16 | março | 2009

watchmen_depois-de-ler

Depois de Watchmen, o que ler em seguida? A pergunta pode parecer banal para o fã fervoroso de quadrinhos, mas é uma dúvida razoável para uma pessoa comum, que teve seu primeiro contato com a obra de Alan Moore através do filme dirigido por Zack Snyder.

Pensando nisso, a DC Comics anunciou a campanha After Watchmen… What´s Next?, que indica uma série de títulos renomados, voltados para o leitor disposto a descobrir mais sobre o universo adulto das HQs de super-heróis.

Alguns títulos da lista, que você confere abaixo, são outras obras consagradas de Moore, como A Piada Mortal, V de Vingança e A Liga Extraordinária, além de trabalhos de grandes nomes como Neil Gaiman, Grant Morrison, Brian K. Vaughn, Bill Willingham e Brian Azzarello:

– Grandes Astros: Superman vol. 1
– Batman: Asilo Arkham
– Batman: O Cavaleiro das Trevas
– Batman: A Piada Mortal
– Ex Machina vol. 1
– Fábulas vol. 1: Lendas no Exílio
– Crise de Identidade
– Coringa
– O Reino do Amanhã
– A Liga Extraordinária vol. 1
– Planetary Livro 1: Ao Redor do Mundo e Outras Histórias
– Preacher vol.1: Rumo ao Texas
– Ronin
– Saga do Monstro do Pântano
– Sandman vol. 1: Prelúdios e Noturnos
– Superman: Entre a Foice e o Martelo
– Transmetropolitan vol. 1
– We3: Instinto de Sobrevivência
– Y: O Último Homem vol. 1
– V de Vingança

A campanha promocional será veiculada em revistas da editora, no site da editora (clique aqui) e em portais de relacionamento como o Facebook.

Considerada por muitos como a história definitiva de super-heróis, Watchmen tem roteiro de Alan Moore e arte de Dave Gibbons. A história foi publicada pela DC Comics nos anos de 1986 e 1987 e mostra um mundo com vários vigilantes uniformizados, mas com somente um herói com superpoderes. Intrigas, política, metáforas e personagens complexos compõem um verdadeiro clássico, que mistura perfeitamente super-heróis e o clima da Guerra Fria.
>> HQ MANIACS – por Andréa Pereira


DOIS VILÕES PARA FILMES DA MARVEL. UM CONFIRMADO

segunda-feira | 16 | março | 2009

Enquanto o ressuscitado Mickey Rourke confirma sua presença na continuação de “Homem de Ferro” (Robert Downey Jr. retorna, claro) como o vilão russo Chicote Negro – com a possível companhia de Scarlett Johansson como Viúva Negra -, começam os rumores para o elenco do filme de Thor.

Como o herói asgardiano, Alexander Skarsgård (“True Blod”) é o favorito do diretor Kenneth Branagh. Já para Loki, as apostas são em Josh Hartnett (“30 dias de noite”). Os dois filmes estão previstos para 2010. Nas imagens, você vê, no alto, o personagem Chicote Negro ao lado de Mickey Rourke. Logo abaixo, Hartnett encarando Loki, o irmão maléfico do deus de Asgard.
>> GIBIZADA – por Telio Navega


O MUNDO DE HOLMES E WATSON

segunda-feira | 16 | março | 2009

No prefácio da recente reedição das aventuras de Sherlock Holmes (Jorge Zahar Editor, com notas de Leslie Klinger), John Le Carré afirma: “Ninguém escreve sobre Holmes e Watson sem amor”. Mulheres são vulneráveis a este amor (está aí minha filha Maria que não me deixa mentir), mas eu ouso afirmar que o universo sherlockiano é acima de tudo um universo masculino, ainda que não machista. As mulheres são tratadas com respeito e reverência, à maneira vitoriana, mas aquele é um mundo moldado pelos sonhos de homens autoritários, intelectuais, reunidos numa espécie de clube fechado onde sentam diante da lareira, bebem, fumam, jogam xadrez e decidem o destino do mundo.

A Inglaterra de Holmes e Watson é o símbolo do colonialismo no que ele tem de admirável. O que ele tem de desumano e terrível já o sabemos, nós, povos morenos do Terceiro Mundo, que estudávamos o marxismo e torcíamos pela guerrilha latino-americana. O lado admirável do colonialismo do século 19 pode ser cristalizado em dois tipos humanos a quem eu chamo os ícaros e os dédalos. Os ícaros são os aventureiros, os que gostam de enfrentar perigos, correr risco de vida, mergulhar no desconhecido, desbravar regiões selvagens. Os dédalos são os que gostam de se trancar em enormes bibliotecas onde estão acumulados os tesouros do saber, gostam de investigar o passado, solver enigmas, construir intrincados labirintos de idéias.

A fascinação que Sherlock Holmes desperta em todos nós é pelo fato de ele ser, ao mesmo tempo e alternadamente, um dédalo e um ícaro. E diante dele nós somos o Dr. Watson, o “homem comum” fascinado por aquele indivíduo (por aquela nação) que concilia aspectos tão opostos. Holmes é capaz de se enrolar num roupão velho e passar duas semanas encolhido numa poltrona, fumando e pensando, enquanto junta as peças de um quebra-cabeças que está tentando desvendar. No momento em que ele entende o que está acontecendo, e o que é preciso fazer, ele se transforma. Agarra o companheiro pelo ombro, com a frase famosa: “Come on, Watson! The game is afoot!” (frase que pode ser traduzida como “A caça está à solta” ou “O jogo começou”) Daí em diante, Holmes é outra pessoa: disfarça-se até ficar irreconhecível, enfrenta adversários de mãos limpas ou de revólver em punho, cruza e recruza Londres em caçadas frenéticas, pratica incríveis façanhas de coragem e de resistência física.

O escritor e diplomata Richard Francis Burton é uma figura histórica que também reúne estes dois lados (erudição e aventura) que caracterizaram a peculiaríssima forma de civilização que foi a Inglaterra vitoriana e, por extensão, a Europa colonialista do século 19. São personagens e histórias de um tempo em que o mundo tinha centro, e este centro era de raça branca, de sexo masculino, de mentalidade científica e materialista, exibia títulos de nobreza, e acreditava que sua civilização tinha por fim alcançado o Fim da História.
>> MUNDO FANTASMO – por Bráulio Tavares


A VOLTA DOS CRIADORES DE “PIRATA DO ESPAÇO” E “PATRULHA ESTELAR”

segunda-feira | 16 | março | 2009
Koshika

 
Dois veteranos dos anos setenta surgem com novidades. Enquanto o remake de Mazinger Z, de Go Nagai (criador do Pirata do Espaço) está ainda em estágios iniciais, vem aí Shin Mazinger Shogeki! Z-Hen: no website oficial da editora Akita Shoten, foi anunciado o lançamento do mangá Shin Mazinger Zero para a edição de junho da antologia mensal Champion Red (que sai em Abril. Não tentem me explicar, eu não vou entender).

Quem produzirá esse material será a dupla Yoshiaki Tabata e Yuuki Yogo. O detalhe é que essa estréia virá na carreata do lançamento, duas semanas antes, do anime Shin Mazinger citado acima. Ele não será o remake prometido de Mazinger Z, que de acordo com as próprias declarações de Nagai, estaria em seus estágios iniciais de desenvolvimento: a nova série na verdade é uma espécie de híbrido entre as várias versões que o autor fez de Mazinger, tentando pôr ordem na casa.

Enquanto isso, Leiji Matsumoto (criador de Patrulha Estelar) estréia um novo mangá – Koshika. A série conta a história de um garoto clandestino em uma nave dimensional, que parte para o espaço com o objetivo de salvar a Terra da destruição. Se Matsumoto não tentar enfiar o conceito a fórceps no universo de seu personagem Capitão Harlock, pode ser interessante – aparentemente os personagens nada tem a ver com essa união meio canhestra que o autor costuma fazer com suas próprias séries, pelo menos a princípio.

O detalhe é que será uma história completamente a cores concebida para o meio digital, e lançada pela Sunsoft, com opção entre o inglês e o japonês. Koshika será disponibilizada pelo Wii Shopping Channel para vizualização nos consoles domésticos da Nintendo.
>> MAXIMUM COSMO – por Lancaster


ESPECTROS DA FICÇÃO CIENTÍFICA: A HERANÇA SOBRENATURAL DO GÓTICO NO CYBERPUNK

domingo | 15 | março | 2009
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"Visões Perigosas: uma arque-genealogia do cyberpunk" (Sulina, 240 págs.), de Adriana Amaral faz um mergulho na estética cyberpunk e em seus elementos, tecendo uma trama de articulações em suas ordens distintas: literária, tecnológica, cultural, sociológica, musical e cinematográfica, através da análise das características dos diferentes períodos e correntes da Ficção Científica, do Período Clássico até o Pós-Cyberpunk.

Vários pesquisadores da Ficção Científica2 como Bukatman (1993), Roberts (2000) e Dyens (2001), entre outros, apontam-na como um gênero literário definidor do caráter técnico da sociedade contemporânea, sendo herdeiro de uma tradição literária que vem do romantismo do século XVIII e XIX (poetas como Milton e Blake por exemplo), e, sobretudo dos contos góticos e de horror. Mas em que sentido e através de quais características poderíamos observar essa herança gótica na FC? E, de que maneira o cyberpunk, subgênero surgido na década de 80 do século XX, poderia ainda apresentar rastros e evidências dessas características?

Para tanto, faz-se necessário um esboço de arqueologia da FC como gênero, desde suas raízes históricas e períodos, suas características literárias e a sua disseminação pela cultura pop, sobretudo através do cinema. Também salientamos o horror como gênero distinto, mas ao mesmo tempo semelhante à FC, havendo momentos de hibridização entre ambos.

A especificidade da FC remonta a influências como o romantismo dos séculos XVIII ao início do século XX, seja por suas características como o dualismo entre individualismo/universalismo, revolta/melancolia3, etc, seja pelo quadro que se constrói da época vitoriana pela literatura; – sendo o gótico e o horror como principais influências da FC – o modernismo dos poetas franceses como Baudelaire, Rimbaud; o existencialismo de Dostoievsky, Rilke, Kafka, Sartre e Camus4; a prosa on the road dos norte-americanos como Kerouak, Burroughs e outros expoentes do movimento beatnik.

Os fantasmas, os corpos e a violência – do gótico à ficção científica
A Ficção Científica nasce no contexto da Revolução Industrial e vem consolidar o imaginário cientificista da época, no qual máquinas, robôs e viagens espaciais convivem com seres humanos. Tais artefatos são imaginados pelo pensamento e potencializados gradativamente como objetos tecnológicos.

Segundo o autor de FC Isaac Asimov (1984), a Revolução Industrial acelerou as mudanças na sociedade de forma nunca antes vista, gerando curiosidade em relação a essas mudanças através de uma extrapolação do presente. Paul e Cox (1996) afirmam que essas transformações permitiram que os escritores imaginativos dos anos 1800 tivessem novas ferramentas para especular sobre o futuro. Para Asimov – que ao contrário de Roberts (2000) já inclui Frankenstein como FC – não é por mera coincidência que o primeiro romance de FC, Frankenstein de Mary Shelley, tenha surgido em 1818, na Inglaterra, local onde teve início a Revolução Industrial e, por isso, ele possua um tom tão pessimista em relação à moralidade científica da época.

Mas voltemos um pouco no tempo e observemos o contexto e a caracterização do romance gótico, especificamente na literatura britânica. De acordo com Henderson,

the gothic world becomes horrifying as [other people] lose psychological depth. Life in general becomes ‘theatrical’, a ‘death-in-life’, and embodied selves become mere actors or caricatures, or in more severe cases, insensate things altogether, like automata5 or walking corpses (Henderson, 1996).

Segundo a pesquisadora,a chave do romance gótico está na identidade/subjetividade das personagens. A subjetividade gótica nos romances está intimamente ligada ao desenvolvimento econômico e, conseqüentemente, técnico do século 18. Ela afirma que há três características no período que geraram as transformações na concepção de identidade mostrada pelas personagens: rápida industrialização, enfraquecimento dos laços de família patriarcal e ataque aos privilégios aristocráticos.

As pessoas passam a ver o indivíduo como objeto, além disso a identidade passa a ser construída em termos de um agregado de características e não mais pelas heranças sangüíneas de família, como anteriormente. Devido a essa “coisificação” dos indivíduos, as personagens adquirem uma qualidade espectral, fantasmagórica, da ordem do sobrenatural, encontrado em nossos pesadelos, refletindo nossos desejos e pulsões.

Conforme a análise de Henderson, além do aspecto espectral, coisificado, fetichizado, as personagens têm seus corpos sujeitos à violência. Violência que vem tanto dos impulsos e instintos reprimidos que constantemente ressurgem de forma impetuosa através de ações, quanto da própria ciência, através de suas operações médicas e alterações nos tecidos humanos. Referências a sangue, corpos, matéria reprodutiva, decomposição de tecidos, mutilação “freqüentemente aparecem em momentos de indeterminação semântica6“.

Roberts (2000) afirma que o ar sombrio, o estranhamento, o sobrenatural e o etéreo são constituintes da literatura gótica do final do século XIX, tendo em Edgar Allan Poe e em William Blake alguns de seus textos fundadores. Frankenstein de Mary Shelley aparece como o grande paradigma do gênero gótico, porém já apontando para a ficção científica em seus pontos mais célebres. A questão da razão e da ciência, do progresso desordenado que as mesmas proporcionam ao homem, a existência humana, a morte de Deus e tantas outras idéias encontram no famoso romance um modelo que ainda é citado e parodiado até os dias de hoje.

Roberts também esclarece por que o gótico e o horror estão na gênese da FC. O gótico, porque atenta para a sublimidade, para os extremos e a violência da condição humana frente a um mundo em constante transformação, articulando um estado de ser diferente do ordinário. O horror, porque apresenta o encontro com o “outro”, num misto de fascínio e rejeição, atração e medo.

That is to say that a piece of SF technology – a ray-gun, a spaceship, a time-machine, a matter-transporter – provides a direct, material embodiment of alterity (…) What this means is that technology focuses our attitude to difference, and that because of this it os often the items of technology that have the most metaphorical potency in an SF text (Roberts, 2000).

A alteridade, seja ela um alienígena, uma máquina dotada de inteligência artificial ou um robô, representa o duplo ao homem. Posta diretamente em conflito com o humano, a alteridade suscita questionamentos, assim como a própria validade, identidade e existência do ser como tal.

Para o antropólogo Louis Vincent Thomas (1988), esses desejos, paixões, pulsões irracionais e a violência dominadora arcaica nos ajudam a sobreviver e constituem o que ele chama de imaginário pulsional ou imaginal, um processo vital, profundamente ligado ao inconsciente (no entanto, não sendo nem a imagem simplesmente, tampouco apenas o arquétipo junguiano).

Thomas (1988) afirma que o imaginário pulsional caracteriza as obsessões do homem contemporâneo, que são representadas através de fantasmas e utopias. Ao contrário do imaginário racional ou ideal, que ele explica como sendo aquele relacionado à ciência e ao pensamento científico, o imaginário pulsional situa-se nos domínios da ficção. Ele prossegue, dizendo que os fantasmas assumem duas categorias de representação: fantasmas de complacência ou esperanças e fantasmas como reações compensatórias à mutilação resultante da hiper-racionalidade. Lembremos que a hiper-racionalidade e a cientificidade começam a se fazer presentes com mais força durante o período da era industrial e, portanto, os fantasmas são expressos no romance gótico como reações ao próprio tecnicismo da época, numa tentativa de evocar um passado nostálgico e bucólico no qual a sociedade realizava sua utopia do bem coletivo.

Thomas (1988) considera a FC como uma “combinação entre representação fantasmática da ciência, a tradição do fantástico e o imaginário social através do qual pode se ver o desejo de cada período7“. Ele constata que a FC trata das nossas obsessões mais universais, dotando os velhos mitos de uma nova credibilidade. A FC equivaleria ao mito fundador das sociedades pré-científicas. Nesse ponto, podemos relacionar o pensamento do antropólogo francês ao comentário do escritor de FC Isaac Asimov de que

deve ter existido alguma coisa a ela anterior, algo que não seria ficção científica, mas satisfazia às mesmas necessidades no campo das emoções. Hão de ter aparecido estórias estranhas e diferentes a respeito da vida como a conhecemos, e acerca de poderes que transcendem os nossos poderes (Asimov, 1984).

Uma diferença que podemos apontar entre o gótico e a FC é que, de acordo com Thomas (1988), na FC, os fantasmas tradicionais se exprimem através de um discurso racional, inspirado pelo saber científico, apropriando-se do objeto tecnológico, enquanto no gótico ainda aparecem envoltos em um clima sobrenatural, espectralizado e indeterminado (Hendersen, 1996). Essa sobrenaturalidade dá um ar mágico, inexplicável ao gótico.

Tanto a ficção gótica quanto, posteriormente, a FC são, como fala Thomas (1988), literaturas da angústia. A primeira, por mostrar a angústia da passagem do rural ao urbano maquinizado da revolução industrial na Inglaterra e a segunda, por contínua e insistentemente expressar o sonho do homem de vencer a morte, pois o homem precisa crer nessa utopia para continuar vivendo, pois “a FC ilustra a potência do imaginário” (Thomas, 1988).

É importante destacar que, anos mais tarde, o cinema, por sua vez, também resgatará a herança gótica, notavelmente através das adaptações de contos de horror e de FC, e, principalmente de híbridos de ambos os gêneros.

O horror e a ficção científica – gêneros híbridos
O pesquisador de gêneros cinematográficos Steve Neale (2000) esclarece que há muitas dificuldades para distinguirmos a FC e o horror. Os gêneros são relacionados intimamente, mas distintos em suas especificidades, embora, em muitos casos, suas fronteiras estejam pouco delimitadas.

Um ponto de destaque acontece na relação entre os gêneros com suas audiências. Neale descreve que há uma relação especial entre os fãs de horror e FC, distinta da relação entre outros gêneros e seu público específico. A popularidade desses gêneros se dá, ou por total rejeição da crítica, ou total aceitação e consumo por parte dos aficcionados.

Neale também constata que a relação entre horror e FC acontece através de uma mudança nas sensibilidades estéticas através do Alto Romantismo. As alterações nas sensibilidades estéticas estão intimamente ligadas às características apontadas por Henderson (1996) a respeito do período gótico, como a aceleração das mudanças técnicas, o desenvolvimento econômico, o aumento do valor da sensibilidade poética como forma de reconhecimento e de status social, estão entre esses fatores. Eventualmente, a ligação entre horror e FC também acontece pelas formas de modernismo de vanguarda como Expressionismo e Surrealismo – ambos delineados a partir da tradição gótica e ambos tendo contribuído para o desenvolvimento do fantástico na Europa, conforme avalia Neale (2000).

Neale também afirma que os efeitos dessa nova estética gerada pelo gótico no público leitor tiveram como uma de suas conseqüências a associação e a mistura dos gêneros e a emergência de uma divisão entre arte alta e arte baixa. Para o autor, a heterogeneidade da ficção gótica gerou várias formas de representação no cinema hollywoodiano, principalmente nos anos 30 e 40. Aparecem então figuras de ameaça, de violência e de destruição tais como cientistas loucos, alienígenas, psicopatas, monstros, mutantes, etc. No entanto, Neale defende que a herança da ficção gótica no cinema tem sido descontínua e intermitente, aparecendo e reaparecendo conforme os desejos da época e da própria sociedade.

Segundo Neale (2000), na década de 30 há uma associação entre horror e estranheza, sendo este um elemento estabelecido no seio da família, no cotidiano, no mundo contemporâneo, dando ênfase aos temas psicológicos e sexuais. Historicamente, os híbridos de FC e o horror aparecem, em sua maioria, na metade da década de 50, no mesmo período conhecido como Era Dourada da FC na literatura. Nesse período, há também uma grande profusão de remakes de filmes feitos nos anos 30 pela produtora Hammer como Frankenstein e Noiva de Frankenstein, entre outros.

Os anos 60 com sua contracultura e efervescência cultural vê os híbridos passarem por uma transformação, passando a utilizar como contexto as crises de identidade das personagens (eis mais uma faceta do gótico sendo revelada, mesmo depois de tanto tempo). Paralelamente é a época da Nova Onda de FC, movimento que rompeu paradigmas na escrita da FC e que influenciou diretamente os escritores cyberpunks, que apareceriam somente nos anos 808.

Os 80 são o período no qual, tanto na FC como no horror, há uma representação explícita da violência, do sexo e dos corpos humanos, sendo mostrados como experimentos ou como deformidades e monstruosidades. A questão do corpo sujeito à violência, como vimos em Henderson (1996) é uma das temáticas mais marcantes do universo gótico do século 18, conforme pode ser reparado nas descrições de cirurgias e de sangue, novamente mostrando que a mistura entre horror e FC tem, no romance gótico, um de seus grandes paradigmas.

Neale (2000) observa mais dois pontos de intersecção nas temáticas de FC e horror durante a década de 80: a falta de confiança das personagens nas instituições sociais9 e a coincidência entre as categorias de “humano” e “monstro” – que também pode ser substituída por robôs, andróides e ciborgues10. Essas duas temáticas são definidoras do cyberpunk.

Segundo a exposição de Neale, há muito pouco escrito sobre os dois gêneros e menos ainda quando se trata de cinema. Ele acentua que o humano ainda é o centro da FC e do horror, seja através de sua submissão ao poder da tecnologia e da ciência – muitas vezes tendo o próprio corpo como experimento – seja na relação com o “estranho” (no caso específico do cinema, ele destaca que essa relação pode ser representada tanto na imagem quanto no som).

A subjetividade humana e suas fronteiras é a principal característica gótica herdada tanto pelo horror quanto pela FC, além da relação com uma espécie de mágica, de sobrenatural que parece perseguir os três gêneros no intuito de tentar explicar a técnica e a tecnologia como ferramentas do cotidiano. Mesmo na FC, que tenta construir um discurso racional para explicar muitos fatos, ainda enxergamos as sombras dos espectros góticos permeando nosso imaginário utópico e distópico, como aponta Thomas (1988), para quem a utopia e FC se circunscrevem e se confrontam.

Uma vez analisados os vínculos entre os gêneros de FC e horror, principalmente através do cinema, passamos a uma breve periodização da literatura de FC, com o objetivo de entendermos o contexto do surgimento do cyberpunk como movimento literário e percebermos os elementos que o unem ao romance gótico.

Breve panorama da história da ficção científica – da era dourada ao cyberpunk
O período clássico – (1818 – 1938)
Há um grande debate em torno de Frankenstein (1818). A obra tem sido apontada por diversos teóricos tanto como um romance ainda na fronteira entre o gótico e a FC, e também como sendo o primeiro a legitimar a constituição do gênero em si. Polêmicas à parte, não há dúvidas quanto ao primeiro escritor reconhecido de FC ter sido Jules Verne (1828 – 1905). Segundo Asimov (1984) e Paul e Cox (1996), ele foi o primeiro autor a ganhar dinheiro com a FC e a escrever em grande escala, sobrevivendo apenas disso. Para Paul e Cox (1996), Verne era um escritor otimista em relação ao futuro por estar inserido em um contexto histórico em que o militarismo e a tecnologia pareciam dar à sociedade todas as respostas para um futuro melhor.

Outro otimista do período clássico é H. G. Wells (1866-1946) que, segundo Paul e Cox (1996) refinou e expandiu a FC enquanto gênero, além de ter previsto batalhas aéreas e armas atômicas. Essas “predições” nos levam a uma questão importantíssima na FC: poderiam os autores prever o futuro? Ela aponta soluções? A resposta, de acordo com seus teóricos e escritores, é negativa. Como afirma Asimov (1984), “a imaginação dos autores está presa ao tempo e à sociedade em que eles vivem”.

Apesar de o futuro parecer ser a temática central da FC, na verdade, ele aparece como uma metáfora do presente. O presenteísmo dá a tônica das histórias, seja através de uma crítica, seja através de paródias. Conforme Roberts, o gênero de ficção-científica como um todo não é futurístico, nem profético, mas, sim, nostálgico e principalmente diz mais a respeito da sociedade do tempo em que foi escrito (o tempo presente), do que sobre as possibilidades de visão de futuro.

(…) although many people think of SF as something that looks to the future, the truth is that most SF texts are more interested in the ways things have been. SF uses the trappings of fantasy to explore again age old issues; or, to put it another way, the chief mode os science-fiction is not prophecy, but nostalgia (Roberts, 2000).

Roberts insiste que podemos pensar sobre o mundo de hoje como um mundo moldado pela ficção-científica, sendo um gênero que nos dá templates (modelos) conceituais do mundo ocidental contemporâneo.

SF does not project us into the future; it relates to us stories about our present, and more importantly about the past that has led to this present. Counter-intuitively, SF is a historiographic mode, a means of symbolically writing about history (Roberts, 2000).

Green (2001) também concorda com a visão de que a FC não é futurista e, sim, representa o presente. Para a autora, o lado sombrio da sociedade contemporânea é projetado nos cyberfuturos da ficção científica, sendo uma maneira de nos endereçarmos ao aqui e agora.

De acordo com Asimov (1984), no início do século XX, na década de 20, os Estados Unidos passavam por um grande e rápido avanço industrial. Segundo ele, essa transição da Europa para a América fez com que a tradição de escrita de FC aumentasse consideravelmente no país, principalmente através das estórias publicadas nas revistas populares. Figura importante foi a de Hugo Gernsback que, em 1926 criou a primeira revista popular de FC: Amazing Stories. Nos anos 80, o escritor cyberpunk William Gibson prestaria uma homenagem à Gernsback no conto The Gernsback Continuum, publicado na coletânea Mirrorshades.

Em 1929, com a Grande Depressão, o sentimento de confiança total na tecnologia e na ciência parecem decair e em 1932, Huxley lança Admirável Mundo Novo, obra extremamente pessimista.

Época Dourada [Golden Age] – (1938 – 1960)
Em 1939, no contexto científico, acontece a fissão do urânio que gera a bomba nuclear. Com esse avanço, os escritores de FC necessitam de uma maior especificidade técnica e surge um amplo número de revistas populares como forma de entretenimento: Astounding Stories, Astounding Science Fiction, entre outras. Os escritores deixam de ser apenas adolescentes seduzidos por estórias de aventura e tecnologia e começam então a profissionalizar-se em assuntos técnicos e científicos como física, química, eletricidade, biologia, etc.

Novamente instaurada a fé no progresso científico, muitos são os escritores que atingem a fama com suas obras: Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, John W. Campbell, Robert Heinlein, Ray Bradbury, Frank Herbert, entre outros.

É também nesse período que são criados os famosos – e depois criticados pela geração cyberpunk – prêmios de FC e as convenções de fãs do gênero. Para Asimov (1984), as principais temáticas do gênero, durante esse período são: o controle demográfico, a possibilidade de um governo mundial, as fontes de energia permanentes, o controle das condições atmosféricas, os robôs, computadores, aldeia global, clonagem, seres humanos biônicos, engenharia genética, colônias espaciais, viagens interplanetárias, viagens no tempo, imortalidade, entre outros. O espaço sideral parecia ser o principal motivo de exploração e extrapolações imaginativas, deixando o cotidiano de lado.

Embora encobertas por uma onda de otimismo, algumas características do romance gótico continuam aparecendo na FC como os experimentos no corpo humano, o medo do outro (que aparece no contato com os aliens, robôs e ciborgues) e a tentativa de atingir a imortalidade. Contudo, a subjetividade e a questão da identidade do indivíduo, presentes no gótico, parecem estar escondidas entre as batalhas intergalácticas. Os autores estavam mais preocupados em descrever com preciosismo de detalhes as máquinas de guerra, as bombas nucleares, os avanços da ciência e as viagens interplanetárias.

A Nova Onda [New Wave] – (Anos 60 – Anos 80)
Com o pós-guerra e a contracultura surgida nos college campi dos anos 60, a FC parecia ter perdido sua força. O feminismo e outros movimentos sociais pareciam não ter encontrado seu lugar na FC. Muitas revistas terminaram por causa das baixas vendas. A ideologia hippie que preconizava um retorno ao campo, ao bucólico11 era aceita por muitos jovens, o público da FC, que parecia tê-la abandonado.

Mas em meio ao turbilhão de lutas pelos direitos das minorias, pelos direitos civis, pela paz mundial, do meio da efervescência cultural dos anos 60 com sua experimentação de drogas e o rock n’roll tomando conta das rádios e TVs do mundo todo, surgem novos escritores de FC influenciados por essa atmosfera. Esse grupo que ficou conhecido com o rótulo de New Wave of Science Fiction promoveu uma profunda experimentação de estilo, incorporando as gírias das ruas na linguagem, além de uma profunda impregnação de descrições de sexo e violência.

Para Istvan Csicsery-Ronay Jr. ([1988]1991), a Nova Onda “usava a ciência como metáfora nos seus trabalhos, duelando com seus paradoxos inerentes e suas suposições auto-defensivas12“.

Bruce Sterling ([1984] 1991) destaca alguns dos principais autores da New Wave e que influenciaram o cyberpunk: Harlan Ellison, Samuel Delany, Norman Spinrad, Michael Moorcock, Brian Aldiss, J. G. Ballard, Philip K. Dick, entre outros. Além do plano das ciências exatas, a FC penetra agora na área das ciências sociais, numa tentativa de aproximação com o indivíduo.

O estilo da New Wave parecia frustrar o horizonte de expectativa do leitor modelo da época, que estava acostumado e esperava textos extremamente baseados nas leis da ciência e em conceitos da física, da matemática, etc. No entanto, os autores da New Wave, apesar do pessimismo, estavam mais preocupados com um pensamento tecnológico em relação à existência humana. Os heróis da NW, ao contrário dos mocinhos intrépidos da era dourada, possuem um perfil de herói solitário, paranóico e angustiado por questões existenciais. A questão da subjetividade do indivíduo é resgatada das cinzas góticas e ressurge em uma nova forma de contar as estórias futuristas de FC.

O pessimismo e a paranóia em relação às fronteiras do que é realidade, assim como as relações de poder e os elementos tidos como constitutivos do ser humano, reaparecem na forma de estórias violentas e sexualizadas, integradas à tecnologia, não como máquinas para viagens às estrelas, mas inseridos no cotidiano do indivíduo. A máquina e/ou os elementos não-humanos entram novamente em cena, reincorporados como os fantasmas de nosso imaginário.

De acordo com Thomas (1988), a FC age como reveladora dos fantasmas do inconsciente e, por isso, eles representam nossos medos em relação à técnica e à perda da própria identidade humana em meio à tecnocultura. Tais fantasmas maquínicos representam esses medos como antes representavam a transição do gótico para a era industrial. Em suas análises sobre a FC, Thomas (1988) defende que “a razão de ser de uma civilização é lutar contra o poder dissolvente da morte13“.

Na New Wave, a questão da imortalidade é retomada a partir de uma angústia existencial que permeia as personagens em suas relações de poder e morte tanto com a sociedade, as instituições, a tecnologia quanto com outros indivíduos.

A Nova Onda foi um movimento extremamente criativo, entretanto, ao contrário da época dourada, não gerou lucro para a maioria dos autores, que foram redescobertos, em sua maioria, apenas na década de 80 pelas mãos dos escritores cyberpunks.

Cyberpunk (década de 80 em diante)
Após um período de estagnação na FC, em fins dos anos 70, um grupo de escritores (William Gibson, Rudy Rucker, Lewis Shiner, John Shirley, Bruce Sterling)14 decide retomar as experimentações em sua linguagem e temáticas, expressas através do rótulo cyberpunk. No prefácio da coletânea Mirrorshades, que lançou as propostas do grupo de autores, Bruce Sterling ([1984] 1991) define que o cyberpunk é um produto definitivo dos anos 80, embora suas raízes estejam calcadas na tradição da FC moderna popular, da época dourada, mas mais profundamente da New Wave.Tudo isso unido à cultura pop dos anos 80, seja o rock, a arte performática, a cultura hacker, e todas as manifestações underground de arte15.

Featherstone e Burrows (1996) apresentam o trabalho de William Gibson como uma obra exemplar de poética cyberpunk. Gibson é um dos principais autores de ficção cyberpunk, tendo, no livro Neuromancer16 (1984), criado o conceito de ciberespaço e inspirado uma série de outros autores como Pat Cadigan, Bruce Sterling, Lewis Shiner e Greg Bear. Ainda no mesmo artigo, os autores comentam que o cyberpunk é uma visão de mundo atual que engloba literatura, música, cinema, teorias, a cultura jovem e a cultura da MTV e a cultura do PC/Macintosh. Nesse contexto, são citados Mary Shelley, Philip K. Dick, J.G. Ballard, Gibson e outros escritores, McLuhan, Wiener, Walter Benjamin e Baudrillard como teóricos e a música de Patti Smith, Lou Reed, Ramones, Sex Pistols (a geração punk) como fontes de sua influência.

Se pensarmos em termos de uma “árvore genealógica” do cyberpunk, temos basicamente três pólos geradores: a literatura, as teorias sociais e a cultura pop. Todas interagindo e influenciando uma na outra. A literatura em um ramo que vai do romantismo ao chamado movimento cyberpunk em si, rotulado pelos jornalistas na década de 80; as chamadas teorias da pós-modernidade; e por fim, a aqui denominada cultura pop através de seus ícones estéticos da cultura jovem como o rock (em especial o movimento punk17) e a própria cultura do computador.

Decompondo o termo cyberpunk, encontramos de um lado o cyber, remetendo à cibernética de Wiener e à noção grega de governo (no sentido de controle). Do outro temos a noção do punk, tanto movimento musical como ideológico. O cyber nos remete às origens filosóficas e também literárias do conceito, enquanto o punk traz à tona o lado da contracultura, do protesto, do não-controle, do underground, da atitude dos hackers, da experiência empírica das tribos urbanas ligadas à tecnologia.

Dyens (2001) define o cyberpunk menos como uma criação da nova FC surgida nos 80 e mais como um campo de expressão artística contemporânea. A própria ambigüidade terminológica traz em suas raízes uma hibridação entre o clássico (o grego cyber, kubernetes) e a cultura de massa (punk como uma categoria da cultura pop utilizada pela mídia). Nessa construção lingüística do signo, temos uma representação do próprio pensamento tecnológico, que insere em um termo (um neologismo) uma carga de ambigüidades e contrapontos típicos do estágio em que a sociedade se encontra.

Nos últimos anos, o cyberpunk e suas imbricações na cultura contemporânea tem sido objeto de diversos estudos, tendo passado de corrente literária propalada em revistas de FC1881 a um dos elementos centrais no estudo da cultura contemporânea. O cyberpunk apresenta-se como uma rica fonte de pesquisa para aqueles que pretendem compreender a cultura contemporânea, na qual o imaginário maquínico apresenta-se como uma condição sine qua non da existência humana.

A visão cyberpunk reconhece um espaço público em que as pessoas são tecnologizadas e reprimidas ao mesmo tempo, sendo que a tecnologia faz a mediação de nossas vidas sociais. McCarron (1996) afirma que o cyberpunk apresenta questões filosóficas de ordem moderna, nos remetendo diretamente à dicotomia cartesiana mente/corpo, na qual a mente pura apresenta um desprendimento puritano do corpo, sendo este, um acidente de percurso, desconectado da substância pura da mente. O teórico também comenta que o cyberpunk apresenta a interação humana e mecânica como indissociável e conflituosa, todavia central na narrativa cyberpunk. Essa mesma narrativa, segundo ele, questiona as hierarquias humanas propondo uma diminuição e, quase um borrão, nas diferenças entre animais, humanos, andróides, entre outros.

Mais uma vez percebe-se a forte influência do Romantismo na gênese da FC e, conseqüentemente, no cyberpunk. A instabilidade do eu e da categoria do ser humano19 em relação aos outros e em suas definições existenciais estão no âmago das dualidades da arte romântica dos séculos XVIII e XIX, que, cabe salientar, não deixaram de estar presentes na sociedade contemporânea e tampouco durante toda história da FC.

O sentimento weberiano de desencantamento do mundo e de criação de uma paisagem utópica e escapista em relação ao mundo burguês retorna, de outro modo, no desencanto e no niilismo pós-II Guerra, retrabalhado na contracultura, principalmente em movimentos como o beatnik até voltar com força total no pessimismo da New Wave e do cyberpunk.

Bukatman (1993) afirma que, tanto nas teorias pós-modernas quanto no cyberpunk, através da sua linguagem – iconográfica e narrativa – o choque do novo é estetizado e examinado; além disso, ambas possuem uma historicização, contudo com uma perspectiva crítica, pois a FC transforma nosso próprio presente em um passado determinado de algo que virá, o que remonta novamente à idéia de Roberts (2000) de que o gênero é extremamente nostálgico e romântico.

Um outro fato importante e que difere das gerações anteriores tem a ver com o aspecto mercadológico do cyberpunk. A estrutura comercial da cultura de massa que difunde o próprio estilo cyberpunk, da qual fala Bukatman (1993), parece ser mais uma das ambigüidades pertencentes à cibercultura, pois, de acordo com McCarron (1996), duas temáticas constantes do gênero dizem respeito diretamente às estruturas de produção e distribuição do conhecimento na sociedade atual, questionando-as: a) Há uma sátira ao “capitalismo” e à “sociedade” em geral, mas, há uma utilização extensiva dos meios de comunicação20 para divulgar essas obras; b) As multinacionais substituem o governo e são atacadas por grupos que desafiam o seu poder. McCarron (1996) acredita ser irônico o fato de que o capitalismo é o responsável pela literatura de fantasia moderna, mas que, ao mesmo tempo, ele seja agredido por ela.

Cybergóticos
Em um estilo e linguagem que mescla ficção-científica à teoria social e filosofia, Nick Land (1998) nos apresenta a sua versão gótica do futuro (que une elementos arcaicos e tecnológicos em um mesmo momento), relacionando pessimismo e horror à digitalização em curso na sociedade atual.

Land transcreve o horror gótico da época vitoriana para o horror dos códigos binários, do ciberespaço, de um presente cada dia mais tecnificado, descrevendo o lado escuro da digitalização (tecno-esquizofrenia, morte do corpo biológico e reposição maquínica, destruição das corporações, constituem algumas de suas descrições do futuro cada dia mais presente) em seu artigo Cybergothic. “Cybergothic slides K-space upon na axis of dehumanization, from disintegrating psychology to techno-cosmogony, from ideality to matter/matrix at zero intensity.” (Land, 1998).

Archaic revival is a postmodern symptom, the final dream of mankind, crashed into retrospection at the encountered edge of history. Hacking into the crypt you find that behind the glistening SF satellite-based security apparatus lies an immanent bioprotective system self-organized about the Gain attractor. (…) Cybergothic is an affirmative telecommercial dystopianism, guided by schizoanalysis in marking actuality as a primary repression, or collapsed potential, foot down hard on the accelerator. The modern dominum of Capital is the maximally plastic instance – state-compatible commerce code pc-setting the econometric apparatuses that serves it as self-monitoring centers.(…) (Land, 1998).

Dentro dessa concepção de mistura homem/máquina como algo apavorante, causadora de horror e espanto, o cyberpunk pela figura do cybergótico apresenta-se como parte desse aparato de engenharia do ser humano maquínico, como um eu eletrônico, um devir máquina que será a próxima etapa do processo de digitalização.

Cyberpunk is too wired to concentrate. It does not subscribe to trascendence, but to circulation; exploring the immanence of subjectivity to telecommercial data fluxes: personality engineering, mind recordings, catatonic cyberspace trances, stim-swaps, and sex-comas. Selves are no more immaterial than electron-packets (Land, 1998).

Considerações finais
Em suas relações como uma das bases de fundação da cibercultura, a Ficção Científica, principalmente através do cyberpunk, em sua visão tecnológica sombria e espectral de mundo, está indissociavelmente ligado à ficção gótica do século XVIII, na qual seus personagens representavam o indivíduo face às mudanças surgidas em decorrência da Revolução Industrial.

Os fantasmas que permeavam os romances góticos continuam habitando nosso imaginário pulsional, posteriormente tomando conta da ficção científica através de suas representações monstruosas e deformadas no período clássico, alienígenas e robotizadas na era dourada, maquínicas e cotidianas na Nova Onda e, finalmente misturadas aos elementos humanos no cyberpunk. Dos corpos ambulantes que perambulavam encharcados de sangue e submetidos à violência das cirurgias na era industrial, retratada pela ficção gótica, chegamos às próteses midiáticas e militares nos corpos humanos, aos implantes de chips no córtex cerebral e à fusão de metal e carne das estórias cyberpunks.

Os espectros da ficção científica, trazidos à “vida” em meio às sombras das cidades góticas continuam aterrorizando o imaginário da sociedade tecnológica através dos seus muitos gêneros, sobretudo pelo imaginário cyberpunk com seus corpos modificados, tatuados, perfurados, mixados de sangue, placas de silício e circuitos metálicos.


NOTAS
1Doutora em Comunicação Social pela PUCRS
2Doravante tratada como FC.
3Para Löwy e Sayre (1995), a ambigüidade e a dualidade aparecem como o elemento mais constante do Romantismo em todos os seus âmbitos.
4Assim como o romantismo, o existencialismo também possui suas correntes e contra-correntes, possuindo uma ambigüidade que dificulta o enquadramento em uma outra categoria (seja ela literária, filosófica, política, etc). Eis aqui um ponto de contato entre romantismo, existencialismo e as próprias teorias sociais pós-modernas. “Existentialism is not a philosophy but a label for several widely different revolts agains traditional philosophy. (…) Certainly, existencialism is not a school of thought nor reducible to any set of tenents. (…) it becomes plain that one essential feature shared by all these men is their perfervid individualism.” (Kaufmann, 1969).
5Grifo da autora. Autômato e robôs aparecem como figuras constantes na FC.
6Tradução da autora
7Tradução da autora
8Green (2001): “Os anos 80 viram um significante crescimento no número dos filmes de ficção científica, muitos dos quais transformaram-se em clássicos e que continuam a ilustrar discussões das noções de moderno e pós-moderno (tradução da autora).
9Instituições sociais e grandes corporações são alguns dos principais alvos de ataques e críticas da literatura cyberpunk.
10Algumas definições de robô, andróide e ciborgue podem ser encontradas em Paul e Cox (1996). Para eles, robô é uma máquina praticamente autocontrolada, uma máquina inteligente que não necessariamente parece com um humano. Andróide é um robô bípede similar a um humano com grande nível de autocontrole, sendo que um verdadeiro andróide ainda não foi construído. Já o ciborgue, é uma combinação de organismos vivos e máquinas como por exemplo uma pessoa que teve uma parte natural substituída por uma parte artificial.
11Para Sterling ([1984] 1991), “a contracultura dos anos 60 era rural, anticientífica, antitecnológica. Porém, sempre existiu uma contradição espreitando em seu coração, simbolizada pela guitarra elétrica.”
12Tradução da autora.
13Tradução da autora.
14Sterling ([1984] 1991) afirma no Prefácio da coletânea Mirrorshades (que se tornou uma espécie de manifesto cyberpunk), que o cybepunk é um retorno às raízes da FC e que talvez os cyberpunks sejam a primeira geração de FC que cresceu não apenas dentro da tradição literária da FC, mas em um mundo verdadeiramente convertido em ficção-científica.
15Para McCaffery (1991), o cyberpunk é uma proposição de interação entre a FC mainstream e a arte de vanguarda.
16Neuromancer é um dos principais livros no qual foi baseada a trilogia Matrix (Wachowski Brothers, 1999, 2002, 2003). Além disso, foi a obra literária que primeiro divulgou a estética e a literatura cyberpunk, criando as bases ficcionais da cibercultura. Entre suas outras obras estão Mona Lisa Overdrive e Johnny Mnemonic – também transformado em filme.
17Sterling ([1984] 1991): “Some critics opine that cyberpunk is disentangling SF from mainstream influence, much as punk stripped rock and roll of the symphonic elegances of 1970s progressive rock.
18Sobre a primeira aparição da palavra cyberpunk: “Bruce Bethke was apparently the first person to use the word cyberpunk. It appeared in a short-story published in November 1984 in the magazine Amazing Stories. It was later popularized by Washignton Post journalist Gardner Dozois in his December 30, 1984, article titled SF in the Eighties“. (Shiner in Dyens, 2001)
19Springer (1997) analisa essa instabilidade da identidade humana nas personagens de ficção cyberpunk. “Cyberpunk renders uncertain any basis for an authentic human identity. Technology allows cyberpunk characters to alter themselves in anyway they choose, abandoning any semblance of their original identities. In some cyberpunk texts characters change their identities the way most people change socks. Their identities, moreover, are often technological constructs without origin in human conciousness” (Springer, 1997, p.34)
20Lemos (2002) exemplifica: “as revistas são responsáveis pela disseminação desse imaginário tecnológico, principalmente as pioneiras Boing Boing, HackTick, 2600, Reality Hackers e depois Mondo 2000, Black Ice ou a brasileira Barata Elétrica. (…) Mondo 2000 é a bíblia dos cyberpunks e uma das primeiras a mostrar os vínculos entre a ficção-científica e a vida real.
>> VERSO E REVERSO – por Adriana Amaral


TODOS OS ESCRITORES SÃO UM POUCO MALUCOS: CONSELHOS DE ESCRITA

domingo | 15 | março | 2009

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Jeff VanderMeer está a escrever  um novo romance (Finch) e partilha alguns conselhos de escrita. Os mais recentes referem-se à elaboração de cenas do que em bom português passo doravante a designar por «porrada da grossa» (action scenes).

Alguns destaques pessoais, com acentuação minha a negrito:

First, though, if going in no one gives a crap about the characters, who the heck cares that they’re in danger. That’s key. Then you have to think of it in terms of the craziest Hong Kong cinema mixed with your own personal mental unhingement: because you’ve got to imagine being in the middle of that. You’ve got to make some preliminary diagrams of the set-up so you can see it clearly, and then you’ve got to wed that to something visceral.

(…) See, the key to an action scene in this age of the big-budget blow-em-up action flick, besides a touch of personal lunacy and cleverness, is making it seem chaotic and confused without it actually being chaotic and confused. And that usually means less is more.

(…) And then it needs the dying fall, when you come back to earth, and the state of world before the battle is restored, and yet changed in some fundamental way. Something’s been lost even as experience is gained. And your hero, s/he’s pretty banged up, but he’s still staggering along…

E possivelmente a mais valiosa das sugestões:

I’ve spent probably 20 to 40 hours on that one scene. That’s the definition of crazy: choreographing the details of something that’s ink on paper so it can hopefully become three-dimensional in the reader’s mind. Doing research on just how a gun that fires fungal bullets might work. Imagining and re-imagining the dialogue for that situation.

Resumindo a receita:

  • elaborar personagens suficientemente complexos e profundos que potenciem a empatia do leitor (normalmente conseguido pelo autor através da simples técnica de auto-encurralamento, ou seja, levar o personagem mais tímido e apagado a revelar-se, no momento crítico em que devia comportar-se como toda a gente esperava e soçobrar aos gritos nas garras do monstro, a dar a volta à situação e ser o único a conseguir escapar-se – algo que não só desperta a atenção do leitor como motiva o próprio autor e o desafia a re-equacionar o contributo deste personagem subitamente desperto na narrativa, daí o «encurralamento»)
  • ter capacidade de visualização e imaginarem-se efectivamente no meio da cena (em jeito de exemplo, a situação de casos extremos e violentos: qual a sensação efectiva de esganar alguém até matá-lo? De violar uma criança? De ver a família chacinada antes os vossos olhos? De sair ileso de um acidente que vitimou quatro jovens a caminho de uma noitada e saber que a culpa foi inteiramente vossa? – imaginarem-se de repente na situação em causa e perceberem como reagiriam, lembrando-se que são humanos e que a primeira tendência será, se for esse o vosso pendor, de inventar uma desculpa apressada e culpar a sociedade ou o nevoeiro ou a outra pessoa, e não vós mesmos); analisar as consequências morais e éticas do desenlace;
  • ter em atenção o que os outros fazem: os leitores não existem numa cela solitária sem janelas cujo único contacto com o mundo é as vossas preciosas palavras. Os leitores cometem constantemente o pecado de enterrar a foice em seara alheia, seja por ler outras obras seja por ligar a televisão. E os leitores são, como as crianças, implacáveis na crítica e comparação das obras e dos criadores, vilipendiando-vos à primeira falha e percebendo de imediato se isto ou aquilo foi «inspirado» (leia-se: decalcado) d’aquilo ou d’aqueloutro. Infelizmente, ao contrário das crianças, os leitores não vos confessam tais pensamentos cara-a-cara, mas simplesmente deixam de comprar os vossos livros;
  • loucura pessoal: sim, o autor tem a presunção de pensar que fala e escreve algo suficientemente interessante para que os outros percam horas do seu precioso tempo de vida a ler. A única forma de garantir o respeito destas pessoas e o retorno à leitura é de o autor tornar-se verdadeiramente numa pessoa interessante, conflituosa, exacerbada, opinativa (com fundamento) e interessada nos outros e no mundo. Caso contrário duvido que tenha algo para dizer. A construção da personalidade da pessoa-autor é um processo lento e demorado tão essencial à qualidade da escrita quanto o trabalho investido nas obras em concreto.
  • trabalho: sim, trabalho. Suar e fazer o que custa. Amargar com a porra do texto no lombo e repisá-lo e revirá-lo e deitar fora. Ficar acordado até altas horas a pensar no enredo, abrir os olhos já com a preocupação em mente. Questionar todas as decisões para descobrir quais as que não conseguem abdicar e desenvolver o texto em torno das mesmas (porque nessas estará o coração e alma da obra). (E não, lamento, mas despejar o primeiro conjunto de frases soltas que vos vier à cabeça sobre o assunto, efectuar uma revisão apressada ou nem sequer isso, e submeter o resultado a um concurso literário, percebendo-se perfeitamente que o autor não respeitou o próprio texto sequer o suficiente para o limpar e pôr decente, lamento imenso mas in my books isso nem sequer conta como uma flexão para o mínimo de cem que seria necessário.)

Além dos seus premiados trabalhos como autor, Jeff VanderMeer tem sido o responsável pela edição de alguns dos nomes mais interessantes da nova onda da literatura fantástica.

Conselhos apropriados a toda a escrita e não apenas a cenas de porrada da grossa. Relativamente a estas, apenas acrescentaria ao artigo de Jeff a necessidade de adequar o estilo para comportar frases curtas e energéticas, essencialmente descritivas, que devem encaixar-se umas nas outras sem repetições de sujeito e verbos, e que toda a sequência deve seguir um ritmo variado e progressivo, com momentos de pausa entre instantes de movimentos e consequências físicas. Sugestão pessoal: escolher uma banda sonora que reflicta o tipo de sequência de acção pretendida (heavy metal, pop, música clássica) e ouvi-la antes ou durante a escrita para conduzir o espírito ao estado de agitação adequada, um pouco em paralelo do que os actores costumam fazer.
>> EFEITOS SECUNDÁRIOS – por Luís Filipe Silva


GIBIS CONCEITUADOS

domingo | 15 | março | 2009

O gibi sempre teve uma importância relativa para mim; tenho amigos porém, como o Mauro Dorfman, que se pudessem morariam dentro de uma história em quadrinhos. Mas para mim gibi sempre foi só gibi, não havia nada demais. Quando guri, trocava sem culpa os que eu tinha no intervalo da matinê de domingo. Não eram objetos de coleção. Guardo os que sobraram numa gaveta, embaixo dos meus antigos boletins do colégio. E estão em baixo como forma de punição pelos danos causados às notas nos companheiros de cima.

Depois de um tempo o gibi virou “quadrinho”, ou HQ. Coisa séria. Lembro do impacto que tive ao ler o Watchmen nos anos 80, uma trama intrincada, profunda; uma quebra nos paradigmas do gênero ao narrar o colapso dos super heróis. Um pouco antes, o Batman deixava a ingenuidade no passado e ressurgia soturno, sorumbático, em “O cavaleiro das trevas”. O quadrinho adulto, aliás, carrega na melancolia – um paradoxo ao veículo, às cores e traços extravagantes que muitos utilizam.

Especulo se essa melancolia não é própria da liberdade dos quadrinhos, afinal eles foram gibis um dia. E liberdade, sabemos, sempre acaba em pensamentos existenciais. E pensamentos existências em angústia e assim por diante até chegarmos no Crumb, um super melancólico. Ele tem uma historieta em que a primeira pergunta é a seguinte: “Você é capaz de ficar sozinho e encarar o UNIVERSO?” A pergunta é banal. Mas o primeiro desenho mostra um sujeito de costas, despido, sozinho, inerte, diante do…universo. As respostas que se sucedem – no desenho caricatural, e nas palavras cortantes do Crumb – são de “fundir a mente”.

Mas o espectro da contracultura a la Crumb, ou a monocultura dos super heróis não resumem todo o enredo dos quadrinhos atuais. Dois exemplos? “Fun Home”, auto-intitulada como uma tragicomédia familiar. As cores sumiram, como se fosse para suavizar, tornar imperceptível, a fronteira entre do quadrinho e a literatura. Outro: “Frango com ameixas”, da Marjane Satrapi, conhecida por “Persépolis”. Os quadrinhos da Marjane são familiares aos da Alison Bechdel (autora do Fun Home) nos quesitos sensibilidade, forma de narrar, desenhos simplificados e…melancolia.

O fato é que os velhos gibis ganharam prestígio. É inegável. As edições cada vez mais caprichadas pularam do porão para a vitrine. Mas, afinal, por que um formato desses, anacrônico, com desenhos imóveis e balõezinhos lúdicos, fazem sucesso nesse mundo supertecnológico? Talvez porque, apesar da multiplicidade das emissões digitais, o ser humano continue analógico.
>> TERRA MAGAZINE – por José Pedro Goulart


VALSA COM BASHIR ATRAI ATENÇÃO DOS NÃO-LEITORES DE QUADRINHOS

domingo | 15 | março | 2009

O álbum “Valsa com Bashir” – que começou a ser vendido neste mês (L&PM,  118 págs., R$ 46) – integra estabelece um duplo diálogo, um consequência do outro. O primeiro diálogo é com o cinema. A animação israelense venceu neste ano o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e concorreu na mesma categoria no Oscar.

A premiação e a indicação ajudaram a atrair olhares para a produção, até então desconhecida. Essa é a segunda interlocução, com a pessoa interessada no filme. É aí que está o dado curioso da obra. E que põe os quadrinhos em evidência a quem tradicionalmente não lê histórias da chamada arte sequencial.

O cinéfilo ou o interessado pelo longa descobre que a animação ainda não estreou no Brasil. Teve exibição apenas na mostra de cinema de São Paulo do ano passado. Essa mesma pessoa encontra, então, a versão em quadrinhos do filme. Mais: escrita pelo roteirista e diretor Ari Folman e desenhada pelo diretor de arte, David Polonsky. Em vez de um livro, há a versão em quadrinhos. O mesmo ocorreu em janeiro com o filme “O Curioso Caso de Banjamin Button”, indicado a vários Oscar.

O espectador interessado na adaptação do conto de F. Scott Fitzgerald (1896-1940) não encontrou a narrativa nas livrarias. O livro com o conto ainda não havia sido lançado. O que havia era a versão em quadrinhos, diferente do filme, próxima da história escrita pelo autor norte-americano. A edição nacional foi lançada pela Ediouro.

E a editora carioca soube explorar esse novo leitor, que tradicionalmente não acompanha quadrinhos. Pôs um papel em torno da capa com a frase “o livro que inspirou o filme”. Na verdade, não é bem isso. É uma adaptação do conto que, aí sim, inspirou o longa-metragem. Mas, na prática, levou o leitor a manter contato com um álbum em quadrinhos. 

Puxando o novelo temporal um pouco mais, viu-se o mesmo com “Persépolis”. A animação também havia sido indicada ao Oscar de 2008. Não venceu, mas a Companhia das Letras capitalizou com uma reedição em volume único das quatro partes da história. “Valsa com Bashir” segue essa linha de diálogo com quem normalmente não acompanha quadrinhos e que só vai ver a estreia da produção em abril. E o que o álbum mostra vai convencer esse público de que “não é apenas coisa de criança”.

A trama é autobiográfica. Ari Folman procura entrevistar pessoas que, como ele, participaram a invasão israelense ao Líbano em 1982. O roteirista e diretor não consegue relembrar especificamente o momento mais marcante do conflito, o massacre de Sabra e Shatila. Refugiados protegidos por Israel foram assassinados. Estima-se a morte de 3.500 pessoas. Com base no que ouve, Folman vai rememorando. E, nas duas páginas finais, reproduz com fotos o que estava escondido em sua mente. É de calar o leitor, quer acompanhe quadrinhos, quer não.

A publicidade em torno da obra tenta pôr “Valsa com Bashir” no mesmo patamar de “Maus”, de Art Spiegelman, outro álbum em quadrinhos que aborda os reflexos da guerra de forma biográfica (no caso, trata-se da Segunda Guerra Mundial).  A questão não é essa, se é melhor ou pior. Pelas características próximas e pela temática, o trabalho de Folman e Polonsky figura naturalmente na mesma estante de “Maus”.

O ponto é a qualidade da história, feliz na mescla das lembranças pessoais com depoimentos em forma de documentário. É nisso que mais se aproxima de “Maus”. A valsa em quadrinhos ocupa a mesma pista de dança das obras que dialogam com o real e com as pessoas que normalmente não seriam chamadas para acompanhar a dança.
>> BLOG DOS QUADRINHOS – por Paulo Ramos


A LIBERDADE INFINITA DA LITERATURA JUVENIL

sábado | 14 | março | 2009

Existem livros mágicos. Quem lê um deles vai para sempre acreditar no poder mágico dos livros, do livro. “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é um dos mais impressionantes. A escala e a velocidade de seu sucesso sugerem alquimias secretas. O jovem bruxo não se materializou por encanto. Mas gerou um furacão inesperado. Fez do segmento “livro juvenil” o mais quente da indústria editorial. Com consequências no cinema, no merchandising, nos videogames e na TV.

Mas que é um livro juvenil? Até recentemente, a indústria do livro dividia a literatura em dois grupos principais, “adulta” e “infantil” (ou “infanto-juvenil”, outro nome, mesmo significado vago). Neste último segmento, agrupava álbuns coloridos para nenês e tijolos de 700 páginas.

Para fazer uma idéia: em dezembro de 2001, a revista “Publisher’s Weekly”, bíblia do mercado editorial, publicou a lista dos 276 livros infantis que venderam mais de 1 milhão de cópias nos EUA. O mais vendido é “Charlotte’s Web”, de E.B. White, criadora do ratinho Stuart Little. Em seguida, vem “Outsiders”, escrito aos 18 anos por S.E. Hinton e filmado por Francis Ford Coppola. Nada a ver um com o outro.

Cabe de tudo na lista. Das Tartarugas Ninja a gente como Dr. Seuss (”O Grinch”), R.L. Stine (da coleção de terror juvenil “Goosebumps”) e Roald Dahl (”A Incrível Fábrica de Chocolate”).

No Brasil também se mistura banana com laranja. Nossas listas atuais de best-sellers infanto-juvenis revelam “1984″ e “A Revolução dos Bichos”, de George Orwell, e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, ao lado de Cinderela e Cebolinha.

O escritor de ficção-científica Thomas M. Disch diz que os bons autores de livros para adolescentes devem manter a clareza e a inocência de garotos sabidos como Peter Pan. Chama neotenia. É como os biólogos batizaram a retenção de características imaturas ou larvais no estágio adulto.

Para Disch, “os jovens não são seres inferiores, nem miniadultos. São apenas diferentes dos adultos”. Têm outras necessidades, outros interesses, outro humor, menos respeito pelo passado, muita curiosidade sobre o futuro, pouca paciência com regras que não criaram, imaginação fértil e muita pressa.

O homem é uma espécie que conta histórias, conta o biólogo Steven Pinker. Para ele, a criança que se encanta com um conto de fadas está fazendo uso de uma herança genética da humanidade. Pinker defende que essa capacidade é uma vantagem evolutiva. Em todos os cantos do planeta, as linguagens são divididas em objetos e ações: substantivos e verbos. Elas nos permitem transmitir informações sobre o que vai acontecer depois, organizando fatos numa sequência temporal.

Não há maneira melhor de transmitir informação densa do que por meio de uma história. Por isso elas têm poder. E os livros incorporam esse poder. Cada livro lido nos muda. Passa a fazer parte da nossa história pessoal. A sequência das obras lidas por cada um é única, pessoal e intransferível.

A adolescência é nosso período de liberdade máxima como leitores. Já temos repertório e ambição suficientes para encarar qualquer “lista telefônica”. E não temos, ainda, as obrigações sociais que fazem de boa parte da leitura madura um tedioso desfile de manuais (como dar um jeito na economia, na carreira, escolher o vinho, diminuir a barriga etc.), castigo que já começa com as leituras obrigatórias para o vestibular (a maldição de “Iracema”).

O psicólogo Jean Piaget defendia que, nessa fase, “o ser humano está tentando dominar os elementos que lhe faltam para a razão adulta. Precisa aprender a lidar com idéias abstratas e, por isso, precisa ler livros que lidem com abstrações”. Deve, portanto, ler histórias fantásticas e selvagens. Quando você não sabe exatamente do que é capaz, precisa de horizontes distantes e idéias desafiadoras. Exige viver aventuras perigosas que testem seus limites.

É por essa razão que todo leitor, nessa fase, adora se apossar de livros escritos para adultos. Pode ser uma velharia desbeiçada e empoeirada da estante, herança do irmão mais velho ou do avô.

Hoje, no Brasil, é inevitável que os jovens acabem lendo Paulo Coelho, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Fonseca. Ou algum desses livros históricos-fantásticos, estrelados por Cleópatra, Alexandre, Júlio César, Jesus Cristo, faraós, Rei Arthur, Bórgias, Medicis. Os “technothrillers” de Tom Clancy, os dramas legais de John Grisham, o horror suburbano de Stephen King, os melodramas góticos de Anne Rice.

Qualquer leitor esperto de 13 anos digere numa boa um best-seller típico, que muitas vezes é um livro juvenil para adultos, disfarçado. E quem já passou dos 30 e não leu Sidney Sheldon, Danielle Steel, Irving Wallace ou Morris West no ginásio que atire a primeira pedra.

A adolescência também é o momento em que alguns de nós se apaixonam perdidamente por gêneros —principalmente, o policial ou a ficção científica. Com duas vantagens. Uma, você sempre tem uma noção do que te espera. Outra, você tem a história inteira do gênero à sua disposição. Quem se apaixona por Agatha Christie vai descobrir Georges Simenon e Raymond Chandler. Quem fica louco por Isaac Asimov acaba encontrando H.G. Wells e William Gibson. Tipo da paixão que bate e fica.

sherlock_livrosNenhum desses autores buscava o leitor juvenil. Nem os grandes autores de aventura, como Robert Louis Stevenson e Jack London. Zorro, Drácula, Sherlock Holmes, Conan e o Capitão Nemo foram criados para a diversão de pais, não de filhos. Deram origem e foram parcialmente substituídos pelas histórias em quadrinhos e, mais recentemente, pelos jogos eletrônicos. Essas obras continuam clássicas e são lidas até hoje.

Os romances escritos especificamente para adolescentes são diferentes e muito fáceis de reconhecer. São estrelados por garotos e meninas da mesma faixa etária do leitor, dos 10 aos 15 anos, saindo de seu cotidiano e adentrando um universo desconhecido. Enfrentam bruxas, desvendam conspirações, escondem-se em foguetes, lideram piratas. Muitas vezes, também sofrem e sangram.

Alguns apresentam universos paralelos para onde o leitor adoraria se mudar, ou de onde ele fugiria voando. Os melhores apresentam as virtudes e desvantagens de cada lado do espelho, com os protagonistas simultaneamente abraçando e rejeitando os dois campos opostos.

Exatamente como o adolescente, que mantém um pé na infância enquanto dá um passo maior que as pernas em direção à maturidade. O maior clássico juvenil desse tipo é “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J.D. Salinger —melhor se lido até os 15 anos e relido periodicamente depois disso.

A inglesa Joanne Kathleen Rowling, criadora de Harry Potter, escreve livros assumidamente juvenis e é o novo paradigma do segmento. Soube combinar muito bem duas vertentes tradicionais da literatura de seu país: os livros que se passam em internatos e a paixão pelo ocultismo.

Aventuras divertidas em colégios internos rígidos são populares na Inglaterra há muito tempo. É uma realidade muito distante da nossa e nunca pegou por aqui. A principal exceção é a série de Jennings (no Brasil, Johnny, publicado pela Ediouro). São 25 livros escritos entre 1950 e 1994 por Anthony Buckeridge, que estabeleceram as convenções do gênero.

O crítico inglês Francis Spufford tem uma boa explicação para o sucesso desses livros. As escolas internas são “cidades de crianças”. Não há pais por perto. São um espaço de liberdade, onde as regras —justamente por serem externas e impostas— podem ser quebradas ou enfrentadas, sem culpa.

O que importa são as regras de convivência estabelecidas pelas próprias crianças —como aprendemos a conviver com nossos semelhantes e diferentes. Inclusive o garoto riquinho e metido da turma inimiga, o velho mestre misterioso, a professora insuportável e a garota tapada. É por isso que Harry e seus leitores adoram o colégio Hogwarts.

Esses livros de internato fazem parte do que Spufford chama de “estágio da cidade”, quando o jovem leitor passa a se interessar por livros que exploram a convivência realista entre as pessoas. Seja numa fazenda, numa ilha secreta, num vilarejo do velho oeste ou num internato. Na Inglaterra, essas obras exploram também a relação entre as classes sociais.

Livros da Magia, Os - Parte 1 de 4O ambiente escolar é a única grande diferença entre Harry e o personagem Tim Hunter, criado por Neil Gaiman, em 1990, na minissérie em quadrinhos “Os Livros da Magia”.

Tim é um garoto órfão, míope, tímido e moreno, de 13 anos. Um dia é levado para conhecer o universo da magia. Se cumprir seu treinamento, poderá se tornar o maior mago do universo. Ganha um mascote/totem para sua jornada: uma coruja, símbolo da sabedoria secreta. Bem parecido com Harry, que só estreou sete anos depois.

Gaiman garante que Rowling não plagiou sua criação, mas se inspirou na mesma fonte que ele: a tradição mágica britânica. Há desconfianças de que que houve acordo entre os autores.

Realmente as artes na Inglaterra têm ligação tradicional com o oculto. E não só em tempos antigos. A ilha deu ao mundo o mais famoso mago do Século 20, Aleister Crowley. A partir dos anos 60, presenciou a renovação do misticismo e o aparecimento de uma nova geração de criadores fortemente envolvidos com magia. Entre os mais conhecidos estão os escritores de livros e quadrinhos Alan Moore (”A Voz de Fogo” e “Do Inferno”) e Grant Morrison, cuja cultuada série “Os Invisíveis” é a matriz de “Matrix”, o filme.

No Reino Unido, até as obras de respeitáveis acadêmicos cristãos, como o inglês J.R.R. Tolkien e o irlandês C.S. Lewis, têm componentes místicos muito fortes. Ambos andam mais populares do que nunca e têm sido muito lidos por adolescentes à espera do quinto episódio de “Harry Potter”.

Amigos e contemporâneos, os dois faziam parte do grupo de intelectuais conhecido como “os cristãos de Oxford”, criado nessa universidade na década de 30. Colocaram todo seu fervor religioso nas obras que lhes deram fama, “O Senhor dos Anéis” e “As Crônicas de Narnia”.

Tolkien, estudioso da literatura saxônica, pretendia, com a “saga do anel”, criar uma mitologia artificial, mas crível, e tipicamente inglesa, à altura do que imaginava que o país merecesse. Foi mais bem sucedido do que poderia imaginar. Sua influência se espalhou pela cultura mundial e está nos lugares mais inesperados —até no filme “Xuxa e os Duendes”.

Tolkien assumia que a Terra Média era um mundo pré-cristão, cuja história se passava antes do pecado original. Não se incomodava com os paralelos entre o pão dos Elfos e a eucaristia, ou entre Galadriel e a Virgem Maria. Só admitiu que “Gandalf é um anjo”.

Lewis foi além. As sete “Crônicas de Narnia” são o mais explícito proselitismo cristão, com meninos e meninas explorando um universo paralelo muito imaginativo, onde reina o leão Aslan, o Cristo dessa outra realidade. O primeiro livro, “O Leão, a Bruxa e o Guarda-Roupa”, voltou às listas de mais vendidos pelo mundo afora e é muito recomendado por igrejas cristãs da Inglaterra e dos Estados Unidos. É um dos autores prediletos de J.K. Rowling.

Outra grande influência na criação de Harry Potter é Diana Wynne Jones, a grande dama da fantasia inglesa. Escrevendo para jovens desde 1973, já tem vários clássicos no currículo, inclusive os quatro volumes das “Crônicas de Chrestomanci”, iniciadas em 1977 e agora popularizadas fora da Inglaterra. Seu personagem principal, o garoto Christopher Chant, é um mago que guarda os portais entre os mundos.

Também anterior à “explosão Potter” é Terry Pratchett , o autor mais vendido do Reino Unido nos anos 90, em qualquer gênero. Somente agora está ficando popular em outras línguas. A série “Discworld”, iniciada por “A Cor da Magia”, une fantasia alucinada com o mais idiossincrático humor inglês.

Os principais companheiros contemporâneos de Harry Potter nas listas de best-sellers são a família Baudelaire, o ladrãozinho Artemis Fowl e a poderosa Lyra da Língua Mágica —todos em breve num cinema perto de você.

Os nove livros de “Desventuras em Série”, escritas por Daniel Handler sob o pseudônimo de Lemony Snicket, merecem ser lidos por todos os fãs da “Família Addams”. Contam a desgraçada vida dos três órfãos Baudelaire, às voltas com criminosos encardidos e roupas pinicantes.

“Artemis Fowl” é outro astro. O maquiavélico menino prodígio do crime usa supercomputadores para engambelar fadas e enfrentar exércitos mitológicos. O irlandês Eoin Colfer dispara frases secas de tira americano como “a voz que emanava do alto-falante era tão séria quanto um inverno nuclear”.

Philip Pulmann ocupa um lugar especial. Ganhou prêmios literários importantes e tem admiradores e detratores igualmente apaixonados. A razão é que sua trilogia “Fronteiras do Universo” (His Dark Materials, no Brasil iniciada por A Bussola Dourada) é herética, um libelo anti-religioso e anticristão.

Inspirada no “Paraíso Perdido”, de John Milton, a série relata a batalha final entre a Autoridade, as forças do controle e do ritual, que aprisionam a humanidade há milênios, e a República do Paraíso, que vem lutando pela liberdade desde que os anjos se rebelaram contra Deus. Pulmann é um paradoxo: coloca sua imaginação incomparável a serviço de um elogio do materialismo. Diz que “depois de comida, teto e companhia, não há nada que o homem deseje tanto quanto histórias”.
>> BLOG ANDRE FORASTIERI – por Andre Forastieri


CONTOS DE ANDERSEN

sábado | 14 | março | 2009

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Escritor dinamarquês ao optar pela fantasia percebeu a inviabilidade de um mundo que tinha como primado o mito do progresso

A taverna frequentada por Hans Christian Andersen em Odense, na Dinamarca, foi fundada em 1506. Dizem que sobre uma de suas mesas ele teria escrito o famoso conto “O soldadinho de chumbo”. Era uma chuvosa noite de primavera, e o escritor sentia-se desenganado do amor da bela Jenny Kind. A taverna existe até hoje e chama-se “Tinsoldaten” (soldadinho de chumbo), em sua homenagem. Talvez Andersen, que nasceu na mesma Odense, em 1805, e faleceu em Copenhague, em 1875, não se sentisse muito confortável por ter-se tornado famoso como autor de contos de fadas. Antes tivera uma extensa e ambiciosa produção literária escrevendo romances “sérios”, que hoje já não são lidos, e com eles já havia conquistado a Europa. Mas foi com o gênero chamado conto de fadas que conquistou o mundo.

Como define bem o escritor brasileiro de origem dinamarquesa Per Johns, conto de fadas em escandinavo é eventyr ou äventyr, literalmente uma aventura, com o significado de viagem, “a viagem de uma vida – de rumo incerto, mas fascinante. Abarca tanto a pura narrativa de um acontecimento fantástico como o périplo do espírito que sai mundo afora em busca do destino, em vez de esperar que ele chegue. O que equivale a dizer: ou se vive uma vida como uma aventura que se renova a cada dia ou não vale a pena vivê-la.”

Devemos encarar suas histórias sob esse ponto de vista. Cada conto é uma aventura em que o ser humano se desprende de suas limitações para assumir o próprio destino, mesmo com todos os riscos que essa possibilidade apresenta. Em muitos de seus contos está presente essa viagem e aventura.

“O companheiro de jornada” é a aventura de um homem pelo mundo. Perde seu amado pai e parte com a intenção de ser uma boa pessoa. Leva apenas algumas moedas, tudo o que herdara, mas não demora deixá-las nas mãos de bandidos que profanavam um cadáver. Viaja pelo mundo com um companheiro recente, que o protege durante a maior parte do tempo. Em “Os cisnes selvagens”, observamos onze cisnes que cruzam constantemente um oceano. Há a irmã que sai em busca deles, na verdade príncipes transformados em aves. Eles passam o dia inteiro em pleno voo, transformando-se em homens apenas durante a noite. E por último “As galochas da fortuna”, adorável história que apresenta várias personagens que ao vestirem os misteriosos calçados têm os desejos realizados, viajando inclusive para outros tempos.

Muitas vezes estigmatizado como autor de literatura infantil ou infanto-juvenil, rótulos que, como disse certa vez a escritora Roseana Murray, são de necessidades mercadológicas, Andersen acabou por não ser lido pelo público adulto; a exceção ocorre apenas quando esses adultos resolvem contar as histórias do autor dinamarquês para os filhos. Mas é um grande equívoco olhar o escritor dessa maneira. O que teria de literatura para crianças ou mesmo para jovens contos como o próprio “O soldadinho de chumbo” ou “A menina dos fósforos?” Talvez uma criança sinta-se entristecida ante os percalços da vida ao ler essas histórias numa idade em que ainda deveria primar pela esperança de felicidade que todos têm no coração desde cedo, e pela crença de que as brincadeiras são eternas.

Na verdade esses contos são de plena profundidade; discutem o sentimento amoroso, a beleza, e também os acasos que nos desviam da rota que gostaríamos de estar trilhando. Em “A menina dos fósforos”, há a solidão de uma pequena criança numa noite de natal; a menina está com um frio terrível e faminta, a única constatação é de que apenas o mundo do sonho é possível. Seu sofrimento é tanto que esse mesmo sonho acaba por misturar-se ao desejo de morte quando ela sente próxima a presença da avó falecida.

Andersen escreveu numa época em que a maior parte dos habitantes das cidades europeias vivia em extrema penúria. Era uma Europa com a permanente ameaça de guerra, de frio e de fome. Junte-se a isso a reflexão sobre o que há de mais recôndito e de mais sórdido na alma humana. O escritor encontra na fantasia a solução para todos esses problemas. E, como ocorre muitas vezes, quando a morte ameaça uma criança doente num leito, cuja mãe se esvai em lágrimas sem encontrar solução alguma, a viagem final se dá em companhia de um anjo de rosto radiante e belo, que conduz o pequeno infante à presença de Deus, como ocorre no conto do mesmo nome: “O anjo”.

Contos de Andersen É sempre bom comentar a respeito das boas e belas edições. Contos de Andersen (Paz e Terra, 463 páginas) não é uma edição nova. O exemplar que me chegou às mãos creio é da última, datada de 2002, com tradução direta do dinamarquês por Guttorm Hanssen e revisão estilística do saudoso Herberto Sales. O livro tem ilustrações do original em dinamarquês.

Vale a pena ler os quarenta e oito contos do livro, para que se tenha uma idéia correta desse grande clássico da literatura universal. São histórias que muitos de nós conhecemos apenas porque ouvimos um dia, ou assistimos no cinema ou televisão a alguma adaptação. E por melhor que tenha sido realizada, não é possível compará-la à beleza que essas histórias possuem quando aparecem em livro, e com o texto integral.
>> PORTA LITERAL – por Haron Gamal


ECLIPSE: JUAN ANTONIO BAYONA DIRIGIRÁ TERCEIRO FILME DA SERIE CREPÚSCULO

sábado | 14 | março | 2009

Juan Antonio Bayona, responsável por dirigir O Orfanato, será o diretor de Eclipse, terceiro filme da série baseada nos romances de Stephenie Meyer. Boatos anteriores indicavam que Drew Barrymore poderia ocupar a função.

O primeiro filme da franquia, Crepúsculo, foi dirigido por Catherine Hardwicke. Já o segundo, Lua Nova, está a cargo de Chris Weitz. Entretanto, como Lua Nova e Eclipse vão estrear em um intervalo muito curto (Lua Nova em 20 de novembro de 2009, Eclipse em 30 de junho de 2010), Weitz provavelmente não será capaz de capitanear as duas películas.

Os roteiros de Eclipse estão novamente a cargo de Melissa Rosenberg, que também escreveu os dois filmes anteriores. Novamente, ela conta com a consultoria de Stephenie Meyer.

Em Crepúsculo, a jovem Bella (Kristen Stewart) conhece e se apaixona por Edward (Robert Pattinson), um vampiro. Em sua continuação, Edward decide se afastar de Bella, a fim de protegê-la. Arrasada, a jovem encontra consolo no amigo Jacob Black (Taylor Lautner), que na verdade é um lobisomem.

E em Eclipse, Bella se vê novamente em perigo, quando Seattle começa a ser assolada por uma série de misteriosos assassinatos. Em meio a isso, a jovem é forçada a escolher entre seu amor por Edward e sua amizade com Jacob – e sua decisão pode desencadear um conflito entre vampiros e lobisomens.
>> HQ MANIACS – por Émerson Vasconcelos


“DIA DOS NAMORADOS MACABRO” INVESTE EM TECNOLOGIA 3D

sábado | 14 | março | 2009

A onda de refilmagens de filmes de terror dos anos de 1970 e 1980 continua com força, embora os resultados nas bilheterias não estimulem muito esse tipo de atividade. Depois dos recentes “Sexta-Feira 13” e “Halloween” (de 2007, e ainda inédito no Brasil), chega “Dia dos Namorados Macabro“, que estreia em todo o país em cópias para projeção em 3D (todas dubladas) e 35 mm (dubladas e legendadas).

O grande diferencial desse filme em relação aos similares já lançados é a projeção em terceira dimensão, com efeitos valorizados por óculos especiais. A história é a mesma de sempre: grupo de jovens tenta fugir de maníaco mascarado que os elimina das formas mais sanguinárias possíveis.

O assassino se veste com roupa de minerador e as pessoas creem que ele é um sujeito que se envolveu num acidente numa mina da pequena cidade onde se passa a história. Na verdade, o assassino pode ser o próprio minerador, um fantasma (o que tornaria o filme ainda mais “assustador”) ou outra pessoa se passando por ele. No caso, pouco importa quem é o matador, mas sim a forma como ele executa cada uma de suas vítimas.

O filme começa com um prólogo, uma década atrás, quando o assassino fez história num massacre no Dia dos Namorados dentro de uma mina de sua cidade. Poucos escaparam, como Sarah (Jaime King, de “Sin City”), seu namorado Tom (Jensen Ackles, da série “Dawson’s Creek”) e o casal Irene (Betsy Rue, da série “CSI”) e Axel (Kerr Smith, de “Vampiros do Deserto”).

Nos dias atuais, Tom volta à sua cidade para vender a mina depois da morte do pai. Ele descobre que Sarah se casou com Axel, agora xerife, e que Irene transa com caminhoneiros em hotéis de beira de estrada. A cena da moça com um de seus acompanhantes, aliás, é o que há de mais divertido no filme.

As pessoas que cercam Tom e seus amigos começam a morrer sistematicamente. E ele se torna o principal suspeito para o xerife que, na verdade, está com ciúme porque Sarah anda conversando muito com seu ex-namorado.

Dirigido por Patrick Lussier (“Luzes do Além”), “Dia dos Namorados Macabro” investe na tecnologia 3D. Diferente de “Scar 3D – A Marca do Mal”, exibido nesse formato e lançado no final do ano passado, aqui, pedaços de vitimas e sangue “voam” na direção do público – o que transforma o filme em grande diversão para os fãs do gênero.
>> YAHOO – por Alysson Oliveira, do Cineweb


VIDEO NASTIES: UMA BREVE INTRODUÇÃO

sexta-feira | 13 | março | 2009

Estávamos em inícios dos anos 80 e o mundo (desenvolvido) assistia a uma revolução, o advento do vídeo. Um novo formato, na altura, com uma popularidade crescente, a que muitos chegaram mesmo a apontar como a causa principal da morte do cinema. Tal nunca aconteceu como se veio a verificar mais tarde.

Este novo formato, veio permitir que os espectadores tivessem acesso a muitas obras que de outra forma não poderia ver. E o melhor de tudo, é que o podiam fazer no conforto e privacidade do lar. Mas nem tudo correu bem. Em Maio de 1982, em Inglaterra, tinha início uma “caça às bruxas”, originada em grande parte pela imprensa mas também pelas próprias produtoras.

Inicialmente os filmes lançados nos videoclubes (VHS, Betacam) não tinham que passar pela British Board of Film Censors (BBFC) – que mais tarde viria a chamar-se British Board of Film Classification – como acontecia com todos os filmes antes de chegarem às salas de cinema. Pode-se dizer que de uma forma geral, e até um pouco incorreta, não havia um grande controle naquilo que era distribuído em vídeo, à exceção do cinema para adultos.

Com esta crescente popularidade, surgiram também inúmeras distribuidoras. E se por um lado os grandes estúdios olhavam o vídeo com algum temor, por outro lado as novas distribuidoras sem o poder financeiro necessário para adquirir os filmes de “Hollywood”, e a enorme procura de vídeos, levou a que as distribuidoras procurassem filmes que nunca chegaram a passar pelo cinema em Inglaterra. A grande maioria eram filmes de baixo orçamento e provinham sobretudo de Itália e dos Estados Unidos.

Muitas destas distribuidoras não eram mais do que meras empresas locais e algumas até desenvolviam os seus negócios em pequenas garagens. Chegando mesmo a haver distribuidoras que tão depressa surgiram como desapareceram. Com um negócio tão lucrativo era natural que todos quisessem um pedaço. O que não significava que todos tivessem cabeça suficiente para o gerir.

É então que instala-se uma guerra entre as distribuidoras.

A Viplo mandou publicar em diversas revistas de vídeo uma página inteira com o cartaz do filme “The Driller Killer”. Uma imagem o suficientemente explicita para originar um grande número de queixas à “Advertising Standards Agency”.

A Astra Home Video, por sua vez, lança o filme “Snuff” sem quaisquer créditos e sem capa, tentando desta forma fazer crer que se tratava de realmente de filme snuff.

A isto tudo junta-se também o concurso em que a distribuidora do filme “Nightmare in a Damaged Brain”, pedia aos concorrentes que tentassem adivinhar o peso do cérebro dentro do frasco.

Toda esta publicidade em nada ajudou a favor do vídeo. Pior ainda, de forma a publicitar o seu próprio filme a Go Video, distribuidora do filme “Cannibal Hollocaust”, escreveu uma carta a Mary Whittehouse a queixar-se da violência que este exibia. “Tudo o que eu não aprovo, deve ser queimado.” Era uma das frases que melhor descrevia Whittehouse, ela que na altura liderava a organização “National Viewer and Listners”.

Foi a gota d’água.

“Preocupados” com a crescente popularidade dos filmes de terror e outros graficamente mais violentos, a imprensa britânica lança o alarme (e o pânico) quanto ao facto de as crianças e não só, terem acesso a este tipo de material.

É neste contexto que surge a expressão “video nasties”. Expressão que viria pouco de pois a tornar-se corrente entre o público.

Também, até então inédito (ou quase), os “video nasties” tornaram-se responsáveis por toda uma série de crimes.

Devido a pressões da polícia e das histórias/artigos sensacionalistas dos jornais, o governo (Director of Public Prosecutions) recua na sua posição obrigando a que os vídeos/distribuidoras, passam também a ser abrangidos pela lei “The Obscene Publications Act”, algo que até então não acontecia.

Este clima de histeria levou também a que muitos criminosos se socorressem de toda esta histeria para desculpar os seus actos, como matar, roubar, violar ou agredir a esposa. Qualquer que fosse o crime e a sua gravidade, muitos, apenas o cometeram porque os “filmes obrigaram-nos” a tal…

Outra figura que se destacou, foi a do Dr. Clifford Hill que em Março de 1984, publicou os resultados de um inquérito “Video, violence and childrem”. Nele é publicado a lista dos 10 filmes mais “naties” (mais violentos). Um deles, citado por uma das crianças entrevistadas é o filme “Zombie Horror”. Contudo, nunca nenhum filme com este título foi alguma vez lançado no Reino Unido.

O absurdo continua e em Abril, o jornal “The Guardian” pública um inquérito em que 68% das crianças entrevistadas afirmavam terem visto filmes que nunca existiram…

Por esta altura já muitos jornais caíam em si e começavam a duvidar de tanto histerismo, mas nem por isso as coisas estava longe de acabar. Todos os filmes que não tivessem sido classificados, não podiam ser vendidos. Por sua vez as distribuidoras que não estivessem devidamente registadas “não tinham futuro”.

Houve condenações por posse e distribuição não autorizada de material “obsceno”. Com medo, muitas distribuidoras começaram elas próprias a auto censurar os seus filmes. E mesmo assim a BBFC não parou de retalhar.

O que também não ajudou nada, foi o facto de haver “dois pesos e duas medidas” consoante a região do Reino Unido se estava. O que para uns era ofensivo, para outros não era.

Vivem-se dias de medo e confusão.

E porque todos os filmes têm de ser classificado começaram a suceder os atrasos. E para complicar as coisas, a VRA (Video Record Act), instituição governamental decide começar a cobrar ao minuto. Para classificar os filmes, quaisquer que fossem. Estes custos tornaram-se incomportáveis para muitas das distribuidoras.

Embora este clima de terror e histeria tenha diminuído e hoje não seja tão visível, a BBFC continua a querer controlar aquilo que o público (britânico) pode ou não ver.

Entretanto, apesar de muitos filmes continuarem na lista negra, alguns deles já foram relançados no Reino Unido sem qualquer corte ou censura. Muitos outros podem ser adquirir através da mais diversas lojas online.

 A lista que se segue não é a actual da BBFC, mas contém todos os filmes que por ela passaram. A primeira foi publicada em Junho de 1983.

Antropophagus – Joe D’Amato (1980, Ita)

Apocalypse Domani (Cannibal Apocalypse) – Antonio Margheriti (1980, Ita, Esp)

La bestia in Calore – Luigi Batzella (1977, Ita)

Blood Feast – Herschell Gordon Lewis (1963, EUA)

Bloodeaters – Charles McCrann (1980, EUA)

The Boogeyman – Ulli Lommel (1980, EUA)

Boogeyman II – Bruce Starr (1983, EUA)

The Burning – Tony Maylam (1981, EUA, Can)

Il cacciatore di uomini (Devil Hunter) – Enzo G. Castellari (1979, Mex, Esp, Ita)

Cannibal Ferox – Umberto Lenzi (1981, Ita)

Cannibal Holocaust – Ruggero Deodato (1980, Ita)

La casa sperduta nel parco (House on the Edge of the Park) Ruggero Deodato (1980, Ita)

Contamination – Luigi Cozzi (1980, Ita)

Day of the Woman (I Spit On Your Grave) – Meir Zarchi (1978, EUA)

Dead & Buried – Gary Sherman (1981, EUA)

Delirium – Peter Maris (1979, EUA)

Des diamants pour l’enfer (Women Behind Bars) – Jesus Franco (1975, Fra, Belg)

Die Säge des Todes (Bloody Moon) – Jesus Franco (1981, Ale)

Don’t Go In The House – Joseph Ellison (1980, EUA)

Don’t Go in the Woods – James Bryan (1981)

Don’t Go Near the Park – Lawrence D. Foldes (1981, EUA)

The Dorm That Dripped Blood (Pranks) – Stephen Carpenter, Jeffrey Obrow (1982, EUA)

The Driller Killer – Abel Ferrara (1979, EUA)

E tu vivrai nel terrore – L’Aldilà (The Beyond) – Lucio Fulci (1981, Ita)

Eaten Alive – Tobe Hooper (1977, EUA)

The Evil Dead – Sam Raimi (1981, EUA)

Evilspeak – Eric Weston (1981, EUA)

Exposé – James Kenelm Clarke (1976, Reino Unido)

Faces of Death – John Alan Schwartz (1978, EUA)

Fight For Your Life – Robert A. Endelson (1977, EUA)

Flesh for Frankenstein – Paul Morrissey, Antonio Margheriti (1973, EUA, Ita)

The Forgotten (Don’t Look in the Basement) – S.F. Brownrigg (1973, EUA)

Frozen Scream – Frank Roach (1975, EUA)

The Funhouse – Tobe Hooper (1981, EUA)

The Ghastly Ones (Blood Rites) – Andy Milligan (1968, EUA)

La Horripilante bestia humana (Night of the Bloody Apes) – René Cardona (1969, Mex)

Human Experiments – Gregory Goodell (1980, EUA)

I Miss You, Hugs and Kisses – Murray Markowitz (1978, Can)

Inferno – Dario Argento (1980, Ita)

Lager SSadis Kastrat Kommandantur (SS Experiment Camp) – Sergio Garrone (1976, Ita)

The Last House on the Left – Wes Craven (1972, EUA)

Lisa, Lisa – Frederick R. Friedel (1977, EUA)

Love Camp 7 – Lee Frost (1969, EUA)

La Maldición de la bestia (The Werewolf and the Yeti) – Miguel Iglesias (1975, Esp)

Mardi Gras Massacre – Jack Weis (1978, EUA)

La montagna del dio cannibale (Prisoner of the Cannibal God) – Sergio Martino (1978, Ita)

Night of the Demon – James C. Wasson (1980, EUA)

Night School – Ken Hughes (1981, EUA)

Nightmare (Nightmare in a Damaged Brain) – Romano Scavolini (1981, EUA)

Nightmare Maker – William Asher (1981 EUA)

Non si deve profanare il sonno dei morti (Living Dead At Manchester Morgue) – Jorge Grau (1974, Ita,Esp)

Il paese del sesso selvaggio (Deep River Savages) – Umberto Lenzi (1972, Ita)

Possession – Andrzej Zulawski (1981, Ale, Fra)

Quella villa accanto al cimitero (The House by the Cemetery) – Lucio Fulci (1981, Ita)

Reazione a catena (A Bay of Blood) – Mario Bava (1971, Ita)

Rosso Sangue (Absurd) – Joe D’Amato (1981, Ita)

La Semana del Asesino (Cannibal Man) – Eloy de la Iglesia (1972, Esp)

Shogun Assassin – Robert Houston (1980, EUA, Jap)

The Slayer – J.S. Cardone (1982, EUA)

Snuff – Michael Findlay, Roberta Findlay (1976, EUA, Arg)

Suor Omicidi (Killer Nun) – Giulio Berruti (1978, Ita)

Ta Pedhia tou dhiavolou (Island of Death) – Nico Mastorakis (1975, Grécia)

Tenebre – Dario Argento (1982, Ita)

Terror Caníbal – Alain Deruelle (1981, Esp, Fra)

There Was a Little Girl – Ovidio G. Assonitis (1981, Ita)

The Toolbox Murders – Dennis Donnelly (1978, EUA)

Unhinged – Don Gronquist (1982, EUA)

L’ultima orgia del III Reich (Gestapo’s Last Orgy) – Cesare Canevari (1977, Ita)

L’ultimo treno della notte (Late Night Trains) – Aldo Lado (1975, Ita)

Virus (Hell of the Living Dead) – Bruno Mattei (1980, Ita, Esp)

Visiting Hours – Jean-Claude Lord (1982, Can)

The Witch Who Came From the Sea – Matt Cimber (1976, EUA)

Xtro – Harry Bromley Davenport (1983, Reino Unido)

 

>> BELA LOGOSI IS DEAD – por Rui Pedro Baptista


“DRAG ME TO HELL”: THRILLER SOBRENATURAL DE SAM RAIMI TEM FOTOS E TRAILER

sexta-feira | 13 | março | 2009

Foram divulgadas várias fotos do thriller sobrenatural Drag Me To Hell, protagonizado por Alison Lohman (Coisas que Perdemos pelo Caminho), que substitiu Ellen Page (Juno).

Assim como em A Morte do Demôniocult do terror dirigido por Sam Raimi em 1981 -, a história de Drag Me to Hell focará uma maldição sobrenatural. O roteiro é assinado por Raimi e seu irmão, Ivan Raimi, que fez uma ponta no terror de 1981 e escreveu o roteiro de Homem-Aranha 3 com o irmão cineasta.

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Os atores Fernanda Romero (O Olho do Mal), Reggie Lee (Piratas do Caribe – No Fim do Mundo), Alex Veadov (Os Donos da Noite), Bojana Novakovic (Seven Pounds), Bill E. Roger (Homem-Aranha 3), Jessica Lucas (Cloverfield – Monstro) e Lorna Raver (da série Nip/Tuck) fazem parte do elenco.

Drag Me To Hell está previsto para estrear no dia 14 de agosto no Brasil.
>> CINECLIK


LESBIAN VAMPIRE KILLERS: CONHEÇA AS VILÃS

sexta-feira | 13 | março | 2009

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As primeiras fotos das titulares criaturas Lesbian Vampire Killers acabam de ser divulgadas.

As cinco são as principais vampiras lésbicas envolvidas na história, liderando uma revolta entre todas as fêmeas apreciadoras do mesmo gênero na cidade onde se passa a aventura. Como podem ver claramente, não é apenas o título do filme que pode ser considerado apelativo. Aliás, o filme inteiro foi deliberadamente criado para ser o mais humoristicamente apelativo possível.

Lesbian Vampire Killers chega às telas britânicas em 20 de março, sem nenhuma previsão quanto aos cinemas brasileiros.

lesbian-vampire-killers_vila3Na história, escrita como uma aposta entre os roteiristas, dois amigos chegam a uma cidadezinha rural no País de Gales, e descobrem que todas as mulheres da cidade foram vítimas de uma maldição que as transformou em vampiras lésbicas e matou a maioria dos homens do vilarejo.

O filme é dirigido por Phil Claydon e é estrelado por James Corden e Mathew Horne, escolha polêmica, uma vez que ambos são os astros de um tradicional sitcom familiar britânico, Gavin And Stacey.
>> HQ MANIACS – por Thiago “Dinobot” Colás 

 

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STEPHEN KING: “A TORRE NEGRA” FECHA SEU PRIMEIRO ARCO

sexta-feira | 13 | março | 2009

A Torre Negra é uma das obras mais interessantes e ousadas da literatura fantástica.

Inspirada no poema épico do século XIX, Childe Roland à Torre Negra Chegou, foi construída com base em diversos temas literários e do imaginário pop. É uma mistura de ficção científica, fantasia e terror criada pelo renomado Stephen King.

Sua aventura pelos quadrinhos chegou com a bela arte da dupla Jae Lee e Richard Isanove, que transporta todo o clima denso do livro para as HQs.

Os volumes narram a história pregressa do personagem principal da trama, o pistoleiro Roland Deschain, antes dos acontecimentos do livro.

Agora, chega às bancas de todo País, pela Panini, a última parte da publicação A Torre Negra: Nasce o Pistoleiro. Fechando o arco da história, Roland vê as linhas da batalha traçadas e os exércitos reunidos. Estaria disposto a sacrificar aqueles que lhe são mais próximos? Conterá sua fúria? Este é o preço a pagar quando nasce um pistoleiro, um homem de práticas e costumes inspirados em ordens cavaleirescas do mundo medieval, com rígidos códigos de conduta, honra e lealdade.

Nesta edição, os fãs encontram ainda textos do escritor best seller do New York Times, Peter David, e da autora de The Dark Tower: A Concordance, Robin Furth.

A continuação da história, eintitulada A Torre Negra: O Longo Caminho Para Casa, está nas bancas a partir deste mês. A história trata da fuga de Roland Deschain e seus companheiros de ka-tet para uma realidade muito além do Mundo Médio pelas mãos da mesma equipe criativa das primeiras aventuras de Roland e baseada na narrativa de Stephen King, que durante 20 anos escreveu os sete livros da série A Torre Negra . Vale a pena dar uma olhada.
>> PAPO DE QUADRINHO – por Társis Salvatore


“JERICHO” e “PUSHING DAISIES”: O FINAL DAS SÉRIES SERÁ VISTO NOS QUADRIHOS

sexta-feira | 13 | março | 2009

Na era digital em que séries podem encontrar uma nova forma de dar continuar à sua produção, seja através da Internet com webséries ou por DVD, os produtores das canceladas “Jericho” e “Pushing Daisies” optaram por um veículo tradicional, os quadrinhos, que surgiram por volta da década de 30 nos EUA.

Após meses agonizando, de vai não vai, e de abaixo assinado e campanhas de fãs, “Jericho” foi cancelada após ter sido salva ao final da primeira temporada. Apesar de tentar dar à trama uma finalização, muitas questões levantadas pela série ficaram em aberto.

Agora, esclarecer estas dúvidas e, quem sabe, criar novas, a Devil´s Due Publishing divulgou no dia 5 de março que fechou um contrato com a CBS, canal que produzia a série, para lançar uma adaptação em quadrinhos de “Jericho”. A trama na HQ iniciará do ponto em que a série terminou.

Quem pega carona neste recurso é “Pushing Daisies” que sequer teve seus últimos episódios produzidos exibidos na TV. A intenção de Bryan Fuller, responsável pela série, é finalizar a trama através dos quadrinhos. Uma parceria entre a ABC e a DC Comics está em fase de negociações. Não será a primeira vez que a série chega aos quadrinhos. Para divulgá-la, foi distribuído ao público participante do Comic-Con 2007, uma versão em quadrinhos da trama que introduzia o público às informações sobre quem era quem na série.

Antigamente, as séries de sucesso na TV costumavam ganhar versões em quadrinhos e em novels, com histórias paralelas ao que ocorria na televisão. Desde “I Love Lucy”, passando por “Agentes da UNCLE”, “Os Monkees”, “Missão: Impossível”, “Os Destemidos”, “Jornada nas Estrelas”, “Os Invasores”, “O Prisioneiro” e até mesmo “Os Três Patetas” e os desenhos da Hanna-Barbera, as histórias em quadrinhos sempre foram um recurso utilizado pelos estúdios para angariar um maior número de fãs para suas produções, bem como obter maior lucro em cima de um título. Em anos mais recentes, temos como exemplo “Buffy, a Caça-Vampiros” ou “Arquivo X”. Mesmo no mercado brasileiro foram lançados quadrinhos de séries como “O Vigilante Rodoviário”, em reprise no Canal Brasil, ou “Capitão Sete”, por exemplo.

Atualmente, os quadrinhos, em meio à tecnologia desenvolvida pela era dos computadores, mostra mais uma vez seu forte potencial de penetração em meio ao público, visto que não são apenas as séries canceladas que usufruem deste recurso. Produções como “Fringe”, optaram pelas HQ para se apresentar ao público, com história lançada antes da estréia da série. Já “Heroes”, recentemente ameaçada de cancelamento, utiliza a versão gráfica distribuída semanalmente, no formato digital, para propagar sua trama e personagens. Disponibilizad ano site oficial da NBC, em formato PDF, os fãs podem acessar gratuitamente o download das histórias.

É claro que, com a produção de HQs de séries, não estão descartadas opções como DVD, webséries ou filmes para o cinema, ao contrário, elas servem para medir o interesse de um público específico que sempre deu suporte às produções televisivas ou cinematográficas das histórias que acompanham nas revistinhas popularmente conhecidas no Brasil como gibis.
>> TV SÉRIES – por Fernanda Furquim


STAR TREK: PARAMOUNT JÁ GASTOU 150 MILHÕES COM PUBLICIDADE

sexta-feira | 13 | março | 2009

E divulgação está apenas começando…

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Em um artigo, o Hollywood Reporter chama atenção para os gastos da Paramount com a campanha publicitária que visa apresentar Jornada nas Estrelas a uma nova geração de espectadores. O estúdio já gastou cerca de 150 milhões de dólares na campanha para atrair público para Star Trek – filme que estreia em maio e ainda tem muita divulgação pela frente.

O objetivo de tanto empenho é fazer com Star Trek o mesmo que foi feito com Batman: reconstruir a franquia recomeçando do zero, ou seja, da formação da tripulação original da Enterprise. A medida do sucesso será a capacidade do filme de colocar na mesma sala os fãs mais ardorosos da série ao lado de gente que não sabe a diferença entre um Vulcano e um Cardassiano ou desconhece o efeito da frase: “Você será assimilado”.

O plano de marketing inclui colocar o diretor J.J. Abrams, o produtor executivo Bryan Burk, o vice presidente da Paramount Rob Moore e parte do elenco numa turnê para exibir 20 minutos do filme. A viagem tem paradas em Roma, Colonia, Madri, Paris, Londres, Nova York e, mais recentemente, Seoul, onde Abrams apresentou-se ao lado de Chris Pine e Zoe Saldana.

O estúdio também fechou contrato para colocar nas lojas uma nova linha de brinquedos, a maior nos últimos dez anos, uma nova linha da boneca Barbie, e uma promoção com a rede de lanchonetes Burger King, que pode não acontecer aqui caso seja aprovada a lei que impede a distribuição de brinquedos como brindes nas redes de fast food.

A principal questão é se a campanha para atrair uma nova audiência vai afastar os cerca de 25 milhões de fãs de Star Trek espalhados pelo mundo, e que mantiveram a franquia viva até o momento. Em sua visita à Coréia, Abrams disse ter feito o filme para os futuros fãs de Star Trek, e os atores também confirmaram ter sido orientados a criar seus personagens sem preocupações com o que existiu antes. A Paramount aposta que os fãs comparecerão, no mínimo, para conferir o que fizeram com sua série favorita.

O filme chega aos cinemas em 8 de maio.
>> OMELETE – por Ederli Fortunato


VOCÊ SABE O QUE É “GRINDHOUSE”?

quinta-feira | 12 | março | 2009

 Em 2007 com o experimento proposto por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, o termo “grindhouse” foi levantado, e para nós que não passamos por esta cultura das “casas de triturações”, levantado também foi um enorme ponto de interrogação, junto com a frase: “Mas o que são grindhouses?”

Você sabe o que é Grindhouse?Esta pergunta com o passar do tempo já foi mais do que respondida, mas para o retardatários, Grindhouse eram as casas de cinema mais impopulares, onde o foco não era passar o novo filme do ator tal que está em moda em Hollywood, e sim exibir coisas que normalmente estavam no gosto do dono da sala, geralmente filmes “exploitation”. Eram conhecidas também pelas maratonas, estilo de exibição quase de lei, onde ou se virava a noite com um tema, ou se fazia a popular “Sessão Dupla”, tendo o seu filme principal, e o seu dito filme B (mas convenhamos, no popular ambos eram B). Estas casas começaram a aparecer na segunda metade dos anos 60, tendo sua máxima nos anos 70, e decaindo nos anos 80 devido a popularização do VHS.

Os filmes exibidos normalmente continham temas como sexo explícito, violência, bizarrices, perversões, lutas extraordinárias, carros, negros poderosos, mulheres malvadas, e afins. Algumas vezes se fechava exibição de filmes pornôs apenas, por exemplo. Clássicos do gênero como Garganta Profunda e Além da Porta Verde tiveram seu culto nestes estabelecimentos.

Navegando, achei um artigo do enciclopédia online Grindhouse Database, onde viciados do estilo de lá prepararam um TOP50 dos filmes mais marcantes do segmento. Então resolvi apresentar aqui esta seleção, e como apreciador também deste negócio, pegar os 5 primeiros colocados e fazer breves comentários para abrir o apetite do lado negro que há em vocês. Não farei de todos para não se tornar maçante, mas recomendo que corram atrás e descubram este lado mais renegado do cinema.

Conhecer estas pérolas vai até tornar mais prazeroso assistir o “Grindhouse” do Tarantino e do Rodriguez, bem como seus filmes anteriores, que estão lotados de referências a filmes que sua mãe não gostaria de saber que você assiste. Os filmes estão com o seu nome de lançamento nos EUA, sendo que diversos deles chegaram a sair no Brasil, mas muitos filmes desdes filmes foram renomeados diversas vezes. Deixei eles então com seus títulos mais conhecidos e de fácil pesquisa.

Nos 5 filmes analisados ainda resolvi expandir a brincadeira. Estes filmes são lembrados principalmente pelas sessões da meia-noite, então que tal assistir eles como devem ser assistidos? Coloquei recomendação então de qual filme acompanhar numa sessão dupla, e se você quiser virar a noite numa maratona, um terceiro filme recomendado também.

Agora vamos ao que importa!

1. The Street Fighter (1974): Filme clássico do mestre Sonny Chiba, e primeira parte da trilogia Street Fighter, que ganharia inclusive um spin-off mais tarde (Sister Street Fighter). Conta a história de um mercenário mestre em arte marciais, que depois de ser contratado pela máfia, e não pago, entra em sua lista negra para levar adiante com os planos ligados ao rapto da filha de um milionário. Um dos filmes de kung-fu com maior nível de violência, foi o primeiro a ganhar classificação máxima de idade nos EUA, e elevou o nome de Chiba ao sucesso, virando ídolo de pessoas como Quentin Tarantino, que o chamou para interpretar Hattori Hanzo em Kill Bill. Foi Tarantino também que colocou o personagem Clarence Worley vendo no cinema uma sessão tripla com esta trilogia, logo no começo do filme Amor à Queima-Roupa. Não preciso dizer então quais filmes você deveria virar a noite vendo não é mesmo?

2. Coffy (1973): Grande filme do diretor Jack Hill, pupilo de Roger Corman e Francis Ford Coppola, e que aqui trabalha com a musa Pam Grier (futura Jackie Brown) em seu filme de maior sucesso. Um dos blaxploitations mais lembrados, conta a história de uma enfermeira, que ao ver sua irmã menor morta devido a involvimento no mundo das drogas, no caso ingerindo heróina contaminada, resolve se vingar, e daí vira uma justiceira contra cafetões, traficantes, policiais corruptos, e tudo o que vier pela frente. Como o negócio é idolatras Pam Grier, a sessão dupla fica por conta de Foxy Brown, e o fim da noite vem com Women in Cages (você deve se lembrar do trailer deste filme, que é mostrado em Planet Terror, onde um dos militares está assistindo na TV e ele ganha destaque).

3. The Texas Chainsaw Massacre (1974): Obrigatório! Quem nunca ouviu falar em “O Massacre da Serra Elétrica”? Em tempos onde o terror é sempre mais do mesmo, nada melhor do que conferir este filme que chocou diversas pessoas ao mostrar uma família de degenerados de forma crua, com câmera quase documental, e cenas explícitas de tortura. Colocou Leatherface no time de vilões mais adorados do cinema, ele que foi baseado no assassino real Ed Gein (que também inspirou outros filmes como Psicose e O Silêncio dos Inocentes). Neste caso minha recomendação é uma sessão dupla com a sua continuação, que mesmo sendo odiada por alguns, acho uma excelente paródia de si mesmo que o Tobe Hooper resolveu fazer. E para virar a noite, o remake de 2003 é uma boa pedida.

4. I Spit On Your Grave (1978): Lançado no Brasil como “A Vingança de Jennifer”, é considerado por muitos o filme definitivo sobre mulheres se vingando no cinema. Banido em alguns países até hoje, este sexploitation tenta ainda ganhar um tom filosófico ao te perguntar “Até onde vai o direito de uma pessoa que sofreu violência física e psicológica de fazer justiça com as suas próprias mãos?”. A Jennifer do título é estuprada mais de uma vez no filme, e resolve então mostrar que sabe brincar também. Cinema marginal de primeira, com cenas de crueldade que fazem as tramas de Jigsaw em Jogos Mortais parecerem piada. Para a sessão dupla fica obviamente a dica do filme que está ali em 7º lugar nesta lista, “Thriller: A Cruel Picture”. Depois que você assistir ambos, vai entender um pouco mais a noiva de Kill Bill, e da onde vem o tapa-olho de Elle Driver. E como a noite é longa, para virar ela complemente com a vingança de Uma Thurman que terás um final com chave de ouro.

5. Zombi 2 (1979): Este é um caso curioso, pois recebeu diversos títulos até hoje, já foi vendido como filme original, como continuação, já foi até reeditado para parecer outro filme, e muita gente fica perdida até hoje. Hoje conta com o título quase definitivo de Zombie no mundo todo (inclusive aqui, onde saiu em DVD), e é considerado o melhor filme do Lucio Fulci. Não tente pesquisar para saber onde está o Zombi 1, pois ele não existe. E sim, ele tem uma continuação chamada Zombi 3, e diversas outras não oficiais. Mas o que importa é que é um grande filme, que se não chega a ser tão extremo como os filmes de zumbi que temos hoje em dia, ainda mantem seus efeitos especiais de forma impressionante, e um roteiro simples mais eficaz e muito bem resolvido. Recomendo para sessão dupla o também clássico “Night of the Living Dead” de George A. Romero, e se você quiser virar a noite, que tal a sua continuação “Dawn Of The Dead”?

6. Master of the Flying Guillotine (1976)
7. Thriller: A Cruel Picture (1974)
8. Fight For Your Life (1977)
9. Rolling Thunder (1977)
10. Cannibal Holocaust (1980)
11. Switchblade Sisters (1975)
12. Dirty Mary Crazy Larry (1974)
13. Vanishing Point (1971)
14. Faster Pussycat! Kill! Kill! (1965)
15. The Mack (1973)
16. The Last House On The Left (1972)
17. Ilsa: She Wolf of The S.S. (1974)
18. Lady Snowblood (1973)
19. Sex & Fury (1973)
20. I Drink Your Blood (1970)
21. Dawn Of The Dead (1978)
22. The Beyond (1981)
23. Suspiria (1977)
24. Enter The Dragon (1973)
25. Five Deadly Venoms (1978)
26. Death Race 2000 (1975)
27. The Burning (1981)
28. Escape From New York (1981)
29. The Bird With The Crystal Plumage (1970)
30. Supervixens (1975)
31. Female Prisoner #701: Scorpion (1972)
32. Tenebre (1982)
33. The Big Bird Cage (1972)
34. Chinese Super Ninjas (1982)
35. Blood Freak (1972)
36. Walking Tall (1973)
37. Five Fingers of Death (1972)
38. The 36th Chamber of Shaolin (1978)
39. Foxy Brown (1974)
40. Lone Wolf and Cub: Baby Cart to Hades (1972)
41. Revenge of The Cheerleaders (1976)
42. Deep Throat (1972)
43. The House On The Edge of The Park (1980)
44. Blood Feast (1963)
45. Ms. 45 (1981)
46. City Of The Living Dead (1980)
47. Hell Up In Harlem (1973)
48. T.N.T. Jackson (1975)
49. Vampiros Lesbos (1971)
50. The Muthers (1976)

Bem, dependendo do interesse de vocês, futuramente posso voltar ao tema, comentando outros filmes, falando mais sobre como funcionava as sessões, e outras coisas mais. Seguindo esta idéia de recomendações de filmes pouco conhecidos em nossa cultura, também temos que discutir cinema cult, e falar de clássicos como El Topo, Repo Man, Freaks, Eraserhead, e outros. Mas isso fica para a próxima. Boa diversão!
>> CINEMA COM RAPADURA – por Ismael Alberto Schonhorst


CINEMA E FICÇÃO CIENTIFICA: TRÊS OLHARES

quinta-feira | 12 | março | 2009

1) METROPOLIS (1927)

Realização – Fritz Lang

Produção – Erich Pommer (Estúdios U.F.A., Alemanha)

Argumento – Fritz Lang e Thea Von Harbou, a partir de um argumento original de Harbou

Atores – Alfred Abel, Gustav Frohlich, Brigitte Helm, Rudolf Klein-Rosse

Duração – 118 mn (Edição restaurada pela “Fundação Murnau”, a propósito dos 75 anos do filme, publicada em 2003 na Alemanha, com inter-títulos em Inglês)

 

METRÓPOLIS, de Fritz Lang é uma das obras-primas absolutas do cinema, um misto entre a estética do Expressionismo filmado e pintado, magnificamente estilizado e a semente de ideias utópico-sociais e religiosas. Os críticos definem-no como “uma mistura bizarra entre ficção científica futurista e um romance clássico de horror gótico”.

A história do filme, situado em 2026 numa cidade-modelo inspirada em Nova Iorque, centra-se na dualidade da vivência entre a Parte Alta, com a luz do Sol, jardins magníficos e um luxo perpétuo, morada dos “senhores do mundo”, e a Parte Baixa, onde os trabalhadores labutam incansavelmente na penumbra, para trazer energia e prosperidade aos seus senhores.

O âmago do filme centra-se numa intriga entre cientistas e dirigentes para alcançar o Poder, sempre utilizando como peões os trabalhadores. Existe a dualidade entre Paraíso e Inferno, que será depois espelhada na personagem Maria, jovem “angelical” e doce que é depois utilizada como modelo para o robot maléfico que é a imagem mais icónica do filme e uma das imagens mais poderosas da História do Cinema. O argumento gira á volta do romance entre Freder, filho do poderoso e omnipotente presidente da Câmara, e a já referida Maria, professora e secreta defensora dos direitos dos trabalhadores oprimidos.

A isto junta-se Rotwang, o paradigma do cientista louco, que albergando antigos ressentimentos contra o presidente, pretende fazer desabar a sociedade (aparentemente) perfeita de Metrópolis, para isso construindo um robot que é a réplica perfeita de Maria, duplo maléfico que irá tentar levar os trabalhadores a revoltarem-se contra os seus senhores.

Tudo culmina num final que, segundo os críticos, é “pouco coerente e pouco credível”, com laivos das ideologias nacional-socialistas que Harbou professava (tendo-se inclusive filiado em 1932 no N.S.D.A.P., o partido nazi. Quanto a Lang, após ter sido convidado por Hitler para “Fuhrer” do cinema alemão, fugiu em 1933 para França e posteriormente para os Estados Unidos, onde conseguiu uma carreira longa e de qualidade).

É evidente que o contexto ideológico deste filme não vai “beber” apenas na inspiração da “Nova Alemanha” a despontar, sendo também credor de dois dos “pais” da Ficção Científica: H.G. Wells e A Máquina do Tempo”, com a sua sociedade do futuro distante drasticamente estratificada entre Morlocks e  Élois ; e Jules Verne, em tudo o que diz respeito ao “mundo que virá”, em termos de inovações científicas e arquitectónicas.

Em relação á parte menos discutível do filme, e mais conseguida, a da realização/concepção de Metrópolis, é de referir que Lang colaborou na direcção artística da obra-prima do Expressionismo alemão, “O Gabinete do Doutor Caligari” (1919, Robert Wiene), tendo juntado aos cenários distorcidos e irregulares, á perspectiva desfocada e ás sequências claustrofóbicas e psicológicamente perturbantes que são as marcas do Expressionismo   uma visão ambiciosa e megalómana de cinema.

As filmagens de Metrópolis demoraram um ano e quase levaram á bancarrota a produtora U.F.A., que apostou tudo no filme mais caro de sempre (á época), com cerca de 40.000 figurantes e cenários meticulosamente construídos pela equipa de Lang. O resultado do génio de Lang e do argumento (dúbio) de Harbou é uma obra-prima, que se tornou numa grande influência para o género da Ficção Científica (escrita, desenhada e filmada), especialmente notada em filmes como “Blade Runner” (Ridley Scott) e “Dr. Estranhoamor” (Stanley Kubrick).

A cópia hoje em dia de maior duração é a existente em DVD, com 118 minutos (a uma velocidade mais rápida, por isso mesmo com menos minutos). O filme na sua estreia tinha a duração de 210 minutos, tendo Lang remontado para 153 minutos o filme aquando da sua estreia nos Estados Unidos. As razões para um quarto do filme original se ter perdido são várias, mas é de referir que Hitler, quando subiu ao poder em 1933, mandou queimar todas as cópias existentes dos filmes de Lang, a que não escapou Metrópolis.Metrópolis: Foi filmado no mesmo ano em que saiu nos Estados Unidos a 1º revista de Ficção Científica, a “Amazing Stories”, onde Hugo Gernsback, o seu fundador, cunhou a palavra “ScientiFiction”, género literário muito  influenciado por Metrópolis; foi o 1º filme a ser nomeado para conservação pela UNESCO como “Memória do Mundo”, em 2001; também no mesmo ano foi produzida no Japão uma interessantíssima “anime”, intitulada “Metrópolis”, uma homenagem/re-invenção do clássico de Lang, com realização de Rintaro, a partir de uma “manga” de Ozamu Tezuka (criador de “Ghost in the Shell”), e com argumento de Katsuhiro Otomo (criador do seminal “Akira”).

Em 1984, o compositor Giorgio Moroder remontou e coloriu uma versão do filme que contém uma banda sonora contemporânea, que não sendo tão má como os críticos mencionaram na época, é de evitar se possível. Em 2001, o Festival de Berlim apresentou uma versão restaurada com 147 minutos, a partir de diversas versões do filme.

De mencionar ainda alguns factos curiosos sobre João Bénard da Costa, aquando do ciclo na Cinemateca sobre Lang, escreveu que Metrópolis é “o espaço de um conflito entre o mundo mágico e oculto (…) e o mundo da moderna tecnologia”; e Luís Bunuel, o grande cineasta dos sonhos e do Surrealismo, avisa-nos que Metrópolis “cumulará todos os nossos desejos, e maravilhar-nos-á como o mais maravilhoso livro de imagens que algum dia se compôs, como uma arrebatadora sinfonia do movimento”.

20-mil-leguas_disneya2) 20.000 LEAGUES UNDER THE SEA/20.000 LÉGUAS SUBMARINAS (1954)


Realização – Richard Fleischer

Produção – Walt Disney Productions, E. Unidos

Argumento – Earl Felton, a partir do romance de Jules Verne, “Vingte Mille Lieues sous les Mers/20.000 Léguas Submarinas”, serializado em 1869-70 

Atores – James Mason, Kirk Douglas, Paul Lukas, Peter Lorre

Prémios e NomeaçõesÓscar para Melhores Efeitos Visuais e Melhor Direcção Artística, nomeação para Melhor Montagem

Duração – 126 mn

“20.000 Léguas Submarinas”, o primeiro filme saído dos Estúdios Disney sem personagens de animação e também o primeiro em “Cinemascope”, é talvez a melhor versão cinematográfica de uma obra de Jules Verne (e um dos seus livros mais adaptados, com versões de cinema mudo, a preto e branco, a cores, séries de T.V. contemporâneas, etc).

É uma adaptação fiel, principalmente em relação aos conflitos sociológicos e filosóficos descritos no romance, embora tenha como seria de esperar uma “dose” de aventura e acção que o tornam um dos grandes filmes da “Época de Ouro” de Hollywood.

O argumento gira á volta do mistério que rodeia uma série de ataques a navios, que descobrimos depois serem da responsabilidade do Capitão Nemo, de nacionalidade indiana, e do seu submarino, o “Nautilus”.

Nemo é a figura principal do filme (numa excelente interpretação de James Mason), carismático, ameaçador e sedutor, uma personagem com várias “nuances” e com facetas diversas e conflituosas em termos de personalidade. No decorrer do filme, Nemo parece tornar-se progressivamente apenas mais um representante dos celebrados “sábios loucos” do cinema, mas a sua personagem é evidentemente mais rica e menos estereotipada que um simples cientista levado á loucura (embora por razões perfeitamente plausíveis).

– A evolução do comportamento de Nemo ao longo do filme (e do romance) levanta várias questões ao espectador: será Nemo apenas um produto da injustiça do imperialismo, representando a figura de um revolucionário á frente do seu tempo na luta contra o despotismo?
–Será que a violência exercida pelo Capitão Nemo e os seus métodos de “Vigilante” serão a melhor forma de corrigir as injustiças do mundo?
– Será o brilhante submarino “Nautilus” apenas um exemplo da utilização da Ciência para combater os males do mundo e o Totalitarismo?
– Poderá existir um meio-termo que possa pôr o génio de Nemo ao serviço de algo construtivo e não destrutivo (o eterno dilema das descobertas científicas e a sua utilização)?

A estas perguntas pertinentes o filme responde-nos com imparcialidade, esquivando-se ás respostas simplistas, dando ao espectador apenas o ponto de vista de Nemo, a forma como o Capitão observa as situações e personagens com que se depara, e o carácter positivo ou negativo das suas reacções.

Em relação aos aspectos técnicos do filme, são de destacar os excelentes efeitos visuais e os magníficos cenários, especialmente no “Nautilus”, um luxuoso palácio submarino de inspiração vitoriana. Como curiosidade, refira-se o facto de o filme ter ficado imortalizado na “Disneyland”, com uma viagem submarina temática.

Também de destacar são dois fatos interessantes paralelos ao filme “20.000 Léguas Submarinas”: a continuação em livro, “L’ Ilê Misterieuse/A Ilha Misteriosa” (serializado em 1874-1875), adaptado para cinema em 1961 por Cy Enfield, com interpretação de Herbert Lom como Nemo. O temido capitão é aqui apenas uma figura tutelar, um “Deus ex-machina”, que ajuda as personagens sem se revelar, num enredo que gira á volta da sobrevivência numa ilha (aparentemente) deserta, na época da Guerra Civil Americana; absolutamente indispensável é a homenagem a Nemo feita recentemente em Banda Desenhada pelo genial Alan Moore e por Kevin O’Neill, “The League of Extraordinary Gentleman/A Liga dos Cavalheiros Extraordinários” (desde 1999, em 2 volumes, não confundir com o dispensável filme feito a partir desta magnífica B.D.), que nos mostra o indomável capitão finalmente reconciliado com os seus inimigos de sempre (os ingleses), onde o submarino “Nautilus” é retratado em todo o seu esplendor e é peça sempre fundamental do enredo.

Blade Runner (1982)3) BLADE RUNNER/BLADE RUNNER: PERIGO EMINENTE (1982)

“Vi coisas em que vocês humanos não acreditariam… Naves de ataque em chamas perto da constelação de Orion … Vi Raios-C a brilhar no escuro perto da Porta de Tanhauser…

Todos esses momentos … serão perdidos no Tempo … como lágrimas na chuva … Tempo … de morrer.”    palavras finais do líder “replicant” Roy Batty

Realização – Ridley Scott

Produção – Michael Deeley (Warner Brothers, E.U.A.)

Argumento – David Peoples e Hampton Fancher, a partir do romance de Philip K. Dick de 1968, “Do Androids Dream of Electric Sheep?/Blade Runner-Perigo Eminente

Atores – Harrison Ford, Sean Young, Rutger Hauer, Daryl Hannah, Edward James Olmos, M. Emmet Walsh, Brion James

Prémios e Nomeações – Nomeação para o Óscar de Melhor Direcção Artística e Efeitos Visuais; Nomeação para o Globo de Ouro para Melhor Banda Sonora; Vencedor do B.A.F.T.A. para Melhor Fotografia, Direcção Artística e Guarda-Roupa (em 7 nomeações); vencedor do Melhor Filme nos Prémios Hugo, da Associação Mundial de Ficção Científica

Duração – Filme original: 117 mn; Versão do Realizador/Director’s Cut (de 1992): 112 mn

“Blade Runner” é um marco no cinema e uma obra fundamental da moderna Ficção Científica. Ainda recentemente, foi considerado o melhor filme de F.C. de todos os tempos por centenas de cientistas britânicos, segundo uma sondagem feita em 2004 pelo jornal britânico “The Guardian”. Um dos cientistas entrevistados referia que “Blade Runner” está muito á frente do seu tempo, e a premissa do argumento – o que significa ser humano, quem somos nós, donde vimos – são as eternas perguntas da Humanidade”.

A situação irónica é que o filme quando saiu em 1982 foi um relativo fracasso de crítica e de público. Apenas com a “Versão do Realizador” em 1992, foi “reavaliado” pela crítica e teve um enorme sucesso junto dos espectadores. Alguns críticos referiram-se nessa época ao filme como tendo “passado de uma obra-prima falhada para uma obra-prima”.

As razões para o “renascimento” de “Blade Runner” são várias:
— Foi desde logo considerado pela comunidade amante da F.C. um filme de culto, tornando-se durante a década de 80 um clássico “underground”.
— Foi um dos percursores do género de F.C. que dominou as décadas de 80 e 90, tanto em filme como em livro: O movimento “Cyberpunk”.

Exemplos de filmes percursores e inspirados pelo género são: “Videodrome/Experiência Alucinante” (1983, David Cronenberg), “The Terminator/Exterminador Implacável” (1984, James Cameron), “Johnny Mnemonic” (1995, Robert Longo, baseado num conto do “pai” do género, William Gibson), “Strange Days/Estranhos Prazeres” (1995, Kathryn Bigelow), “/Pi” (1998, Darren Aronofsky), “eXistenZ” (1999, David Cronenberg), “The Matrix/Matrix” (1999, Irmãos Wachowski, e as respectivas sequelas), “Avalon” (2001, Mamoru Oshii), etc.

— Finalmente, “Blade Runner” é baseado numa obra fundamental de um dos escritores americanos mais importantes da 2ª metade do Século XX: Philip K. Dick. Hollywood têm recentemente adaptado (com resultados muito díspares), algumas das obras de Dick: “Total Recall/Desafio Total” (1990, Paul Veroheven), “Screamers/Gritos Mortais” (1995, Christian Duguay), “Impostor” (2002, Gary Fleder), “Minority Report/Relatório Minoritário” (2002, Steven Spielberg), “Paycheck/Pago para Esquecer” (2003, John Woo), e brevemente “A Scanner Darkly” (2006, Richard Linklater), e “Next” (2007, Lee Tamahori).

As diferenças principais entre o filme original e o chamado “Director’s Cut” são as seguintes:
— A narração em “voz Off” de Rick Deckard (Ford) desaparece, vendo-se portanto o filme em função do ponto de vista de todas as personagens intervenientes, não apenas como uma história contada pelo “caçador de prémios”. Esta mudança é talvez a mais polémica para os “puristas”, já que dilui o “sabor” do “Film Noir”.
— O final da versão de 1992 é diferente do original, desaparecendo um “happy ending” (implausível) que foi imposto pelo Estúdio, deixando o futuro de Deckard e Rachel (Sean Young) em aberto.
— Finalmente, a meio do filme, em casa, Deckard adormece ao piano e sonha com um Unicórnio o que, sem desvendar o mistério, nos lança algumas pistas importantes sobre a própria identidade desta personagem.

Em resumo podemos afirmar que, apesar dos (muitos) adeptos da versão original, o “Director’s Cut” é mais balançada entre as personagens de Deckard e Roy Batty (Rutger Hauer), mais coerente e mais narrativa, por oposição ao carácter expositivo dado pela “voz off”. Quanto à questão da verdadeira natureza de Deckard, humano ou “replicant”, Ridley Scott respondeu de forma categórica numa entrevista em 2000, apesar dos veementes protestos de Harrison Ford…

Para se ficar a saber a verdade definitiva, teremos talvez de esperar pelo “Santo Graal” dos fãs de “Blade Runner”, a versão definitiva do realizador, da qual esta é apenas uma sombra, e que irá incorporar mais cenas originalmente cortadas, uma nova montagem e comentários áudio e documentários sobre o mais fascinante e intrigante filme de F.C.

Em relação ao argumento, “Blade Runner” (muito diferente do romance, que é mais impiedoso para com as personagens, mais inquisitivo em termos filosóficos e religiosos), gira à volta das duas perguntas fundamentais na obra de Philip K. Dick:
— O que é ser Humano?
— O que é a Realidade?

A resposta dada pelo escritor á primeira pergunta é “sentir empatia por outro ser humano”. Mas o teste Voight-Kampff administrado para descobrir “replicants”/andróides (devido á sua falta de empatia são desmascarados por este teste), cedo demonstra ser falível. E se Rick Deckard (Harrison Ford) for ele mesmo um andróide? Como será então possível ele sentir desejo, empatia ou até mesmo amor por Rachel (Sean Young), um andróide que não sabe que o é? E que também sente algo por Deckard?

Em relação á 2ª pergunta, Dick só tinha questões. Quem determina o que é a Realidade? Será apreendida pelos nossos sentidos de forma correcta? Existirá uma Realidade fora da nossa percepção limitada e humana? Será Real apenas o que pensamos ou também o que sentimos? Poderá a nossa memória enganar-nos?

Em termos técnicos, “Blade Runner” é extremamente inovador estética e visualmente, o maior salto em frente do cinema fantástico desde “2001” e “Star Wars”, o que não é uma surpresa, vindo do realizador de “Alien – O 8º Passageiro”, “Gladiador” e “Reino dos Céus”. Pode-se afirmar que “Blade Runner” é um herdeiro directo das visões futuristas urbanas de “Metrópolis”, uma “Los Angeles de 2019 como um cruzamento entre um mercado de Hong-Kong e uma decadente metrópole com arranha-céus de 200 andares”. De destacar também a excelente banda sonora de Vangelis, talvez o melhor trabalho de um compositor não sempre consensual entre os fãs de cinema.

Outra clara influência de “Blade Runner” é o “Film Noir” e os seus estereótipos, como o seu detective clássico, um “looser”, duro e eficaz, mas sensível, que se apaixona pela rapariga errada, uma “femme fattale” literalmente com um grande segredo; existem ainda, como é habitual, os bons e os maus polícias, e os vilões “larger than life”.

Como curiosidades, refira-se o facto de o realizador ter referido numa entrevista recente que nunca leu o livro de Philip K. Dick em que “Blade Runner” se inspirou; K. W. Jeter, amigo pessoal de Dick, escreveu três sequelas para “Blade Runner”, tentando conciliar todas as diferenças existentes entre o livro e o filme: “Blade Runner II: The Edge of Human/A Fronteira do Humano” (1995), “B.R. III: Replicant Night: A Noite dos Andróides” (1996), e “B.R. IV: Eye and Talon” (2000).

Podemos concluir dizendo simplesmente que “Blade Runner” é a história de dois seres que sonham que são humanos e se encontram na sua mentira, na sua ilusão e na sua solidão, mas cujos sentimentos e memórias, por mais programados e virtuais que sejam, não deixam para eles de ser realidade, e que simplesmente nunca se sabe quando o nosso período de validade terminará quer sejamos humanos ou não.

É a Empatia que nos torna humanos, não as memórias que temos ou pensamos ter, não a Carne e o Sangue de que somos feitos…
>> CRONOPIOS – por Gaspar Garção