UERJ FAZ PROVA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA COM QUESTÕES SOBRE QUADRINHOS

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Histórias em quadrinhos como a vista acima e textos sobre a área pautaram todas as questões das provas de inglês, espanhol e francês do vestibular da universidade carioca.

De quando em quando surge uma notícia sobre a área de quadrinhos que serve como divisor de águas sobre a forma como a linguagem é vista pela sociedade brasileira. A UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) promoveu domingo uma dessas notícias. A prova de língua estrangeira -toda a prova- foi feita com questões envolvendo quadrinhos. Ou com histórias ou com textos analíticos sobre a área. Os quadrinhos foram tema das provas de inglês, espanhol e francês. Cada uma trazia dez questões dissertativas.

Para ter idéia do que foi cobrado dos vestibulandos, leia algumas das perguntas propostas:

  • Explicite a diferença apresentada pelo autor entre os quadrinhos na Europa e nos EUA e entre as histórias de Mortadelo y Filemon [Mortadelo e Salaminho] e de Asterix y Obelix.
  • A editora Marvel criou uma nova forma de acesso às histórias em quadrinhos. Descreva essa novidade e aponte a estratégia usada pela editora com o objetivo de atrair novos leitores para seu novo produto.
  •  As editoras Marvel e Humanoïdes Associés propõem novos formatos de histórias em quadrinhos para o computador. Estabeleça a diferença existente entre esses formatos.
  • De acordo com o texto, Bill Watterson desenvolve temas em comum com outros dois cartunistas. Indique os dois temas abordados por Bill Watterson e relacione-os com os outros autores que também os exploram.

As questões foram baseadas em três textos diferentes. Cada um deles iniciava uma das provas de língua estrangeira. A de inglês abordava os quadrinhos como forma de arte, fazia uma rápida trajetória da história da linguagem nos Estados Unidos e encerrava questionando para onde iriam com o surgimento da internet. A migração dos quadrinhos para a internet era o tema da prova de francês. O autor iniciava citando o quadrinista e pesquisador Scott McLoud -autor de livros sobre a área- e encerrava mostrando a iniciativa da editora Humanoïdes Associetés de disponibilizar quadrinhos na rede mundial de computadores.

Na prova de espanhol, o fragmento proposto aos estudantes fazia uma ode a Francisco Ibánez, criador dos personagens Mortaldelo e Salaminho, já muito publicados no Brasil. O autor defende que Ibánez seja um dos grandes cronistas da realidade espanhola, a ponto de ser comparado a escritores como Francisco Quevedo e Mariano Larra. Ambos estão entre os mais importantes da literatura do país. O texto sobre Ibanez é trabalhado em sete das dez questões propostas aos estudantes. As três seguintes se pautam nesta história, de autoria de Ibanez:

   

  As perguntas exigiam dos candidatos capacidade de ler e compreender o texto em quadrinhos. O mesmo ocorreu nas provas de inglês e de francês, que também usaram quadrinhos para elaborar parte das questões. Na de inglês, foi usada uma história mais longa de Calvin e Haroldo, de Bill Watterson.

Os vestibulares brasileiros têm usado quadrinhos como tema de questões -inclusive de língua estrangeira- há quase 20 anos. Mas algo como o que ocorreu nas provas de língua estrangeira da UERJ é inédito e, por isso, marcante. Isso ajuda a fixar um conceito que ganha corpo nos últimos anos no país, o de que quadrinhos também sejam uma forma de leitura a ser usada academicamente.

Embora atrasado, esse conceito representa um outro olhar sobre os quadrinhos, mais sério e menos preconceituoso. Na prática, significa que ler quadrinhos -e saber ler quadrinhos- se torna conhecimento necessário para o desenvolvimento acadêmico nos diferentes níveis de ensino.
>> BLOG DOS QUADRINHOS – por Paulo Ramos

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