OS FINADOS E AS BRUXAS

sábado | 31 | outubro | 2009

finados

Pois é, caro leitor: aproxima-se o Dia de Finado. E chegou também o tal Halloween, ou Dia das Bruxas: uma data que não faz parte do nosso calendário de festividades tradicionais – no Brasil, a comemoração só tem sentido para quem faz curso de inglês e precisa conhecer melhor a cultura Anglo-Americana. E como o Assomblog também é cultura, publico aqui um artigo produzido pelo pesquisador Sérgio Nilsen Barza que vai dirimir muitas das dúvidas sobre Finados, Halloween e também sobre o Dia de Todos os Santos.

O Dia de Todos os Santos foi instituído pelo Papa Bonifácio IV (608-615) no dia 13 de maio: uma data para honrar santos e mártires. E o Papa Gregório IV (827-843) mudou-a para 1 de novembro. Crê-se que essa resolução tenha sido tomada numa tentativa de substituir uma festa pagã, vinda da cultura Celta, por uma celebração cristã.

A festa também era chamada All-hallows ou  All-hallowmas (do inglês antigo,  Alholowmesse, que  significava All Saints’ Day, Dia de Todos os Santos),  e a noite da véspera (31/10) – ou a noite de Samhain do antigos Celtas –  começou a ser chamada All-hallows Eve (véspera)  e, eventualmente, Halloween.

O Dia de Finados foi instituído mais tarde, por volta do ano 1000. Enquanto a festa de Todos os Santos é um dia para celebrar as glórias do Céu e daqueles que já estão lá, o dia de Finados lembra-nos a nossa obrigação de viver sem pecado: a alma, para entrar no Paraíso, deverá passar por uma purificação, aqui ou no Purgatório.  A tradição de Finados começou independente do dia de Todos os Santos. Teve início graças a monges do século VII que resolveram oferecer uma missa no dia após Pentecostes para os membros da comunidade já falecidos. 

Em fins do século X, os monges do mosteiro beneditino em Cluny, na França, decidiram transferir a missa pelos seus mortos para o dois de novembro, após a festa de Todos os Santos.  O costume se espalhou e, no século XIII, Roma tornou-o uma festa oficial da Igreja Católica. Católicos tradicionalistas aproveitam a data para rezar por suas almas e por almas que estão no Purgatório. Nos tempos de hoje, os cemitérios brasileiros ficam lotados no dia dois de novembro. É uma tradição antiga entre as famílias de nosso país nessa data prestar homenagem e rezar pelos parentes mortos.

O Dia das Bruxas – ou Hallowen – vem das tradições do antigo povo Celta, que, até 180  d.C., ocupava vários territórios da Europa onde hoje existem países como a Inglaterra, a Escócia, a França e a Espanha. No calendário dos Celtas, o dia 31 de outubro era o último do ano.  Nessa data acontecia um festival chamado  “Samhain, All Hallowtide”, que assinalava o fim da colheita e o início da estação de inverno. Essa festa tinha um grande significado para os Celtas. O término do verão era para eles, um povo essencialmente de pastores, a época do ano em que suas vidas mudavam radicalmente: o gado era recolhido dos seus pastos de verão nas colinas, e as pessoas se reuniam nas casas para longas noites frias, contando histórias e fazendo artesanato.

Mas o que isso tinha a ver com uma festa para os mortos? Os Celtas acreditavam que, quando as pessoas morriam, iam para uma terra de eterna alegria e juventude, chamada “Tir nan Og”.  Eles não tinham os conceitos de Céu e Inferno,  que seriam  posteriormente levados pela Igreja Católica. O Samhain era o Ano Novo para os Celtas: uma ocasião mágica, quando o véu que os separava do “Mundo do Além” se tornava mais tênue, e os vivos podiam conversar com seus entes queridos em  Tir nan Og. Os celtas acreditavam que, quando o sol desaparecia no horizonte em 31 de outubro, reinava o caos: a noite não pertencia nem ao ano que acabava nem ao que iniciava. Aquele momento também servia como passagem final para os bons espíritos antes da escuridão do inverno iniciar.

Por volta do ano 43 d.C., os romanos conquistaram o território celta e, nos quatro séculos de domínio, dois festivais romanos combinaram-se ao Samhain. O primeiro deles foi Feralia, um dia no fim do mês de outubro que era consagrado à memória dos mortos. O segundo era uma festa em homenagem a Pomona, deusa romana dos frutos e das árvores. Como seu símbolo era a maçã, alguns estudiosos dizem que a tradicional brincadeira de apanhar a maçã com os dentes numa tina d’água, que se pratica no Halloween moderno, teve origem numa homenagem à deusa.

Quando as Ilhas Britânicas se cristianizaram, várias das tradições celtas foram associadas com o mal. Os celtas, contudo, não tinham demônios e diabos nas suas crenças – embora as fadas fossem freqüentemente consideradas perigosas e hostis, pois se ressentiam de ter suas terras invadidas pelos humanos. Na noite de Halloweeen, elas pregavam peças nas pessoas, fazendo com que se perdessem em colinas mágicas, onde poderiam ser aprisionadas por toda a eternidade.

Após a chegada do cristianismo, algumas pessoas começaram a ver as fadas como anjos que não se alinhara nem com Deus nem com Lúcifer e, por isso, foram condenados a vagar até o dia do Juízo. Na escuridão do dia 31 de outubro, muitos imitavam as fadas, vagando na noite, a bater de porta em porta pedindo comida e bebidas. Se não fossem atendidas, invocavam duendes e fadas que se vingariam do dono da residência com uma travessura.  As pessoas saiam vestidas de fadas, espíritos, fantasmas, e acreditavam que, se encontrassem os verdadeiros espíritos, não seriam  reconhecidos por eles como humanos.
>> ASSOMBLOG – por Roberto Beltrão


‘MATADORES DE VAMPIRAS LÉSBICAS’ IRONIZA CLICHÊS DO GÊNERO

sábado | 31 | outubro | 2009

Se há um tema em voga no cinema, basta esperar alguns meses para que apareçam produções para debochar dele. Neste caso é a sucessão de obras vampirescas em que “True Blood” e “Crepúsculo” são apenas alguns exemplos.

Escrito pelos roteiristas Paul Hupfield e Stewart Williams (da MTV inglesa), “Matadores de Vampiras Lésbicas” é um exemplo típico: com um título poderoso, ridiculariza todas as referências possíveis do gênero.

Como aconteceu em “Todo Mundo Quase Morto” (2004), que caçoava de zumbis, “Matadores de Vampiras” destila um poderoso humor juvenil sobre essas criaturas que, há muito tempo, aterrorizam espectadores. O filme estreia em circuito nacional, em cópias legendadas e dubladas. As dubladas têm a participação do cantor João Gordo.

Tudo começa em um passado nebuloso, quando uma rainha vampira (lésbica), Carmilla (Silvia Colloca, de “Van Helsing – O Caçador de Monstros”), se envolve com a esposa do barão Wolfgang MacLaren na remota Cragwich, Inglaterra. Antes de ser assassinada, Carmilla roga uma maldição: quando completarem 18 anos todas as moças do vilarejo se tornarão vampiras lésbicas.

Os séculos passam e encontramos os amigos Fletch e Jimmy (James Corden e Mathew Horne, dupla-coqueluche da BBC). Enquanto o primeiro é um romântico, apaixonado pela namorada que já o esnobou oito vezes, Jimmy é um beberrão tagarela que só pensa em sexo – uma espécie de Seth mais velho, o personagem gordinho interpretado por Jonah Hill, em “Superbad – É Hoje”.

Para esquecer seus problemas, os amigos marcam uma viagem pelo interior do país, com passagem por Cragwich, onde encontram um grupo de cinco lindas garotas por quem irão se apaixonar. O que eles não sabem é que acabam de entrar em um ninho de vampiras lésbicas.

Como desde o começo já se sabe que Fletch é um descendente distante do barão (ambos interpretados por Corden), entende-se que ele é o único que pode impedir a volta de Carmilla. Um pretexto para incluir uma lista de profecias, rituais e magias tão caros aos filmes de terror B.

O diretor do filme, Phil Claydon, chegou a dizer que se inspirou nos clássicos da Hammer Films, produtora inglesa que ficou famosa pelas versões de Frankenstein e Drácula nos anos 1950. Essas produções colocaram Peter Cushing e Christopher Lee no caminho anteriormente percorrido por Boris Karloff e Bela Lugosi. Mas a afirmação do diretor é um evidente exagero.

Como deboche, “Matadores de Vampiras Lésbicas” serve ao seu público, inquestionavelmente adolescente, faminto por diversão digestiva. O filme, possivelmente em tom de piada, já dá indícios de uma continuação: os matadores de lobisomens gays. Para rir.
>> CINEWEB – por Rodrigo Zavala

Assista ao trailer:


LÁ VEM O SACI

sexta-feira | 30 | outubro | 2009

Saci_la vemO saci completa agora 90 anos de nascimento literário pela pena do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948), principal responsável por propagar essa figura do imaginário popular nacional. O personagem, cujo nome é uma corruptela de Çaa cy perereg, do tupi-guarani, saltou do universo oral para o mundo das letras após pesquisa realizada por Lobato no começo do século XX.

O livro O sacy-perere – resultado de um inquérito (1918) foi publicado pouco depois de o escritor paulista reunir, para o Estadinho, edição vespertina do jornal O Estado de S. Paulo, muitos dos “causos” sobre o duende relatados por leitores de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e, principalmente, do interior paulista. O futuro criador do Sítio do Picapau Amarelo convocara leitores a compartilhar informações sobre a criatura “genuinamente nacional”.

A obra, que antecedeu até mesmo Urupês, trazia o inquérito sobre o moleque: havia relatos de constantes aparições nas zonas rurais, a informação de que adorava praticar diabruras, como azedar o leite, embaraçar a crina dos cavalos e esconder objetos da casa. Um dos leitores garantiu: “(…) era um negrinho muito magro, muito esperto, de cima de uma perna só, do tamanho de um menino de doze anos, muito feio, banguela, olhos vivos, rindo sempre um riso velhaco de corretor de praça”.

O saci surgiu nas fronteiras do Paraguai, entre os índios guaranis. Mas foram os negros escravizados no país que se apropriaram da figura. E foi então que ganhou feições africanas, gorro vermelho e pito de barro, segundo Mario Cândido, presidente da Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci), associação engajada na missão de não deixar bruxas de Halloween apagarem a imagem do homenzinho perneta no imaginário das crianças brasileiras – hoje, no país, 31 de outubro é dia do saci.

E o duende perneta no universo lobatiano ressurge com destaque no livro O saci, de 1921. E ali é Pedrinho, mais uma vez de férias na casa da avó, que “andava com a cabeça cheia de sacis”. Com tanta curiosidade quanto medo, o menino vai perguntar sobre a criaturinha para tio Barnabé, aquele que “entende de todas as feitiçarias, e de saci, de mula-sem-cabeça, de lobisomem – de tudo”.

Até que um dia Pedrinho consegue captu¬rar um saci num rodamoinho que chega ao sítio com uma peneira de cruzeta. E, no meio da mata, perto de taquaruçus, espécie de bambu onde os sacis nascem, os dois travam diálogos filosóficos sobre a lei da floresta, a vida na cidade, a sabedoria dos homens, a importância da erudição – questionamentos lobatianos.

Só é lamentável que o livro (editora Brasiliense) seja pouco atraente para meninas e meninos de hoje, já acostumados com edições cada vez mais sofisticadas nas capas, no projeto gráfico e nas ilustrações. Mas em 2007, ano em que o escritor de Taubaté completaria 125 anos de nascimento, a disputa judicial pela obra do autor está na reta final – e tudo indica que novas edições das aventuras do Sítio do Picapau Amarelo estejam bem próximas.

Saci_dezAOs sacis, no entanto, continuam aprontando poucas e boas na literatura infantil. A veterana Tatiana Belinky foi premiada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) por Dez sacizinhos (Paulinas), com as ilustrações de Roberto Weigand. Belinky faz versos sobre o desaparecimento de sacis, que, um a um, vão sendo subtraídos da história: “Eram dez os sacizinhos; um ficou imóvel e nunca mais se moveu, e sobraram nove”.

Em Nas pegadas do Saci (Conex), Marcia Camargos, co-autora do premiado Monteiro Lobato – furacão na Botocúndia (Senac), coloca um grupo de amigos no rastro biográfico do moleque de uma perna só. Os diálogos entre adultos e crianças, recheados de informações históricas e mensagens ecológicas, soam, às vezes, um pouco artificiais. Mas, se a obra carece de recursos literários, o livro com ilustrações de Marcos Cartum destaca-se justamente por oferecer informação de qualidade sobre a criatura folclórica – é boa fonte de pesquisa para crianças em idade escolar.

Saci_DCLaPererêêê Pororóóó (DCL), de Lenice Gomes, escritora de livros que resgatam o aspecto folclórico com roupagem contemporânea, é uma prosa poética cheia de adivinhas – “Pererêêê / Pororóóó / Saci-Pererê! / Adivinha o quê?”. Em versos livres, é contada a história do encontro de Raul e Diva, duas crianças, e três sacis que rodopiam feito “piões enlouquecidos” em um casarão abandonado na cidade. As colagens de André Neves dão um adequado toque folclórico aos personagens.

Saci_caso_cosac naifyÉ também na cidade, em sua periferia, que o enredo de O caso do saci (Cosac Naify), do ilustrador e escritor Nelson Cruz, se desenrola. Os irmãos Manfredinho e Andréa desconfiam que é o duende que anda escondendo o dinheiro do pai, vítima de malandros do bairro. Depois de roubar o gorro vermelho do Saci, o que deixa o duende sem força, os dois acompanham o negrinho até o vale onde estão os objetos escondidos pelo moleque que migrou das zonas rurais para os centros urbanos – pelo menos na literatura infantil
>> ENTRELIVROS – por Gabriela Romeu


‘DEIXA ELA ENTRAR’: RETORNO AO CAMINHO CLÁSSICO DAS HISTÓRIAS DE VAMPIROS

quinta-feira | 29 | outubro | 2009

Com o advento da massa-pop vampírica em séries e nas telonas, o gênero vem ganhando novos tons, alguns coloridos até demais (vampiros à lá Don Juan, ou brilhantes como purpurina ao irradiados pelo Sol) e que, inevitavelmente, estão desgastando o mito.

John Ajvide Lindqvist, autor e roteirista de Deixe Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In / Let The Right One In), optou por seguir o caminho mais clássico e selvagem: o horror. Mas com requintes de alcoolismo, preconceito, pedofilia, bullying e psicopatia, a maioria deles implícitos no plot, que impõe na história uma originalidade visceral e única.

O filme sueco de 2008, dirigido por Tomas Alfredson, ganhou mais de 40 prêmios em festivais pelo mundo e conta a história do introvertido Oskar (Kåre Hedebrant), garoto de 12 anos, que é alvo constante de outros alunos na escola e revida a fúria com uma faca, solitário, no quarto. Suas noites mudam quando conhece a estranha Eli (Lina Leandersson, uma versão européia da também excelente Ivana Baquero, de O Labirinto do Fauno), que acabou de se mudar para o apartamento ao lado e que chama a atenção pelas janelas tapadas com papelão, a “garota” (as aspas podem ser melhor compreendidas ao final do texto) tem a mesma idade dele, mas há muito, muito tempo.

Numa trama de formação, o foco é a relação entre os dois. Quando Oskar descobre que Eli é uma vampira, não se afasta, pelo contrário.
Os garotos se tornam amigos, mas os sentimentos evoluem ao longo do filme. Ambos se protegem. Ele torna-se seu novo guardião (o antecessor, um adulto assassino, tem seu passado melhor explorado no livro, e subentende-se que pode ter sido um amante ou o pedófilo castrador de Eli), cuidando para que a menina não seja tocada pelo Sol e ajudando no controle de sua sede por sangue, ainda que tenha lá seus requintes masoquistas. Ela, por sua vez, toma conta do garoto sem se preocupar em ser discreta, impondo sua força sobrenatural para preservá-lo, inclusive.

Lindqvist acertou na dupla de protagonistas, tornando-os carismáticos, mesmo na bizarria. Eli é doce ao mesmo tempo que selvagem, enquanto que Oskar disputa sua introversão contra uma fúria contida. O relacionamento dos dois cresce à medida que percebem a solidão que os assola. São cúmplices e se importam apenas com a companhia um do outro. A complexidade deles aumenta no desenvolvimento da história e é bem traduzida em uma interessante metáfora: o vidro que separa o encontro de suas mãos em um determinado momento, representa a barreira presente no relacionamento dos garotos, que mesmo ligados, possuem um obstáculo intransponível entre eles.


O gênero vampiro é abordado de forma didática pelo autor, que aborda os temas-padrão do mito impostos por Stoker, como a necessária permissão para entrar na casa, o Sol que mata, a mordida que transforma, a percepção felina (bem aplicada num conveniente vizinho com a moradia repleta de gatos) e a eternidade. Mas é a direção de Alfredson que recheia a película com tons sombrios e gélidos, dando a real percepção da solidão que assola os personagens. A trilha sonora se permite apenas aos ruídos, no lugar de arranjos e sinfonias, incrustando o espectador dentro da trama, ou ao contrário.

Fã declarado de Morryssey, o autor não esconde que o título de seu livro e filme são baseados em uma composição do cantor, intitulada Let The Right One Slip In, que diz o seguinte em determinado trecho: “Eu diria que você tem todo o direito de dar uma mordidinha na pessoa certa e dizer: ‘O que fez com que você demorasse tanto?’”.
   
A paternidade é outro ponto-chave no roteiro, menos sutis, mas provocadores. O homem que mora com Eli tem uma figura paterna. Mata por ela e a protege, inicialmente, do contato com o Sol, adaptando o novo apartamento para sua peculiar moradora. Percebe-se que envelheceu ao lado da menina, contemplando sua imortalidade, mas que esconde um passado terrível e chocante, subentendido em duas ocasiões: quando o garoto flagra a vampira nua, num ponto específico de seu corpo, que entrega sua androginia e sua real identidade, em decorrência de um ato inescrupuloso do passado; e quando ela dá o destino de seu antigo guardião, sem piedade, no hospital. Já o pai ausente de Oskar (que mora com a mãe, uma coitada), quando juntos, se mostram extremamente cúmplices e afetuosos um com o outro. Mas a chegada de outro homem na casa revela a possível homossexualidade de seu pai e um grande desconforto no garoto, que não sabe lidar com a situação.

Estes elementos são acréscimos favoráveis, que apenas enriquecem o plot, em suas cenas implícitas, que ampliam e valorizam esse suspense e terror que o diretor muito bem aplica por toda a película.

Hollywood sentiu o cheiro de sucesso e chamou Matt Reevs (diretor de Cloverfield – Monstro) para conduzir a versão americana do filme, certamente com maior apelo comercial e menos sutilezas no roteiro.
Sorte de quem pode apreciar a obra original antes dela se transformar em uma nova onda de vampiros sarados que apreciam mais a luz do Sol do que uma boa dose de sangue.
>> REVISTA MOVIE – por Douglas MCT


‘AMERICAN VAMPIRE’: BRASILEIRO DESENHA HQ COM ROTEIRO INÉDITO DE STEPHEN KING

quinta-feira | 29 | outubro | 2009

Rafael Albuquerque coassina American Vampire para a DC/Vertigo

 

 

Stephen King vai escrever um roteiro de HQ original pela primeira vez. E será para um brasileiro, Rafael Albuquerque, ilustrar. É American Vampire, nova série mensal que a DC/Vertigo acaba de anunciar.

Junto aos dois está o roteirista, e também romancista, Scott Snyder. Nas primeiras cinco edições da série, duas histórias correrão em paralelo – uma escrita por Snyder, outra por King, ambas ilustradas por Albuquerque. Elas revelam o que o blog oficial da Vertigo chama de “uma nova raça de vampiros”.

A história de King apresenta o “primeiro vampiro americano: Skinner Swett, ladrão de bancos e caubói assassino dos anos 1880. Skinner é mais forte e mais rápido que outros vampiros, tem presas de cascavel e ganha seus poderes… do sol?” – na descrição da Vertigo.

A história de Snyder se passa na Era do Jazz, nos anos 20: “Pearl é uma mulher moderna e ambiciosa com sonhos de estrelato. Ela frequenta as danceterias e os bares ilegais de Hollywood em busca de sua grande chance, mas encontra algo mais sinistro à sua espera”.

Nas edições seguintes da série, Snyder e Albuquerque darão continuidade à história de Skinner Sweet e à linhagem de vampiros que ele gerou na América. A Vertigo dá a entender que Stephen King só participará das primeiras cinco edições como roteirista. Em entrevista ao Newsarama, Snyder diz que havia convidado King para escrever apenas uma frase para estampar as capas da série, mas o escritor disse que tinha vontade de fazer algo a mais. Snyder não pensou duas vezes.

O gaúcho Rafael Albuquerque, em conversa exclusiva com o Omelete, diz estar feliz com o projeto – bem diferente dos herois (Besouro Azul, Superman/Batman) a que estava acostumado. “Eu vinha conversando com Will Dennis [editor da Vertigo] desde fevereiro, quando o encontrei na New York Comic-Con. Queria fazer algo com uma cara mais adulta e sempre gostei dos títulos que ele editava. Para minha surpresa, ele conhecia meu trabalho e especialmente o material que tinha feito para a Mondo Urbano.”

O desenhista está envolvido no projeto – como uma das primeiras pessoas do mundo lendo uma história inédita de Stephen King – desde agosto. E diz que tanto o famoso romancista quanto Scott Snyder são ótimos colaboradores.

Quanto a ser o responsável por ilustrar o primeiro roteiro para os quadrinhos de King, o brasileiro diz: “É diferente de trabalhar com um escritor que vem dos quadrinhos mesmo, pois o roteiro é muito mais descritivo que o normal. Claro que é uma baita responsabilidade desenhar uma história do Stephen King, ainda mais a primeira, mas tento não pensar muito nisso, e me concentrar no que é melhor para o trabalho”.

Albuquerque mantém contato diretamente com Snyder, mas com King foi somente através da Vertigo. “Segundo os editores ele tem gostado muito. Só algumas vezes sugeriu mudanças no design dos personagens.”

Pela ligação com Stephen King, American Vampire tem ganhado mídia nacional nos EUA, chegando a jornais como The New York Times e USA Today nesta segunda-feira. A série estreia em março por lá.
>> OMELETE – por Érico Assis


‘STAR TREK ONLINE’: FASE DE TESTES JÁ DÁ ALGUNS RESULTADOS

quinta-feira | 29 | outubro | 2009

Fase de testes está rolando e jogo chega no 1º trimestre de 2010

Fase de testes está rolando e jogo chega no 1º trimestre de 2010

Craig Zinkievich, produtor executivo de Star Trek Online (Cryptic Studios), informou que o jogo massivo de ficção científica está em sua fase de testes (beta) e que os primeiros resultados já estão sendo obtidos.

Ele contou ao site Joystiq que os testes técnicos “já têm os primeiros resultados e que a equipe está muito satisfeita”. STO entrou na fase de testes há uma semana. Passada essa fase, e feitas as melhorias e os ajustes, o jogo será lançado.

Não há data oficial para o lançamento, mas Zinkievich não se conteve e explicou “que isso é uma decisão da equipe de marketing, posso apenas dizer que o título chegará no 1º trimestre de 2010”, completou.

O jogo
Star Trek Online é inspirado na série de televisão criada por Gene Roddenberry. STO rola no ano de 2409 que, segundo nota oficial, “equivale ao futuro da série”. Aliás, a aventura acontece 30 anos depois dos eventos vistos no longa-metragem Star Trek Nemesis (2002).

STO é um título do gênero MMO (do inglês “massive multiplayer online”), ou seja, pode ser disputado online por milhares de jogadores ao mesmo tempo.

Teste beta
As fases-beta representam um período em que o programa (no caso o videogame) passa não somente por uma infinidade de simulações e testes técnicos, mas ainda pelo crivo de jogadores. Ou seja, é quando as primeiras pessoas começam a jogar e a experimentar controles, menus, mapas, arquivos, personagens, itens.

Teste beta para milhares
No caso de um jogo massivo online, em que é preciso “simular” milhares de pessoas curtindo a partida ao mesmo tempo, os estúdios têm distribuído contas, aliás, milhares de contas entre as comunidades oficiais do jogo, da série, do estúdio e assim por diante. Ao mesmo tempo em que os jogadores profissionais do estúdio, milhares de outras pessoas também jogam e ajudam os desenvolvedores a mudar, corrigir e aperfeiçoar um jogo de videogame.

Star Trek Online (produção: Cryptic Studios / distribuição: Atari), PC, PS3, X360.
Lançamento:
América: 1º trimestre de 2009
Ásia: sem previsão
Europa: 1º trimestre de 2009
Oceania: 1º trimestre de 2009

>> TERRA – por Darius Roos


‘GHOSTWIRE’: GAME SOBRENATURAL DE REALIDADE AUMENTADA TEM PRIMEIRO TRAILER

quinta-feira | 29 | outubro | 2009

Confira o funcionamento de Ghostwire para Nintendo DSi

Ghostwire, game para Nintendo DSi que emprega o conceito da “realidade aumentada” (linha da ciência da computação que integra o mundo real a elementos virtuais), teve revelado seu primeiro trailer. Veja abaixo.

O título permitirá que jogadores cacem fantasmas no mundo real. No adventure, o DSi vira um “portal para o plano astral”, através do qual os usuários podem ver e colecionar fantasmas que existem no nosso mundo, invisíveis para nós. Ao encontrar os fantasmas, o jogador deve interagir com eles para descobrir os motivos que os estão levando a assombrar aquele local e tentar ajudá-los a encontrar paz.

A jogabilidade exigirá o uso da câmera (com os fantasmas projetados sobre o ambiente real), microfone e a tela sensível ao toque.
>> OMELETE – por Érico Borgo


MANSÃO MACABRA – O HALLOWEEN DA CASA DAS ROSAS

quinta-feira | 29 | outubro | 2009

A Mansão Macabra 2009 é dedicada a Edgar Allan Poe, em comemoração ao bicentenário do poeta, com recitais, contação de histórias, apresentações teatrais, música gótica e performances macabras no jardim da Casa das Rosas.

A festa é dividida em dois momentos: a partir das 20h do dia 31 de outubro, um evento especial que atravessa a madrugada e se encerra às 6 horas da manhã. Já no dia 1o de novembro, as crianças podem participar de um evento assustador!

19h – Instalação
Edgar Alone Poet
Às 19 horas do dia 31 de outubro, estará oficialmente aberta a instalação multimídia Edgar Alone Poet, uma homenagem ao bicentenário do poeta, um dos precursores da literatura fantástica moderna. A instalação estará aberta à visitação do público de 31 de outubro a 29 de novembro.

20h – Poesia
Sarau da Casa
O Sarau da Casa comemora o Halloween com a participação dos poetas Luiz Roberto Guedes e Carla Caruso, e do público, que poderá recitar poemas próprios ou de outros autores em nosso sarau aberto. Após as leituras macabras, haverá a apresentação do Blu Jazz Trio (Henrique Messias, Marcelo D’Angelo e Vinícius Pereira). Inscrições para leitura de poemas: na recepção da Casa das Rosas, durante o próprio sarau.

22h – Teatro
O Gato Preto
O conto “O Gato Preto” narra, em primeira pessoa, a sucessão de acontecimentos que levaram um homem aparentemente normal a perpetuar os mais terríveis atos. O conto de Poe está lá. Mas ele não é a peça; é o pretexto, e é a partir dele que a Nossa Companhia Imaginária interroga, critica, força e homenageia o autor que, neste ano de 2009, completaria 200 anos, caso ainda estivesse vivo…
Texto: Edgar Allan Poe. Direção: Eduardo Parisi. Produção: Nossa Companhia Imaginária. Elenco: Andrea Tedesco, Juliana Lacerda, Rodrigo Arijon, Rodrigo Pessin e Luciano Carvalho.
Recomendação etária: 14 anos.

24h e 1h – Visita
Visita assombrada à Mansão Macabra
Durante a madrugada, a Casa das Rosas se transforma numa mansão assombrada, perturbando a paz de espíritos antigos, cujas aparições vagam pelas escadas e quartos e se revelam na visita monitorada, realizada por um estranho anfitrião, aos cômodos, instalações e ambientes mais inusitados da mansão. Com os atores Claudia Gianini, Simone Xavier, Paulo Cavalcante e Fernanda Padilha. (30 pessoas por visita).

2h30 – Poesia
Recital de poemas malditos
A poesia maldita estará presente por meio das leituras de Luiz Roberto Guedes, Luiz Alberto Machado Cabral, Donny Correia, Frederico Barbosa, Martha Argel e Greta Benitez, que interpretarão poemas de Edgar Allan Poe, Baudelaire, Lord Byron, Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos, além de textos próprios. 

4h – Música
Banda Interlude 
A banda Interlude presta tributo a uma das mais importantes, influentes e admiradas bandas inglesas de todos os tempos: The Cure. Já se apresentou nas mais célebres casas e festas de São Paulo, como Atari Club, Thorns Festival, Café Piu Piu, Morrison Rock Bar, Kazebre, Outs e em outras cidades e estados. Em lugares alternativos e undergrounds ou em palcos tradicionais, procura transmitir a essência e a energia das apresentações da banda original, com um repertório que passeia por toda a extensa carreira do The Cure, do início pós-punk, passando pelo dark, pop perfeito, hard até o psicodelismo.

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL NO CAFÉ PANAROMA
Panaroma é uma palavra-valise, presente no livro Finnegans Wake, de James Joyce, que une as palavras “pan” (“tudo”, em grego) e “aroma”, ou seja, “todos os aromas”, e ainda faz um trocadilho com “panorama”. No livro de Joyce, a expressão é Panaroma of all flowers of speech, ou, na tradução de Augusto de Campos: “o panaroma de todas as flores da fala”. Assim se explica por que Panaroma foi o nome escolhido para o café da Casa das Rosas.
Durante a Noite das Bruxas, o café Panaroma ficará aberto até as 3 horas da manhã e servirá um cardápio especial, como massas negras com molhos vermelhos, drinques de sangue (ops!) e outras delícias. Enquanto você saboreia as novidades, serão apresentados filmes,
performances teatrais e de dança.

21h – Dança
Performance no jardim
A Cia Micrantos fará uma performance no jardim da Casa das Rosas que atrairá a atenção de todas as pessoas… e de todos os espíritos.

21h – Cinema
Nosferatu; O homem que ri; O Gabinete do Dr. Caligari
Os filmes expressionistas alemães refletem o sentimento do horror da década de 1920, por meio do cenário perturbador, dos contrastes violentos de claro e escuro, e da distorção da realidade sensorial e lógica, trazendo a atmosfera do pesadelo ao espectador.

0h – Teatro
O engenho mal-assombrado
Tudo começa à meia-noite. No meio do silêncio do velho engenho, os ruídos começam a ser ouvidos. Máquinas enferrujadas e carcomidas pelos anos voltam a rodar e, de todos os lados, surgem vultos que, ao comando do feitor, colocam-se em seus postos de serviço, iniciando o trabalho…
Direção: Roberto Paulino Júnior.

0h30 – Teatro
Nosferatu
Drácula é um conde-vampiro, proprietário de uma velha mansão. É fascinado por uma jovem e virgem donzela que seria a reencarnação de sua antiga amada. Logo após perseguir e seduzir a jovem, que cai em seus braços, transforma-a em uma vampira. Mas terá de enfrentar o médico e ocultista Dr. Van Helsing, um especialista em vampiros que o persegue implacavelmente e que pode acabar com seu reinado de terror.
Direção: Roberto Paulino Júnior.

1h30 – Contação de histórias
Sepultamento prematuro
Alguns temas são terríveis demais para que possam ser usados pela ficção… Ser enterrado vivo é sem dúvida o pior deles! Poe narra enganos ocorridos nos idos de 1800: quatro diferentes episódios de pessoas que morreram e voltaram. Finalmente, acompanhamos de perto um homem que sofria de catalepsia e seus pesadelos: todas as precauções, a reforma do jazigo familiar, os juramentos dos amigos… e seu destino!
Cia. Em Cena Ser
Histórias originais: Edgar Allan Poe.
Adaptação e interpretação: Cristiana Gimenes.
Direção: Andreza Domingues.

2h – Contação de histórias
O poço e o pêndulo
Num de seus contos mais famosos, Poe nos conta, em primeira pessoa, os dias de um prisioneiro da Inquisição, em Toledo. Logo após ouvir sua sentença de morte, ele desmaia e narra tudo o que sentiu depois: a dúvida sobre o que aconteceu com ele, a percepção da situação, o cárcere, os demônios pintados nas paredes, os ratos… e as crueldades que seus carrascos lhe reservaram: o poço e o pêndulo.
Cia. Em Cena Ser
Histórias originais: Edgar Allan Poe.
Adaptação e interpretação: Cristiana Gimenes.
Direção: Andreza Domingues.

MATINÊ MACABRA
RÉ LOU IM NA CASA DAS ROSAS

Saci-pererê, curupira, fantasmas, abóboras e mulas-sem-cabeça farão uma visita inesquecível à Casa das Rosas. O Dia do Saci foi criado em caráter nacional, em 2005, como uma forma de valorizar o folclore brasileiro, já o Halloween é uma data tradicional do calendário celta, levada aos Estados Unidos no século XIX. Na Matinê Macabra da Casa das Rosas, todas as culturas convivem e as crianças só têm a ganhar!

14h – Contação de histórias
História do Curupira
O Grupo Trii – Estêvão Marques, Fê Sztok e Marina Pittier – apresenta músicas e histórias de dar calafrios. Quem aparece neste encontro é o Curupira, protetor das matas, com cabelo de fogo e pés virados para trás. Quem o conhece sabe do que ele é capaz.

15h – Atividades educativas
Brincadeiras de arrepiar
As crianças aprenderão sobre a cultura do Halloween, Dia do Saci, Dia da Bruxa e histórias vindas de diversos países por meio de brincadeiras, como Pega-pega vampiro, Corrida do Saci, Balança caixão, Brincadeira da caveira, atividades plásticas, entre outras. Com os educadores Laiz Hasegaza, Laizane de Oliveira, Mariana Gondo e Alexandre Lavorini.

16h – Contação de histórias
O macaco e a banana
Uma música-história tenebrosamente engraçada, além das músicas “A noite no castelo” (Helio Hiskind) e “Taquaras” (Palavra Cantada) que deixarão todos arrepiados! As músicas de suspense “Murucututu” (Grupo Roda Pião) e “Monstro” (Rumo) vêm para dar mais um arrepiozimmm na espinha. Com Grupo Trii – Estêvão Marques, Fê Sztok e Marina Pittier.

16h – Exibição de filme
Noiva Cadáver
Passado num vilarejo europeu do século XIX, o filme conta a história de Victor (Johnny Depp), um jovem que é arrastado para o outro mundo ao se casar sem querer com a misteriosa Noiva Cadáver (Helena Bonham-Carter), enquanto sua verdadeira noiva, Victoria (Emily Watson), o aguarda desolada na Terra dos Vivos. Embora a vida na Terra dos Mortos se mostre mais animada do que o meio vitoriano em que cresceu, Victor descobre que nada há neste mundo, ou no outro, que possa afastá-lo de sua amada. É uma história de otimismo, romance e de uma alegre vida após a morte, contada no clássico estilo de Tim Burton.

17h – Visita
Visita assombrada à Mansão Macabra
O passeio começa pelo jardim, com ouvidos atentos a sons indefinidos, olhos ligados em movimentos estranhos. O grupo entra pela sala de jantar e procura a passagem secreta que esconde um grande mistério. No porão, o grupo que ainda restou terá uma surpresa… no escuro. Com Fabio Lisboa.

18h – Música
Grupo Musicantes
Pensado e criado por Carlos Kater, o Musicantes é um grupo cujos participantes atuam como músicos, atores, contadores de histórias, dançarinos. A proposta dessa apresentação é estimular o resgate de jogos expressivos e brincadeiras musicais da cultura brasileira, relacionando-os ao Dia do Saci. 

SERVIÇO
Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Avenida Paulista, 37
Tel.: (11) 3285.6986
www.casadasrosas-sp.org.br

Horário de funcionamento
De terça-feira a sexta-feira, 10h às 22h
Sábados e domingos, 10h às 18h (passível de alteração, de acordo com a programação).
Convênio com o estacionamento Patropi: Alameda Santos, 74

Dúvidas, críticas e sugestões: contato.cr@poiesis.org.br

Data da temporada: De 31/10/09 a 01/11/09

Dias e horários: Sábado, 19:00


COLEÇÃO IMAGINÁRIOS: LANÇAMENTO E EVENTO

quinta-feira | 29 | outubro | 2009

Imaginarios_capas
Grandes e novos autores exploram infinitos imaginários nesta coletânea da Editora Draco. A coleção Imaginários trará, a cada volume, contos inéditos que encontrarão o fantástico em todas as suas variantes, contando histórias de ontem, de hoje, de amanhã e – por que não? – de nunca. Conheça esse maravilhoso universo e reimagine a literatura fantástica.

Através dos séculos, escritores têm explorado o limite das idéias e da linguagem, dando vida a magos e imperadores, despertando vampiros e zumbis de suas covas, viajando por universos inteiramente desconhecidos, enfrentando a morte em labirintos infinitos, criando seres fantásticos que habitam as sombras da nossa imaginação. Os bardos das praças públicas se transformaram em mestres dos livros, colocando no papel toda a sua criatividade. Mais tarde, as histórias invadiram sites e blogs, migraram para celulares, fugiram das páginas e ganharam vida própria. Mas uma coisa permanece igual até hoje: a capacidade de encantar o leitor.

Grandes e novos autores exploram infinitos imaginários nesta antologia da Editora Draco. A coleção Imaginários trará, a cada volume, contos inéditos que encontrarão o fantástico em todas as suas variantes, contando histórias de ontem, de hoje, de amanhã e – por que não? – de nunca. Conheça esse maravilhoso universo e reimagine a literatura fantástica.

FALANDO DE IMAGINÁRIOS

O imaginário da literatura de gênero brasileira em discussão.
A cultura pop brasileira é muito rica e tem em seu folclore e dimensão continental matéria para muitas discussões. Porém, é também influenciada pela cultura pop ocidental e, com mais força recentemente, pela oriental. A velocidade atual das comunicações acelerou as chegadas dessas influências, que vêm através de diversos meios, e continuam ajudando na criação de uma literatura de gênero brasileira heterogênea e que tem conquistado mais espaço, graças às facilidades de interação entre os escritores e seu público.

A discussão proposta será no sentido de entender como esses produtores de conteúdo veem as influências externas e sua importância na construção da literatura de gênero brasileira, e como têm enfrentado os problemas e aproveitado as vantagens que essa época oferece.

A participação dos organizadores dos volumes 1 e 2 da coleção Imaginários Eric Novello e Tibor Moricz e os autores Alexandre Heredia, Ana Lúcia Merege, Davi M. Gonzales, Gerson Lodi-Ribeiro, Giulia Moon, Martha Argel e Richard Diegues, sob a mediação de Erick Santos Cardoso, falarão de Imaginários, perspectivas e opiniões sobre a literatura de gênero brasileira e responderão a perguntas dos convidados, no final.

Data:
28 de novembro, 2009, às 16h,

Local:
na Livraria Cultura do Shopping Market Place.
Avenida Doutor Chucri Zaidan, 902 –
Fone: 11-3474-4033

Clique aqui para conhecer o hotsite da coleção Imaginários

logo_DRACO

www.editoradraco.com


‘OS DIAS DA PESTE’, DE FÁBIO FERNANDES

quinta-feira | 29 | outubro | 2009

Os Dias da Peste - Fábio FernandesCada segundo passado nos torna mais dependentes da Tecnologia. Hoje ela ainda necessita de nossa interação para seguir seu desenvolvimento. Mas cada vez menos essa afirmativa é exata. Haverá um ponto de mudança. Um avanço natural. A História Humana nos ensinou isso em séculos de progresso tecnológico. E a história da evolução digital vem sendo escrita entre o ontem e o amanhã.

Atualmente convergimos para o ponto onde a tecnologia se tornou tão comum em nosso cotidiano que não a percebemos mais. Celulares, palmtops, realidade virtual, tablets, implantes, wireless, videogames e nano máquinas já são corriqueiros. Somos atendidos por máquinas, nos comunicamos através delas, permitimos que digitalizem nossas vidas em arquivos… Conversamos com elas. O tempo em que será impossível nos separarmos dos computadores está cada vez mais imediato.

E se um dia fosse necessário nos afastarmos de todo conforto tecnológico que nos cerca? Se precisássemos nos desconectar de toda a praticidade da evolução digital? Caso a sua vida, como você a conhece hoje, dependa de um total afastamento da informação, o que você faria? Se estivéssemos vivendo Os Dias da Peste moderna?

Você conseguiria puxar a tomada?

Uma visão da obra por olhos competentes
Tendo como cenário o mormaço de um Rio de Janeiro sombrio e cyberpunk, este romance narra a história de um técnico em computadores e professor universitário que ganha a vida percorrendo empresas cujos donos estão desesperados com as panes de suas máquinas. Artur Mattos é esse personagem ambíguo cuja existência vive mergulhada numa sufocante rotina diária de máquinas que quebram e cujo reparo depende do conhecimento de alguns macetes.

Mas ao mesmo tempo ele é o ser que nos fascina pelo seu conhecimento detalhado da história da evolução das tecnologias digitais. Ele é o ser dividido, no qual se confrontam a banalidade da gambiarra e a fascinação pelo universo da alta tecnologia. Como qualquer anti-herói moderno, ele é um Quixote amesquinhado, o típico personagem ao qual fomos reduzidos nas sociedades digitalizadas.

Mas a vida real de Artur Mattos se passa numa cidade opressiva. Ele é um solitário que mora num apartamento cinzento, típico de um solteiro que tem sempre a geladeira vazia e apenas café solúvel na sua mesa. Nele esta o contraste de quem tem uma vida de má-qualidade, mas ao mesmo tempo povoada pelos inventos da tecnologia de ponta, que hoje participam tanto de nossa vida que mal os percebemos.

Esse contraste chocante impressiona o leitor logo no início do livro pelo seu viés heideggeriano. Uma era dominada pelo uso comercial do computador, algo para o qual seu inventor Alan Turing jamais o concebeu. O sonho de Turing pode ter se tornado uma espécie de pesadelo digital, um produtor de vidas mesquinhas. Afinal, será que já não faz tempo que vivemos num universo cyberpunk?  Será então que devemos temer e impedir a inteligência artificial por causa do efeito nocivo de suas tecnologias?

Essa é uma das poucas questões – entre muitas – que este livro pode provocar. Um livro que não pode, tampouco, deixar de ser lido por nos seduzir com sua prosa agradável e promissora que já aparece no romance de estréia do professor Fábio Fernandes.Ilustração de Marcelo Tonidandel

João de Fernandes Teixeira é bacharel em Filosofia pela USP, mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP, PhD pela University of Essex, Inglaterra, com pós-doutorado na Tufts University, em Boston, orientado pelo Prof. Daniel Dennett. É pesquisador do CNPq e integra o programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de São Carlos, onde é professor titular. É autor de Mente, Cérebro e Cognição, A Mente Segundo Dennett e Inteligência Artificial, entre diversos outros livros.

Dados Técnicos:
Autoria: Fábio Fernandes
ISBN: 978-85-61541-18-7
Páginas: 184
Formato: 14×21cm

Para comprar o livro Os Dias da Peste, clique no link:
www.tarjalivros.com.br/detalheprod.asp?produto=44


‘OS DIAS DA PESTE’: NO FUTURE FOR YOU!

quinta-feira | 29 | outubro | 2009
Os Dias da Peste

“A ficção científica não prevê: descreve” nos diz Ursula K. Le Guin. Essa frase nunca foi tão facilmente visível e aplicável quanto em Os dias da Peste de Fábio Fernandes que você leitor fetichista do papel segura em suas mãos nesse momento – quem sabe também em breve em formato digital em um Kindle ou qualquer outro dispositivo do gênero. Conheço Fábio desde o início dos anos 00 ou melhor, segundo os “critérios presenciais” de muitas pessoas, somente o conheci em 2006 quando ele veio à Curitiba e conseguimos depois de anos de trocas de mensagens, efetivamente sair dos perfis online e tomar um café. E o que isso tem a ver com esse prefácio, perguntaria um leitor mais desavisado. Ora, tudo! Porque o trabalho autoral literário de Fábio está imerso (eu sei, é um trocadilho infame!) com a persona online de Fábio na blogosfera – e em outros sites de redes sociais – com seu trabalho de pesquisador, tradutor, professor universitário, jornalista, blogueiro, twitteiro, agitador do fandom, curador de eventos de ficção científica, etc.

Fábio em sua multimidialidade pessoal/profissional observa como insider as potencialidades e apropriações empíricas “das máquinas” e ferramentas digitais como poucos e também daí talvez advenha sua imensa capacidade de descrição que torna a sua Ficção Científica tão “real” – o termo é tão abominável e árido quanto um deserto, perdoem-me por mais um trocadilho infame, Baudrillard deve estar se revirando no túmulo! – e tão próxima de um cotidiano tecnologicamente mediado, pervasivo e vigilante. Mas é na descrição acurada e não na extrapolação, como diz Le Guin que a FC, ou sci-fi (eu prefiro o termo sci-fi por conta de seus aspectos subculturais como bem nos apontou Norman Spinrad lá nos anos 90) mata a cobra e mostra pau! Deixando de lado os aspectos fálicos da frase anterior, se a scifi enquanto gênero continua viva e respirando – por meios artificiais e maquínicos diriam alguns – é devido em grande parte ao seu caráter “presencialista” e descritivo que se adapta às condições normais de temperatura e pressão do mercado literário tanto quanto às tecnologias e aos novos públicos, e não a um futuro seja ele distópico ou utópico.

Em Os dias da Peste, o autor faz sua “saída do armário” como autor de FC em grande estilo – não que o fandom inteiro já não soubesse disso há um bom tempo – no entanto, renova o gênero mostrando que não é preciso incluir índios ou elementos folclóricos para fazer uma literatura que é também mainstream – no bom sentido – e também nacional, mas é muito mais “pós-geográfica”, como diria William Gibson e se encontra em um “entre-lugar” como nos diz Homi Bhabba.
Ambientado em um Rio de Janeiro nada estereotipado e multicultural, o livro dialoga com vários nichos de espectadores e em distintas camadas de leitura, em suas temáticas tão variadas que vão do pós-humanismo às teorias da inteligência artificial com propriedade. Em suas layers photoshopadas de um momento cultural e social efervescente, a obra dialoga com seus leitores-modelos em vários níveis, com a cultura do entretenimento e com a tradição clássica da Ficção Científica – e porque não dizer também da “tradição narrativa cyberpunk”, entenda-se nessa equação: mistura de linguagem das ruas com a linguagem literária hard + conglomerados midiáticos e corporativos dominantes + anti-herói solitário em busca de uma musa geek + fusão homem-máquina + citações e referências de cultura pop + “jacking in” + sexo + underground.

Numa outra camada, estão as discussões epistemológicas e lingüísticas que dão mais consistência ao livro: a preocupação com uma sociedade vigilante e claustrofóbica, a ubiqüidade das máquinas em um cotidiano cada vez mais violento que nos persegue em cada cidade de um país de terceiro-mundo aparentemente em ascensão no panorama diplomático mundial, e as noções ainda cartesianas, tão “Die Mensch Maschine” cantadas e decantadas pelo Kraftwerk, pelo Daft Punk entre outros, tanto quanto por toda a trajetória filosófica ocidental.

Em uma outra camada, temos ainda o próprio fazer literário e o sentido de fazer “Ficção-Científica” entremeadas por uma reflexão sobre a própria validade e longevidade do gênero. Há também outras nuances de destaque, como a própria linguagem “escrita nas redes” em seus recursos quase transmidiáticos: tags, diálogos de listas de discussões, emails, podcasts; uma personagem feminina que não espera pelo “mocinho” e acaba por se tornar quase protagonista aos 45 do segundo tempo e o humor sarcástico nerd acadêmico-pop, que tem consciência de sua própria condição mas não se leva a sério demais, brincando com conceitos e com as notas de rodapé.

Se você esperava por um prefácio cheio de #spoilers, eu provavelmente te frustei. Seria relativamente fácil contar que o livro se passa num futuro bem próximo no qual a relação homem-máquina torna-se indissociável, mas aí você não poderia ter certeza se fui mesmo eu que prefaciei o livro ou se foi alguma programação em nuvem que juntou palavras-chaves clichezonas dos meus papers ou de arquivos dentro da minha máquina. Seguindo a tradição da “escola da dúvida nietzscheana” deixo os leitores com essa “pulga atrás da orelha” sobre o prefácio, mas nunca em dúvida sobre esse ser um belo romance slipstream de estréia.
Adriana Amaral a.k.a. Lady A
Em trânsito entre Curitiba-Guarulhos-Atlanta-Boston
Outubro de 2009

‘ROBIN WOOD’: VEJA RUSSEL CROWE EM NOVAS IMAGENS DO SET DE FILMAGENS

quarta-feira | 28 | outubro | 2009

Filmagens começaram em abril e Ridley Scott continua rodando no interior da Inglaterra

O diretor Ridley Scott continua filmando Robin Hood na Inglaterra, produção que começou a ser rodada em abril (há seis meses!), e mais fotos do set caíram na rede, via Zimbio. São as cinco primeiras. Veja na galeria o elenco, incluindo o personagem principal, vivido por Russell Crowe.

Na trama, uma história de origem, Robin retorna das Cruzadas e encontra uma Inglaterra corrompida por suas relações com a França e uma cidade de Nottingham oprimida por altos impostos e desmandos do xerife local.

No elenco estão ainda Danny Huston (Ricardo Coração de Leão), Matthew Macfadyen (xerife), William Hurt (William Marshall), Cate Blanchett (Maid Marian), Vanessa Redgrave (Rainha Eleonor), Oscar Isaac (Rei João I), Mark Strong (Sir Godfrey), Scott Grimes (Will Escarlate), Kevin Durand (João Pequeno), Alan Doyle (Alan-a-Dale) e Léa Seydoux (princesa Isabella).

A Universal lança o filme em 14 de maio de 2010.


‘CONAN’: CONHEÇA OS PERSONAGENS DO NOVO FILME

quarta-feira | 28 | outubro | 2009

O site Moviehole conseguiu a lista de características dos principais personagens do remake de Conan, que será dirigido por Marcus Nispel.

Segue abaixo a lista com as descrições:

Conan: quase inumanamente forte, alto, inteligente, entre os 20 e 30 anos. Sua vida foi pautada pela violência desde que, ainda criança, viu seu pai ser assassinado. Ele tem como missão matar todos aqueles que caçaram seu povo, aniquilando sua vila na Ciméria.

Tamara: menina branca, possivelmente do oriente médio, que tem entre 18 e 24 anos. Ela é linda, estudiosa, correta, a noviça de um monastério influenciado pelos gregos. Treinada em artes marciais para ser a serva da rainha e sua guarda-costas. Tamara, junto com outras guarda-costas, viveu quase toda vida escondida devido à maldição da Aquilônia, que iria tirar a vida da rainha e dar poder quase infinito ao rei. Quando Khalar Singh invade o mosteiro, ele captura Ilira, aquela que Tamara deve proteger. Em sua busca por Khalar Singh, ela e Conan vão se encontrar e desenvolver uma relação que poderá surpreender ambos.

Khalar Singh: um senhor da guerra, homem grande, forte, brilhante e cruel. Tem entre 40 e 50 anos, possivelmente asiático ou mongol ou turco ou persa. Seu objetivo é encontrar a Rainha da Aquilônia e conseguir o seu sangue, algo que lhe daria poder sobre uma horda de demônios. Com esse poder, Khalar Singh poderá proteger seu legado do mago mestre Thoth-Amon, de forma que seu fraco filho, Fariq, possa reinar mesmo depois que Singh morrer. É Khalar Singh quem invade uma vila cimeriana e mata todos os seus habitantes, exceto por um jovem que vai buscar vingança.

Corin: o pai de Conan, líder dos cimérios, homem inteligente e forte, habilidoso ferreiro e espadachim. Sua mulher morre durante o parto e ele cria Conan sozinho, o ensinando os segredos da espada.

Fariq: um garoto cruel, que tem entre 20 e 30 anos, possivelmente asiático ou do oriente médio. Ele está determinado a mostrar para o seu pai que pode governar o mundo, mesmo não tendo habilidade para batalhas. Ele compensa essa falha com um grande conhecimento de magia e determinação inabalável para achar a Rainha da Aquilônia.

Ilira: menina que tem entre 18 e 20 anos, passou a vida escondida em um monastério por ser ela a designada Rainha da Aquilônia. Quando Khalar Singh a captura junto com quase todas as outras noviças e começa a matá-las para descobrir quem possui o sangue que lhe dará o poder, Ilira se mantém corajosa mesmo sob circunstâncias tão cruéis.

Ukafa: negro, entre 30-40 anos, alto e forte, moldado por uma vida lutando em guerras e líder dos Kushite, uma tribo das savanas de Kush. Ukafa é o segundo em comando de Khalar Singh, tem ciúmes de Fariq e, mesmo sendo um fiel servo de Singh, planeja sobrepujar o filho de seu chefe quando a hora chegar.

Conan foi criado por Robert E. Howard em 1932. Inicialmente, o personagem aparecia em contos publicados na revista Weird Tales. No começo dos anos 70, a Marvel Comics começou a publicar a versão em quadrinhos do personagem, em séries mensais e minisséries que duraram até 2004, quando os direitos foram adquiridos pela Dark Horse, que segue com o herói até hoje. O personagem também ganhou duas adaptações para o cinema, estreladas por Arnold Schwarzenegger; além de uma série para TV com atores e outra animada. Atualmente suas histórias são publicadas no Brasil em revista própria pela Mythos Editora.

Conan nasceu na Ciméria, em um período de tempo conhecido como Era Hiboriana, uma época pré-glacial anterior ao registro da história conhecida. O bárbaro foi escravo, saqueador, pirata, mercenário, tendo enfrentado todo tipo de criaturas, feiticeiros, vampiros, demônios, lobisomens e até mesmo seres de outras dimensões. Por fim, Conan se torna o rei da Aquilônia, uma das mais altivas e poderosas nações hiborianas, posto que, já em idade avançada, deixa para seu filho, voltando a se aventurar mundo afora.
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


‘LUA NOVA”: KRISTEN STEWART E TAYLOR LAUTNER VÊM AO BRASIL

quarta-feira | 28 | outubro | 2009

Não será Robert Pattinson quem virá ao Brasil divulgar “Lua Nova”, mas sim Kristen Stewart e Taylor Lautner. Segundo a distribuidora Paris Filmes, os intérpretes de Bella Swan e Jacob Black vão participar de um evento exclusivo para a imprensa no domingo (1º de novembro), em São Paulo.

Pattinson não vem ao Brasil porque está ocupado com a turnê promocional do filme em outros locais. Nos próximos dias 2 e 3, o ator estará no Japão divulgando o longa junto com o diretor Chris Weitz.

“Lua Nova” tem estreia prevista para 20 de novembro.
>> YAHOO – por Jack Starman – 3/04/2008


‘ECLIPSE’: O DIRETOR DAVID SLADE MANTÉM INTERNAUTAS ATUALIZADOS SOBRE FILMAGENS

quarta-feira | 28 | outubro | 2009

Enquanto filma A Saga Crepúsculo: Eclipse, o diretor David Slade está recheando sua página no Twitter com comentários sobre o que está rolando nos bastidores das filmagens do terceiro filme da saga Crepúsculo. Ocasionalmente, ele também publica fotos, mas ainda não temos alguma visão mais clara do visual do novo longa a partir das fotos que ele já publicou em página no Twitter. A única ideia que podemos ter é pensando em como o diretor trará uma visão mais obscura, de suspense, à quarta aventura do fenômeno, já que seu trabalho anterior é o excelente terror 30 Dias de Noite.

Na terça-feira (22/9), Slade publicou a foto abaixo de uma das câmeras usadas nas filmagens de A Saga Crepúsculo: Eclipse em Vancouver, no Canadá. Na última semana, Slade comentou:

“Ontem, Taylor [Lautner] teve de carregar Kristen [Stewart] por horas, ele aguentou – só espero que ele possa levantar os braços hoje. A chuva nos atrasou o dia todo.” Slate também tem comentado sobre questões técnicas do longa: “Quando os vampiros brilha, precisamos usar um filtro de câmera especial, caso contrário o filme fica superexposto”.

Crepúsculo faturou mais de US$ 370 milhões ao redor do mundo. Eclipse está previsto para estrear em 30 de junho de 2010 e A Saga de Crepúsculo: Lua Nova estreia em 20 de novembro deste ano.
>> CINECLIK

 

On set behind scenes.


‘V – A BATALHA FINAL’: ABC MOSTRA O COMEÇO DA NOVA SÉRIE

quarta-feira | 28 | outubro | 2009

 

O canal norte-americano ABC colocou em seu website os primeiros minutos do capítulo-piloto da nova versão de V: A Batalha Final, que vai ao ar em 3 de novembro, nos Estados Unidos. Assista abaixo.

No elenco estão Morena Baccarin e Alan Tudyk, de Firefly; Elizabeth Mitchell, de Lost; Laura Vandervoort, de Smallville; e Joel Gretsch, de The 4400. E isso não foi por acaso, embora os criadores da série digam o contrário. O produtor-executivo Scott Peters disse que pretende conquistar todos os fãs de ficção científica para sua audiência.

O presidente da ABC disse em maio passado que V, caso seja o sucesso que a emissora espera, durará quatro temporadas. E aproveitou para dizer que algumas homenagens serão feitas à série original, citando a cena clássica em que a líder dos invasores come um rato. A cena não será igual, mas a homenagem será feita.

Elizabeth Mitchell, a Juliet de Lost, interpreta a agente do FBI que é a personagem central da série. É ela quem vai descobrir que os alienígenas são muito mais do que parecem.

O novo seriado, refilmagem de um clássico dos anos 80, narra o encontro da humanidade com uma raça alienígena que se auto-intitula Os Visitantes. Apesar das aparências amigáveis, as intenções dos extraterrestres podem não ser tão inocentes quanto parecem.

V traz no elenco Elizabeth Mitchell como Erica Evans, Morris Chestnut como Ryan Nichols, Joel Gretsch como o padre Jack Larry, Lourdes Benedicto no papel de Valerie Stevens, Logan Huffman (Tyler Evans), Laura Vandervoort (Lisa), Morena Baccarin (Anna) e Scott Wolf (Chad Decker). A série vem sendo produzida pela HDFilms, em parceria com a Warner. Scott Peters é o roteirista e produtor-executivo.
>> HQ MANIACS – por Artur Tavares


TENDÊNCIAS DO CINEMA DE FICÇÃO CIENTÍFICA CONTEMPORÂNEO: O CASO DISTRITO 9

terça-feira | 27 | outubro | 2009

Distrito 9 (District 9), de Neill Blomkamp, é um dos filmes de ficção científica mais criativos e interessantes de 2009. Estreou nos EUA em agosto e no Brasil em outubro de 2009. Versão estendida do curta Alive in Joburg (2005), mockumentary escrito e dirigido pelo próprio Blomkamp e criado a partir de uma estratégia de deslocamento discursivo (1). Inicialmente escalado por Peter Jackson para dirigir Halo, Blomkamp teve a oportunidade de realizar Distrito 9 devido a impasse comercial relativo à adaptação em longa-metragem do famoso jogo para PC (2). Neill Blomkamp nasceu em 1979 em Johanesburgo, na África do Sul, e testemunhou o Apartheid em seu país, experiência que parece bastante influente no seu cinema, especialmente em Alive in Joburg e D9.

Distrito 9 foi rodado em câmera digital da marca Red e retoma o recurso à retórica documentária para estender o tratamento de um tema cada vez mais freqüente no cinema de ficção científica contemporâneo: a intolerância (racial, política, social ou de qualquer outra espécie). O título do filme foi inspirado no Distrito 6, uma área residencial na Cidade do Cabo que ficou conhecida por conta de 60 mil moradores que foram expulsos na década de 1970, durante o regime do Apartheid (3). Como em Alive em Joburg, D9 explora a problemática ligada à convivência inter-racial ou intercultural. Mistura de Cidade de Deus (dir. Fernando Meirelles e Kátia Lund, 2002), A Mosca (David Cronenberg, 1986) e A Metamorfose (1915) de Kafka, D9 usa alienígenas como metáfora e retórica documental/televisiva para mostrar como o absurdo e o fantástico podem fazer parte da nossa realidade mais corriqueira.

Sem explicação aparente, uma gigantesca espaçonave estaciona sobre a cidade de Johanesburgo, na África do Sul. Uma imensa população de alienígenas é encontrada no interior da nave, abandonada à própria sorte. Pressionados pela militância pró-direitos humanos (ou, neste caso, direitos alienígenas), a população extraterrena é abrigada no terreno sob a espaçonave. A área é isolada pelas autoridades, ganha o nome de Distrito 9 e rapidamente assume os contornos de uma favela. A população alien vive em condições subumanas (ou sub-alienígenas), em barracos permeados pela criminalidade e pela relação tempestuosa com a máfia nigeriana. Os ETs têm aparência artrópode ou insectóide e logo ganham o apelido de “camarões” (prawns). Durante vinte anos a espaçonave permanece estacionada sobre o Distrito 9, até que os freqüentes conflitos na região e pressões populares para a retirada dos alienígenas levam a autoridade local a optar pela recondução dos extraterrestres a uma nova área, o Distrito 10. Nesse panorama, Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley) é o funcionário da MUN (Multinational United: nesse futuro fictício, corporações privadas confundem-se com o Estado) encarregado de chefiar a recondução dos alienígenas, tendo de obter a assinatura de cada um deles. Apesar dos conflitos, tudo corre dentro do esperado até Wikus invadir o barraco do alienígena Christopher Johnson e ter contato com um artefato estranho.


                                                     “Alive in Joburg”

A mixagem da ficção científica com o documentário, derivada de Alive in Joburg, confere a Distrito 9 uma ferramenta criativa bastante funcional para o tratamento de temas da agenda contemporânea travestidos de motivos fantásticos. Dessa forma, o filme de Blomkamp aponta uma tendência, não exatamente nova, mas retomada intensamente pelo cinema de ficção científica atual, conforme se observa em filmes como Filhos da Esperança (Children of Men, 2006), de Alfonso Cuarón, ou o curta Cybraceros (1997), de Alex Rivera, diretor do longa Sleep Dealer (2008). Vale a pena relembrar que associações entre o cinema de ficção científica e o cinema documentário remontam a filmes como A Mulher na Lua (Frau im Mond, 1929), de Fritz Lang, Destination Moon (1950), de Irving Pichel, O Monstro da Lagoa Negra (Creature from the Black Lagoon, 1954), de Jack Arnold (4), ou ainda No Mundo de 2020 (Soylent Green, 1979), de Richard Fleischer. Todos esses filmes fizeram uso ao menos pontual da retórica documentária, por vezes mais ou menos colada à realidade científica ou do mundo histórico. Atualmente esse artifício parece ter se intensificado, e o recurso à retórica documentária, via mockumentaries inspirados, tem servido eficientemente para a reconciliação da ficção científica com uma de suas manifestações mais originais, a das antípodas ou utopias literárias dos séculos XVII, XVIII e mesmo XIX.


                                                   “Alive in Joburg”

Distrito 9 ilustra esse fenômeno com aptidão. Sua fábula reaproveita uma fórmula narrativa antiga para o tratamento de uma agenda contemporânea, mais especificamente de temas como o subdesenvolvimento, segregação racial, conflitos centro-periferia, o pós-colonialismo, o problema dos refugiados ao redor do mundo, a escalada de poder por parte das grandes corporações, a fusão do Estado com a iniciativa privada, atuação de forças paramilitares servindo interesses privados da indústria farmacêutica ou de armas, e um longo et Cetera. Enfim, D9 mobiliza um vasto repertório contemporâneo, com citações/metáforas que evocam diversas cenas ou temas do noticiário internacional, como a prisão de Guantánamo (cujo paralelo pode ser visto no assentamento alienígena) ou a segregação dos latinos nos EUA – cucarachas podem encontrar seu paralelo nos prawns. Os terráqueos de Distrito 9, vale assinalar, praticam uma forma de intolerância e segregação derivada do racismo tradicional, o especismo, já problematizado por autores como Peter Singer, de A Libertação Animal (1975), entre outros. Tal prática reacionária, transferida para um contexto hipotético exacerbado, realça contornos das mais corriqueiras manifestações de intolerância ainda plenamente em vigor. Nesse sentido, Distrito 9 evidencia seu parentesco com a consagrada tradição das antípodas, fábulas de crítica social e política operantes por meio do contraste revelador. A partir do momento em que Wikus tem contato com a substância alienígena, a problematização do especismo (e, por extensão, do racismo e subdesenvolvimento num contexto pós-colonial) é realçada. Entra em jogo a categoria da impureza, aspecto tabu na cultura ocidental. Tal categoria já foi detidamente discutida pela antropóloga inglesa Mary Douglas (1921-2007), aluna de Edward Evans-Pritchard, o mais importante antropólogo britânico de meados do século 20. Douglas abre o livro que a tornou célebre, “Pureza e Perigo” (1966), com a seguinte afirmação: “A sujeira, tal como a conhecemos, é essencialmente desordem. A sujeira absoluta não existe: ela está nos olhos de quem a vê.” Essas e outras informações podem ser consultadas em artigo do historiador britânico Peter Burke, publicado originalmente no caderno Mais! da Folha de S. Paulo, a propósito do falecimento de Mary Douglas em 16 de maio de 2007. O artigo encontra-se reproduzido no Jornal da Ciência da SBPC. Segundo Burke, “A grande idéia de Mary Douglas foi a de que os conceitos de poluição e de tabu, tão freqüentemente empregados para analisar o “pensamento primitivo” ou “a mente selvagem”, eram igualmente relevantes para a compreensão do cotidiano dos ocidentais, como os ingleses.” Esmiuçando o pensamento de Douglas, Burke comenta ainda que

(…) aquilo que não se enquadra no sistema de classificação e, logo, ordenação do mundo de uma cultura específica -ou aquilo que está no limite ou na margem desse sistema- é comumente visto como sendo ameaçador e, portanto, como impuro, sujo.

Por que, por exemplo, os judeus e muçulmanos evitam comer carne de porco?

Porque tanto judeus quanto árabes eram povos pastoris, que se alimentavam de seu gado, e os porcos não se enquadravam nos critérios que definiam o gado (eles tinham cascos fendidos, como os bovinos, mas, à diferença destes, não ruminavam).

De maneira semelhante, alguns grupos humanos enxergam outros como marginais, perigosos e sujos.

Assim os mendigos são vistos como sujos por pessoas que têm dinheiro, e o mesmo acontece com as prostitutas por parte das mulheres respeitáveis, com a classe trabalhadora por parte da classe média, com os judeus por parte de cristãos ou muçulmanos, e assim por diante.

Logo, não é por acaso que os brasileiros se refiram aos criminosos como sendo marginais (5).

Entendemos que vale a pena cruzar a reflexão sobre o conceito de impureza de Mary Douglas com filmes de ficção científica contemporâneos que problematizam a alteridade cultural. Porque a categoria do impuro parece confortavelmente aplicável a toda uma gama de personagens dessa cinematografia, do velho conhecido zumbi (renovado por George Romero) aos alienígenas de Blomkamp em Distrito 9. Aliás, D9 problematiza particularmente a questão da impureza. De tal forma que à medida em que o protagonista se torna “impuro”, o conflito narrativo central ganha propulsão mais visível. O Wikus contaminado, “impuro”, ganha os contornos de um Gregor Samsa contemporâneo.

Não obstante, como em diversos filmes de ficção científica anteriores (ET de Spielberg incluído), o alienígena, por mais estranha que seja sua aparência, espelha um certo humanismo saudosista, romântico ou mesmo utópico, enquanto os terráqueos encarnam, em sua maioria, aquilo que há de mais bárbaro e repugnante. Nada mais humano que o alienígena Christopher Johnson, pai e salvador de seu povo, e nada mais alienígena do que Koobus, o milico fascínora em Distrito 9. Uma esquematização ingênua, mas muito tradicional, que é parcialmente desmontada pela fábula do filme de Blomkamp. Nesse aspecto vale a pena comentar a caracterização de Wikus, anti-herói movido essencialmente pela vaidade pessoal e apego às “coisas terrenas”. Wikus sofre um processo de redenção, vítima de uma fórmula industrial bem conhecida. Por outro lado, não é justo dizer que Distrito 9 se rende incondicionalmente ao happy ending. Muito pelo contrário, Blomkamp opta por um final indeterminado e auto-irônico, coerente com sua proposta geral.

Em termos formais, Distrito 9 opera em dois regimes: documentário e ficção, com oscilação de registro intercaladamente. Em linhas gerais, a ficção é inserida numa “moldura documentária” – ou “pseudodocumentária”, se se preferir. O filme abre e encerra com essa retórica (pseudo)documentária mais evidente, sendo que um “documentarismo diegético” de outra ordem persiste no miolo do longa, em diversas tomadas de câmeras de vigilância espalhadas em interiores e exteriores de Johanesburgo.

Em suma, há basicamente dois modos de ver Distrito 9. Pode-se assisti-lo como mero filme de ação sobre o tema da ameaça alienígena, ou aceitar o contrato da parábola, adentrando suas camadas argumentativas e o jogo com clichês e convenções de gênero. O segundo modo é naturalmente o mais rico, e referenda o filme de Blomkamp enquanto parábola contemporânea, alinhada a investidas similares em propósito, embora mais ou menos diferentes em termos formais, como Code 46 (2003), de Michael Winterbottom, Filhos da Esperança, Sleep Dealer ou até mesmo 9: A Salvação (2009), produção de Tim Burton e Timur Bekmanbetov, com direção de Shane Acker. Assim como Distrito 9, 9: A Salvação deriva de um curta-metragem, 9 (2005), também escrito e dirigido por Shane Acker. A propósito, longas derivados de curtas têm sido outra tendência no cinema contemporâneo, especialmente no cinema de ficção científica – vide outros casos como o de Cybraceros e Sleep Dealer, de Alex Rivera. Provavelmente resultado de uma reorganização do esquema produtivo com o advento da internet, do cinema digital, veículos de distribuição como Youtube e Vimeo e intensificação dos Fan Fics ou Fan Films. Fábula steampunk pós-apocalíptica, o filme de Acker oferece no entanto outro meio de abordar uma temática plenamente afim à de Distrito 9: a ameaça do uso inescrupuloso da ciência e da tecnologia.

Oriundo do mercado publicitário, Neill Blomkamp parece propenso a um cinema autoral no contexto de gênero (no caso, ficção científica). Com larga experiência em efeitos visuais, trabalhou como animador 3D em séries para TV como Stargate SG-1 (1997), Dark Angel (2000) e Smallville (2001), entre outras. Sua animação 3D é muito naturalista, conforme se verifica em Alive in Joburg ou nos curtas Tetra Vaal (http://video.libero.it/app/play?id=32d64c5951010bf62af6ad0581d488f4) e Yellow (http://www.youtube.com/watch?v=Jmd8BDiB-qU). Até Distrito 9 Blomkamp era pouco conhecido em Hollywood. No entanto, o diretor já colecionava uma série de bem-sucedidos filmes publicitários no currículo, como o comercial do novo Citröen C4 , os filmes Evolution e Crab, para a Nike, vários filmes da campanha Adicolor da Adidas, como Yellow, e os comerciais do GP em Cannes 2008. Em 2007, três curtas promocionais do jogo Halo, chamados Halo: Arms Race, já haviam sido desenvolvidos por Blomkamp em colaboração com a Bungie Studios.

Vale destacar que, tanto em Alive in Joburg quanto em D9, a animação digital naturalista e os efeitos visuais não eclipsam a fábula, e portanto não substituem uma boa idéia especulativa pelo espetáculo visual. Efeitos visuais no cinema de Blomkamp servem bem ao propósito da especulação criativa. É o que podemos constatar em seu curta Tempbot (2006), sátira da realidade trabalhista atual temperada pelo caso de amor entre um robô e uma chefe de RH. Tempbot demonstra a fina ironia de Blomkamp em suas obras. O cineasta parece obcecado (no bom sentido do termo) com basicamente dois aspectos principais: a iconografia da robótica (seus andróides ou mecanóides dançam techno-rap, como em Citröen C4 – Alive With Technology: http://vimeo.com/1431427) e a retórica do documentário, especialmente o televisivo, para tratar temas fantásticos enxertados no absurdo do cotidiano (como em Tetra Vaal, espécie de Robocop sul-africano do Terceiro Mundo, disponível em http://video.libero.it/app/play?id=32d64c5951010bf62af6ad0581d488f4).

Embora titubeie entre fórmulas bem aceitas do cinema industrial e formas autorais de enfrentamento, Distrito 9 apresenta um teor de (auto)ironia e criatividade ausentes na maior parte da produção contemporânea do gênero. O motivo dos aliens viciados em comida de gato é “delicioso”. Sim, há muita ação, explosões e tiroteios, mas essas ocorrências não detratam necessariamente o conteúdo e a coerência do filme enquanto especulação inspirada sobre um futuro persistente de intolerância – ou crítica alegorizada do mundo de hoje. Noutro aspecto Distrito 9 também acena para uma tendência contemporânea: a transferência do cinema de ficção científica para cenários periféricos ou, melhor dizendo, a aplicação do gênero a contextos e temáticas do subdesenvolvimento. Porque não há nada mais familiar à ficção científica (ou pelo menos uma vertente considerável do gênero) do que uma cidade como São Paulo, Brasília, ou a capital mexicana. Esse deslocamento da ficção científica em relação a seus supostos centros originários e de poder é esperada há muito tempo. Um disco-voador que estaciona sobre Johanesburgo traz novas perspectivas em relação àquele que pousa no Central Park (O Dia em que a Terra Parou, dir. Robert Wise, 1951). Pena que o cinema brasileiro ainda não descobriu isso. Afinal, o que afastaria uma nave espacial de cenários como a cidade do Rio de Janeiro ou a Amazônia? Na literatura brasileira de ficção científica, a refração à ficção científica é menos evidente. Vide o caso de autores como Ignácio de Loyola Brandão (Não Verás País Nenhum, 1981), Jorge Luiz Calife ou, mais recentemente, Roberto Causo (O Par, 2008). O Par, novela de Causo ambientada na Amazônia, aborda o motivo da invasão alienígena de forma bastante cinemática. Seu estilo e até mesmo centralização em torno de um protagonista em jornada (interior e geográfica) facilitam a adaptação cinematográfica de O Par como road movie ou mesmo filme de ação nos moldes hollywoodianos. Mas o cinema brasileiro continua ignorante em relação a essas fontes e, a despeito do trabalho de diretores brasileiros de projeção internacional, como o Fernando Meirelles de Ensaio sobre a Cegueira (Blindness, 2008), ficção científica continua sendo vista como uma “idéia fora de lugar” no contexto tupiniquim. A rigor, nada impediria que um filme como Distrito 9 fosse rodado em Juiz de Fora, no Rio de Janeiro ou em São Paulo, com equipe técnica brasileira – o filme de Blomkamp foi produzido por Peter Jackson e contou com o envolvimento de vários profissionais neo-zelandeses. Fica aqui um apelo à reavaliação de motivos fantásticos no cenário brasileiro. Também queremos nossos alienígenas!

Em resumo, Distrito 9 parece ilustrar 5 tendências nucleares do cinema de ficção científica contemporâneo – ou do próprio cinema como um todo (duas de ordem tecnológica, uma de ordem criativa ou operacional e duas de ordem conteudística): 1) o recurso à tecnologia digital de super-alta-definição, as câmeras RED de 4 ou 5K; 2) a incorporação naturalista de animações digitais, visando um cinema “hiperrealista”; 3) o uso do curta como laboratório ou roteiro experimental, para posterior expansão em longa-metragem; 4) a abordagem de temas da agenda contemporânea, como imigração ilegal, refugiados, segregação, interesses corporativos, etc., e finalmente 5) mixagem documentário-ficção científica na abordagem desse agenda setting contemporâneo.
>> CRONÓPIOS – por Alfredo Suppia
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1 Para realizar Alive in Joburg, Blomkamp entrevistou pessoas que viveram o fluxo imigratório na pele na capital sul-africana, transformando os depoimentos reais dos refugiados em uma espécie de documentário sobre alienígenas indesejados pela população local. (Carlos Merigo, “Behind the Brains: Neill Blomkamp e Distrito 9”, publicado em Brainstorm 9, 13/08/2009, disponível em http://www.brainstorm9.com.br/2009/08/13/behind-the-brains-neill-blomkamp-e-distrito-9/), para realizar Alive in Joburg Blomkamp entrevistou pessoas que viveram o fluxo imigratório na pele na capital sul-africana, transformando os depoimentos reais dos refugiados em uma espécie de documentário sobre alienígenas indesejados pela população local.
2 Peter Jackson, o diretor da trilogia O Senhor dos Anéis, contatou Blomkamp para que ele dirigisse o filme baseado no game Halo. Como até hoje o imbróglio entre Fox, Universal e Microsoft não foi resolvido, o projeto ficou em standby. Peter Jackson resolveu então dar suporte financeiro para que Blomkamp dirigisse outro filme, justamente Distrito 9. (Carlos Merigo, “Behind the Brains: Neill Blomkamp e Distrito 9”, publicado em Brainstorm 9, 13/08/2009, disponível em http://www.brainstorm9.com.br/2009/08/13/behind-the-brains-neill-blomkamp-e-distrito-9/.)
3 Carlos Merigo, “Behind the Brains: Neill Blomkamp e Distrito 9”, publicado em Brainstorm 9, 13/08/2009, disponível em http://www.brainstorm9.com.br/2009/08/13/behind-the-brains-neill-blomkamp-e-distrito-9/.
4 O Monstro inicia com longo prólogo ao estilo do documentário clássico que, curiosamente, menciona Deus como criador do universo antes de narrar didaticamente a formação da Terra e o desenvolvimento da vida.

FICÇÃO CIENTÍFICA: FILOSOFIA DO CINEMA

terça-feira | 27 | outubro | 2009


«O cinema de ficção científica trata da estética da destruição com a beleza peculiar que pode ser encontrada ao desencadear a destruição e ao provocar a desordem. E é nas imagens de destruição que se encontra a essência de um bom filme de ficção científica». (Susan Sontag)

O cinema surgiu no seio de uma civilização que diferencia claramente dois mundos, o mundo real e o mundo irreal, relegando o fantástico para o domínio da superstição e da infância. A emergência do cinema universal e do seu produto típico – o filme de ficção – contraria internamente, negando-o, o processo de racionalização e de desencantamento do mundo: o cinema não só abrange o campo do mundo real, como também abarca e integra o campo do mundo imaginário, o que significa que participa simultaneamente da percepção do estado de vigília e da visão do sonho. Como grande matriz arquetípica que compreende, em termos embriológicos, todas as visões do mundo, incluindo a visão primitiva do mundo, o cinema apela e inscreve o fantástico no real e, enquanto abertura ao mágico do qual deriva em última instância toda a arte, define-se como a unidade dialéctica do real e do imaginário. Esta dialéctica é especialmente evidente nos filmes de ficção científica, cuja estética da destruição vamos explicitar como se estivéssemos a realizar o Filme dos filmes de ficção científica. O roteiro típico de um filme de ficção científica compreende basicamente cinco partes, embora possa revelar diversas variações resultantes da supressão de uma ou outra parte ou da sua fusão:

1. A chegada da Coisa. Os monstros, os invasores, máquinas assassinas e exterminadoras, predadores extraterrestres em busca de refeição ou de um hospedeiro que facilite a sua reprodução, algo radioactivo, uma mutação súbita produzida num laboratório, uma doença misteriosa ou uma nave espacial alienígena irrompem e surgem no mundo dos humanos. Alguém – um jovem cientista numa pesquisa de campo – presencia essa chegada ou suspeita de alguma coisa estranha, mas ninguém – incluindo a sua namorada incrédula e/ou as autoridades locais – acredita inicialmente no seu relato. O mundo parece girar na sua própria normalidade, como se nada de estranho estivesse a acontecer. Noutras versões, o herói e a sua namorada ou mulher e filhos repousam nalgum lugar de férias da classe média ou na sua casa situada numa pequena cidade, quando são repentinamente surpreendidos por alguém que se comporta de modo estranho ou por alguma forma de vegetação que começa subitamente a crescer e a mover-se. No caso de estar a dirigir um carro, o herói pode ser surpreendido por alguma coisa hedionda que surge no meio da estrada ou por luzes estranhas que sulcam o céu nocturno. Uma versão muito frequente é a do herói-cientista, que, no seu laboratório, faz experiências: nuns casos, provoca inadvertidamente uma metamorfose nalguma espécie vegetal ou animal que se torna carnívora e frenética; outras vezes, fere-se e é “invadido” e “contaminado”, ou então realiza experiências com radiação ou constrói uma máquina para comunicar com seres de outros planetas ou para viajar no tempo. Outra variante mostra uma viagem ao espaço: os astronautas da nave terrestre descobrem que o planeta visitado ou já colonizado por colonos humanos ou por prisioneiros (colónia penal) se encontra ameaçado por invasores alienígenas e, depois de terem lutado contra eles, procuram desesperadamente regressar à Terra, mesmo correndo o risco de trazer na nave ou mesmo no próprio corpo o invasor extraterrestre – incubado ou não – para o berço da humanidade.

2. Cena de destruição visível. Inicialmente, o herói é o único humano que sabe da existência de alguma coisa estranha que pode levar à extinção da vida humana em pouco tempo e, mesmo quando tenta avisar os outros e as autoridades, ninguém acredita que algo anormal está a acontecer. A sua luta contra a Coisa consiste em barricar a casa, caso a Coisa seja material, ou em chamar um amigo, caso a coisa seja um parasita invisível, mas a luta é inglória: todos acabam por ser mortos ou “tomados” pela Coisa. A ameaça só se torna visível quando um número elevado de testemunhas presencia uma grande cena de destruição que confirma o relato do herói. As forças policiais ou militares são chamadas para resolver a situação, mas são massacradas e destruídas pela Coisa. Todos os esforços realizados para repelir a Coisa revelam-se inúteis: a Coisa continua a fazer novas vítimas e a ameaça começa a ultrapassar os limites da cidade, até que se torna potencialmente planetária e global: a vida humana está em perigo.

3. O estado de emergência. Na capital da nação invadida pela Coisa, os cientistas e as forças armadas realizam conferências secretas, durante as quais o herói faz a sua exposição, com recurso a mapas e outros meios tecnológicos sofisticados. O governo decreta o estado de emergência nacional. Os mass media noticiam novos casos de destruição. As notícias percorrem todo o mundo e as autoridades de outros países começam a ficar preocupadas. As tensões internacionais são suspensas e é decretada a emergência planetária: o planeta e a vida humana correm perigo e, por isso, todas as nações aliam-se para elaborar planos que visam destruir o inimigo comum.

4. Novas atrocidades. Mas todas essas tentativas de destruição da Coisa fracassam, enquanto novas atrocidades são difundidas pelos mass media: cidades inteiras são destruídas pelos invasores e/ou evacuadas, as forças policiais ou armadas são dizimadas, geralmente pelo fogo, e todos os ataques dos homens contra a Coisa, usando os armamentos e as tecnologias mais avançados, fracassam. As multidões fogem, atropelam-se, são perseguidas e, nas pontes, empurradas pelas forças de segurança. A Coisa vence, fazendo inúmeras vítimas, e anexa cada vez mais território: o desespero total instala-se entre os humanos confrontados com a sua extrema fragilidade diante dos poderes da Coisa.

5. A vitória final. Os humanos realizam novas conferências: a Coisa tem de ser vulnerável a algo. Geralmente, a estratégia final da qual dependem todas as esperanças da humanidade é traçada pelo herói que trabalhou sozinho, no seu laboratório, nesse sentido: constrói-se uma arma todo-poderosa e o cronómetro inicia a contagem regressiva. Os monstros ou os invasores são finalmente repelidos ou vencidos. Os humanos congratulam-se pela vitória, mas nada garante que algures no espaço cósmico frio e escuro, nas profundezas da Terra ou nas suas regiões geladas ou desconhecidas hajam outros monstros capazes de retomar a invasão e a destruição.

Os filmes de ficção científica não tratam de ciência, mas falam unicamente de catástrofe. Na representação imediata do extraordinário, como o desabamento de arranha-céus ou a guerra nuclear, os filmes de ficção científica proporcionam não um exercício cognitivo, mas sim a elaboração sensorial, permitindo ao público participar da fantasia de sobreviver à nossa própria morte, à destruição das cidades e de planetas e à aniquilação da própria humanidade. A catástrofe é a visão da catástrofe e a catástrofe é vista mais de modo extensivo do que de modo intensivo: a beleza revela-se precisamente na estética da destruição, isto é, nas imagens de destruição. A catástrofe constitui um dos maiores temas da arte, talvez porque na catástrofe está em jogo a própria sobrevivência da humanidade e da sua aventura cósmica e a sua capacidade de saber – ou não – fazer frente à possibilidade da sua própria aniquilação. Os lançamentos das bombas atómicas sobre Hiroshima e Nagasaki, bem como a guerra fria, marcaram fortemente a imaginação da catástrofe: as vítimas da radiação ocuparam um lugar de relevo nos filmes de ficção científica, que ajudaram a difundir a ideia de que todo o mundo pode ser destruído por testes e guerras nucleares, e a canalizar a belicosidade humana para o desejo de paz. Quando a Terra é invadida por forças alienígenas, as potências beligerantes da Terra suspendem os seus conflitos e unem-se para combater o inimigo alienígena. A fantasia da união na guerra foi, durante esse período de guerra fria, a fantasia das Nações Unidas, a qual aparece associada à fantasia utópica: o sonho de um mundo melhor ou, simplesmente, a utopia de uma comunidade mundial totalmente pacificada e regida pelo consenso científico.

O elemento utópico que opera velada ou desveladamente no cinema de ficção científica liga-se intimamente às narrativas milenares do apocalipse. A imaginação da catástrofe é essencialmente a expectativa do apocalipse. Antes de 1500 a.C., diversos povos antigos acreditavam que o mundo tinha sido, no começo dos tempos, organizado e colocado em ordem por um ou mais deuses. A segurança observada no mundo era sinal não só da sua imutabilidade, como também da existência de uma ordem estabelecida nos céus. Apesar dessa imutabilidade atribuída ao mundo, a ordem nunca foi completamente tranquila: forças malignas e destrutivas ameaçavam constantemente o mundo. O mito do combate relata precisamente esse conflito entre a ordem universal e as forças que a ameaçam invadir e destruir. Neste mito do conflito entre o cosmos e o caos, um jovem herói ou guerreiro divino recebeu dos deuses a missão de manter e conservar sob controle as forças do caos. O cumprimento dessa missão era recompensado com a soberania sobre o mundo. Porém, entre 1500 e 1200 a.C., Zoroastro rompeu com a visão estática do mundo, mediante a reinterpretação da versão iraniana do mito do combate: O mundo caminha e aproxima-se gradualmente, através de incessantes conflitos, de um estado final sem conflitos e antagonismos. Este estado será alcançado quando o deus supremo e os seus aliados derrotarem, numa fantástica batalha final, as forças do caos e os seus aliados humanos, aniquilando-os para sempre. Só depois desta batalha final a ordem divinamente estabelecida será absolutamente real e presente. Dado os sofrimentos, as necessidades, as misérias físicas e os inimigos serem definitivamente abolidos, reinará a unanimidade absoluta na comunidade dos redimidos e a ordem do mundo não voltará a ser perturbada ou ameaçada. A doutrina de Zoroastro influenciou não só o judaísmo e o cristianismo, como também muitas ideologias políticas seculares e o próprio cinema de ficção científica.

Mas, como vivemos num mundo abandonado pelos deuses, a imaginação da catástrofe transfigurou-se numa tragédia, na textura da qual se joga o destino da humanidade abandonada a si mesma e o fim do mundo tal como o conhecemos. As forças do caos são produzidas pela própria acção humana: o caos que ameaça destruir o homem e a natureza é, em grande medida, antropogénico. Abandonado pelos deuses, o homem torna-se problemático e sente-se completamente só num universo aparentemente despovoado. Esta angústia da solidão leva-o a sondar o universo em busca de seres extraterrestres e de vida fora da Terra, e é precisamente esta busca ansiosa que o cinema de ficção científica retoma para reformular o tema da batalha final como colisão de mundos ou como conflito entre a humanidade e as forças alienígenas que a ameaçam invadir e destruir. Porém, como veremos mais adiante, este confronto final reflecte a problematicidade das relações entre o homem e o mundo tecnoburocrático que criou: as forças alienígenas mais não são do que as projecções imaginárias dos artefactos antropogénicos, tais como a burocracia impessoal, a bomba atómica e as armas nucleares e biológicas, que ameaçam destruir e aniquilar a própria humanidade e a Terra. Os produtos produzidos pelo homem viram-se contra o produtor: o homem perdeu o controle sobre o mundo que criou. Além de estar só, o homem moderno produziu um mundo que lhe aparece como absolutamente estranho e no qual se sente frágil, estranho, alienado e ameaçado.

A concepção da ambivalência da ciência atravessa quase todos os filmes de ficção científica: a ideia predominante é a de que um cientista pode libertar forças que, se não forem controladas ou mesmo destruídas, ameaçam destruir o próprio homem e o seu mundo. O cientista tende a ser visto simultaneamente como um demónio e um salvador e a ciência como uma actividade social dotada de duas faces, tal como o deus Janus: a ciência é sempre uma aventura arriscada, porque tanto pode fornecer uma resposta tecnológica eficaz ao perigo que ameaça a natureza e o próprio homem, como também pode ser usada para os destruir. Um filme de ficção científica não é necessariamente uma apologia cega da ciência e da tecnologia, porque nele se revela quase sempre a possibilidade deste duplo-uso da ciência: o uso humano e a obsessão científica, geralmente atribuída à vontade perversa de um cientista isolado ou aos interesses mesquinhos de grandes corporações económicas e militares. O uso perverso da ciência evidencia-se no caso em que o cientista deserta da sua equipa para se juntar aos invasores extraterrestres, pelo facto da sua ciência ser mais avançada do que a nossa, ou no caso em que o cientista realiza descobertas e experiências arriscadas ou cria monstros sem levar em conta a sua perigosidade para o futuro da humanidade. A ciência feita por cientistas obcecados cultiva forças extremamente perigosas que os cientistas não conseguem controlar, pondo em perigo a vida humana. Porém, a obsessão científica e os monstros que produz podem e devem ser destruídos pela ciência não ambivalente, isto é, pela ciência colocada ao serviço da humanidade e da vida tal como a conhecemos. A figura do cientista louco tende a ser morta não só pelas suas próprias criações monstruosas, como também por si mesma ou pelos heróis que lutam pela preservação da humanidade. O bom cinema de ficção científica critica os abusos da ciência sem no entanto a abandonar ou trocar por qualquer outra forma de conhecimento.

O cinema de ficção científica oculta uma profunda ansiedade no que concerne à vida contemporânea e esta ansiedade não se refere somente à catástrofe física, à perspectiva da mutilação e da aniquilação universal – o trauma da bomba, mas fundamentalmente ao psiquismo individual. A imaginação negativa do impessoal impregna os filmes de ficção científica: os seres do outro mundo que nos tentam dominar são “a Coisa” e não “eles” e, como coisas, são criaturas semelhantes a mortos-vivos, dotadas de movimentos frios, mecânicos e viscosos. Quando não têm forma humana, movem-se com um impulso absolutamente regular e inalterável. Quando têm forma humana, obedecem a uma rígida disciplina militar e não exibem qualquer característica pessoal. A sua presença ameaça a própria humanidade do homem, porque, se eles nos vencessem, seríamos destituídos da nossa humanidade, triunfando o regime da ausência de emoções, da impessoalidade e da arregimentação. Nas cenas de destruição, as criaturas não matam simplesmente os indivíduos humanos; elas aniquilam as pessoas e, mesmo quando preservam os corpos, transformam completamente as pessoas livres em autómatos escravos ou agentes de potências alienígenas e estranhas.

Antes de ser colonizada, invadida ou “tomada” pelas forças alienígenas, a pessoa luta para preservar a sua humanidade, mas, quando o facto é consumado, morre como pessoa sem o saber e mostra-se satisfeita com a sua nova condição. A fantasia da “tomada” ou da possessão quase demoníaca retoma alguns elementos da fantasia do vampiro dos filmes de terror, mas a transformação operada pelo contacto é diferente: em vez de se transformar numa criatura “animalesca” sedenta de sangue, onde se manifesta o desejo sexual, o indivíduo “tomado” ou possuído entra num novo estágio de desenvolvimento, tornando-se mais eficiente, isto é, um ser expurgado de emoções, sem volição, tranquilo e obediente a todas as ordens. A angústia em relação à desumanização e à despersonalização reflecte o medo real que o homem tem de ser transformado pela sociedade estabelecida e pela sua tecnologia numa máquina entre outras máquinas, isto é, numa mera peça de uma imensa engrenagem maquínica – a sociedade tecnoburocrática, cujo controle lhe escapa. O cinema de ficção científica retoma este elemento kafkiano: a metamorfose do humano em insecto como a alegoria derradeira da angústia do ser humano entregue a um mundo sem piedade e a uma civilização técnica que lhe escapa ao controle. O homem que obedece à autoridade impessoal, a da Máquina, sem resistir, acaba por tornar-se um insecto – ou um “cão pavloviano”, e, sendo sempre tratado como tal, acaba por pensar, sentir e agir como se fosse efectivamente um insecto, refém da sua “rainha”, numa sociedade de insectos.
>> CYBER DEMOCRACIA – por J Francisco Saraiva de Sousa


O MÁGICO HUMANO NA OBRA MURILO RUBIÃO

terça-feira | 27 | outubro | 2009

Considerada como a grande precursora da chamada literatura fantástica (ou de fantasia) no Brasil, a obra de Murilo Rubião caracteriza-se por dois aspectos bastante significativos: o primeiro, o próprio surgimento insólito de sua escrita, carregada de elementos fantásticos e desengajada de qualquer movimento literário existente no Brasil até então, e, segundo, por sua maneira muito particular de explorar o chamado “realismo mágico”, já magistralmente trabalhado em outras esferas literárias por autores como Jorge Luis Borges, Júlio Cortazar, Juan José Arreola e Gabriel Garcia Márquez.

Na literatura muriliana, especialmente em contos como “O Ex-mágico da Taberna Minhota”, “Teleco, o coelhinho” e “O Edifício”, o extraordinário está no cotidiano, nas pequenas coisas que tornam a vida cheia de significados, significados estes que, para o autor, tem um equilíbrio exato de matéria e textura entre o real e o mágico e que surgem como ponto de partida para a busca de outras significações. Há, aqui, a ausência brusca de rupturas na sequência narrativa ou de efeito de suspense a que o leitor comum está acostumado. Acontecimentos geralmente contrários e inconciliáveis se reconciliam tranquilamente durante o desenvolvimento do texto. É como se, pela despreocupação do autor em dar explicações plausíveis sobre este ou aquele “ato/causo fantástico”, se criasse um vínculo de aceitação com o leitor, tornando a história aceitável pelo que relata e não pelas “verdades corriqueiras da literatura comum” que deveria, a priori, apresentar.

O leitor, assim, vai, ao longo da leitura, percebendo certo descompromisso com a causalidade, com a questão espaço/temporal da tradição romântica, com o idealismo do herói imaginado. É óbvio que acontecem prodígios durante a efabulação dos episódios que causariam alguma estranheza aos mais desavisados. Mas, diante de tal ficção, estabelece-se um pacto entre o escritor e o leitor, pois este, depois de dado momento, sempre irá depositar certa dose de credibilidade ao que aquele narra. É como se, na narrativa muriliana, houvesse uma extrapolação do condicionamento a que somos comumente expostos pela literatura, tal que até o mais extraordinário dos fatos narrados estivesse ao alcance pleno de nossas percepções comuns. É como se o leitor, ao adentrar este universo, tomasse para si, como parte inerente de si, estes questionamentos. Isto posto, o texto deixa a esfera do autor para enveredar pela esfera do leitor, criado novos parâmetros de interpretações de acordo com as expectativas de cada um, de indivíduos com histórias e trajetórias distintas, que irão desvendá-lo.

Os fatos tornam-se, pois, uma espécie de sublevação de sentimentos corriqueiros, transpostos para o viés fantástico pela simples impossibilidade da representação direta. Entretanto, mesmo em face de tal artimanha, mesmo visto pelo viés do fantástico, a sensação de impotência, de fraqueza ante “forças contrárias” está presente ao longo da narrativa, como uma alavanca prendendo-o ao realismo pretensamente manobrável.

No conto “O Ex-mágico da Taberna Minhota”, um dos aspectos temáticos centrais é exatamente esse, o do sentimento de impotência que experimenta um mágico desencantado por “não ter realizado todo um mundo mágico”, antes de ter seus poderes “drenados” pela burocracia. O sentimento de não-alcance do autor está contido na frustração do mágico, no corpo do próprio texto; é, em suma, o tema da narrativa. Este pode ser interpretado, então, como um discurso voltado também para o problema da sua própria condição, fazendo supor uma consciência lúcida quanto às dificuldades e, no limite, quanto à sua própria impotência para se realizar de forma completa.

Porém, o transformador por excelência é o feiticeiro, ou ainda, na sua versão circense, o mágico, cujo dom o torna senhor do poder de metamorfosear o mundo. O mágico não se move, como o mago característico, por uma ânsia de posse e domínio da realidade; ele é, antes de tudo, um hábil manobrador da ilusão, o mago relegado ao palco de espetáculos, poderoso o bastante para se esquivar dos olhares atentos e encantar os homens. E, assim, sua arte se rodeia de ressonâncias fantásticas e fascinantes, fugindo do aspecto do real. Ele ilude os olhos e quebra a banalidade repetitiva da existência: do fundo da cartola, num passe de mágica, saltam coelhos e, como resultado, gera-se o espanto.

Aqui, através da metáfora, se nota uma transformação da forma narrativa às maquinações do fantástico, como se o texto fosse uma imagem refletida da própria condição humana (ou, antes, de sua impotência enquanto metamorfoseadora da realidade).

E, o que se vê em “O Ex-mágico da Taberna Minhota”, é que mesmo este universo é falho; se a mágica é compulsiva, o insólito se transforma no banal. O fantástico, se vira regra, também cansa. Para o mágico, a contragosto, tirar coelhos do bolso sem parar é o tédio. Quem aparentemente tem poderes para modificar o mundo (seja o mágico ou, em última instância, o próprio autor, enquanto representante da condição do ser), só não tem o poder de sair dele, já que como não tem origem como os outros, tampouco tem um fim. Então, a vida resume-se num vaivém. A sua rotina mágica de antes é tão absurda quanto o “sentido de vida” da outra, simbolizada na petrificação da burocracia e na perda de sua própria condição. Movendo-se sempre no círculo fechado do extraordinário, sem conseguir criar de fato todo um mundo mágico, esse mágico desencantado perdeu exatamente a capacidade para sentir o que deveria criar: o espanto. E, no fim, perde o próprio sentido do mágico, ou seja, a desilusão com o mundo gerou a impotência que culminou com seu destino final, o esquecimento entre os gabinetes da secretaria do governo.

Outros contos do autor também demonstram que é frequente essa visão nítida das margens finais de criação e da própria existência, por isso mesmo, quando ele arrisca este salto, toca, com suas palavras, também certos aspectos limitativos daqueles que o leem.

E, novamente, pode ser observada a questão da modificação, ou seja, a metamorfose. Na verdade, ela é, aqui, uma espécie de matriz temática onde se desenvolvem as diferentes transgressões características da literatura fantástica: as rupturas do princípio de causalidade, do tempo, do espaço, da dualidade entre sujeito e objeto, do próprio ser.

[coelho.gif]No conto “Teleco, o coelhinho” temos a questão posta da inconstância eterna entre o querer (mágico) e o ser (real). Teleco, um metamorfoseador nato, passa os dias a mudar constantemente de forma sem, no entanto, dar-se por satisfeito com nenhuma delas. De coelho a leão, de canguru a cachorro, todas as novas roupagens se apresentam falhas e passíveis de evolução, até que, num dado momento (numa espécie de epifania às avessas) ele encontra num amor corriqueiro a projeção da forma perfeita, da matriz final que tanto buscava: a forma humana. Em Teresa, ele finalmente descobre sua razão derradeira, passando a denominar-se homem a partir de então. O interessante aqui é notar como o próprio nome da amada, Teresa, (cuja etimologia significa ceifeira e/ou caçadora) evoca a questão da finitude da mudança, da estagnação, pois é através dela, ou de seu pretenso amor, que Teleco finalmente deixará de metamorfosear-se, passando do múltiplo ao uno. Entretanto, este amor se apresenta, como ele descobrirá no final, como sintoma de negação e a mudança, aqui representada pela descontinuidade, como o mais falho de todos os atos. Ao final do conto, e depois de abdicar de toda a sua vida anterior, Teleco, finalmente, percebe a inversão de sentido de suas ações: a forma (perfeita) com a qual tanto sonhara (cuja maior característica é a imperfeição) findou por ser a ceifeira de todas as suas outras formas (perfeitas), rejeitadas por ele exatamente por sua — pretensa — imperfeição.

E, por este aspecto, podemos evocar também a própria condição humana. Buscamos constantemente a evolução, a mudança, mas quando ela se apresenta diante de nós, tendemos a negá-la apaixonadamente, como se temêssemos nossa própria metamorfose. E, quando a última mudança pela qual passamos apresenta resultados inesperados ou pouco benquistos, ou quiçá não planejados, nos sentimos compelidos a encontrar uma explicação plausível que nos remeta imediatamente de volta ao campo do possível.

Já no conto “O Edifício”, é bem perceptível a identificação metafórica entre o processo de estruturação da narrativa e a metamorfose. A construção infindável de um “absurdo arranha-céu”, a que sempre é possível acrescentar novos blocos e novos andares, pode ser entendida também como uma alegoria da própria construção ficcional do que se está lendo. O desenvolvimento do prédio (e, de certo modo, do conto e da percepção daquele que o está lendo) é, até certa altura, ameaçado pelos riscos de paralisação das obras, o que, implicitamente, representa ainda uma ameaça de detenção do que está sendo narrado, que acompanha a transformação do seu objeto ao mesmo tempo em que transforma o texto. Passado o momento do perigo para o prosseguimento indefinido da construção (ou seja, passado do 800º andar, o “limite aceitável e imposto”), ocorre uma fantástica e irônica rebelião dos meios contra os fins: o próprio engenheiro-construtor, vencido pelo tédio e pela ciência de sua impotência diante de tal obra, já não consegue deter o processo; os operários se recusam a interromper o trabalho e chegam mesmo a acelerá-lo, ao ouvir as belas imagens dos discursos feitos para desanimá-los. Há, portanto, a mudança de sentido, a metamorfose da dialética: do dito para o não feito.

Se n’O Ex-mágico… há a mudança da condição do fazer e em Teleco a mudança do ser, aqui, a transformação se dá no campo semântico, das palavras que reverberam em ações contrárias as postuladas.

Assim, a própria construção da narrativa e da percepção do leitor se junta com o princípio de construção do edifício: o conto, onde também parece ecoar o mito do “aprendiz de feiticeiro”, permanece ironicamente aberto para um contar inacabável, enquanto o edifício ganhar altura. A invenção fantástica cria, assim, um movimento ininterrupto; em compensação, esse movimento é condição necessária do conto: se parassem as obras, se o edifício não se modificasse, o conto não teria razão de ser.

Ao entrar no universo destes contos, o primeiro impulso do leitor será se voltar para uma leitura alegórica, um desdobramento do texto num conteúdo subjacente, que o transformará em mensagem de significado diverso daquele dito no texto. Mas, este não deve ser o único dos caminhos a ser trilhado, ou não levará o leitor senão ao tédio, como o do mágico para quem o insólito virou rotina. A insistência nele eliminará precisamente o estímulo da viagem, a presença desafiadora do fantástico, um imaginário que não se deixa traduzir, exigindo, pela sua ambiguidade, a deslocação inquisitiva e renovada do olhar.

É preciso, na prosa muriliana, ler literalmente, acatar as regras do jogo, fixando a atenção na própria construção do enredo. O fantástico, como tudo, se rotiniza. Mas, sem ele, não há como se reinventar. A arte do mágico, assim como a do coelho ou do engenheiro, parece ser a de esconjurar a esterilidade sem sentido do mundo real e, através de sua extrapolação, propiciar a germinação do fantástico. O discurso, em que o desejo parece ter livre passagem, vencidos os obstáculos pelas modificações fantásticas, realiza uma trajetória abstrata e desligada das obrigações da verossimilhança realista. Próximo do mito, a sua transformação constante instaura o reino insólito, da não-impotência, onde tudo pode acontecer, mesmo as coisas mais absurdas.
>> THARGOR – por Rober A. Pinheiro


HENRY KUTTNER E C. L. MOORE

terça-feira | 27 | outubro | 2009

[CLMooreKuttnerPort.jpg]

HENRY KUTTNER (7 de Abril, 1915 – 4 de Fevereiro, 1958)
nasceu em Los Angeles, California (EUA).

CATHERINE LUCILLE MOORE (24 de Janeiro de 1911 – 4 de Abril de 1987)
nasceu em Indianápolis, Indiana (EUA).

Catherine Lucille Moore ou C.L.Moore, é considerada uma desbravadora dentro dos gêneros Ficção Científica e Fantasia, pois através de seu trabalho, conquistou respeito dos leitores e da crítica, numa época em que nenhuma outra mulher escrevia estes gêneros. Leitora de revistas como Amazing Stories, Catherine resolveu mandar uma das suas próprias histórias (Shambleau)  para a revista Weird Tales, que não só a comprou, como também propôs a Catherine, um contrato de publicação. Ao longo da década de 30, C.L.Moore passaria a ser um nome constante desta revista.

Henry Kuttner é considerado por muitos como um dos cinco maiores escritores de Ficção Científica e Fantasia da década de 40. Conseguia produzir brilhantes insights com seus personagens, valorizando o aspecto humano, sem menosprezar o aspecto tecnológico/fantástico. Seu estilo requintado levou um crítico a descrever suas histórias como ‘uma espiadela em um santuário secreto através de uma janela’. Trabalhava como agente literário, antes de vender sua primeira história, “The Graveyard Rats”, para a revista Weird Tales em 1936.

Neste mesmo ano, Kuttner escreveu uma carta para “o escritor C.L.Moore”, declarando ser fã de seus contos, pensando se tratar de um homem. A troca de cartas entre eles, acabou levando ao casamento em 1940, e a partir daí, e ao longo dos 10 anos seguintes, Kuttner e Moore passariam a escrever em parceria. Neste período, se utilizaram de mais de 15 pseudônimos para publicar, sendo Lewis Padget e Laurence O’Donnel os mais utilizados.

Ambos fizeram parte do Lovecraft Circle (Círculo Lovecraft), um grupo de escritores fanáticos por H.P.Lovecraft e que se correspondiam através de cartas com este, e Kuttner acabaria tornando-se amigo de Lovecraft, assim como de Clark Ashton Smith, passando a contribuir frequentemente escrevendo sobre o mito Cthulhu.

Também escreviam para a televisão e peças para rádio-teatro. 

Ao final da década de 50, ambos se sentindo exauridos, afastaram-se um pouco da literatura, dedicando-se a psicologia. Formaram-se na University of Southern California e a partir daí, seus escritos passaram a rarear.

Com a morte de Kuttner em 1958, vítima de um ataque do coração, Moore registraria seu nome em algumas obras solo, republicadas a partir dai, ainda escrevendo ou reescrevendo contos interrompidos e também para séries policiais e de mistério para TV. 

Marion Zimmer Bradley está entre os autores que se declararam influenciados pela prosa de Kuttner, e Roger Zelazny já declarou que Dark World, de Kuttner e Moore, foi sua mais forte inspiração para escrever a série Amber.

Bradbury chamava Kuttner de ‘O Mestre negligenciado’ e dedicou um livro a ele, assim como Richard Matheson.

Henry Kuttner (Android, Call him demon, Cold War, Don’t look now, Gallegher plus, Juke-box, Mimsy were the borogoves, Mutant, Private eye, Return to otherness, See you later, Sword of tomorrow, The best of Henry Kuttner I, The creature from beyond infinity, The dark World, The ego machine, The portal in the picture, The proud robot, The sky is falling, The time axis, The well of the worlds, This is the house, Valley of the flame, Vintage season, We guard the black planet, c/C.L.Moore Earth last citadel, Prisioner in the skul, Aureola, El twonky, La maquina ambidextra, Las ratas del cemeterio, Lo mejor de Henry Kuttner II, Los engendros de dagon, Clash by night, Two handed engine, El beso siniestro, El horror de Salem, El robot vanidoso ) [ Download ]

C.L.Moore (Daemon, Fruit of knowledge, Greater than Gods, Julhi, Miracle in Three Dimensions, No woman born, Shambleau, Song in a minor key, The best of C L Moore, The black gods kiss, The cold gray God, The tree of life, Tryst in time ) [ Download ]

>> CAPACITOR FANTASTICO


‘FICÇÃO DE POLPA’ & ‘BREGANEJO BLUES’: UM MANJAR DE SOBRAS

terça-feira | 27 | outubro | 2009

Novos autores recuperam temas da “literatura de bancas de jornal” e atualizam sua estética, sem a pretensão de convertê-la em produto da “alta cultura”

Ficao de Polpa_os tres

Livros se concentram em histórias curtas de terror, fantasia e ficção científica, recuperando temas da literatura pulp e estética de suas revistas foto: cid barbosa

É preciso manter a linha. Ou é pelo menos isso que diz o “bom gosto”, entidade abstrata que guarda muito de preconceito e tem o humor bem enjoado. Vez por outra, acontece de ser permitido gostar de produções culturais que apelam pelo exagero, como os quadrinhos estrangeiros de super-heróis, cinema B de ação, novela e artistas de FM ou até de AM.

Foi assim com a pop arte, surgida no final dos anos 1950, em que o norte-americano Andy Warhol transformou as celebridades de Hollywood em novas Monalisas. “Pulp Fiction: tempo de violência” (EUA, 1994), de Quentin Tarantino, fez ainda mais que transformar essas produções, chamadas pejorativamente de baixa cultura, em arte. O efeito de “Pulp Fiction” não foi apenas o de tornar “artísticas” canções cafonas e filmes precários e vazios. Ele também os transformou num produto cool.

E a onda não passou. Pode-se mesmo dizer que ela se intensificou. Vide que Roberto Carlos toca em festinhas descoladas (mesmo sua breguíssima fase do começo dos anos 90, com homenagens à gordinhas, quarentonas e aos taxistas), que Arnaldo Antunes deixou de frescuras neoconcretas e, sob produção do cearense Fernando Catatau, gravou o excelente e brega “Iê iê iê”, emulando cafonices dos primeiros tempos de Titãs. Na literatura, expressão artística ainda bastante presa a uma ideal aristocrático, essa tendência ainda se manifesta de maneira tímida.

Ficção de Polpa“, coleção publicada pela Não Editora (RS), e “Breganejo Blues“, do escritor e quadrinhista maranhense Bruno Azevêdo, são produções de autores que não se preocupam em manter a linha. A matéria prima de que se valem é daquela literatura de banca de jornal, impressa em papel ruim e em traduções ricas em chavões. Nos dois casos, chega-se a uma atualização desses gêneros, mas os resultados, no entanto, são bem diversos.

Encanto para os olhos
Já pelas capas (trabalhadas como se pertencessem a uma velha revista, castigada pelo tempo), “Ficção de Polpa” remete um tipo de literatura que desapareceu. As antigas publicações de terror e ficção científica, impressas no Brasil num formato diminuto, que era o correspondente masculino de títulos como “Jéssica”, “Sabrina”, “Paixão” e “Desejo”.

O nome da coleção, editada pelo escritor Samir Machado de Machado, veio do nomes que essas publicações ganharam nos EUA, “pulp fiction”, em referência ao material ordinário no qual eram impressos. A publicação da editora gaúcha não é uma legítima “pulp fiction”. Não é tão massiva quanto aquele tipo de literatura e seu acabamento gráfico passa longe de ser tosco. O visual, aliás, é um dos atrativos da coleção. As capas carregadas, com ícones pulp (robôs gigantes, criaturas mágicas, femme fatales em apuros etc), combinam-se a uma diagramação em duas colunas.

“Participei de oficinas literárias, e conheci várias pessoas, gente que conseguia escrever bem. Eu tinha a consciência da dificuldade do autor novo para publicar algo e, ainda, chamar atenção. Pensei que uma saída era trabalhar temas populares. E o formato pulp veio na hora, até porque, como sou profissional de designer, já gostava dessa estética retrô, exagerada. Acreditava que, com um bom projeto gráfico, os novos autores teriam melhor chance de chamar atenção do público”, explica Samir Machado. Para enriquecer o “cartão de visitas”, o editor incluiu em cada volume um conto clássico da área.

O resultado chegou a surpreender o organizador. Primeiro que o projeto da coletânea contribuiu para que Samir e um grupo de amigos, também escritores, fundasse a Não Editora, que tem se notabilizado por lançar novos autores, sobretudo, gaúchos. O retorno de público garantiu que a coleção tivesse uma continuidade e passasse a ser publicada anualmente. E a própria comunidade de escritores de fantasia, terror e ficção científica recebeu entusiasmada a novidade.

“Eu não acompanhava as publicações de ficção científica no Brasil. Achava que estava inventando a roda, até que pessoas do cenário de São Paulo, do Rio, entraram em contato. A partir do volume dois, a ´Ficção de Polpa´ deixou de ser meio que um clube de amigos, de gente nova, e passou a incluir autores experientes, como o Fábio Fernandes, que já traduziu a ´Fundação´, do Asimov”, conta o editor.

Literatura pra quem é macho

Roteirista de quadrinhos e escritor de prosa, o maranhense Bruno Azevêdo toma um caminho bem diferente dos gaúchos, pois foge ao cool para mergulhar de cabeça no que é considerado brega e de mau gosto. E o resultado é uma novela (ou romance curto) eficiente, ágil e hilariante. Literatura publicada de forma independente, mas bem acima da média de muita coisa que as grandes editoras têm publicado na literatura brasileira.

O enredo retrata bem o conteúdo subversivo (de um humor absurdo e sacana que lembra o do inglês sensação Will Self). “Breganejo Blues” mostra a história de uma dupla sertaneja, Adailton e Adhaylton, que arma a morte de um de seus integrantes para fazer mais sucesso; acontece que o cantor que continua publicamente vivo tem um caso com a ex-mulher de seu colega, que troca de sexo e pensa em nova carreira, até que um assassinato põe fim ao engodo. A história é narrada do ponto de vista de um taxista que faz bico de detetive, é viciado no herói das HQs de bang-bang Tex (o livro, aliás, tem o formato de uma revista do Tex). Além da prosa, o livro conta com intervenções, como trechos das aventuras de Tex e velhas propagandas como o de curso por correspondência para investigadores.
>> DIARIO DO NORESTE – por Dellano Rios

NOVELA
“Breganejo Blues: novela treizoitão”,
Bruno Azevêdo
R$ 15,00 – 132 páginas – PITOMBA
A versão no formato E-book/PDF está disponível para download gratuito no site mojobooks.com.br


QUADRINHOS LITERÁRIOS ASSUMEM PAPEL DE SUBSTITUTOS NATURAIS DOS ROMANCES

segunda-feira | 26 | outubro | 2009

 

Definitivamente, os quadrinhos “cresceram”. Ou, ao menos, parte deles. E não estamos falando dos quadrinhos “adultos”, fantasias de erotismo surrealista ou existencial. Mas de uma nova vertente que vem crescendo a cada ano: a dos quadrinhos-romances.

Em comum, essas HQs literárias têm o traço simples, despojado, bem distante dos arroubos gráficos e efeitos especiais que ilustram as aventuras de super-heróis. Dispensam também as cores, buscando na essência do preto-e-branco uma representação mais sincera, confessional, sem artifícios.

Pois esta é a principal característica de livros como “Retalhos”, de Craig Thompson, “Umbigo Sem Fundo”, de Dash Shaw, e também “Fun Home”, de Alison Bechdel, e “Epilético”, de David B. As obras, que hoje dividem as prateleiras das livrarias com romances “escritos”, são autobiográficas e expõem os conflitos mais íntimos de seus narradores/autores com realismo e uma certa coragem.

“Retalhos”
Não há, literalmente, “meias-tintas”. O traço é firme, o contraste é forte. E, no entanto, o desenrolar da história é delicado, toca em temas sensíveis, descortina verdades escondidas. Nas quase 600 páginas de “Retalhos”, por exemplo, Thompson vai fundo em sua difícil formação de homem, tal como nos antigos romances, mas com mais liberdade. Sabemos que foi violentado, que dormia com o irmão na mesma cama, que se entregava fervorosamente aos ensinamentos da Bíblia ao mesmo tempo que se debatia com os rigores da família, formada por cristãos fundamentalistas, e que se intimidava com os brutamontes da escola, sendo por eles maltratado.

Mas, principalmente, acompanhamos sua primeira incursão no amor, quando conhece a doce Raina num acampamento para jovens cristãos. A partir daí, tudo muda. Craig ganha inspiração e coragem, investe com mais determinação nos seus desenhos, começa a enfrentar a autoridade dos pais e a duvidar da existência de Deus. Aos poucos, com delicadeza tocante, os dois jovens se aproximam fisicamente e têm sua primeira experiência sexual.

“Umbigo Sem Fundo”
O trabalho de Dash Shaw não é muito diferente, embora o traço seja mais deliberadamente primário e o anti-herói/narrador tenha cara de sapo. Na sua evolução para “príncipe”, o jovem Dash encontra a família em sua casa de praia. Os pais anunciam que vão se divorciar, depois de 40 anos juntos. O irmão mais velho reage emocionalmente, buscando lembranças no porão da casa, tentando ligar os pontos e entender como foram parar ali. A irmã, ela mesma divorciada, vê-se às voltas com a filha adolescente e espirituosa, que sofre por achar-se feia e com cara de homem.

Aos 25, Dash (na história ele é “Peter”) é tímido, apagado, o típico nerd, meio loser, mas talentoso, inteligente. Entre um baseado e outro, uma masturbação e outra, conhece na praia a bela Kat, garota moderna, liberada, atlética. Apaixonam-se e passam a dormir juntos, de um jeito meio adulto, meio infantil, próprio de primeiras explorações (ainda que, nesse caso, não sejam “primeiras”). Na obra de Shaw, chama a atenção o enquadramento mais cinematográfico, inventivo, com curiosas soluções gráficas.

Ambos os “romances” têm muito a ver com os anteriores “Fun Home” e “Epilético”. A influência desses livros é, inclusive, assumida por Thompson e Shaw. No primeiro, conhecemos uma típica família americana disfuncional, em que a origem das crises, no entanto, não é assim tão comum. O pai é um homossexual enrustido, que aos poucos vai assumindo sua condição, com tudo o que isso traz de traumático para a mulher e os filhos. Sua filha/autora também assume, adolescente, o lesbianismo.

Há muito do que Cristóvão Tezza chamou recentemente de herança do puritanismo no realismo americano, uma necessidade de relatar a verdade nua e cruamente, algo que fica entre a confissão e o desabafo, a catarse – não sem alguma autoironia.

“Epilético”, sendo obra de um francês, é um pouco menos direto, no sentido moral, e mais exuberante no desenho – mas o assunto é um tanto diferente. Trata das múltiplas tentativas de curar a epilepsia do irmão mais velho do autor. No longo percurso, que vai das ciências médicas às esotéricas, a imaginação do autor floresce e sua franqueza quase cruel, mas acompanhada de amor fraterno genuíno, conquista o leitor.

“RETALHOS”
Autor: Craig Thompson
Tradução: Érico Assis
Editora: Quadrinhos na Cia.
Número de páginas: 592
Preço sugerido: R$ 49

“UMBIGO SEM FUNDO”
Autor: Dash Shaw
Tradução: Érico Assis
Editora: Quadrinhos na Cia.
Número de páginas: 720
Preço sugerido: R$ 59


‘SUBSTITUTOS’: OS QUADRINHOS QUE DERAM ORIGEM AO FILME

segunda-feira | 26 | outubro | 2009

Substitutos_capa Escrita por Robert Venditti e desenhada por Brett Weldele, Substitutos (Devir)  é uma das histórias em quadrinhos que teve maior repercussão nos Estados Unidos nos últimos tempos. Isso se deve em muito ao fato dela ter dado origem a um filme de mesmo nome estrelado por Bruce Willis.

O ponto central da história, que se passa em Central Georgia Metropolis em 2054, são os Substitutos, uma combinação de robôs e inteligência artificial que permite que as pessoas vivam suas vidas sem correr nenhum risco. Os Substitutos funcionam como corpos remotos, equipados com sistemas de realimentação sensorial que permitem que o proprietário/operador controle o substituto como se ele estivesse presente no local. Quinze anos antes da história começar, havia um movimento anti-substitutos, comandado por Zaire Powel III, conhecido por seus seguidores como “O Profeta”. Eles agora ocupam uma reserva a uma distância razoável do centro da cidade, e ainda pregam contra os substitutos.

De repente, alguém ou alguma coisa começa a destruir os substitutos eletrocutando-os. Esta entidade consegue roubar um protótipo de um novo chip que além de possibilitar a criação de características novas e mais avançadas características para os Substitutos, resolve problemas que existiam anteriormente é roubado. E essa pessoa, ou o que quer que ela seja, roubou um disco com o software para o chip. O Detetive Harvey Greer e o Sargento Pete Ford se vêem de repente com um pesadelo nas mãos: um tecno-terrorista que aparentemente está utilizando um Substituto “envenenado” para por um fim à era dos Substitutos.

O livro inclui textos extras no final de cada capítulo: um artigo de uma revista de cibernética, a transcrição de uma entrevista com o Profeta, um artigo de jornal sobre o acordo que pôs fim à rebelião e anúncios da Virtual Self, o fabricante dos Substitutos.

A seção bônus é realmente um bônus. Existe uma galeria de capas das revistas, um trecho do roteiro com um parágrafo curto de Venditti fazendo comentários sobre a transformação do roteiro no visual final do livro, e algumas amostras dos sketches de Weldele, com notas sobre os vários meios (manuais e digitais) usados para produzir a arte final, uma seção sobre a campanha publicitária da VSI e como ela foi desenvolvida e uma galeria de personagens desenhados por diversos artistas.

Assista ao trailer legendado do filme:


GRAFFITI – SAÍDA 3: FICÇÃO CIENTÍFICA COM FINAL SURPRESA EM ÁLBUM NACIONAL

segunda-feira | 26 | outubro | 2009

Graffiti_saida 3 

Capa de “Saída 3”, obra escrita e desenhada pelo artista plástico e quadrinista Guga Schultze
 
Há algumas narrativas que dizem a que vieram nos minutos finais. Um caso recente é o filme “Arraste-me para o Inferno”, de Sam Raimi. O longa renasce no encerramento. Há um quê disso em “Saída 3” (108 págs., R$ 20), quarto álbum da “Coleção 100% Quadrinhos”, produzida pelo grupo da revista independente “Graffiti 76% Quadrinhos”.

A obra, escrita e desenhada por Guga Schultze, constroi uma trama de ficção científica, tema raro em produções brasileiras mais longas, como esta. Mas é no final, nas duas últimas páginas, que o autor dá o recado da história e revela o surpreendente motivo de tudo o que o leitor acompanhou até então.

Claro que o desfecho não será revelado aqui. Omitir a conclusão da narrativa faz parte do acordo não declarado entre leitor e jornalista, algo inerente às resenhas. O que se pode adiantar é que a história se passa numa região fictícia, dominada por uma força poderosa e maligna, mantida em segredo.

O assunto corre o risco de vir à tona quando um grupo de soldados cai numa armadilha e é obrigado e investigar uma enigmática e mística construção, mantida no deserto. O contato da equipe armada com o que há nos escuros corredores do local leva aos fatos que serão trabalhados no final.

“Saída 3” é o primeiro álbum em quadrinhos de Schultze. Antes, havia feito quadrinhos para a mineira Graffiti e outra obra independente, “A Guerra dos Imundos”, de 1998. A visita dele uma narrativa de mais fôlego marca uma boa estreia, tanto no texto quanto nos seus desenhos marcantes, que evidenciam o lado artista plástico dele.

A obra mantém a qualidade vista nos três títulos anteriores da coleção: “Um Dia, Uma Morte”, “O Relógio Insano” e “A Comadre do Zé”, lançado no início do ano. O grupo da Graffiti tem acertado na escolha de seus autores e mostra um caminho a ser seguido pelas editoras, que começam a olhar com mais cuidado para produções assim. 
>> BLOG DOS QUADRINHOS – por Paulo Ramos


‘WORLD OF WARCRAFT’: NOVA FASE NOS QUADRINHOS

segunda-feira | 26 | outubro | 2009

File:Horde1CoverSample.jpg

A Wildstorm lançará, a partir de janeiro, uma nova série baseada no game World of Warcraft, dessa vez voltada para a Horda.

World of Warcraft: Horde será escrita por Doug Wagner e terá desenhos e capa de Pop Mahn. A história será focada no orc Malgar, que está contente em caçar sozinho ao lado de seu lobo Remnes. Mas quando um clã de centauros invade uma pequena fazenda orc, Malgar não tem escolha a não ser voltar para a vida violenta que ele havia negado. Com a ajuda de um novo aliado, chamado Ironhoof, Malgar consegue defender a fazenda, mas não sem baixas.

World of Warcraft: Horde vai mostrar o lado mais duro de Kalimdor e os desafios enfrentados pela Horda.

No mesmo mês, a revista mensal já existente, World of Warcrat, terá seu nome mudado para World of Warcraft: Alliance. Nessa nova fase, a revista mostrará o mago Karlain e seu filho guerreiro Mardigan numa trama que envolve assassinato e a busca por um poderoso artefato. Roteiro de Mike Costa e arte e capas por Neil Googe.

World of Warcraft (ou WoW) é um jogo de RPG online para múltiplos jogadores, lançado em 2004. É o quarto jogo de uma série iniciada em 1994 pela Blizzard Entertainment, baseado no universo de Warcraft. O jogo se passa no mundo de Azeroth, quatro anos após os eventos de Warcraft III: The Frozen Throne. A primeira expansão de WoW, The Burning Crusade, bateu recordes, com 2,4 milhões de cópias vendidas no primeiro dia e aproximadamente 3,5 milhões no primeiro mês. A saga, além de sucesso nos games, tem mangás e quadrinhos americanos.
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


‘ASTRONAUTA’: FILME DA TURMA DA MÔNICA GANHA TEASER

domingo | 25 | outubro | 2009

A produtora Digital 21, em parceria com a Mauricio de Sousa Produções, divulgou em seu site um caprichado teaser do filme do personagem Astronauta, integrante da Turma da Mônica.

A Digital 21 trabalha na segunda animação oficial do herói – a primeira foi produzida na década de 1990 e tem seis minutos de duração -, que deve ser lançada nos cinemas ou na televisão. E para quem acreditava que o Brasil não conseguia fazer animações em 3D, comece a rever seus conceitos: a julgar pelo trailer, a produção é muito bem-feita.

Mauricio pretende lançar Astronauta junto com A Turma do Penadinho, que por sua vez será um seriado com episódios de 11 minutos.

Para quem pulava as histórinhas de Astronauta na infância, uma pequena sinopse: o herói é um astronauta brasileiro que trabalha para um órgão chamado Brasa. Com sua nave especial redonda, assim como seu uniforme, ele visita diferentes planetas enfrentando perigos diversos na jornada. O filme deve focar a relação de Astronauta e Ritinha, pretendente que ele deixou na Terra depois que ela se casou.

A animação não tem previsão de estreia, mas os fãs já esperam ansiosos.
>> TERRA

Astronauta brasileiro que viaja pelo universo em sua nave espacial esférica, assim como seu traje. Astronauta tinha uma namorada chamada Ritinha, que se cansou de esperar por sua volta e casou-se com outro. O órgão para o qual o Astronauta trabalha chama-se Brasa – Brasileiros Astronautas. Astronauta é aventureiro e adora conhecer novos planetas, mas sofre muito com a solidão, e vive sonhando com sua família e amigos. De vez em quando ele faz algumas visitas ao nosso planeta, mas nunca se satisfaz por completo pois quem ele realmente queria ver era a Ritinha. A sua única companhia nas viagens é o seu computador.

Confira agora a entrevista de Mauricio de Sousa para o programa Metropolis da TV Cultura.


‘RUMO Á FANTASIA’: UMA NOVA INTRODUÇÃO À FANTASIA

domingo | 25 | outubro | 2009

Registraram-se, nas últimas semanas, vários lançamentos dignos de menção no campo da literatura brasileira de fantasia e ficção científica. Dentre estes, destacamos hoje Rumo à Fantasia, antologia da Devir organizada por Roberto Causo sob o novo selo Quymera (R$ 24,50, 200 págs.). 

A antologia da Devir foi criticada em alguns fóruns e blogs de aficcionados do gênero por concentrar-se em contos clássicos, ou que pelo menos já têm algumas décadas. Argumentou-se que, quando uma editora dos EUA lança uma nova antologia de fantasia, reúne novos contos e novos autores e não precisa incluir um Edgar Allan Poe ou Herman Melville para “legitimar-se”. 

A opinião deste colunista é outra. No Brasil, ao contrário do que acontece nos países anglo-saxões, a fantasia (assim como a ficção científica) não é um gênero bem consolidado, com uma tradição significativa de escritores que o cultivem, uma crítica séria e um público significativo e estável. 

A imagem da “literatura de fantasia” está muito ligada a O Senhor dos Anéis e suas imitações, aos derivados de RPGs com seus elfos, gnomos e feiticeiros, ou então a Harry Potter e suas variantes – ou seja, é tida como uma subdivisão da literatura infanto-juvenil. Caso se deseje um mercado mais amplo e maduro para o gênero, é preciso dar novos e velhos parâmetros ao público potencial e mostrar-lhe que a fantasia pode ser muito mais do que isso. 

Num mercado incipiente como este, é mais fácil introduzir autores desconhecidos, ainda que bons, se vierem na companhia de um bom time de autores consagrados. A comparação adequada não seria com uma antologia de fantasia publicada nos EUA, mas, digamos, com uma antologia anglo-saxã de ficção latinoamericana, categoria que no contexto inglês e estadunidense precisa ser apresentada ao público – e de fato, The Oxford Book of Latin American Short Stories, da Oxford Press, inclui textos de Garcilaso de la Vega, Bartolomé de las Casas, Machado de Assis, Domingo Sarmiento, Ruben Darío e Jorge Luis Borges, ao lado de autores mais contemporâneos e possivelmente menos conhecidos do público anglo-saxão, como Dalton Trevisan. 

De forma análoga, em Rumo à Fantasia, o organizador optou por incluir treze contos originados dos séculos XIX, XX e XXI, e do Brasil, Europa e América do Norte, de modo a dar uma ideia razoável da diversidade e abrangência desse gênero. A escolha nos parece acertada. Mais discutível é a escolha da capa: os contos são quase todos muito bons, mas absolutamente nenhum deles corresponde ao clima de erotismo e sensualidade que ela sugere. Uma propaganda enganosa que, a nosso ver, é desnecessária.
Em rápidos resumos, os contos são os seguintes: 

Um Habitante de Carcosa (1886), do estadunidense Ambrose Bierce: um conto clássico de terror fantástico, que influenciou gerações de autores, incluindo H. P. Lovecraft, sobre um homem que se perde em uma (imaginária) cidade desaparecida. 

História de Maldun, o Mensageiro (1989) do paraibano Bráulio Tavares: uma intrigante fantasia medieval ibérica (um subgênero praticamente inventado neste conto), sobre um jovem mensageiro que, ao servir a um cavaleiro misterioso, é levado a um castelo onde se fazem estranhas experiências. 

O Lugar do Mundo (1984), do francês Daniel Fresnot: o escritor, irmão do cineasta Alain Fresnot arriscou um conto regionalista fantástico sobre repentistas do Nordeste brasileiro e deu muito certo. Um exemplo de como uma boa pesquisa permite escrever bem sobre um universo estrangeiro.

Onde Caem os Anjos (1996), do canadense Jean-Louis Trudel: uma fantasia poética e pungente sobre anjos que se esforçam desesperadamente por atravessar um braço de mar. 

Faerie: seguindo as sombras dos sonhos (2007), da paulista Rosana Rios: uma velha senhora que, ao longo de sua vida, tem quatro oportunidades de trocar uma vida humana plena por outra existência em um mundo mágico, cada uma delas oferecida por um elemento. 

O Defunto (publicado postumamente em 1902), do português Eça de Queiroz –um conto fantástico deliciosamente irônico de um escritor realista e anticlerical: em fins do século XV, um impressionante milagre de Nossa Senhora protege um devoto que tenta pôr chifres em um marido que faz por merecê-los. 

Mensagem na Garrafa (2009) do paulista César Silva, conhecido no meio da fantasia e ficção científica brasileiras como “Cerito”: uma fantasia de terror urbano sobre um claustrófobo que sobe de elevador em um prédio antigo e estranho e não consegue mais voltar. 

Uma Praga de Borboletas (1980), do estadunidense Orson Scott Card: um conto severo e sombrio de um escritor de ficção científica religioso e conservador, no qual um homem se condena a tormentos eternos por seguir seus impulsos humanos em vez de aceitar incompreensíveis ordens divinas. 

O Cavalheiro da Espora de Ouro (2009), da paulista Anna Creusa Zacharias: uma fantasia histórica sobre a morte do famoso violinista Niccolò Paganini e os esforços do filho para salvá-lo do pacto com o diabo que (segundo boatos que realmente circulavam em seu tempo) lhe teria conferido sua habilidade sobre-humana. 

A Negação (2005), do estadunidense Bruce Sterling: um dos pais do gênero cyberpunk mostra sua versatilidade com uma ótima fantasia histórica ambientada na complexa Bósnia otomana do século XVI, que combina o folclore balcânico dos mortos-vivos com reflexões irônicas, universais e penetrantes sobre a psicologia do casamento. 

O Mapinguari (2009), do mineiro Gian Danton (pseudônimo de Ivan Carlo Andrade de Oliveira): infelizmente, um excelente roteirista de quadrinhos produziu o conto mais fraco da coletânea. Nessa fantasia histórica, a famosa e acidentada expedição Langsdorff de 1826-1829 atravessou o interior do Brasil de São Paulo a Belém do Pará, sofre percalços ainda maiores que os da vida real ao encontrar os lendários mapinguaris, mas o conto não consegue dizer nada de interessante sobre a expedição ou essas entidades do folclore brasileiro. Duas páginas totalmente dispensáveis. 

O Bebedor de Almas (2003), do paulista Roberto Causo, organizador da coletânea e tradutor da maior parte dos contos estrangeiros, é mais uma fantasia medieval ibérica – ou quase-medieval, pois se passa às vésperas da queda do reino de Granada, em 1492. Um guerreiro português conhecedor de artes mágicas é sequestrado por ordem do rei mouro para combater um demônio que habita os subterrâneos da cidade. Um conto complexo e envolvente, apesar das descrições sobrecarregadas. 

Os que se Afastam de Omelas (1973), da estadunidense Ursula K. Le Guin: um clássico moderno de fantasia, sobre uma cidade maravilhosamente utópica, mas que oculta um terrível segredo do qual depende toda a sua felicidade. Um conto intrigante e desafiador que se presta a muitas reflexões éticas, apesar de ligeiramente prejudicado por uma tradução de Ivan Carlos Regina, que deixa a desejar.
>> CARTA CAPITAL – por Antonio Luiz M. C. Costa


4º CINEFANTASY – FESTIVAL CURTA FANTÁSTICO (HORROR, FANTASIA E FICÇÃO CIENTÍFICA)

sexta-feira | 23 | outubro | 2009

CURTA FANTASTICO_CartazA

o 4º Cinefantasy – Festival Curta Fantástico, acontece em São Paulo, de 06 a 15 de novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil, Galeria Olido e Biblioteca Viriato Corrêa. O Festival é hoje o principal evento no país dedicado aos curtas-metragens fantásticos – horror, ficção científica e fantasia.

O Festival vem crescendo a cada ano e esta edição conta com 165 filmes. Um dos destaques é o filme “Colin”, do diretor britânico Marc Price, que custou US$74 e já é um fenômeno mundial. O diretor é um dos convidados do festival e fará palestra após a exibição do filme numa sexta-feira 13 (13/11). Outro diretor que já confirmou presença é o Federico Zampaglione, responsável pelo renascimento do cinema italiano de horror.

Na programação, os premiados 8th Wonderland” de Nicolas Alberny e Jean, filme francês inédito no Brasil que ganhou 3 prêmios no Fantasia do Canadá como melhor filme internacional, prêmio do Júri e o 2º mais inovador, “Forbidden Door ganhador de melhor filme do festival PUCHON, o americano “Ray Bradbury’s Chrysalis” de Tony Baez Milan, baseado na história de Ray Bradbury, autor de Fahrenheit 451 (o filme ganhou como Melhor Sci-fi no Festival de Phoenix) , os brasileiros “Morgue Story” , que também foi bastante premiado no exterior; “O Passageiro Obscuro”, estrelado pelo cineasta norte-americano David Lynch, além dos clássicos “The Sandman”, “Belas e Corrompidas” e “Ritual Macabro”.

O suspense interativo “A Gruta”, inédito em SP, abre o festival. O “filme-jogo”, que estreou no Festival de Brasília em 2008 e foi convidado para exibição Hours Concours no Festival do Rio este ano.

O Festival ainda conta com a Sessão Mestre dos Gritos, em que o objetivo é arrepiar os cabelos do público e fazê-los gritar; Sessão Dark Little Tales, com belos curtas-metragens internacionais que trazem estética gótica/dark; Mostra não competitiva Inernacional de Curtas e Longas e Mostra nacional e homenagem ao diretor Fauzi Mansur.

Enfim, o Festival traz uma variedade de filmes do mundo inteiro, a maioria deles inéditos no Brasil , oficina, workshop e palestras.

Segue abaixo a programação completa:

4º Cinefantasy – Festival Curta Fantástico

***evento acontece em São Paulo de 06 a 15 de novembro nas salas do CCBB, Cine Olido e Biblioteca Viriato Correa

*** presença do diretor britânico Marc Price do filme “Collin”, fenômeno mundial que custou apenas US$74 e do diretor italiano Federico Zampaglione

***80 curtas-metragens de vários países selecionados para a Competição que terá 12 premiações

*** exibição dos premiados “8th Wonderland” e “Morgue Story”, e dos clássicos “The Sandman”, “Belas e Corrompidas” e “Ritual Macabro”

**suspense interativo “A Gruta”, inédito em SP, abre o festival

Com Mostra Competitiva para curtas-metragens fantásticos nacionais e internacionais, homenagem ao cineasta Fauzi Mansur, conhecido pelos seus filmes que misturam horror, sexo e gore, palestra com o diretor britânico Marc Price do filme “Colin”, que custou apenas US$74 e se tornou um dos fenômenos mundiais do cinema de terror da atualidade, a exibição do clássico “The Sandman”, que concorreu ao Oscar de melhor animação e o inédito “Shadow” do diretor Federico Zampaglione, que marca o renascimento do cinema italiano de horror e terá a presença do diretor na exibição, o Festival Internacional Curta Fantástico chega à sua quarta edição.

Nesta edição serão apresentados 165 títulos distribuídos na mostra Competitiva de curtas-metragens, que exibirá 80 filmes vindos da Alemanha, Austrália, Nova Zelândia, Espanha, Holanda, Argentina, Chile, EUA, Canadá, Bélgica, Irlanda, Uruguai e de todas as regiões do Brasil, na Mostra paralela, que contará com longas e curtas nacionais e internacionais sendo a maioria deles inéditos no país, e nas sessões “Dark Little Tales” e “Desafio Mestre dos Gritos”. Para completar a programação, o Festival traz ainda a Oficina de Efeitos Especiais em maquiagem com Rodrigo Aragão, o Workshop de Roteiro básico e avançado com Raphael Draccon, além de bate-papos com convidados nacionais e internacionais e palestras.

Segundo os produtores e idealizadores do Cinefantasy, Eduardo Santana e Vivi Amaral, além de celebrar um gênero mágico, o Festival Curta Fantástico tem um objetivo que vai mais longe, o de fortalecer o cinema brasileiro, apoiando cineastas que buscam outras “caras”. “Oferecemos um local onde esses produtores possam apresentar seu trabalho ao público, pois acreditamos que só com a variedade, quantidade e qualidade das produções nacionais é que o cinema brasileiro vai ganhar corpo e ter capacidade de sustentar seus profissionais”, diz Eduardo.

O Festival Curta Fantástico, que acontece 06 a 15 de Novembro, em São Paulo, nas salas do Centro Cultural Banco do Brasil, Cine Olido (ao lado da Galeria do rock) e sala Luiz Sérgio Person (biblioteca Viriato Correa) é hoje o principal evento no país dedicado aos curtas-metragens fantásticos – horror, ficção-científica e fantasia.

Patrocinado pelo Banco do Brasil e pelo ProAC da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, o 4ª Festival Curta Fantástico conta com os apoios da Prefeitura da cidade de São Paulo, Secretaria Municipal de São Paulo e Governo do Estado de São Paulo.

***Veja a programação, que exibe um total de 30 longas e 135 curtas, e é organizada em quatro mostras e duas sessões:

*** filme de abertura ***

O suspense interativo “A Gruta” (Brasil, 2008, variável, pode chegar a 45 minutos), do diretor e roteirista Felipe Gontijo, é atração inaugural do Cine Fantasy 2009 – 4º Festival Curta Fantástico, sendo exibido no dia 06 de novembro às 18h na Biblioteca Viriato Corrêa.

Na sessão do “filme-jogo”, que estreou no Festival de Brasília em 2008 e foi convidado para exibição Hours Concours no Festival do Rio este ano, o público terá controles remotos individuais para interferir no destino dos protagonistas. Serão mais de 30 momentos de interatividade e 11 finais possíveis para a história. E o espectador pode escolher, já no começo do filme, se quer assisti-lo pela perspectiva do personagem Tomás ou da mocinha, Luiza.

“A Gruta” conta a história de Luisa (Poliana Pieratti) e Tomás (Carlos Henrique), um jovem casal que decide passar uns dias na fazenda da família da garota, onde mora o caseiro Tião (André Deca). A harmonia acaba quando eles encontram um filhote de porco na gruta da fazenda. Eles não sabem que o passado da família de Luisa tem ligação com as coisas estranhas que acontecem enquanto eles estão lá, apenas querendo se divertir.

*** Competição Internacional de Curtas-Metragens ***

Um total de 80 títulos, sendo 40 brasileiros e 40 estrangeiros vindos de 12 países foi selecionado para a Competição Internacional de Curta-Metragem, serão entregues diferentes troféus que serão distribuídos em 12 categorias: Melhor Curta de Horror, de Ficção Científica, de Fantasia, Melhor Curta pelo Júri Popular, Melhor Direção, Melhor Criatura, Melhor Maquiagem, Melhor Efeito, Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro, além dos prêmios Estimulo Estudante e Amador para os concorrentes brasileiros.

Veja os selecionados:
A BREAK THE MONOTONYde Damien Slevin (Austrália, 04’03″, animação, horror, 2008)
Em um mundo pós-holocausto por zumbis, um homem lamenta sua vida vazia e questiona a futilidade de trabalhar em uma corporação perdida. Mas tudo não é o que parece.

– A CAIXA PRETA – de Fabiana Servilha, Rogério Salgado e Daniela Risk (Brasil-SP, 03’ ficção, horror, 2009)
Mágico chama menino da platéia para participar da mágica da caixa preta.

 A CASA DA PRAIA – de Sandro Casarine (Brasil- SP, 16’40, ficção, fantasia, 2009)
Cinco jovens que no final da década de 80 passam as férias em uma casa no litoral de São Paulo quando são cercados por inexplicáveis eventos sobrenaturais após evocarem espíritos em uma brincadeira.

A ÚLTIMA NOITE – de Guilherme Rezende (Brasil – RJ, 07’30’’, animação, fantasia, 2008)
Quando o relógio do cemitério marca meia-noite, um casal se levanta dos túmulos para uma noite romântica. Roberval preparou um belo jantar para sua amada, mas ela, em uma pequena distração, acaba perdendo os olhos, que já não estão fixos no seu crânio decomposto. Agora Roberval vai ter que encontrar uma solução rápida para não estragar a noite, e garantir que ao final eles possam assistir um romântico nascer do sol.

ABRACADABRA – de Fernando Brandão de Braga (“Brasil – SP, 03’17”, animação, fantasia, 2009)
Um mundo de magia e surrealismo onde um simples coelho tem de percorrer bem mais do que a cartola de seu mago para tomar vida.

ÂNGELO, O COVEIRO – de Renato Turnes (Brasil – SC, 20’, ficção, fantasia, 2008)
Ângelo é um coveiro que vive no cemitério de uma grande cidade.  Um clown soturno, carente e sensível. Um monstro atrapalhado. Cercado pelas assombrações que não o deixam em paz e pelas ameaças do esquisito mundo dos vivos, suas jornadas de trabalho são bizarras aventuras do outro mundo.

APRENDIZ – de Marcio Issao Kakuno (Brasil – SP, 02’43’’, animação, fantasia, 2009)
É uma estória de uma bruxinha, e como todo bom aprendiz, testa suas habilidades em quem estiver a sua frente.

AS MÃOS DE LAURA – de Mauricio Carvalho (Brasil – SP, 05′, ficção, horror, 2008)
Um homem comum, de vida pacata, procura obsessivamente uma mulher que seja perfeita aos seus olhos. Diante das opções e de sua exigência, parte em busca de seu sonho mesmo que avance o sinal entre a vida e a morte.

ASAS DA LIBERDADE – de Cacinho (Brasil – MG, 02’11’’, animação, fantasia, 2009)
A música tem o poder de nos transportar para as nuvens. A atmosfera de um concerto, sempre está intimamente ligada a música apresentada, Nos faz sentir leves, soltos e dá a sensação de liberdade.

BLACK GULCH – de Michael Strode (EUA – Califórnia, 15’, ficção, horror, 2006)
Era para ser um trabalho simples, mas o banco está vazio, a cidade está deserta exceto por um pequeno garoto, e uma misteriosa figura de negro que os está caçando um por um.

BLOCO D – de Vinícius Casimiro (Brasil – SP, 05’, ficção, horror, 2009)
Um vigia noturno segue seu rastro de sangue pelo prédio.

BROTHER’S KEEPER – de Martijn Smits (PAÍSES BAIXOS – Ultrecht, 15’, ficção, horror, 2008)
Dois irmãos vivem juntos em uma velha mansão, um grosseiramente deformado. O outro irmão seduz jovens mulheres, na maioria prostitutas e as traz para seu distante lar onde os irmãos executam seu ritual sagrado em matar essas mulheres. Até um dos irmãos se apaixonar pela próxima.

CALANGO LENGO – MORTE E VIDA SEM VER ÁGUA – de Fernando Miller (Brasil –RJ, 10’, animação, fantasia, 2008)
Calango Lengo, nordestino, tem que cumprir seu destino, sem ter o que pôr no prato. Na seca não há outra sorte: viver fugindo da morte, como foge o rato do gato.

CLAUSTRO FOBIA – de Jesus Palop e Juan de Dios Marfil (Espanha – Ceuta, 07’23”, ficção, ficção – cientifica, 2009)
Restauração de um filme inédito rodado na cidade de Ceuta nos anos 20 e censurado até o momento.

COM DOS AÑOS DE GARANTÍA – de Juan Parra Consta (Espanha – Madri,17’, ficção, ficção-cientifica, 2009)
Berta, farta dos maus tratos do seu marido, decide abandoná-lo. Ele substitui imediatamente, mas sua substituta não lhe satisfaz e pede a sua esposa de volta…

CONTATOS SIDERAIS ANTES DO COLEGIAL – de Ale McHaddo (Brasil – SP, 15’, ficção, ficção – cientifica, 2009)
Um grupo de crianças passa a noite no parque da cidade. Um deles assusta os amigos, dizendo que pode fazer contato com extraterrestres. E não é que ele consegue?

COTTON CANDY – de Aritz Moreno (Espanha – San Sebastian, 11’, ficção, fantasia, 2008)
O frio sempre complica as coisas.

DAS ZIMMER – de Nik Sentenza (Alemanha –Dusserdof, 13’, ficção, horror, 2008)
O famoso ator, Thomas van Boys, faz o cheking no hotel. Ele pede uma garota, abre seu e-mail, toma banho, e se barbeia… Ele liga a TV. A tela mostra seu quarto. Deve haver uma câmera em algum lugar por ali… O “Olho” começa um maldito jogo de gato e rato. Ele apresenta van Boys a um espelho, que o leva até o ponto mais profundo de sua alma…

DEDICATED TO NOBODY – de Andrés Borghi (Argentina – Buenos Aires, 20’, ficção, horror, 2008)
Fabiana é uma menina tímida e introvertida. Um dia um estranho e obscuro aparece em sua casa e ela tenta comunicar com ele. Poderá encontrar uma amizade verdadeira em um ser que não é deste mundo?

DEEP SPACE WORMS – Os Horrendos Vermes do Espaço Profundo – de Richard Valentini (Brasil – SC, 12’30’’, ficção, fantasia, 2008)
Dois horrendos vermes do espaço profundo vem à terra imbuídos da missão secreta de seqüestrar o líder terráqueo. Após submetê-lo a terríveis experiências que culminam na substituição de sua massa encefálica por titica de gato, descobrem que capturaram o cara errado. Com o intuito de concertar a burrada e temendo complicações siderais, os vermes decidem devolvê-lo à natureza. Porém, o plano fracassa, o terráqueo sobrevive, é resgatado por um grupo de lunáticos e elevado à categoria de ‘líder espiritual’ da terra.

DEGELO SECO – de Alceu Kunz (Brasil – RJ, 16’, ficção, fantasia, 2008)
Estudante solitário passa o tempo conversando com os objetos de seu pequeno conjugado.  Entre desabafos e discussões, a geladeira é com quem ele tem as maiores desavenças.

DIE SCHNEIDER KRANKHEIT – de Javier Chillon (Espanha-Madrid, 10’10’’, ficção, ficção – cientifica, 2008)
Nos anos cinqüenta, uma cápsula espacial Soviética cai na Alemanha ocidental. O único passageiro, um chipanzé, espalha um vírus mortal por todo o país.

DONA CLOTILDE – de Tiago Alves (Brasil – MG, 05’, ficção, horror, 2009)
Até as mais puras almas escondem algo terrível. Primeira parte de uma trilogia. Dona Clotilde conta a história de uma gentil viúva, que dedica seu tempo ao seu jardim e ajudar suas jovens vizinhas a criarem seus filhos. Um tipo cada vez mais raro de pessoas num mundo violento e egoísta.

DVD – de Ciro Altabás (Espanha-Madrid, 17’, fantasia, ficção, 2006)
Uma aventura de Yoel, fanático por cinema e vídeos-game, tenta mostrar para sua ex namorada que amadureceu. Ao contrario do seu irmão Roberto, tipo sério, formal e sensato, que deve aprender a ser um geek para conquistar à garota de seus sonhos.
 
EEL GIRL – de Paul Campion (NOVA ZELÂNDIA, 05’30”, ficção, horror, 2008)
Em um laboratório de segurança militar, um cientista se torna obsessivo por uma estranha criatura meio humana meio enguia que ele está estudando. Quando ela acena para ele, esse é o chamado da sereia

EL HILO DE ORO – de Diego Sanchidrián  (Espanha-Madrid, 19’, ficção, fantasia, 2008)
Em ocasiões estabelecem misteriosos laços entre as pessoas, laços que superam a distância e o desconhecido, e quando estes laços se formam, podem chegar a ser o que necessitamos para sobreviver.

EL HOMBRE DE LA BOLSA – de Pedro Cristiani (Argentina-Buenos Aires, 13’20”, ficção, horror, 2009)
Tarde da noite, uma família pega o elevador. De repente, as luzes apagam, e o elevador fica preso entre dois andares.

EU QUERIA SER UM MONSTRO – de Marão (Brasil – RJ, 08’, animação, fantasia, 2009)
Cotidiano de uma criança com bronquite que seria ser um monstro.

EXIT – de Mark Limburg (Holanda – Amsterdam, 06′, ficção, horror, 2008)
Homem acorda dentro do ventre de sua ex-mulher. Ele tenta sair desesperadamente.

FORECAST – de Erik Courtney (EUA-Califórnia, 14’56”, ficção, ficção-cientifica, 2007)
Um velho embarca em uma perigosa viagem de volta no tempo para desfazer  um trágico evento que vem o assombrando por décadas.

FUN ON EARTH – de Jesse Gordon (EUA –Califórnia,16′, ficção, ficção – cientifica, 2008)
Evan é solitário, mas um ótimo nadador. Ele conhece Leia na piscina da faculdade. Existe algo estranho sobre ela desde o começo, mas as coisas realmente mudam quando sua face derrete no banheiro da biblioteca.

GATO – de Joel Caetano (Brasil – SP, 20′, ficção, horror, 2009)
Um conto de terror sobre um homem, um GATO e muito sangue!

HEADSHOT – de Beatriz Nogueira (Brasil –SP, 09’27”, ficção, horror, 2009)
Suzy é uma fotógrafa profissional cuja vida está prestes a mudar. Ao fotografar modelos indicadas por uma agência, acontecimentos macabros começam a distorcer a realidade jogando Suzy num verdadeiro pesadelo onde nada é o que parece.

HOMELAND –   de Juan de Dios Marfil (Espanha-Granada, 06’25”, animação, fantasia, 2009)
Onde houver uma tristeza, haverá um caminho.

JAKOB AND THE ANGELS –  de Ron Lehmann (EUA –Chicago, 13’22”, ficção, fantasia, 2007)
Um homem que aprecia sua solidão contrata um time de exterminadores mal encarados para espantar um bando de anjos barulhentos de seu sótão. Em meio ao mini-Armageddon que se seguiu, ele começa a lamentar exterminando sua única companhia.

LA CASA BROWN – de Isaac Berrokal (Espanha-Madrid, 11′, ficção, horror, 2009)
Em Agosto de 1995 apareceram 04 jovens brutalmente massacrados, dois deles sem cabeça. Estes jovens foram encontrados nas redondezas de Ayllón e tudo está relacionado com La Casa Brown.

LA LEYENDA DEL CAMINO DEL CARANCHO – de Tomas Stiegwardt (Argentina – Buenos Aires)
Diz que El Camino del Carancho tem ouro, um viajante vem a sua procura. Um avô junto com sua neta adverte para a maldição que esconde este caminho, mas mesmo assim o viajante pensa que é só lenda.

LA RUBIA DEL BAÑO – de Daniel Barosa (“Argentina-Buenos Aires, 04’43”, ficção, horror, 2008)
Um jovem casal roqueiro se atraca no banheiro de uma boate. Entre beijos, descargas e malícia, eles inadvertidamente liberam uma terrível maldição. Depois de décadas sem ser evocada, a loira, sedenta por sangue, aterroriza o saneamento básico da cidade.

LAS HORAS MUERTAS – de Haritz Zubillaga (Espanha – San Sebastian, 14′, ficção, fantasia, 2007)
Quatro jovens acamparam com uma velha van perto da estrada. Alguém lhes aponta com uma espingarda. Quando o franco-atirador dispara, tudo se tinge de sangue. Um dia de férias se transforma em um macabro pesadelo de horror, sexo e morte.

 LEGEND OF JOHN THE INVERTED – de Philippe Lamensch (Bélgica – Bruxelas,17’55”, ficção, fantasia, 2008)
John nasceu com a parte de trás do pé para frente. Seus pais ficaram chateados. Eles confiaram seu filho ao melhor ortopedista da capital. O distinto cirurgião colocou que tudo o que ele pode fazer é virar o resto do corpo de John de acordo com os pés dele.

LEGEND OF THE SEVEN BLODDY TORTURERS – de Conall Pendergast (Canadá -Toronto, 05’07”, ficção, horror, 2007)
Um jovem escriturário foi designado para analisar questões em uma masmorra, infelizmente para ele, ninguém gosta de defensores da burocracia – especialmente torturadores sanguinários

MAIS PESADO QUE O AR – de Alexander de Moraes (Brasil – MG, 04’55”, ficção, fantasia, 2009)
A história de um homem em crise, atormentado por uma terrível dor nas costas, até que um fato extraordinário muda sua vida em definitivo

MANUAL PRACTICO DEL AMIGO IMAGINARIO (ABREVIADO) – de Ciro Altabás (Espanha –Madrid,19′, ficção, fantasia, 2008)
Fernando é um jovem tímido de 27 anos que recebe a visita de uma antiga companheira de classe, Iratxe. A qual desperta os ciúmes do seu amigo imaginário, o Capitão Kilotón, um super-herói que tem permanecido desde a sua infância e que vê sua amizade ameaçada…

MAPA-MÚNDI – de Pedro Zimmermann (Brasil – RS, 16′, ficção, ficção-cientifica, 2009)
Reunidos junto a um fogo de chão, um gaúcho e um jovem médico conversam sobre a vida. O gaúcho, interpretado por Walmor Chagas, fala de suas andanças em direção à capital e descreve os misteriosos eventos que o trouxeram de volta ao interior. Enquanto a noite avança, fica evidente que o destino desses dois homens encontra-se ligado para sempre.

MARCIANAS –  de Sintu Amat (Espanha – Barcelona, 13’13”, ficção, ficção-cientifica, 2009)
Manuela, uma mulher com um coeficiente intelectual altíssimo, recebe a visita de sua mãe, que vem comunicar uma noticia que mudara radicalmente suas vidas.

MENÍACO –  de Bruno Dias  (Brasil – SP, 17′, ficção, ficção-cientifica, 2009)
Um garoto tímido, inseguro, que não tem coragem de se aproximar da garota que ama, e acaba deixando-a passar por sua vida. Um homem frustrado com presente e obcecado pelo passado e um homem já idoso, extremamente infeliz e nostálgico. Três pessoas no mesmo local, determinados a mudar sua própria história, com disputa pela garota amada, pela liberdade, por um futuro melhor, em um jogo de mentiras e traições.

MINHAS MEMÓRIAS DE DRAGÃO – de Isabela Veiga e Luciana Nasser (Brasil – DF, 04’53”, animação, fantasia, 2009)
Um dragão de pelúcia se transforma em um bravo dragão no mundo da fantasia de um menino, Bruninho. Juntos, eles vivem lindas aventuras. O tempo passa à medida que o menino cresce e essa amizade sofre interferências, até que a magia do dragão acaba esquecida no baú de brinquedos, esperando outra criança e novas aventuras.

NA TERRA DAS MONÇÕES – de Marcelo Domingues  (Brasil -SP, 10′, ficção, fantasia, 2008)
No Brasil do Século XVIII um monçoeiro, homem encarregado de conduzir expedições por regiões desconhecidas em busca de ouro, tem o último jantar com a sua filha antes da sua partida. Uma noite impregnada de mistérios e revelações.

NADA CONSTA 2 – MALDITOS ROBÔS! –  de Santiago Dellape e Davi Mattos  (Brasil -DF, 17′, ficção, ficção-cientifica, 2009)
Randau do Congo Naya não queria voltar para a Terra, agora superpovoada de Clones Andrada. Mas os Robôs levaram sua amada Póla Harrison, então é melhor dar um trago no Goró Lunar e encarar o planetinha azul.

NEXT FLOOR – de Denis Villeneuve  (Canadá – Quebec, 11’34”, ficção, fantasia, 2008)
Durante um opulento e luxuoso banquete, complete com serviçais e garçons, onze convidados mimados participam do que parece ser um ritual gastronômico carnívoro. Nesse universo absurdo e grotesco, uma inesperada sequência de eventos mina a sinfonia da abundância sem fim. 

O ANÃO QUE VIROU GIGANTE – de Marão  (Brasil – RJ, 10′, animação, fantasia, 2009)
A improvável – todavia autêntica – história do anão que virou gigante.

O CONTROLE DOS ZUMBIS –  de Gabriel Marzinotto (ficção, fantasia, 2009, São Paulo/BR, 35mm, 11′)
Uma família que acaba de se mudar para uma casa nova liberta, sem querer, um Zumbi preso por rituais satânicos no porão debaixo da sala. Depois de livre, o Zumbi domina o sofá e o controle remoto da televisão, influenciando lentamente a mente do pai da família.

O MENINO QUE PLANTAVA INVERNOS – de Victor Hugo Borges (Brasil – SP, 10’57”, ficção, fantasia, 2009)
Antes de nascer, um menino tem seus pais mortos. Ele acredita que a tragédia foi causada por um maléfico dragão. Para se vingar, pensa em aniquilar o dragão trazendo à terra o pior frio já imaginado para congelar o monstro.

O PASSAGEIRO OBSCURO – de Davi de Oliveira Pinheiro  (Brasil – RS, 09’19”, ficção, ficção-cientifica, 2009)
Um detetive entra em um vagão de trem onde encontra diferentes manifestações de uma força que assombra o lugar.

O RAPTO DA LUA – de Fábio Escovedo e Vinicius Pereira  (Brasil – RJ, 19’30”, ficção, ficção-cientifica, 2008)
No último dia de filmagem as latas do filme de Eduardo são roubadas e sua secretária desaparece misteriosamente. Com a ajuda de seu fiel assistente, Eduardo parte em busca de sua obra prima. Livremente inspirado na história de Orson Welles, Willian Hearst e Ed Wood.

O SETE TROUXAS –  de Marcio Schoenardie (Brasil – RS, 14′, ficção, fantasia, 2007)
Jair conta para sua neta as suas aventuras de infância, seu medo do lendário “Sete Trouxas” e como, com ajuda de um amigo tentou enfrentar o monstro.

OS ÚLTIMOS 40 SEGUNDOS DE DR. JEKYLL & MR. HYDE – de Alessandro Corrêa (Brasil – MG, 00’40”, animação, fantasia, 2008)
Interpretação dos últimos momentos de Dr. Jekyll and Mr. Hyde.

OSMAR – A PRIMEIRA FATIA DO PÃO DE FORMA – de Ale McHaddo (Brasil- SP, 11′, animação, fantasia, 2008)
Osmar não superou o fato de ter sido deixado na embalagem. Tentando amenizar seu drama, visita o doutor Croix Sainte, que tenta fazer a fatia de pão enfrentar os momentos mais traumatizantes da sua vida.

OTAKUS – de Andrés Borghi (Argentina – Buenos Aires, 08′, ficção, fantasia, 2007)
Jorge e Héctor são dois otakus, fanáticos pelos desenhos animados japoneses “animês”. O grande fanatismo os levam a passar todo o tempo discutindo sobre o tema inclusive chegando em insultos um ao outro quando estão em desacordo. Um dia, uma dessas discussões se transforma em um selvagem combate onde se matarão um ao outro como se se tratasse de dois personagens de desenhos animados em uma batalha épica.

OVAL – de Santiago Estruch (Espanha –Valência, 13’50”, ficção, horror, 2009)
Um representante de livros se perde por uma estrada secundária por culpa de uma neblina intensa, e finalmente chega à pensão “Marie Rogêt”, onde conviverá com uns personagens peculiares. Ele encontrará uma câmara de vídeo onde há estranhas gravações do casal de haviam ocupado o mesmo quarto.

P&B – de Alessandro Corrêa (Brasil – MG, 13′, animação / ficção, ficção-cientifica, 2008)
Bárbara é uma jovem repórter com uma estranha habilidade: ela enxerga cores em um mundo preto e branco. Após procurar a ajuda de um jovem oftalmologista, Bárbara se vê as voltas com um misterioso Cinematógrafo e um perigoso sacerdote de uma antiga seita egípcia.

PAPERCUT –  de Pedro Eboli ( Brasil /Canadá, 4’17”, animação, fantasia, 2008)
A vida de escritório pode acabar com você, principalmente quando um simples corte de papel resulta numa transformação que vai colocar nosso herói numa luta pela sua própria vida e identidade.

PORQUE HAY COSAS QUE NUNCA SE OLVIDAN –  de Lucas Figueroa (Espanha-Madrid, 13’, ficção, fantasia, 2008)
Nápoles, 1950. Quatro amigos jogam futebol na rua. De repente, a bola cai na casa da “Velha Mala”. Provavelmente nunca mais poderão jogar com aquela bola, mas a vingança será terrível.

PRENÚNCIO – de Adriano Portela (Brasil –PE, 17′, ficção, fantasia, 2009)
Numa pequena ilha de pescadores, Onofre, tem a vida invadida por Diva, o espírito perturbado de uma amante, que, quando viva, realizou um ritual de morte. Por ter se negado a entregar a vida no ritual e ter fugido, o pescador passa a ser vítima da perseguição.

 R. JOSÉ CADILHE –  de Guilherme Pau y Biglia (Brasil – PR, 19’20”, ficção, horror, 2009)
Uma estranha entrevista de emprego conduz Júlia a rua José Cadilhe. Após uma série de infortúnios, ela percebe que há uma missão destinada a ela.

RENACIMIENTO (REDUX) –  de Inti Carrizo-Ortiz (Chile-Santiago, 18’, ficção, ficção-cientifica, 2008)
A Galáxia se tinge de vermelho. O Império governa com mão de ferro e os poucos Jedi que sobreviveram são caçados brutalmente, mas alguns resistem a deixar morrer séculos de tradição. Uma homenagem ao universo de George Lucas situado entre os Episódios III e IV da Saga.

 ROMANCE .38 – de Vinícius Casimiro e Vitor Brandt  (Brasil -SP, 15′, ficção, fantasia, 2008)
Jorge é um escritor amador tentando concluir o seu primeiro romance. Carol, sua namorada, acha que tudo o que ele escreve é violento demais.

S11 – de Erwin Gómez Viñales (Chile – Santiago, 06’13”, animação, fantasia, 2009)
Em uma misteriosa cidade, asfixiada por gases nocivos, e corroída pelo abandono e a umidade, o Agente Secreto John “Ugly Face” Jones leva adiante seus propósitos obscuros: promover uma rebelião dos Oficiais-Máquinas contra o governo. Ugly Face recebe ordens de sua amada Martha, em um distante Império. O duplo agente, Pigdog, é incapaz de deter a conspiração e o bombardeio.

SHAPES –  de Alan Brennan  (Irlanda – Dublin, 04’46”, ficção, horror, 2008)
As noites de terror de Claire estão acabando com sua relação com Will. Assustado ele está a deixando, Claire busca segurança de que tudo está bem e que não há nenhum monstro no quarto…

SILÊNCIO E SOMBRAS –  de Murilo Hauser (Brasil – PR, 08’33”, animação, fantasia, 2008)
“Quem cavalga tão depressa, pela noite e pelo vento?”  O espectador é convidado a acompanhar a difícil jornada do final da infância até as incertezas da idade adulta.

THE PORTRAIT OF THE PEST – de Lucila Las Heras (Argentina – Buenos Aires, 09’45”, animação, fantasia, 2008)
Longe em uma torre, em algum lugar da Europa durante a Idade Média, Benjamin, um jovem pintor aprendiz, vive feliz com seu professor, devotando sua vida para a arte. Mas a chegada de uma misteriosa praga ameaça tudo o que eles tem.

THE WEREPIG –  de Sam (Espanha – Valência, 16’14’’, animação, horror, 2008)
Dois turistas americanos que querem ir para Benidorm acidentalmente param na Galícia. Seus modos e higiene o fazem ser chutados e deixados  a própria sorte no deserto de Castilla. Quando não estão mais agüentando, eles são acolhidos por um afetuoso casal de idosos.

TRAS LOS VISILLOS –  de Gregorio Muro e Raúl López (Espanha – San Sebastian, ficção, horror, 2008, 35mm, 16’)
Martos quer deixar para trás seu passado turvo, e se submeteu a uma operação de cirurgia estética para mudar seu rosto. Mas sua paranóia obsessiva lhe afastará de seu principal objetivo: a fuga.

TREN FANTASMA – de Darío Nuñez  (Uruguai – Montevideo, 16′, ficção, horror, 2008)
Tudo transcorre em um parque de diversões, onde três jovens planejavam passar bem. Nunca imaginaram o horror que ali os esperava.

TROPEZONES – de David Macián e Eduardo Molinari (Espanha – Madrid, 06’, animação, fantasia,2009)
Ele está louco pela comida, ela morre por prazer. Um romance perfeito… enquanto tiver algo na geladeira.

VOCÊ ACREDITA EM CURUPIRA? – de Marcus Camargo (Brasil – SP, 02’13”, animação, fantasia, 2009)
Dois caçadores machões em busca do curupira seguem pistas e acabam chegando a um lugar inesperado.

VODÚ –  de Rosario Boyer (Brasil – RJ,12’ Ficção, horror,  2009)
O prefeito de uma pequena cidade procura o pai de santo José de Oxum para da um jeito nos seus inimigos, então recebe um boneco imbuído de poderes do vodu e aos poucos as pessoas selecionadas começam a morrer misteriosamente.

YOU BITCH DIE! – (Brasil – MA, ficção, horror, 2009, minidv, 02’49”)
Homenagem em forma de trailler dos filmes B (trash) dos anos 70/80.

ZOMBEER –  de Barend de Voogd e Rob van der Velden (Holanda – Amsterdam, 12’, ficção, horror, 2008)
Se você adora cerveja, talvez você não devesse trabalhar em uma cervejaria. O cervejeiro chefe Herman dá mais valor à sua pint do que à sua vida. Em uma de suas bebedeiras durante o turno de trabalho ele cai na caldeira de cerveja. Algo que causará estranhos efeitos em seus colegas, um grupo de turistas japoneses e eventualmente numa típica tradição holandesa, o dia da rainha.

ZOMBIE AND CIGARETTES –  de Rafa Martínez e Iñaki Sanromán (Espanha – Madrid, 17’30”, ficção, horror, 2009)
Xavi só queria convidar sua amada Carol para um sorvete, mas ele se encontrou em uma invasão de zumbis.

*** Mostra Internacional Não Competitiva de Longas ***

A seleção de longas-metragens internacional para a mostra não competitiva apresenta 22 filmes de 10 países. Os destaques ficam para o badalado “Colin” do Diretor Marc Price, que custou apenas US$74, “Shadowdo diretor Federico Zampaglione, que marca o renascimento do cinema italiano de horror e terá a presença do diretor na exibição, o Francês “8th Wonderland” de Nicolas Alberny e Jean, filme inédito no Brasil que ganhou 3 prêmios no Fantasia do Canadá como melhor filme internacional, prêmio do Júri e o 2º mais inovador, “Forbidden Door” ganhador de melhor filme do festival PUCHON  e o americano “Ray Bradbury’s Chrysalis” de Tony Baez Milan, baseado na história de Ray Bradbury, autor de Fahrenheit 451, o filme ganhou como Melhor Sci-fi no Festival de Phoenix.  Conheça todos os títulos:

8th Wonderland – de Nicolas Alberny e Jean Mach (França, 94’, ficção,2008)
O filme ganhou menção honrosa no festival fantástico de Bruxelas (BIFF) e ganhou 3 prêmios no Fantasia do Canadá (Melhor filme internacional, prêmio do Júri e 2º de mais inovador). O filme de ficção científica traz uma idéia não tão distante da realidade que vivemos hoje – a nação virtual.

A Magia dos fantasmas – De Marcel L’Herbier (La féerie des fantasmes, PB, 90’, França, 1975)
Antologia do filme fantástico francês de 1895 a 1975.

Black Devil Doll – De Jonathan Lewis (EUA, 73’, ficção, 2007)
Comédia politicamente incorreta, sensual e sangrenta. Conhecido como um representante do blaxploitation e também um clássico Cult, o filme tem visual anos 70 e uma história muito original. O filme ganhou nota máxima pelo maior site americano de horror, o Dread Central.

Colin – de Marc Price (Inglaterra, 2008, 97min, ficção)
Único e já um fenômeno mundial com grande cobertura de mídia, Colin é o célebre filme de zumbi de 70 dólares. Já marcou presença em festivais como Sitges e até foi exibido no glamoroso Cannes.
Colin traz à tona a força da criatividade do cinema independente mundial. A falta de recursos, nas mãos de um bom artista, se torna uma aliada na construção do filme. Foi assim no começo do cinema e mesmo hoje, com o avanço das tecnologias, a magia do cinema ainda é feita 100% de criatividade.

Evil Things – de Dominic Perez (EUA, 2009, 94min, ficção)
Horror que recorda Bruxa de Blair e novo burburinho Paranormal Activity, Evil Things é um filme de baixo orçamento que explora bem a pseudo-realidade. O filme chegou para a produção do festival com uma carta timbrada do FBI pedindo para ajudarmos na investigação de pessoas desaparecidas. Dessas pessoas desaparecidas só foi achado um vídeo, o filme. O filme cria apreensão à medida que passa, deixando o público tão vulnerável quanto o protagonista. O diretor decidiu fazer o filme depois que foi demitido do banco que trabalhava na Wall Street.
O filme gerou boas críticas e vários fãs.

La Raiz del Mal – de Adrián Cardona (Espanha, 2008, 100min, ficção)
O filme é apresentado pela mais underground das produtoras espanholas, a Imagen Death e produzido pela Eskorian Films que tem no currículo “filmes truculentos, sangrentos e selvagens” como eles mesmos anunciam.  La Raiz Del Mal é o cinema gore alternativo e maldito, com lembranças de Deodato, Fulci e Bava. Altamente NÃO recomendado para menos de 18 anos e para quem é iniciante nesse estilo de horror.

Live Evil – de Jay Woelfel (USA, 2009, 90min, ficção)
Mais um representante do cinema independente americano, Live Evil mistura vampiros, carros, cawboys e uma espada de samurai de modo único. O filme teve calorosa recepção nos vários festivais dos Estados Unidos em que participou justamente por não cair no lugar comum de um filme de vampiros. Live Evil é um filme de discussão sócio ambiental cheio de sangue, ação e mulheres.

Man from Earth – de Richard Schenkman (EUA, 2007, 87 min, ficção)
Vencedor de mais de dez prêmios em festivais fantásticos “Man From Earth” possui um enredo inteligente, curioso e cativante. Um projeto de baixo orçamento, sem efeitos especiais, uma única locação e pequeno elenco, mas que garante uma história digna da ficção científica e excelentes atuações. 

NIM – Ninguém Incomodou Mais – de Gustavo Mendonça (Argentina, 105’, documentário, 2005)
Documentário sobre a trajetória do ator mais importante do cinema de horror argentino, Narciso Ibáñez Menta. Com vários depoimentos o filme conta cronologicamente o trajeto do “Homem do Terror”. Imperdível para quem quer entender e conhecer o horror argentino.
Essa exibição é realizada em parceria com o Festival Buenos Aires Rojo Sangre (BARS)

Operação Lua – de William Karel (Opération Lune, cor, 52’ França, 2002)
20 de julho de 1969, a missão Apollo 11 aterrisa na Lua. Milhares de espectadores estão com os olhos fixados na televisão. Mas aquelas imagens, que se tornaram históricas, seriam de fato verdadeiras?

Ray Bradbury’s Chrysalis – De Tony Baez Milan  (EUA, 2008, 90min, ficção).
O filme é baseado na história de Ray Bradbury, um dos grandes nomes da ficção científica que também escreveu Fahrenheit 451, filmado por François Truffaut. O filme ganhou como Melhor Sci-fi no Festival de Phoenix.

Reel Zombies – de Mike Masters and David J. Francis (Canada, 97’, doc-ficção, 2008)
O documentário fake é uma visão divertida sobre a produção de baixo orçamento do cinema canadense. O filme ganhou vários prêmios que vão de “melhor filme” até um curioso “Melhor uso de um Zumbi”.  Reel Zombies é mais um filme original e irreverente mesmo trazendo um personagem tão reincidente dos fãs de horror.

Sick Girl – de Eben McGarr (EUA, 83min, ficção, 2007)
Violência extrema e visceral em um enredo bem elaborado e apurado esse é o filme de Eben McGarr. Sick Girl carrega muito mais que um simples desejo de chocar, ele tem conteúdo, uma opinião forte e contundente. O filme fez fãs por onde passou, ganhou prêmio de “Melhor Filme” no Fear Film Fest do Arizona e muitos elogios da crítica.

Sylvie e o Fantasma – de Claude Autant-Lara (Sylvie et le fantome, 102’, França, 1946)
Sylvie mora com seu pai, um nobre arruinado, no velho castelo ancestral. Desde criança, só pensa e fantasia a partir do quadro de Alain Francigny, que se fez assassinar aos 20 anos por uma história de amor. Seus sonhos acabam por trazer o fantasma do jovem, que passa, então, a assombrar o castelo.

Semum – de Hasan Karacadağ (Turquia, 116’, ficção, 2008)
O filme trata de uma lenda islâmica e a rotina de um casal da Turquia, duas situações pouco exploradas no cinema de horror que dão crédito ao diretor pela originalidade e pela ousadia, pois de acordo com o diretor, o real objetivo não é abordar as diferenças entre o mundo ocidental e o islâmico e sim mostrar o quão próximo essas duas culturas estão. 

Shadow – De Federico Zampaglione (Itália, 90’, ficção, 2009)
O longa marca o renascimento do cinema italiano de horror.  O seu diretor já tem sucesso e fama na Itália, pois é líder e vocalista de uma conhecida banda de pop-rock chamada “Tiromancino”. Com The Shadow, seu segundo filme, ele não só teve a aprovação do público dos festivais em que foi exibido como também dos mestres do horror italiano Dario Argento, Lamberto Bava e Ruggero Deodato que “amaram o filme” de acordo com o próprio Federico.

The Commune – de Elisabeth Fies (EUA,91’, ficção,2009)
O filme é um retorno aos clássicos do gênero da década de 70. Com narrativa e textura similares aos filmes daquela época, Elisabeth Fies constrói o horror psicológico em uma trama cheia de tensão sexual, excepcional e inteligente.  

The Forbidden Door – de Joko Anwar (Indonésia, 115’, ficção, 2009)
O sofisticado, porém violento, horror indonésio do diretor Joko Anwar vem ganhando fãs e boas criticas por onde passa. Também traz alguns prêmios como o de Melhor Filme no Festival PUCHON da Coréia do Sul, desbancando títulos como “Martyrs” e “Cold Souls”.

The Hunt For Gollun -de Chris Bouchard (Inglaterra, 38’, ficção, 2009)
Um filme audacioso feito por fãs para fãs e que revisita a mitológica obra de Tolkiens, Senhor dos Anéis. O orçamento não passou de 10 mil reais, mas a equipe contou com 160 pessoas. O filme surpreende pela alta qualidade técnica, que apesar de não ser profissional, bem que se aproxima do filme de Peter Jackson.
“The Hunt for Gollum” foi o segundo fan-film de Chris Bouchard, seu primeiro trabalho é o também bem sucedido “Star Wars – Revelations”. 

The Revenent – de D. Kerry Prior (EUA, 127’, ficção, 2009)
O filme acabou de ficar pronto e já esteve no Sitges e já ganhou prêmio de melhor filme em Las Vegas. O filme é um humor negro sobre dois amigos, um deles é um morto em putrefação que para sobreviver segue em uma cruzada em um camaro 79.

The Hideout –  de Pupi Avati (Itália, 2007, 100min, ficção)
Filme italiano de horror sobrenatural, com doses de suspense de horror espanhol.
The Hideout é o retorno de Pupi Avati ao gênero que o lançou na carreira com o filme Blood Relations (Balsamus, l’uomo di Satana, 1968) mas que ganhou notoriedade com outras temáticas.

Zone of the Dead – de Milan Konjevic e Milan Todorovic (Sérvia, 2009, 102min, ficção)
Zumbis atacando a Sérvia, esse é o tema do filme Zone of the Dead que traz um ótimo filme do gênero, cheio de referências para os fãs de zumbis se divertirem. O filme tem um ritmo influenciado pelos filmes de horror da década de 80. Ele caminha entre a linha Romero e a de John Carpenter.

***Mostra Internacional Não Competitiva de CURTAS***

Nesta mostra serão exibidos 34 curtas-metragens, distribuídos nas sessões Estranhamente Curtas, Decididamente Animados e Vinte e Poucos.  Deste total, 29 são curtas franceses obtidos por meio de uma parceria com a Cinemateca da Embaixada da França.

1. Sessão Estranhamente curtas: (10 curtas) – Vários (Animação em Cores. Duração 70’) – Classificação etária Livre.
O Beijo  (04’), Ninguém é perfeito – (15’), Stricteternum – (8’), O Corredor – (15’), Overtime –(5’), Kitchen – (15’), Linha Verde – (4’), Eclosão – (9’), Somewhere –(13’), The End – (5’)

2.  Sessão Decididamente Animados:
***Não Somos Máquinas (10 curtas) – Vários (Animação em Cores. Duração 70’) – Classificação etária Livre.
“Não Somos Máquinas”, da série Decididamente Animados, traz 11 curtas que lidam com a tecnologia e a sociedade moderna, apresentando diversificadas visões sobre esses temas. Os curtas são Desafio à Morte de Juan Pablo Zaramella (3’), A Boneca de Berni de Yann Jouette (11’), Workin’ Progressde Gabriel Garcia, Benjamin Fligans, Geordie Vandendaele, Benjamin Flinois (4’), Bob de Jean-Pierre Poirel (4’), O Processo  de Xavier De L’hermuzière e Philippe Grammaticopoulus. (8’), O Moinho de Florian Thouret (6’), O Programa do Dia de Samantha Duris e Loïc Tari (9’), Em Nada Por Baixo de Dewi Noiry (4’), Dynamo De Matthieu Goutte, Benjamin Mousquet, Fabrice Le Nezet (6’), Le Faux Pli, de François-Xavier Lepeintre, Antoine Arditti. Audrey Delpuech (6’), Tong, de David Cellier, Florent Limouzin, Arnaud Real (9’).

***Entre Cães e lobos (9 curtas)
“Entre Cães e Lobos”, da série francesa Decididamente Animados, traz 9 curtas dedicados ao reino animal. São fábulas desenvolvidas com as mais variadas técnicas, representando o alto nível do cinema de animação francês. Os curtas são Três Porquinhos  de Akanito Assumi (5’), O Lobo Branco de Pierre-Luc Granjon(8’), Ap 2000 de Loïc Bail e Aurélien Delpoux(8’), Último Grito de David Devaux (8 Min), Nascido para viver de Dimitri Cohen Tahugi e Sylvère Bastien (7’), Maravilhosamente Cinza de Geoffroy Barbel-Massin (6’),Ponpon de Fabien Drouet (5’),

Tantos cães de Stéphane Ricard (5’) e Dias de Cão de Geoffroy De Crécy (16’)

3. Vinte e poucos – Sessão com 5 curtas internacionais e inéditos que tem mais de 20 minutos de duração e não puderam participar da competitiva por esse motivo. Mas seria um desperdício não exibi-los.  Os curtas são Death Rally de Martin Bruyère (Canadá, 2009, 24min), Limoncello – Tres Historias del Oeste  de Jorge Dorado, Luis Alejandro Berdejo e Borja Cobeaga (Espanha, 2007, 22min), The Alchemist’s Book de Michael Wolf (Alemanha, 2008, 23min) e Orce de Diego Carlie e Paolo Rozzi (Itália, 2008, 26min)

 *** Mostra Nacional de Longas e Homenageado ***

O cineasta Fauzi Mansur, conhecido por seus filmes na Boca do Lixo e Fantásticos, é o grande homenageado da 4ª edição do Cine Fantasy – Festival Internacional Curta Fantástico.  Além dos filmes de Fauzi, serão exibidos na Mostra Nacional de Longas os diferentes, ousados e criativos Morgue Story – Sangue, Baiacu e quadrinhos e Lobisomen da Amazônia, respectivamente dos diretores Paulo Biscaia Filho e do mestre do Terror Brasileiro Ivan Cardoso. Confira as sinopses dos 5 filmes:

Atração Satânica – de Fauzi Mansur (Brasil/Inglaterra, 90’, ficção, 1990)
Uma bela mulher começa a praticar assassinatos em série inspirada no caso de Landru, um serial-killer francês, com a ajuda de sua capacha horrível e corcunda, levam as vítimas a beira da loucura misturando sadismo, erotismo e morbidez gótica ritualística, logo passam a ser alvo de perseguição policia devido aos excêntricos eventos. Este filme contém cenas chocantes.

Belas e Corrompidas – de Fauzi Mansur (Brasil, 108’, ficção, 1977)
Num balneário no estado do Rio de Janeiro, a radialista Fernanda apresenta seu programa com histórias de um assassino que extrai o sangue de suas vítimas, todas mulheres, para ressuscitar sua irmã morta. O que Fernanda não sabe é que sua história está realmente acontecendo, e tais assassinatos têm origem num culto de magia negra realizado há 14 anos atrás, em que um casal de crianças foi entregue ao demônio. Enquanto tem um caso com o oficial de Marinha Lionel, Fernanda continua com seu programa, e as novas mortes levam a polícia a torná-la suspeita.

Lobisomem da Amazônia – de Ivan Cardoso (Brasil, 74’, ficção, 2006)
Natasha (Danielle Winits) é uma jovem que, juntamente com dois casais amigos, decide entrar na Amazônia para participar da cerimônia do Santo Daime, em uma aldeia da região. Eles contratam o experiente Beto Careca para guiá-los, mas em seu lugar aparece Jean Pierre (Evandro Mesquita), que alega ser amigo de Beto e diz estar substituindo-o devido a um acidente. No caminho todos estão entusiasmados, mesmo com a notícia de que estranhos assassinatos têm ocorrido na região. Os crimes vêm sendo investigados pelo delegado Barreto (Tony Tornado) e pelo professor Corman (Nuno Leal Maia), zoólogo que acredita que um animal feroz matou as pessoas. O que eles não sabem é que no interior da floresta vive o dr. Moreau (Paul Naschy), um médico nazista que está escondido e realiza experimentos bizarros, que estão diretamente relacionados com os assassinatos.

Morgue Story – Sangue, Baiacu e quadrinhos – de Paulo Biscaia Filho (Brasil/Inglaterra, 90’, ficção, 1990)
Ana Argento, uma desenhista de quadrinhos de sucesso, mas frustrada com seus relacionamentos, se encontra com outros dois personagens solitários e com vidas cu riosas. Daniel Torres é um médico legista sociopata e estuprador que tem um método de crime peculiar: ele envenena suas vítimas com uma poção feita a base de baiacu. Os planos começam a dar errado quando Tom, um cataléptico vendedor de seguros de vida, acorda no necrotério.

Ritual Macabro (Ritual of Death) – de Fauzi Mansur (Brasil, 90’, ficção, 1990)
Raro e valioso livro contendo informações sobre antigos rituais indígenas de pajelança é roubado por integrantes de grupo de teatro. Eles planejam encenar uma peça baseada nos textos, mas durante os ensaios um dos atores é possuído e começa a matar os demais, enquanto seu corpo se deteriora.

*** Sessão Dark Little Tales  ***

Uma Sessão de belos curtas-metragens internacionais que trazem estética gótica/dark. Contos obscuros e premiados – até indicação ao Oscar no caso do inglês “The Sandman” de Paul Berry– que merecem ser revisitados. Confira:

Evelyn: The Cutest Evil Dead Girl – de Brad Peyton (Canadá, 8’, ficção, horror , 2002, 35mm)
Evelyn é uma história de aceitar e acreditar em si mesmo não interessando o quão diferente você seja. Nessa distorcida comédia de humor negro, uma solitária menina morta tenta matar-se de volta a vida para fazer amigos. Cansada de brincar com seus corvos mortos, Evelyn se aventura na rua pela primeira vez e tenta fazer amizade com três garotas ricas que vivem ali.

O pintor de céus – de Jorge Morais Valle(Espanha,20’, animação 3D, fantasia, 2008, digital)
Da escuridão de despenhadeiros perdidos, um pintor maluco, marcado por seu passado, e seu confiável assistente tentam achar um solução contra tormentas perpétuas. O mar está destruindo sua casa. Uma mágica caldeira e alguns fantasmas atormentados vão ajudá-los a achara luz

The Cat With Hands – de Robert Morgan (Inglaterra, 4’, ficção/stop-motion, horror , 2001, 35mm)
A história de um gato que, como diz a lenda, anseia por se tornar humano. O filme é vencedor de seis prêmios, incluindo Fantasporto, e seu diretor apresentou esse e outros trabalhos no 3º Festival Curta Fantástico.

The Listening Dead – de Phil Mucci (EUA,14’, ficção, horror, 2006, 35mm)
Nessa fábula gótica, um compositor chamado Nigel, e sua esposa costureira Karen, são assombrados pelo espírito de uma misteriosa jovem. Uma noite, sentindo-se ignorada pelo marido, Karen inconscientemente inflige a ele uma horrível maldição. Ao fazer isso, ela invoca a ira do fantasma invisível.

The Sandman – de Paul Berry (Inglaterra, 10’, animação stop-motion, horror ,1992, 35mm)
Em uma noite escura, quando o relógio atinge as oito, uma mãe manda seu filho subir e ir para a cama apenas com uma vela para iluminar. A criança está preocupada e assustada. Seria Sandman apenas um objeto de sua imaginação? Baseado no conto Der Sandman de E.T.A Hoffman e com visual expressionista, o curta-metragem de Paul Berry foi nomeado ao Oscar de melhor curta de animação.

Violeta, a Pescadora do Mar Negro – de Marc Riba & Anna Solanas(Espanha, 9’, ficção/stop-motion, fantasia, 2006, 35mm)
Violeta ama boa pescaria na escuridão profunda

*** Sessão Desafio Mestre dos Gritos ***

O mais infernal dos desafios da edição 2009 do Festival Internacional Curta Fantástico esta na Sessão Desafio Mestre dos Gritos – em que o objetivo é arrepiar os cabelos do público e fazê-los gritar. Foram selecionados nove mini curtas que vão disputar o troféu de Mestre dos Gritos. Para ganhar, o filme deve ser o mais assustador de acordo com o público, que terá uma ajuda de um apresentador especial para entrar no clima do tenebroso evento. Conheça os concorrentes:

El Espectro del Bosque  –  de Andrés Borghi (Argentina , 2’, Animação, horror,  2005, digital)

Fantasma – de Rubens Mello ( Brasil – SP, 4’, ficção, horror, 2007, digital)

Vestígios – de Beto Skubs (Brasil-SP, 5’,ficção, horror, 2008, digital)

Mamá – de Andres Muschietti (Brasil-SP, 5’, ficção, horror, 2008, digital)

Ninja Clown Monster  – de Drew Daywalt (EUA, 5’, ficção, horror,2008,digital)

Scare – de Drew Daywalt & Paul Hungerford (EUA, 5’, ficção, horror, 2008, digital)

Baby Sounds – de Paul Hungerford (EUA, 5’, ficção, horror, 2008, digital)

Vargel Geroth – de Drew Daywalt & David Schneider (EUA, 5’, ficção, horror, 2008, digital)

Bedfellows – de Drew Daywalt (EUA, 5’, ficção, horror,2008, digital)

****Atividades Paralelas, Debates, Oficinas e WorkShops****

1 – DayGore  e Debate

No dia 12 de novembro, quinta-feira, no Cine Olido será realizado o Day Gore – sessão especial para os fãs deste tipo de horror gore que costumam freqüentar a vizinha Galeria do Rock. Será um dia com exibições de curtas brasileiros e longas clássicos internacionais do gênero marginal e extremo.

No Final do evento haverá uma mesa de debate com mediação de Marcelo Carrard, jornalista, crítico de cinema, blogueiro (Mondo Paura) e o curador  do DayGore.

2 –  Workshop de Roteiro com Raphael Draccon

Nos dias 07 e 08/11 das 10h30 às 15h acontece na Biblioteca Viriato Correa o workshop de roteiro  com Raphael Draccon – escritor e roteirista que antes dos 30 anos já possui um sucesso no mundo editorial: o “Dragões de Éter” . Ele também já trabalhou como consultor da O2 para selecionar roteiros e atualmente escreve para um dos principais blogs de cultura pop do país, o Sedentário.

No workshop serão abordados conceitos de construção e estrutura de roteiros em geral e linguagem e temas especificamente fantásticos. Serão duas turmas: nível básico e avançado. Serão 20 lugares disponíveis. Mais informações e as inscrições gratuitas do email oficinas@curtafantastico.com.br.

3 – Oficina de Maquiagem com Rodrigo Aragão

A oficina de Maquiagem com Rodrigo Aragão, diretor do Mangue Negro, o mais novo sucesso brasileiro no gênero de horror que vem se destacando pelo mundo a fora, será os dias 13,14 e 15 de novembro na Biblioteca Viriato Corrêa. Rodrigo é além de diretor, um especialista em efeitos especiais, principalmente no que se diz em relação a maquiagem  cinematográfica. Os horários serão 13/11 (sexta) das 13h às 17h, Sábado (14/11)  e Domingo (15/11)  das 10h às 15h. 20 lugares disponíveis.

Serviço

CineFantasy – 4º Festival Internacional Curta Fantástico
06 a 15 de novembro em São Paulo
***entrada gratuita em todas as sessões (com exceção do Cine Olido a preço de R$1,00)

Salas
Centro Cultural Banco do Brasil – SP – Rua Álvares Penteado, 112 – (11) 3113.3651 (110 lugares)

Galeria Olido – Cine Olido – Av São João, 473 – (11) 3334.0001 (236 lugares)

Biblioteca Viriato Correa – sala Luiz Sérgio Person – Rua Sena Madureira, 298 – (11) 5573-4017 (101 lugares)

Mais informações podem ser acessadas através do website: www.cinefantasy.com.br


“O BESOURO É UM FILME DE FANTASIA, NÃO SOBRE CAPOEIRA”, DIZ DIRETOR

quinta-feira | 22 | outubro | 2009

João Daniel Tikhormiroff conta que se apaixonou por cinema ainda criança dentro das cabines de projeção, quando seu pai, Daniel Michael Tikhormiroff, era diretor da distribuidora Universal do Brasil. “Fiquei fascinado com o universo hitchcockiano”, conta ele, em entrevista exclusiva ao UOL, por telefone, direto de seu escritório no Rio de Janeiro. “Mas também aprendi muito na adolescência vendo [Ingmar] Bergman, [Federico] Fellini, [Jean-Luc] Godard, Alain Resnais e outros.”

Naturalmente, Tikhormiroff seguiu carreira no cinema. Atuou como assistente em vários filmes brasileiros, dirigiu curtas-metragens, fez um documentário e, quando estava para estrear como diretor de longas-metragens de ficção, o ex-presidente Fernando Collor extinguiu a Embrafilme. Depois de se dedicar à publicidade e viver na Espanha durante quase uma década, ele finalmente estreia na direção com “Besouro”, definido pelo próprio cineasta como “um filme de fantasia baseado nas lendas a respeito dO [lendário capoeirista] Besouro”.

Tikhormiroff diz que sua primeira inspiração foi o livro “Feijoada no Paraíso”, ficção inspirada no folclórico personagem da cultura brasileira, escrito pelo publicitário e cartunista carioca Marco Carvalho. “Claro que o livro me inspirou, mas também me atraiu a possibilidade de transformar essa história em algo original, com personalidade, nunca antes feito”, contou ele. A despeito dos esforços do cineasta, não há como afastar “Besouro” de filmes de ação, artes marciais e aventura, especialmente “O Tigre e o Dragão”, de Ang Lee.

O sucesso mundial de Lee foi, aliás, uma das referências apresentadas por Tikhormiroff à equipe e atores de “Besouro”. Na pequena Andaraí, vizinha a Igatu, na Chapada Diamantina, onde o filme foi rodado, o diretor fazia sessões com o objetivo de informar a equipe e os atores. Exibiu o faroeste “Os Indomáveis”, com Russel Crowe e Christian Bale, para exemplificar a química de amor e ódio que deve se estabelecer entre os capoeiras Besouro e Quero-Quero; “Sangue Negro”, com Daniel Day-Lewis, para mostrar como se constroi um personagem maquiavélico e também como referência de fotografia; “Kill Bill vols. 1 e 2”, de Quentin Tarantino, por conta das cenas de ação.

Entusiasmado com a repercussão antes mesmo da estreia, Tikhormiroff rejeita o rótulo de “filme popular” para “Besouro”. “Eu voltei para o Brasil motivado pela possibilidade de fazer esse filme”, disse ele. “”Queria contar essa história dessa maneira, queria falar de uma época em que aqui ainda tratavam os negros como escravos, em que a luta era tratada como dança ou jogo para driblar a legislação.”

Nas primeiras sessões feitas para amigos e conselheiros, Tikhormiroff recebeu opiniões muito encorajadoras. Segundo o diretor, Hector Babenco ficou surpreso com o risco que ele correu fazendo esse filme. Cacá Diegues, por sua vez, disse que o diretor inventou um novo gênero, por acaso muito original, com amplo apelo de público.

Não por acaso, “Besouro” entrou em cartaz no dia 30 de outubro, com 160 cópias distribuídas pelas principais capitais brasileiras. “É um sinal de que a distribuidora acredita no filme”, disse ele.
>> UOL – por Alessandro Giannini

Assista ao trailer:


‘SHERLOCK HOLMES’: NOVO TRAILER

quinta-feira | 22 | outubro | 2009

O site MovieWeb disponibilizou um trailer para TV de Sherlock Homes, nova adaptação para os cinemas estrelada pelo maior detetive do mundo. Para conferir, assita abaixo.

Dirigido por Guy Ritchie, o filme do detetive criado por Sir Arthur Conan Doyle está previsto para estrear nos EUA dia 25 de dezembro de 2009, e no dia 8 de janeiro de 2010 no Brasil.

Com produção da Warner Bros. e Village Roadshow, Holmes é interpretado por Robert Downey Jr.; Rachel McAdams vive Irene Adler, seu interesse amoroso; Mark Strong é o vilão Blackwood; e Jude Law interpreta o Dr. Watson. A ideia do projeto é mostrar um Holmes mais aventureiro e cortar certas situações maledicentes que sempre o cercaram.
>> HQ MANIACS – por Carlos Costa


‘O HOMEM DUPLO’, DE PHILIP K. DICK REUNE ANIMAÇÃO E FICÇÃO CIENTÍFICA

quinta-feira | 22 | outubro | 2009

A história, criada por Philip K. Dick, autor de “Blade Runner – O Caçador de Andróides”, considerado um dos melhores filmes de Ficção Científica de todos os tempos, fala de um tempo futuro onde uma droga chamada “Substância D” toma conta do mercado de alucinógenos e é tida como a droga mais viciante de todos os tempos.

Um agente infiltrado chamado Fred que é interpretado por Keanu Reeves é encarregado de comprar grandes quantidades da droga de uma fornecedora, interpretada por Winona Ryder com a intenção de encontrar a fonte da produção.

A animação do filme fica por conta da Rotoscopia, técnica em que a película previamente filmada por atores reais é pintada com software gráfico, como em Waking Life. Nesse caso a técnica dá  maior dramaticidade aos personagens e também dá conta de criar o clima de realidade alternativa vivenciada pelos personagens viciados e suas delirantes visões da realidade. Como já tinha dito antes na  resenha de Waking Life a tarefa de pintar quadro a quadro do filme é extremamente demorada.

O filme rodado em apenas 23 dias, levou 18 meses de pós- produção.

Mas esse tipo de animação é perfeita pra ilustrar o sentimento de paranóia dos personagens. Como Fred, que além de ter que fazer uso da droga, o agente infiltrado mantém sua identidade protegida por um traje especial que impede que alguém no escritório de polícia reconheça sua real identidade e a de seu chefe.

Dirigido por Richard Linklater, o filme de 2006 também retrata parte da vida do escritor Philip K. Dick, que vivenciou o mundo das drogas e teve muitos de seus amigos mortos por esse vício. As filhas do escritor participaram de perto da criação do roteiro para assegurar a fidelidade filme-livro.

Gostei muito dos diálogos do filme, embora os personagens estejam chapados ou até por isso é muito interessante saber o que eles pensam sobre suas vidas. Falam sobre coisas comuns em um estado alterado, vivenciam paranóias: como a de um personagem que imagina ter muitos bichos saindo de seu nariz e recobrindo seu corpo.

O filme tem clima e gosto de uma bad trip, pra que quem conhece se reconhecer e pra quem nunca fez uma viajem dessas tenha idéia do que se passa na cabeça de pessoas dependentes. A vida passa a acontecer em função da aquisição e uso do entorpecente. Nesse aspecto o filme é  bem realista. Embora o tema seja meio pesadão  é um filme muito divertido e Robert Downey Jr. faz um personagem digno de suas atuações. Aliás, a escolha dos atores foi ótima, todos eles têm na vida real um lado B com drogas e por isso mesmo conseguem passar com veracidade o estado de confusão mental dos personagens.

Como os efeitos especiais aqui são totalmente inseridos no contexto, já que tudo é desenho, fica mais crível e menos efeitos especiais, e você pode viajar na história sem ficar intrigado com a técnica usada pra criar o efeito. Isso é bom, mas não pode se sobressair à história correndo o risco de ser apenas mais um filme de efeitos especiais. Animação é tudo de bom nesse sentido.
>> ANIMAÇÃO S.A. – por Andrea Gaia


‘A HOSPEDEIRA’ ENTRA NA LISTA DOS LIVROS MAIS VENDIDOS NO BRASIL E MOSTRA O DOMÍNIO DA AUTORA DE ‘CREPUSCULO’ NA FICÇÃO

quinta-feira | 22 | outubro | 2009

Mesmo sem o casal pop Bella Swan e Edward Cullen – a dupla de “Crepúsculo” que lhe valeu a fama e 77 milhões de livros vendidos mundo afora -, Stephenie Meyer conseguiu emplacar seu novo livro entre as dez obras de ficção mais vendidas no Brasil. “A hospedeira”, lançado pela editora Intrínseca semana passada, é o primeiro voltado para o público adulto e sem os personagens da saga vampiresca, que ganha agora seu segundo filme, “Lua nova” . Com isso, a escritora ocupa seis das dez posições do ranking de vendas no país.

Em pouco mais de uma semana, “A hospedeira” já vendeu 60 mil exemplares no Brasil. No novo romance, vampiros e lobisomens dão lugar a elementos de ficção científica. A hospedeira em questão é Melanie Stryder, uma das poucas sobreviventes em um planeta dominado por invasores invisíveis, que se instalam nos corpos de humanos que tiveram suas mentes extraídas. Atacada por um destes estranhos seres, Melanie se recusa a desistir da posse da própria mente e vive em conflito com a sua “Peregrina”.

Apesar de querer fugir das comparações com “Crepúsculo”, “Eclipse”, “Lua nova” e “Amanhecer”, o ingrediente que deixou adolescentes do mundo todo viciados em suas histórias também se faz presente em “A hospedeira”. Toda a complicada trama sci-fi abre caminho para uma história de amor mais complicada ainda. Um “triângulo amoroso com apenas dois corpos”, como a própria Stephenie explica na contracapa da edição nacional.

Além de “A hospedeira”, os outros títulos na lista dos mais vendidos aparecem bem colocados, firmes e fortes no ranking há semanas: “Amanhecer” está em segundo lugar, “Lua nova”, em terceiro, seguidos de “Eclipse” e “Crepúsculo”. A publicação que completa o domínio Meyeriano sobre a lista é a edição especial de “Crepúsculo”, que saiu com um pôster do filme encartado e capa estrelada por Robert Pattinson e Kristen Stewart, Edward e Bella dos cinemas. É o nono livro mais vendido do Brasil.

Recentemente, “Crepúsculo” valeu a Stephenie uma polêmica com L. J. Smith, autora do concorrente “Diários do vampiro”, cuja adaptação para TV estreia nesta quinta no Brasil. L.J. acusou Stephenie de plagiar várias das caracteristícas que ela deu aos seus personagens sobrenaturais . Stephenie não deu ouvido às insinuações e continua investindo alto nos seus personagens.

Não é para menos: reforçando seu talento para conquistar leitores, arrebatar plateias e faturar alto, Stephenie já garantiu a adaptação cinematográfica de “A hospedeira”. Em 2011, a história chega às telas grandes pelas mão de Andrew Niccol, diretor de “O show de Truman” e “Gattaca”.
>> O GLOBO


‘ECLIPSE’: KRISTEN PROUT NO ELENCO DO TERCEIRO FILME DE ‘CREPUSCULO’

quarta-feira | 21 | outubro | 2009

Kirsten Prout Will Join Kristen Stewart to Star on 'Eclipse'

A atriz Kristen Prout é o mais novo reforço para o elenco de The Twilight Saga: Eclipse, terceiro filme da saga Crepúsculo. Ela interpretará a vampira Lucy, personagem importante do passado de Jasper e uma das responsáveis pela construção do exército de vampiros de Maria (Catalina Sandino Moreno).

Eclipse está programado para chegar aos cinemas americanos no dia 30 de junho de 2010. A direção será de David Slade, com roteiro de Melissa Rosenberg. A trama é focada na decisão que Bella (Kristen Stewart) terá de tomar entre o vampiro Edward (Robert Pattinson) e o lobisomem Jacob (Taylor Lautner). A estreia é prevista para 30 de junho de 2010. Lua Nova, segundo filme da série, tem estreia prevista para o dia 20 de novembro deste ano.

A saga Crepúsculo é originária dos livros escritos por Stephenie Meyer, seguindo o romance adolescente entre os dois jovens protagonistas, uma mortal e um vampiro.
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


‘SMALVILLE’: MICHAEL SHANKS SERÁ O GAVIÃO NEGRO

quarta-feira | 21 | outubro | 2009

No episódio “Society”, Clark e o público conhecerão mais alguns membros que fazem parte da Liga da Justiça. São eles, Hawkman, conhecido como o Gavião Negro, Senhor Destino (Doctor Fate), e Sideral/Stargirl.

Os atores já foram escolhidos. Michael Shanks, o Daniel Jackson de “Stargate SG-1”, dará vida ao Gavião Negro, sob o nome de Carter Hall; Brent Stait, de “Andromeda”, será o sr. Destino e Brittney Irvin, de ‘The Assistants”, é Sideral. Só fica faltando o Eléktron, que segundo alguns jornais, também deverá aparecer.

Gavião Negro, também chamado no Brasil de Falcão Negro, Falcão da Noite e Homem Águia, é um Príncipe do antigo Egito que teve impresso em sua mente as memórias do povo do planeta Thanagar. Assassinado, ele reencarna nos anos 40 como Carter Hall, um arqueologista. Sua esposa no antigo Egito também passa pelo mesmo processo, tornando-se a Mulher-Gavião, e, assim, sempre que ambos reencarnam, se encontram e ficam juntos.

O interessante é que Carter é pai de Hector Hall, que se tornaria o Senhor Destino, personagem de Brent Stait. Entre os poderes do Gavião Negro estão a capacidade de voar, graças ao uso de asas feita de um metal de origem alienígena, bem como força sobre humana em função de um cinto feito do mesmo metal; e ainda a capacidade de se comunicar com pássaros.

Entre os poderes do Senhor Destino está o controle de elementos naturais, abrir portais para outras dimensões, e ser imortal. Já a Sideral, é Courtney Whitmore, uma adolescente filha adotiva de Pat Dugan, o Stripesy. A jovem não se esforça muito em manter sua verdadeira identidade em segredo. Entre seus poderes está a capacidade de manipular a energia.

O episódio em que esses personagens serão introduzidos deve ir ao ar em janeiro de 2010.
>> TV SÉRIES – por Fernanda Furquim


SITE DE NOTÍCIAS EM FORMA DE QUADRINHOS É LANÇADO NO JAPÃO

quarta-feira | 21 | outubro | 2009
Manga no Shinbum

A empresa japonesa Kaba Net lançou nesta semana o primeiro site de notícias em quadrinhos, o Manga de Yomu News: Manga no Shimbun (algo como Ler Notícias em Mangá: O Jornal Mangá).

Percebendo a valorização das charges e da associação entre imagens e texto, a companhia se empenhou em informar mais pessoas e de uma maneira mais fácil e confortável. O portal se propõe a mostrar que existe um modo alternativo de se manter informado.

O site funciona como um jornal comum, publicando notícias de diversas áreas, como política, negócios, sociedade, artes, esportes, internacionais e até matérias especiais.

A equipe conta com um grupo de artistas responsáveis por desenhar todas as notícias. O editorial, também em mangá, explica como é o processo da produção e publicação dos textos. Por enquanto, o site só existe em japonês, mas já se prevê versões em inglês, francês e coreano.

Desde a sua inauguração, foram publicadas matérias sobre assuntos como os testes para um novo modelo de trem bala; uma partida de futebol; o teste de mísseis na Coréia do Norte; o Nobel da paz de Obama; e as estátuas de Gundan e Gigantor em tamanho real.
>> UNIVERSO HQ – por Vitor Mazon


‘HELL HOUSE – A CASA INFERNAL’, DE RICHARD MATHESON

quarta-feira | 21 | outubro | 2009


Para um fanático pelo horror, as palavras “Richard Matheson” e “A Casa Infernal” na capa de um livro equivalem às palavras “Whisky vinte anos” e “Grátis” na frente de um bar para um alcoólatra. Somos obrigados a parar tudo que estamos fazendo para descobrir imediatamente o que aquilo significa. “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”, então precisamos ter certeza se estamos vendo algo real ou não.

Felizmente é real. O clássico livro Hell House finalmente foi lançado no Brasil (pela editora Novo Século). Lançado nos EUA em 1971 (demorou só um pouquinho pra chegar aqui, como sempre), a obra conta a história da terceira excursão até a Mansão Belasco, a Casa Infernal. Considerada o Monte Everest das casas mal-assombradas, a mansão já foi palco de cenas dantescas de horror. Duas excursões anteriores tentaram desvendar os mistérios da casa, mas terminaram mal. Muito mal. Percebendo que sua vida está chegando ao fim, o milionário Rudolph (não é a rena de nariz vermelho) Deutsch contrata uma equipa para responder a pergunta que tortura sua mente: existe vida após a morte? Para responder tão simples questão, o velho manda quatro pessoas para passarem uma semana na Mansão Belasco, sob a promessa do pagamento de 100 mil dólares no final do experimento. Os coitad… digo, felizardos a aceitarem a missão são:

Dr. Lionel Barrel, especialista em parapsicologia. Cético e respeitável, o sujeito acredita que todos os fenômenos sobrenaturais possuem explicações lógicas e científicas (um padre Quevedo das antigas, por assim dizer); a proposta do velho Deutch é a grande chance de sua vida, pois poderá não só adquirir tranquilidade financeira, como também provar de vez por todas suas teorias.

Edith Barrel, a esposa do doutor. Frágil e não muito corajosa, a mulher preocupa-se imensamente com a saúde do marido, manco por causa da poliomielite. Sexualmente reprimida, Edith é a personagem que não entende (e por isso, teme) os fenômenos que irá presenciar. Portanto, ela representa os olhos do leitor dentro da casa infernal.

Florence Tanner, médium e ex-atriz. A bela mulher faz consultas mediúnicas e também vê como uma bela oportunidade a proposta do milionário. Recatada e crédula, Florence entra na mansão totalmente receptiva aos fenômenos ali presentes, acreditando desde o início que a casa está assombrada por espíritos. Essa atitude pode se revelar temerária, pois a deixará mais suscetível à influência nefasta do casarão.

Benjamin Fischer: considerado um dos maiores médiuns que já existiu, Fischer foi o único sobrevivente da excursão anterior à Mansão Belasco, de onde escapou por pouco. Agora uma mera sombra do que já foi, o médium aceita voltar à casa infernal pelo dinheiro envolvido, e também porque fechou sua mente para as forças psíquicas. Sua idéia é entrar na casa, morgar uma semana e depois embolsar a grana. No entanto, seu envolvimento com os outros personagens fará com que reveja suas atitudes.

Sim, a trama não parece muito diferente de outras histórias de casas mal-assombradas, como o clássico A Assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson (aguardem resenha futura). No entanto, estamos falando de um livro de Richard Matheson aqui. O grande Richard Matheson que escreveu a melhor história de vampiros de todos os tempos, chamada Eu sou a Lenda (estou falando do livro, não daquele filme porcaria que estragou tudo), além de episódios clássicos dos seriados Além da Imaginação e Star Trek. O cara escreve bem, e sua narrativa tem um ritmo perfeito: nem muito enrolado, nem muito rápido, a trama se desenrola com fluidez, revelando aos poucos os mistérios do casarão.

E que casarão! Ao contrário de outras casas do gênero, onde vemos no máximo uns vultos pelos cantos e ouvimos barulhos esquisitos, a Mansão Belasco tem a sutileza de um Cthulhu jantando com uma família de italianos. É arrepiante o momento que Edith pega um relatório sobre a casa e começa a ler os inúmeros fenômenos já observados ali dentro (“Adivinhação; alongamentos; aparições; automatismo motor; automatismo sensorial; autoscopia; batidas; bilocação…” e por aí vai). A casa não se contenta em apenas assustar ou influenciar. Se não forem tomadas as precauções necessárias, a casa mata. De fato, é a mansão mais violenta que já vi na literatura, mas não de uma forma apelativa ou exagerada, do tipo que lemos e pensamos “ah, tá”. A Mansão Belasco convence. Vejam só o que Stephen King falou sobre o livro certa vez (palavras convenientemente colocadas na contra-capa, é claro):

“Hell House é o romance sobre casas mal-assombradas mais aterrorizante que já foi escrito. Destaca-se entre outras histórias do gênero como uma montanha no meio de uma planície”.

Sim, meus caros, o livro assusta. Particularmente, acho que não assusta tanto quanto A Assombração da Casa da Colina, O Iluminado ou Horror em Amithiville (livro que Stephen King odeia), mas causa calafrios em diversas passagens, além de deixar uma sensação incômoda, que perdura.

A relação entre os personagens é bastante interessante e dinâmica, com discussões entre o Dr. Barrel e Florence Tanner, pelas diferenças filosóficas de ambos. As teorias do cientista já parecem datadas a essa altura, mas continuam coerentes e interessantes. Outras questões são levantadas durante a história, inclusive com manifestações e influências eróticas causadas pela casa, que teve um passado de devassidão e loucura.

O único ponto fraco é o desfecho, que me pareceu um tanto insatisfatório. Não é um final ruim, mas é algo que, na minha opinião, ficou aquém do restante do livro. Mas isso é meramente pessoal, e acho que a maioria das pessoas irá gostar. Que diabos, o final podia mostrar todos os personagens fazendo a dança do quadrado com os fantasmas, que isso não tiraria o brilho desse excelente romance de horror (tá bom, tá bom, eu exagerei. Mas vocês entenderam o que eu quis dizer, rs).

Enfim, Hell House é mais uma recomendação sem erro aqui da Biblioteca. Não é uma obra-prima como os livros que citei acima, mas é uma excelente entretenimento. Ah, também existe um filme baseado na obra, chamado A Casa da Noite Eterna. Ainda não vi, mas dizem que é ótimo.
Boa leitura.
>> BIBLIOTECA MAL-ASSOMBRADA – por Mario Carneiro Jr


‘FLASHFORWARD’, DE ROBERT J. SAWYER E MAIS UNS PÓS DE PIRLIMPIMPIM

segunda-feira | 19 | outubro | 2009

flashforward
A escrita e a imortalidade são uma fantástica parelha desde os primórdios da civilização.

O que é a busca da imortalidade? Em grande parte será aquilo que levou Gilgamesh a ir para lá do mundo conhecido – talvez a mera fama, talvez o colocar do seu nome em pedra, talvez o não suportar que a morte seja o derradeiro fim, talvez a recusa de que a morte possa levar irremediavelmente os que nos são mais próximos – será em boa parte também, um aceitável sucedâneo da questão, o encontrar de algo que confira apenas um efeito semelhante – no caso de Gilgamesh, uma planta que devolve a juventude (e que mesmo assim *ATENÇÃO: SPOILER ATTACK* o coitado deixa cair nas profundezas das águas ao adormecer na viagem de regresso a Uruk.

Seja como for, a busca da imortalidade é o gesto que coloca a humanidade perante o seu problema fundamental, que é o da continuidade, o do vencer da única coisa invencível (a morte), o gesto que revela e condiciona o homem ao seu centro, ou seja na sua história e na sua personalidade. O que as narrativas de GIlgamesh, sendo as mais antigas conhecidas, acabam por nos dizer e revelar, é que a imortalidade só é alcançável pela gesta e pela aposição do seu relato “em pedra” e para as gerações futuras; o carácter é a história (“character is story”, numa das suas possíveis e ricas acepções) e, dessa forma, a nossa única maneira de alcançar a imortalidade. Dai a suma importância da escrita e da literatura, visto que são as nossas únicas boas armas contra a vinda inexorável da morte.

Vem isto a propósito um pouco acerca do que serão “boas histórias”. A vida em si não as dá: os eventos podem ser excitantes, podem fazer sentido sequencialmente, mas só se tornam superlativas quando desenvolvem personagens coerentes com a sua própria humanidade e quando chegam ao fim da história transformadas e de alguma maneira mais completas. E isto só é conseguido se a história reflectir (e reflectir-se em) o caracter da personagem. E é também a razão pela qual certos livros, mesmo quando não são prodígios de efeitos especiais literários, conseguem ser boas histórias.

Ver o processo em acção é entusiasmante e intensamente satisfatório. De tal forma que, quando o conseguimos experienciar, passamos o resto da vida em busca desse efeito, sempre à sua procura no próximo livro. Por vezes demoramos anos a ler um livro, até que de repente o terminamos de uma assentada, porque descobrimos que algo ali está finalmente a funcionar como deve, e num ápice chegamos ao fim, com o couro cabeludo repuxado, um arrepio pelo corpo todo em desaceleração.

Grandes considerações e sensações para pouca coisa, confesso. Mas são estas pequenas coisas que nos alimentam por dentro. Tive-as após ler “Flashforward” de Robert J. Sawyer (1998), o livro que só indirectamente está na base da série televisiva em corrente progresso (ver link mais no fim deste texto).

O livro não está bem conseguido em todos os aspectos, mas obedece aos ditames principais atrás enunciados, o que faz com que ocasionalmente nos faça sentir agradados e maravilhados com a sua leitura, mas acima de tudo, satisfeitos não só com a sua conclusão como com o livro como um todo. Não é um grande livro, mas não só dá prazer como nos “enche” algumas das medidas.

A história só marginalmente se assemelha à da série, e quem estiver a pensar em lê-la por causa dela, encontrará algo de muito diferente. Para começar é uma história sobre cientistas e sobre ciência, e não um policial com elementos de suspense (embora também tenha um importante sub-enredo nesse género e com essas características).

Tal como irá em breve suceder (e já deveria ter acontecido), o evento central (o flashforward em que todas as pessoas no mundo vêem uma parcela de 2 minutos do futuro ou de um futuro) está relacionado com uma experiência científica real, com o ligar do LHC, ou Large Hadron Collider, o maior acelerador de partículas até hoje fabricado, e que se encontra no CERN na Suíça. Na série a explicação será relativamente diferente, não sabemos ainda em que sentido, mas para começar, há pessoas que não sucumbem ao “flashforward”, o que não sucede no livro). Mas é um evento que dá início à história e que afecta o mundo inteiro.

Sendo um livro sobre ciência, para além de recair sobre as questões fundamentais da Física de Partículas e dos mais básicos constituintes do universo (como a prova ou não da existência da Partícula de Higgs e outros teoremas e questões científicas como o Princípio da Exclusão de Pauli) debruça-se essencialmente sobre os cientistas que trabalham nessa experiência, e em como isso tem variados impactos nas suas vidas pessoais (e em que tudo se reflecte, num jogo de espelhos, com a própria história – lembrem-se o “carácter é a história”), bem como na vida e história dos seres humanos enquanto espécie.

Logo de início (tanto na série como no livro), assistimos aos preparativos, à perda de consciência de toda a humanidade, e aos efeitos globais e pessoais do que acontece. E, num movimento típico da literatura de ficção especulativa séria, de verdadeira ficção científica, leva-nos mais além, até ao questionar das consequências e ao explorar das conclusões, através da extrapolação mais do que plausível dos dados científicos actuais que dispomos, através desse fio condutor essencial que é o carácter das personagens principais. E entre as questões levantadas encontraremos as do nosso lugar no universo, da imortalidade e da sua busca, e mais importante, de como nos posicionamos perante essas questões. Coisas literárias, entregues com pinceladas de um estilo simples, suave e interessante, numa dose equilibrada de entretenimento, acção bem delineada e personagens interessantes.

Onde para mim o livro falha um pouco é, para além de algumas soluções narrativas simplistas (como a resposta à questão, se alguém com dinheiro descobrir a imortalidade, a quem deverá ela ser conferida? embora eu conceda que a resposta é coerente com o caracter da personagem que a coloca), nalguma sobredosagem de vida pessoal, ou “efeito telenovela” que acaba por ocupar a primeira metade do livro e a razão pela qual demorei 10 anos (ver nota no fim do texto) a ler os capítulos a seguir aos iniciais que descrevem os primeiros dias a seguir à “experiência/flashforward”, embora hoje tenha de conceder que até isso está bem executado, como óbvia preparação para tudo aquilo que depois o livro consegue. Algo em mim deveria ter persistido quando desanimei na leitura, mas por outro lado, não estou arrependido: a recompensa foi muito boa, e se calhar maior precisamente por temperada com este tempo de pousio. O certo é que li a última metade do volume em uma hora e meia, de olhos pregados nas páginas amarelecidas, como um adolescente esgrouviado, de olhos fixos e coração a ressoar pela caixa torácica.

Aquilo que os últimos capítulos nos dão é precioso: ciência inteligível, extrapolação, ficção, aventura, maravilhamento, ideias, jogar de conceitos estruturais, o fazer questões centrais ao que faz de nós indivíduos (e a alguns de nós, cientistas), e dar respostas através das personagens e da história, de acordo com os diversos caracteres desenvolvidos para as personagens (e que acabam por ser posições arquetipicas humanas/universais). Só digo que, no clímax da história, o meu cérebro só dizia “uááááá” como se de boca aberta e “weeeeeee” como se estivesse a viajar num desportivo de cabelo ao vento a 200 km/h. Adrenalina-lit do melhor. E os capítulos finais seguintes, assentam como uma luva, resolvendo o sub-enredo policial, as vidas das personagens, as questões científicas, etc., com calma e inteligência. Fechei pois o livro sabendo que o café onde estava seria o mesmo mas com outras cores no ar, um pouco mais brilhante, um pouco mais difuso, o mesmo mas diferente. Mais…bonito.

E se não é para isto que se lê, não sei para que será. É que, pelo menos para mim, as outras razões não são tão boas ou importantes como esta. Mas cada um saberá de si.
>> INNER SPACE – por Nuno

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Mais sobre Flashforward:

Uma das “previsões” engraçadas do livro, para além do “ligar” do LHC, é que, passando-se a acção em 2009, o papa é Bento XVI! (mas isto é só um factóide inodoro, que surge só de passagem – e sim, algumas questões religiosas são afloradas, embora sucinta e exemplarmente).

O livro ganhou o prémio Aurora, atribuído à melhor obra de ficção especulativa Canadiana e (um excerto) ganhou o UPC espanhol, esse leviatã pecuniário que hoje oferece uns apetecíveis 7500 euritos no seu todo…

Link da secção do site do autor onde podem encontrar várias informações e extracto da obra, entrevistas, vídeos, etc.

Link para o site oficial da série


ROTEIROS ELABORADOS APROXIMAM QUADRINHOS DO CINEMA

segunda-feira | 19 | outubro | 2009

Tintin e Milou - HergéÁlvaro de Moya indica em seu livro “História da História em Quadrinhos” (87) que Rudolph Töpffer publicou em 1827 uma das primeiras obras em um novo estilo que foi chamado de  “literatura em estampas”. Contava detalhes da vida de um tal M. Vieux-Bois e era tão densa que até mesmo Goethe lia aos poucos para “não ter uma indigestão de idéias”.

Esta data não passa de uma convenção já que contar histórias com imagens é uma das mais eficientes formas de comunicação e existe há muito tempo. Críticos da área afirmam que as primeiras Histórias em Quadrinhos (HQ), foram “publicadas” quando homens da antiguidade decidiram contar histórias pintando nas paredes das cavernas.

A fascinação do homem por relatos ilustrados está presente em todas as grandes civilizações que desejaram representar a fúria da natureza, narrar as façanhas de seus heróis, esclarecer suas lendas, descrever o poder de seus deuses, a riqueza de seus países, a beleza de suas mulheres ou a proeminência de seus monarcas. É por isso que o ser humano vem usando monumentos, tetos, paredes, painéis, telas, livros e, por que não, as histórias em quadrinhos.

Disney só usa movimentos horizontais e verticais Disney só usa movimentos horizontais e verticais 

Sempre que se menciona a expressão HQ, a maioria das pessoas imediatamente pensa em Mickey, Pato Donald, Príncipe Valente, Batman, Super-Homem, Homem Aranha, Capitão América, Hulk, Capitão Marvel, Namor, Gavião Negro, Flash ou qualquer outro “super” de uma interminável sucessão de super-heróis do sexo masculino que pode deixar a Mulher Maravilha envergonhada ou uma feminista de plantão pronta para fazer um discurso. E quem lembra do belga Hergé, que produzia Tintim? E do francês Moebius? E brasileiros como Maurício de Souza (com suas criações como a Mônica e o Cebolinha), Lourenço Mutarelli, Mike Deodato, Roger Cruz, Fábio Laguna, Falex, Gian Danton e Flávio Colin?

E, como tudo, as HQ amadureceram. Evoluíram para um conceito diferenciado daquele ao qual muitos nós estão acostumados. Claro que a maioria das “revistinhas” ainda é produzida para crianças, com um Tio Patinhas ainda sovina, com o Donald tentando escapar do trabalho, Mickey corajoso e aventureiro, Cebolinha trocando o “r” pelo “l”  e um Hulk que a cada edição tem mais músculos e menos cérebro. Mas há já alguns anos surgiu um formato que ganhou um nome diferente: Graphic Novel (GN).

Mudou o conceito, o tipo e a profundidade dos temas, a concepção dos roteiros, a arte e o público, pois é produzida para adultos. A princípio meras adaptações de obras clássicas como Moby Dick, ou A Queda da Casa de Usher, cada vez mais foram sendo baseadas em roteiros especificamente concebidos para uma apresentação ilustrada e serializada em volumes que Will Eisner, um dos maiores expoentes da área, chama de Arte Seqüencial.

O uso do termo “Arte” para referir-se às HQ ou GN é sempre muito discutido. O mesmo acontece quando a discussão recai sobre outra dúvida: este tipo de manifestação pode ser considerado literatura? Independente dos debates, existe a idéia de que as GN atuais, estão cada vez mais próximas do cinema. Com uma concepção fundeada na linguagem visual dos filmes contemporâneos (ágil, entrecortada, rápida, às vezes confusa), a interação entre roteiro (literatura?) e desenhos (arte?) é cada vez mais profunda e intrincada.

Hergé (TinTim) raramente usa ação para o fundo do quadro Hergé (TinTim) raramente usa ação para o fundo do quadro 

Quando a linguagem ficou mais complexa e as páginas mais detalhadas, buscando um impacto emocional mais forte nos leitores, além dos movimentos básicos dos personagens e da ação dentro dos quadros e painéis de forma bidimensional (horizontal e vertical – eixos X e Y), foram introduzidos o movimento do ponto de vista do leitor, baseado, claro, nos movimentos das câmeras de cinema (traveling, panorâmica, zoom, plongé, contra-plongé), nas variações de planos (geral, médio, americano, detalhe, etc.), nos enquadramentos, nas transições de cenas para cenas, de painel para painel e de quadro para quadro.

Mais importante e revolucionário, foi a inclusão da movimentação de personagens e da ação de forma tridimensional, ou seja, ao longo de um novo eixo, Z, que faz com que, visualmente, um personagem possa tanto afastar-se do leitor “para o fundo” da página, em direção ao cenário, quanto vir no sentido do leitor, aproximando-se, muitas vezes extrapolando os próprios limites dos quadros e das páginas. Ocorre aqui, claro, um envolvimento muito maior do leitor na narrativa.

Nas grandes produtoras de HQ e GN dificilmente o escritor do roteiro e o artista que vai ilustrar a obra têm contato direto. Muitas vezes residem até em países diferentes. Para suprir esta falta de comunicação, e como os escritores estavam fartos de ver suas obras ilustradas de forma diferente da que haviam concebido, passaram a produzir histórias cada vez mais detalhadas. Foi o passo definitivo que uniu a Arte Seqüencial e o Cinema pela base: o roteiro.

Abriram-se então imensas possibilidades que enriqueceram muito o processo criativo e tornaram as histórias, visual e narrativamente, muito mais ágeis. E isto, claro, acaba tornando muito mais simples a adaptação de uma HQ para o cinema. O mais recente filho desta união que alguns puristas vêm como espúria, é o filme “Do Inferno” (From Hell), baseado na GN com roteiro de Alan Moore e arte de Eddie Campbell. Publicado em 16 edições mensais, pode ser encontrado em um calhamaço de quase 600 páginas.

Moore (From Hell) exercita a mudança do ponto de vista Moore (From Hell) exercita a mudança do ponto de vista 

A obra de Moore / Campbell dá uma nova versão para os assassinatos cometidos em Londres por Jack o Estripador. Envolve a família real, a polícia e várias sociedades secretas. É uma “saladona”, que propicia uma refeição um pouco indigesta, mas muito saborosa. Acabou se tornando um verdadeiro compêndio de simbolismo. A versão integral tem 108 páginas de apêndices que explicam em detalhes, às vezes quadro a quadro, as fontes das pesquisas, as evidências policiais e as criações de Moore. Por exemplo, lendo o relatório da autópsia de uma das vítimas de Jack e conversando com um médico legista, o escritor reproduziu com (terríveis) detalhes a cena da morte.

Três dos fortes exemplos de que os roteiristas estão cada vez mais sendo valorizados na produção das GN são a coleção “Spirit” e mais uma dezena de volumes que constitui a obra de Will Eisner, “Do Inferno” escrito por Moore e “Sandman” com dezenas de edições mensais e escrito ao longo de 9 anos por Neil Gaiman (reunido em coleção com 10 volumes). Conclusão: não adianta mais as páginas “só” serem atraentes. Elas precisam de conteúdo. Precisam divertir, instruir, entreter, assustar e maravilhar o leitor.

Escritores oriundos da televisão e do cinema contribuem de forma efetiva para a força desta tendência e, mesmo roteiristas renomados como Katsuhiro Otomo, J. Michael Straczynski, Frank Miller, Moebius e Quino, estão cada vez mais adotando esta técnica.

Ainda são poucos os roteiristas brasileiros que escrevem GN/HQ de forma profissional e nenhum tem projeção internacional, ao contrário dos ilustradores que, como Cruz, são recebidos como celebridades pelos aficionados em Nova Iorque, Boston ou Detroit. Mesmo assim, prêmios como o HQ MIX, já têm sido dados para roteiristas como Flávio Colin e Gian Danton.

Straczynski (Rising Stars) usa com freqüência o recurso Straczynski (Rising Stars) usa com freqüência o recurso 

Tamanha valorização do roteirista fica evidente pelo número de livros publicados no sentido de orientar a melhor forma de se conceber, planejar e escrever um roteiro para GN. Uma das bíblias é o livro, ainda sem título em português, “The DC Comics Guide to Writing Comics” de Dennis O’Neill. O autor trabalhou em todas as funções nas maiores editoras de GN e atingiu sucesso na sede da “DC Comics”, o templo americano dos quadrinhos.

Em uma linguagem simples, O’Neill explica o que esperam os leitores de Graphic Novels: “Eles querem que você os faça rir. Chorar. Aponte o lugar deles ao Sol. Faça com que possam experimentar outro corpo. Mostre lugares que nunca visitaram e leve-os para os confins do espaço e do tempo. Nomeie seus demônios e ajude-os a confrontá-los. Demonstre possibilidades que eles não imaginaram e apresente-os a heróis que vão lhes dar esperança e coragem. Alivie a tristeza e aumente sua alegria. Ensine a compaixão. Entretenha. Ilumine. Conte uma história.”

Impossível não concordar com O’Neil. Não é exatamente isto que todos procuramos quando abrimos a primeira página de um livro?
>> PARÁGRAFO – por Fabio Marchioro


‘PROMESSAS DE AMOR A DESCONHECIDOS ENQUANTO ESPERO O FIM DO MUNDO’: UMA FÁBULA SOBRE MEDO

segunda-feira | 19 | outubro | 2009


“O ambiente é marcado por um clima instável, com enchentes, pequenas nevadas, ciclones e grandes variações na temperatura. No campo político, um novo governo pratica uma espécie de ditadura não assumida, mantendo a ordem através de altos impostos e de uma força policial fortemente armada que atua de maneira brutal. Nesse contexto, um grupo de jovens – escondendo seu rosto atrás de máscaras e atuando sob o mesmo nome – descontentes com a situação do ambiente à sua volta, planeja pequenos atos de desobediência civil. Ainda que atuando de forma pacífica, em um destes atos algo acontece de forma imprevista, causando a explosão de uma bomba. Enquanto tentam provar sua inocência e justificar suas ações, o fim parece estar cada vez mais próximo.”

 

A descrição acima foi feita pelo próprio autor e se refere à sua cidade natal, Florianópolis, em um futuro próximo, no qual se passa seu projeto de história em quadrinhos. Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo é o nome deste projeto, de autoria de Pedro Franz, 26 anos. Programada como uma série em 12 capítulos, com tamanho variando entre 12 e 16 páginas cada um, a HQ havia sido publicamente anunciada no dia 12 de abril deste ano, quando o quadrinista inaugurou o blog Notas sobre o fim por onde ele pretende publicar o material na íntegra, deixando-o disponível para download gratuito em arquivos em .pdf. O primeiro deles, surgiu no início de julho e o segundo no final de setembro. Além disso, ele abriu um fórum para discutir a obra e suas influências com sua audiência: “O objetivo deste espaço é aprofundar uma investigação que relacione teoria e prática e funcionar como ferramenta de relação entre autor e público” escreveu no blog. “Além de utilizá-lo para apresentar o projeto – ou seja, a história em quadrinhos – pretendo postar textos sobre a produção da obra, imagens, esboços, novidades, autores que me influenciaram.”

A série atual não é a primeira experiência de Franz com os quadrinhos. Entre 2002 e 2003 ele produziu duas edições de um zine chamado Café com Leite, mas como me disse em uma conversa num bar da cidade onde se passa sua história atual, não era algo sério ou pretensioso. Naquela mesma época, também foi convidado a participar de uma mostra de quadrinhos ligada ao Salão de Humor de Piracicaba, mas com proposta diferente daquela ligada ao título do famoso evento do interior de São Paulo: os trabalhos expostos não eram humorísticos. Então veio uma pausa nessa breve relação com o meio. Em um intervalo de meia década, ele morou por dois anos na capital da Argentina; recobrou o interesse pelas historietas; descobriu publicações daquele país, como a Fierro; e quando retornou ao Brasil e a seu curso acadêmico, na UFSC, apresentou como trabalho de conclusão do curso de design uma monografia ligada ao tema. “A quarta dimensão do trabalho de Breccia” acabou sendo agraciado, agora em 2009, com o troféu HQ Mix – mais importante prêmio dedicado ao quadrinho nacional. Nesse TCC, Franz procurou fazer a ponte entre HQs, design e arte ao analisar a obra do uruguaio Alberto Breccia (1919-93), o artista que mais admira neste meio. Outros autores que ele cita como possíveis influências são o argentino José Muñoz e o japonês Taiyo Matsumoto.

Com esse retorno, Franz começou a processar as ideias que dariam origem à Promessas… vamos abreviar aqui o título quilométrico. Aliás, o gosto por longos títulos parece ser uma característica do autor, que também cursou Artes Plásticas, pois um outro projeto de HQ, paralelo, leva o nome de Uma casa construída com cascas de ovos. Apesar de ter mais páginas concluídas que o atual, o próprio quadrinista reconhece que esse ainda vai demorar mais a aparecer. “Mas é um trabalho bonito, eu acho.” Retornemos às promessas e ao fim do mundo. Vamos falar das páginas, as originais, que o autor trouxe para mostrar naquele bar, na rua que leva o nome do pintor Victor Meirelles (1832-1903), antes do anúncio do prêmio HQ Mix deste ano. A primeira surpresa possível, em se tratando de alguém que escolheu o meio digital para divulgar sua obra, é o método de trabalho do autor. Franz optou por utilizar a forma mais tradicional para produzir sua HQ: nanquim, pincel e papel.

As folhas A2 que ele exibe sobre a mesa na noite mais gelada do ano em Florianópolis foram ilustradas exatamente como fariam os quadrinistas que o inspiraram, em um mundo anterior ao das webcomics. Franz esboça a lápis e depois cobre os desenhos com a tinta negra, criando contrastes, dando a ilusão de volume, áreas de luz e sombras. Ele prevê na arte os espaços para os balões, com a fala dos personagens, e mesmo o letreiramento é feito à mão, e inserido mais tarde quando entram em ação os softwares. O InDesign ajuda no momento da diagramação. Já o Photoshop corrige a perda de contraste que às vezes ocorre com o escaneamento das imagens e é usado para aplicar o cinza, tomando o lugar das antigas retículas, material que não é tão fácil para ser encontrado pelos quadrinistas do século XXI quanto era pelos profissionais do século anterior. O processo é lento, como não poderia deixar de ser. Já houve momentos em que ele, que procura trabalhar na série todos os dias, passou duas horas dedicado a um único quadrinho.

Tudo é feito do modo mais tradicional possível até porque Promessas… foi pensada, planejada e está sendo executada como uma obra a ser impressa, publicada de modo clássico. “A Internet surge por necessidade”, ele comenta, apesar de que, com o tempo, essa mídia tenha revelado novas possibilidades a serem exploradas. Até por sugestão de um editor com quem conversou, o catarinense concordou que o melhor modo de tornar seu trabalho conhecido era a divulgação pela rede. Se existe algum lugar em que um autor iniciante pode contar com uma edição impressa de seu primeiro trabalho de fôlego, com aproximadamente 200 páginas, este não é o Brasil. Então, o catarinense escolheu esta forma para divulgar e distribuir por partes sua série, tendo a consciência de que vivemos uma nova realidade, com licença livre, ou seja, adotando o esquema copyleft. Já há um site que, no lugar de fazer um link ao blog de Franz, criou novo arquivo e deixou disponível o primeiro capítulo em seu próprio domínio, uma espécie de pirataria consentida. “Tu perde o controle daquilo”, reconhece. “Quero que pirateiem muito mais, que imprimam, xeroquem”.

Ele calcula que nas primeiras semanas de exposição do primeiro capítulo, uma média de 20 pessoas baixou o arquivo diariamente. Esta acabou se revelando uma possibilidade de democratizar o acesso à obra, ainda que a leitura no computador não seja a ideal. Afinal, ao contrário de outras mídias, como a música, em que, em última análise, não há perda na transposição para um meio digital, os quadrinhos clássicos ainda contam como um bastião do paradigma de Walter Benjamim: as páginas ainda conservam uma certa “aura” e assim vai ser, até o momento em que se encontre o modo de garantir a reprodutilibilidade técnica perfeita na tela de um leitor eletrônico portátil. Até lá, o papel e as HQs ainda vão manter seu casamento secular. Para facilitar essa materialização futura, Promessas… foi composta em preto e branco e sua dúzia de capítulos podem ser agrupados em três álbuns.

Uma amostra do que os leitores podem esperar já está disponível na rede. Pedro Franz diz que pensou em um conceito-chave para elaborar esta sua obra: o “medo”. Isso está presente desde o primeiro post naquele seu blog, quando ele esboçou o que viria a ser a série:


“Autotomia é o nome dado à capacidade que alguns animais possuem de se auto-mutilar em situações de perigo como estratégia de sobrevivência. Deixar algo morrer para preservar a vida. Diante da necessidade de enfrentar um perigo, lutar ou fugir, funciona como um mecanismo de defesa para se sobreviver. Partindo destes conceitos, Promessas de amor a desconhecidos enquanto espero o fim do mundo é uma fábula sobre o “medo” funcionando como crítica à moral burguesa e à intolerância contada em formato de Peter Pan pós-moderno”.

Assim como a Internet surgiu para facilitar e difundir – e está servindo para promover um rico debate sobre os quadrinhos contemporâneos na seção de comentários do blog – a ambientação futurista veio para dar mais liberdade ao autor. A característica típica de ficção científica é para permitir ao artista falar do presente usando o subterfúgio de se referir ao futuro. Ele mesmo escreveu que, em um primeiro momento, pensou em criar cenários mais elaborados, com pontes destruídas, a Ilha isolada, novas formas de governo e de autoritarismo naquele ambiente ficcional. Mas preferiu apenas potencializar o que já vê nos dias de hoje de modo a analisar as ações e reações provocadas por aquele sentimento – o medo – como ele é capaz de mover as pessoas e o que pode gerar em resposta. Um modo, com algum afastamento brechtiano, de estudar temas como terrorismo, pirataria, repressão política e policial em um cenário ao mesmo tempo conhecido e estranho, particular e universal.

Ainda é cedo para falar sobre Promessas… como uma obra integral e se ela vai ser capaz de amarrar todos os instigantes pontos que se propõe a abordar. Os primeiros capítulos, que estão disponíveis para todos lerem e julgarem, abrem com uma abordagem bem intimista, como um painel das impressões coletivas dos diversos personagens, vários pontos de vista compondo um plano geral. A arte me lembrou, de fato, o trabalho de um dos quadrinistas relacionados pelo autor, Taiyo Matsumoto: o mangá underground Preto e Branco, publicado no Brasil pela Conrad. Mas me lembrou bem mais, na construção dos personagens, o brasileiro Lourenço Mutarelli que, pelo menos conscientemente, não faz parte daquela lista já citada por Franz. Quanto aos conceitos, em um primeiro momento me fez pensar mais em material anglo-saxão que em obras latino-americanas: como DMZ – também conhecida como ZDM, de zona desmilitarizada, no Brasil – do americano Brian Wood, e Invisíveis, a série mais autoral do britânico Grant Morrison. Vou aguardar os próximos 10 capítulos da obra deste já premiado autor para ver como se desenvolve este futuro alternativo e distópico de Florianópolis.
>> OVERMUNDO – por Romeu Martins

CAPA2


ANTONIO LUIZ M.C. COSTA EM ENTREVISTA PARA A REVISTA SAMIZDAT

segunda-feira | 19 | outubro | 2009

Antonio Luiz Melo Coelho da Costa, colunista e editor da revista CartaCapital, autor de dezenas de contos de Fantasia e Ficção Científica (um deles já publicado aqui conosco, na SAMIZDAT 21 – Mistério e Suspense), dono de várias comunidades no orkut relacionadas à chamada Ficção Especulativa – Fantasia, FC, Horror, História Alternativa, e, adicionalmente, idiomas imaginários… – concedeu-nos esta excelente entrevista, falando sobre um dentre tantos assuntos que domina: a literatura.

SAMIZDAT – O Brasil sempre teve um papel secundário (ou terciário) no cenário de Ficção Científica e Fantasia mundial. A que se deve este fenômeno?
ANTONIO LUIZ M.C. COSTA – Bom, no que se refere à FC contemporânea, fora EUA, Canadá, Reino Unido, Japão, Rússia e (mais recentemente) China, todos os países são secundários, salvo por um ou outro autor isolado de estatura internacional (como, por exemplo, Stanislav Lem na Polônia e Valerio Evangelisti na Itália). Mas bem que o Brasil podia ser menos secundário do que é.
A literatura de fantasia, no sentido mais geral do termo, tem uma difusão mais ampla e nela não acho que o Brasil esteja tão mal. Mas vou deixar para falar disso na pergunta seguinte e tratar primeiro da FC.
Uma parte do problema é antiga e estrutural – o caráter agrário e dependente do País até a primeira metade do século XX, que criou uma elite bacharelesca e conservadora, míope em relação ao futuro e que menosprezava a ciência e tecnologia. Na era JK começamos a superar essa herança, a nos ver como o “País do Futuro” e a produzir alguma ficção científica de razoável qualidade para a época, a chamada Primeira Onda, que incluiu escritores respeitados nos meios literários.
Mas então veio o golpe militar e a ditadura envenenou a cultura em vários aspectos, inclusive a ficção científica. De um lado, veio a ênfase tecnocrática na formação de profissionais científicos e tecnológicos por atacado e a toque de caixa, em colégios e faculdades particulares com pouco ou nenhum interesse em formação humanista. De outro, a censura do debate político, a perseguição de intelectuais e a desconfiança em relação às ciências humanas, vistas como viveiro de subversivos.
De um lado, se formaram engenheiros, cientistas e técnicos sem gosto por debate de idéias nem por literatura, que até curtem a ficção científica como espetáculo, no cinema e nos seriados de tevê, mas não têm paciência para abrir um livro nem para especular sobre o futuro com seriedade. De outro, letrados, historiadores e cientistas sociais que desprezam a ficção científica como fuga da realidade, alienação em relação aos problemas políticos e sociais do Brasil e propaganda do imperialismo. Até porque o que mais se publicava e lia no gênero eram os clássicos da Golden Age estadunidense, muitos dos quais (“Tropas Estelares” é o exemplo mais óbvio) de fato promoviam valores militaristas e imperialistas – enquanto a ficção científica mais contestadora da New Age, disposta a falar de sexo, drogas, política e outros tabus (Ursula K. Le Guin, Philip K. Dick etc.) foi pouco editada e conhecida.
O resultado foi uma longa seca de edições de ficção científica, tanto nacionais quanto traduzidas, que se prolongou por mais de uma década após o fim da ditadura e até o início do novo século. Quem gostava de ler não gostava de FC e vice-versa, salvo tais ou quais exceções. Ora, a verdadeira FC criativa – aquela que faz valer mais a especulação inovadora do que a ação e efeitos especiais – vive da intersecção e do diálogo das duas culturas, a humanista e a científica. O escritor e o leitor precisam ser pessoas que gostam de literatura, interessadas no destino humano e ao mesmo tempo no progresso da ciência e em suas possíveis conseqüências para o espírito e para a sociedade.
Para que um público como esse exista, é preciso uma formação mais equilibrada e, de preferência, democrática – pois a democracia incentiva o confronto de idéias, inclusive idéias estranhas. Por mais que se reclame do ensino no Brasil, me parece que a educação dos anos 90 em diante conseguiu abrir para o diálogo entre culturas uma parte da geração mais nova, aquela que nasceu nos últimos anos da ditadura e cresceu na democracia, pois dela vem vindo uma enxurrada de textos novos, primeiro na internet e depois também em papel – e, mais recentemente, também editoras. Como de costume, grande parte é lixo, mas muita coisa vai durar.

SAMIZDAT – E como você percebe o papel da produção atual no Brasil nestes gêneros? Existem obras e autores de destaque, comparáveis ao que tem sido feito no exterior?
Na ficção científica, estamos recomeçando depois de uma longa crise, mas eu diria que há autores que se comparam bem ao que tem sido produzido lá fora. Se houvesse um público e um mercado que lhes permitisse dedicar-se em tempo integral à literatura, como existe nos EUA e Reino Unido, e se desenvolver plenamente como escritores, acredito que estariam à altura da melhor produção desses países. Com o risco de cometer injustiças, cito alguns exemplos: Gerson Lodi-Ribeiro, Fábio Fernandes e Carlos Orsi, entre os que começaram a carreira ainda na “Idade das Trevas” e Cristina Lasaitis, Osíris Reis e Saint-Clair Stockler entre os iniciantes.
Na fantasia, como eu ia dizendo na pergunta anterior, a história é outra. O Brasil, como outros países da América Latina, tem uma forte tradição de temas folclóricos e fantásticos na literatura, presente na obra de seus maiores escritores e nunca totalmente interrompida: podemos citar Machado de Assis, Mário de Andrade, Monteiro Lobato, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Murilo Rubião e José J. Veiga, e há outros menos conhecidos. Assim como muitos grandes escritores europeus e norte-americanos oscilaram entre a fantasia e o realismo e as vezes ficaram mais para lá do que para cá – Maupassant, Gogol, Kafka, Stevenson, Melville, Poe, Flaubert, Swift e Shakespeare, só para citar os primeiros que me ocorrem. É questão de reconhecer a presença do fantástico em nossa tradição, mais do que de pedir por mais. Será que na França tem algum grande romance mais fantástico do que Macunaíma? Pensando em qualidade intrínseca e ousadia, não em livros vendidos ou grau de modernidade, será Harry Potter superior ao Sítio do Picapau Amarelo? Eu não acho.
Temos também uma razoável produção no campo do terror. Na minha opinião, Martha Argel e Giulia Moon, por exemplo, não ficam nada a dever a Anne Rice.
O que o Brasil de fato não tem é tradição em Alta Fantasia, gênero que começou a ser inventado na Inglaterra vitoriana, mas permaneceu mais ou menos na obscuridade até os anos 60, quando Tolkien virou moda nos EUA e foi reinterpretado no espírito da New Wave e da New Age, originando um novo respeito pelo mito e pela construção de mundos totalmente imaginários. Nesse campo, praticamente só temos imitadores, a maioria dos quais sequer compreendeu o que tenta imitar e se limita a reciclar superficialmente temas e clichês. Ainda não há nada que valha a pena ser mencionado em termos de Alta Fantasia nacional, nem surgiu alguém disposto a imaginar o novo e não apenas mais uma variante do que já foi feito lá fora.

SAMIZDAT: Habitualmente, os escritores de Fantasia costumam se inspirar, quase parasitariamente, nos autores e na mitologia anglo-saxã. Existe público para universos de fantasia tipicamente brasileiros, que traga elementos da mitologia, da fauna, flora, da História e dos comportamentos nossos?
Existir, claro que existe. O Roberto Causo, por exemplo, tem escrito uma série de histórias, A Saga de Tajarê, já com duas novelas, em um mundo de fantasia amazônico e a Michelle Klautau fez um crossover entre o mundo dos mitos europeus e o do folclore brasileiro em A Lendária Hy-Brasil, uma ideia que poderia ser mais explorada. No gênero infanto-juvenil, há montes de livros baseados no folclore e na história do Brasil, que continuam a tradição de Monteiro Lobato e têm boa aceitação.
Claro que quem faz fantasia tolkieniana pode ficar tranqüilo quanto a que, seu trabalho, mesmo que seja ruim, vai ser entendido por quem joga D&D ou viu O Senhor dos Anéis no cinema. Mas, em termos de Alta Fantasia, ninguém vai sair da mediocridade enquanto não tentar algo diferente de fazer decalques da Terra Média. É preciso arriscar mais e descobrir maneiras novas de apresentar um mundo diferente do já visto.
Mas me entendam bem, acho um passo importante os aspirantes a escritores de Alta Fantasia brasileiros se livrarem da camisa-de-força do modelo tolkieniano e de seus reis, princesas, águias, lobos, magos, elfos e orcs. Mas não se trata de pedir-lhes que escrevam sobre índios, escravos negros, onças, uirapurus, sacis, iaras e mulas-sem-cabeça. O importante é liberar a imaginação. Que inventem mundos baseados na imaginação asteca, grega, japonesa, indiana ou chinesa, se quiserem, mas que queiram criar com sinceridade.
Agora, o que os imitadores da ficção anglo-saxã não conseguem evitar, querendo ou não, é que os personagens tenham comportamentos “brasileiros”. É muito engraçado: seja em um palácio real, uma aldeia élfica ou uma escola de magos, os personagens de qualquer idade e meio social falam, se comportam e reagem como jovens brasileiros de classe média em torno de uma mesa de RPG do século XXI, ou como personagens da Globo. Há uma atração pelo superficialmente fantasioso e exótico, mas também um tremendo provincianismo quanto às formas de pensar e sentir. Eles não entendem que a maneira dos integrantes de uma família real medieval, digamos, se relacionarem entre si, tratarem com outras famílias e conduzir suas rotinas era completamente diferente das pessoas de hoje e os põe a falar como a família rica da novela das oito.

SAMIZDAT – Quais são os temas que motivam a sua escrita ficcional? É importante que a ficção defenda uma tese?
Um dos temas mais presentes em minhas histórias é a de transformação coletiva. Frequentemente, minhas histórias se situam um momento historicamente significativo para seus cenários imaginários, o momento de um progresso importante ou de uma grande reviravolta social, política ou cultural. Os personagens podem ter ou não consciência do que está acontecendo, mas seus atos estão relacionados a isso, como causa ou como efeito. Outro tema comum, que pode se combinar ou não ao primeiro, é o do sincretismo cultural, geralmente na forma de personagens que conhecem outros de uma cultura ou mesmo espécie diferente com o qual aprendem coisas novas ou desenvolvem um relacionamento próximo. Claro que também figuram, por vezes, casos de encontros destrutivos, mas acho os construtivos bem mais interessantes de explorar.
Quanto a “defender uma tese”, a ficção sempre faz isso, quer o autor saiba disso, quer não. Quem pensa que está fazendo uma ficção “neutra” defende as ideias recebidas e lugares-comuns de seu tempo na medida em que os reproduz sem críticas. Um escritor de folhetins do século XIX, por exemplo, podia pensar que estava apenas ganhando seu pão, mas aos nossos olhos é óbvio que estava, por exemplo, defendendo a submissão feminina ao descrever frágeis heroínas à mercê da luta entre um vilão repulsivo e um herói galante.
Um inconformista, por outro lado, geralmente está consciente de que tem ideias diferentes da maioria e de sua vontade de propagá-las, sejam elas conservadoras ou progressistas – mas comete um grande erro se faz isso de maneira grosseira, pintando como monstros ou idiotas aqueles que pensam de maneira diferente (como, por exemplo, o reacionário C. S. Lewis), ou subordina a trama a pregações tediosas na narrativa ou na boca dos heróis. Em ficção, as ideias são muito mais eficazes se expressas de maneira sutil e divertida.

SAMIZDAT – No mercado editorial brasileiro, Fantasia e FC ocupam um espaço muito restrito. Isto se deve a algum tipo de estreiteza de horizontes das editoras, ou o leitor brasileiro simplesmente não está acostumado a ler tais gêneros? Existe alguma maneira para driblar esta barreira e se consolidar como autor neste segmento?
Há tanto leitores que reclamam que as editoras não lançam coisas novas (eu sou um deles) quanto editoras que reclamam que esses gêneros não vendem. Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Desconfio que o ovo: é difícil vender um lançamento novo porque as editoras não querem cultivar esse mercado, embora briguem de foice para publicar uma obra estrangeiro de fantasia ou FC depois que se torna best-seller ou é adaptada para o cinema (Michael Crichton, J. K. Rowling, Tolkien, Philip K. Dick etc.).
Por outro lado, já ouvi os editores da Aleph se queixarem de que os livros de ficção científica mais “inovadores” que vêm publicando – e “inovador” pode significar da década de 80, como Valis ou mesmo de 1969, como A Mão Esquerda da Escuridão! – estão encalhando, enquanto a Fundação e O Fim da Eternidade de Asimov (anos 50) e Laranja Mecânica de Burguess (1962) vendem relativamente bem. É preciso explicar o conservadorismo também por parte dos leitores. Talvez esse público, que não lê ficção em inglês, só conheça obras já antigas que leram há muito tempo, encontraram em sebos ou foram recomendados pelos mais velhos e por isso só saibam falar, pessoalmente ou na internet, sobre esses “clássicos”. Quando alguma editora arrisca lançar algo mais novo, é bem possível que deixem de comprar por nunca ter ouvido falar e não querer arriscar. Que na hora de presentear um amigo, ou mesmo de escolher algo para ler, prefiram mesm algo que já ouviram falar que todo mundo (do seu círculo) gosta. Que faltem leitores ousados, desbravadores do desconhecido.
Mesmo assim, acho uma aberração por parte da Aleph priorizar o relançamento do Asimov dos anos 50 e deixar de publicar livros que fizeram época nos anos 90 e 2000, como The Difference Engine, Hyperion e Perdido Street Station – ou mesmo os últimos (e para mim mais interessantes) livros de Asimov, os dos anos 80. Será que todo o público leitor da ficção científica virou um reduto conservador e saudosista, apegado ao futuro que seus avós imaginaram e com medo de pensar coisas novas? Não posso crer, deve ter algo de errado nesse raciocínio. Se for verdade, melhor esquecer a FC e dedicar-se à fantasia ou à literatura mainstream. Prefiro pensar que a Aleph está escolhendo os livros errados ou não sabe promovê-los (por exemplo, as capas, em geral, não sugerem que se trata de FC).
Infelizmente, não tenho uma receita mágica para driblar o círculo vicioso. O mais que posso é fazer minha parte, dando preferência a resenhar e recomendar as boas obras novas que surgem no mercado.

SAMIZDAT – Na sua opinião, ficção de gênero e literatura mainstream são realmente distintas? É possível, academicamente, encontrar valor literário em obras enquadradas (por fãs, por editor…) em algum gênero, como Fantasia ou FC?
São distintas na medida em que têm prioridades diferentes. O chamado mainstream (que não é necessariamente ficção “realista”) busca a expressão criativa, a fantasia e a FC enfatizam a especulação criativa. Em geral, quem julgar a ficção especulativa pelos critérios da ficção mainstream vai achá-la aborrecida de má qualidade, e vice-versa – salvo umas poucas obras que conseguem brilhar razoavelmente nos dois aspectos como, digamos, Admirável Mundo Novo. Claro que é preciso um mínimo de técnica e valor literário para se escrever um livro de ficção especulativa decente, mas ela deve servir à especulação, não o contrário. Então, minha resposta seria: é possível encontrar valor nesses gêneros, mas em geral não o mesmo que se busca na chamada grande literatura. É preciso outra maneira de os ler e analisar que não o enfoque do acadêmico tradicional, estudante de letras, mas a do estudioso da cultura e da ideologia, algo mais próximo daquilo que os anglo-saxões chamam Cultural Studies.

SAMIZDAT – Na comunidade do orkut “Escritores – Teoria Literária”, foi criado um tópico com a seguinte pergunta: “HQ é Literatura?”. A discussão foi acalorada, mas manteve-se dentro do aceitável. As coisas realmente partiram para “um outro nível de discussão” quando alguém argumentou que Watchmen consta em uma lista da revista TIME, de 2005: “TIME critics Lev Grossman and Richard Lacayo 100 best English-language novels from 1923 to the present”. (http://www.time.com/time/2005/100books/the_complete_list.html)
Para você, HQ pode ser considerado literatura, ou, como se diz, trata-se de uma forma de arte autônoma – a chamada Nona Arte? Qual é o valor, como argumento, de uma lista de “os cem melhores” como a que foi citada?

Watchmen não devia estar nessa lista. Não se pode avaliar o texto de uma história em quadrinhos com os critérios com que se avalia um romance, nem pelos que servem para avaliar uma pintura ou gravura. Assim como também não se pode avaliar um roteiro de cinema por quaisquer desses critérios. . São formas de arte diferentes. Assim como não se pode avaliar uma canção dançante de Gilberto Gil pelos critérios com que se avalia uma sinfonia de Villa-Lobos ou um poema de Camões.
Se Watchmen fosse um dos 100 melhores romances em inglês desde 1923, haveria de ser a melhor obra de arte do século XX, talvez de todos os tempos… pois, em Watchmen, o texto é apenas um elemento da obra, que depende mais da combinação eficaz de texto e imagem do que de qualquer desses aspectos separados. Claro que não é assim. Watchmen é uma das melhores graphic novels já feitas, mas o texto, separado da imagem, é pobre em relação a qualquer romance mediano. Não comparemos laranjas com bananas.

SAMIZDAT – Desde há muito línguas artificiais são pensadas. Algumas chegaram a ganhar certa relevância, como o Esperanto, enquanto que outras ficam restritas aos seus criadores ou pequenos grupos de discussão. Qual sua experiência pessoal com o desenvolvimento de idiomas?
Eu inventei um idioma de maneira mais completa, o “senzar”, e alguns outros de maneira mais fragmentária como parte do cenário de um romance de fantasia ainda não publicado, sem a pretensão de que o senzar ou qualquer outro deles seja usado por mais alguém. Meu principal objetivo era que nomes de lugares e personagens soassem diferentes de línguas conhecidas, para criar a sensação de um mundo realmente exótico, mas sem que os nomes parecessem absurdos ou incoerentes. Assim, personagens da mesma etnia têm nomes de estrutura semelhante e característica, diferente de personagens de outras etnias. Ao mesmo tempo, à medida que eu tinha de inventar palavras e conceitos, me ajudou a ter em mente que ideias e comportamentos não deviam ser necessariamente semelhantes a qualquer cultura conhecida, mas deviam ter coerência entre si.
É um recurso que exige algum conhecimento de linguística e muito gosto pela coisa. Pessoalmente, fiquei satisfeito com o resultado. Sempre achei um tanto ridículo que nomes de personagens de um mundo imaginário inventado por um brasileiro tenham nomes anglo-americanos. Também não me parece apropriado que os personagens de um mundo de fantasia tenham nomes brasileiros, a menos que o cenário um Brasil futuro ou paralelo, que não era o caso desse romance.
Claro, quem trabalha um mundo baseado na Inglaterra medieval deve usar nomes ingleses. Mas quase nunca é o caso – e mesmo que fosse, nem todos os nomes usados no inglês moderno serviriam. Parece-me igualmente ruim misturar ao acaso nomes de diferentes origens e culturas – isso só faz sentido em uma grande cidade cosmopolita ou em um cenário futurista. Acho importante estar atento a essas minúcias, pois, no fim das contas, um mundo literário é feito apenas de palavras. 

SAMIZDAT – Uma vez que as línguas sejam fenômenos sócio-culturais, é válida a criação de novos idiomas sem que esses estejam assentados sobre um contexto cultural previamente desenvolvido?
Para uso artístico ou ficcional, bem válido. Para uso prático, eu não desencorajaria quem queira tentar, mas é obviamente difícil que um idioma artificial se torne amplamente usado, a menos que isso seja imposto por um Estado – ou uma organização global, no caso de um idioma universal. Por uma questão de justiça, eu preferiria ver um governo mundial usar um idioma artificial neutro a usar o mandarim, o inglês ou o português.

SAMIZDAT – É possível esperar que as línguas artificiais deixem de ser vistas essencialmente como passatempo ou ferramenta auxiliar para a escrita de ficção científica e passem a ser reconhecidas formas de expressão artística?
Não acho que criar línguas para expressão artística fora de um contexto literário ou cinematográfico tenha muito futuro. Creio que Tolkien fez mais ou menos isso, inventou as línguas élficas por puro prazer estético. Mas se não escrevesse um romance no qual pudessem ser citadas, só ele – e, talvez, um ou outro colega filólogo – as teria apreciado como arte. Claro que há formas de arte ainda mais estranhas e difíceis de entender e que fazem sucesso em bienais e galerias, mas eu não apostaria nisso.

SAMIZDAT – Um pouco de história alternativa: como você imagina o Brasil, em termos linguísticos, caso o Marquês de Pombal não tivesse proibido a utilização da lingua geral?
Poderíamos ter o nheengatu falado nas ruas e aprendido nas escolas ao lado do português, assim como o Paraguai usa e ensina o guarani junto com o castelhano. Não faria necessariamente muita diferença em questões políticas e sociais – o Paraguai é um país tão injusto quanto o nosso – mas poderíamos ter uma identidade nacional mais marcada (justamente o que Pombal queria evitar), mais respeito pela cultura indígena e mais afinidade com outros países sul-americanos, ou pelo menos com a Bolívia, Paraguai e Argentina, onde línguas da família tupi são faladas.
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>> REVISTA SAMIZDAT – Coordenação da entrevista: Volmar Camargo Junior – Perguntas propostas por: Caio de Oliveira, Carlos Alberto Barros, Henry Alfred Bugalho, Volmar C. Junior.


STEAMPUNK: ENGRENAGENS APARENTES

domingo | 18 | outubro | 2009

 

Uma espécie de nova Revolução Industrial chega ao Brasil e atrai interesse internacional. Chamada ao gosto do freguês de modismo, tendência, hype, cultura, manifesto, tribo urbana, estilo entre outras classificações a verdade é que o steampunk conquista adeptos, ganha forças na Internet, em eventos públicos e até na literatura e nos quadrinhos, como uma vertente da ficção científica. Pelo nome e pelo parentesco com a FC mesmo quem nunca ouviu falar – ou que não tenha ligado o termo à realidade prática – deve imaginar que exista semelhança estética ou filosófica com o cyberpunk, tão popular que praticamente é sinônimo do gênero como um todo para muita gente que consumiu livros, filmes, HQs e jogos de RPG nos últimos vinte anos. De fato, a semelhança é real, se o foco de uma é especular sobre a cibernética em um futuro próximo, a da outra é imaginar tecnologias possíveis, geralmente movidas a vapor (steam, em inglês), com direito a molas, engrenagens e alavancas, no século retrasado, uma espécie de retrofuturismo. Mas vamos por partes.

Para começar, um bom ponto para conhecer este mundo é o site do Conselho Steampunk, endereço que tem o objetivo manifesto de divulgar, explicar, inspirar, homenagear e produzir cultura dentro deste gênero na forma que for: nas artes, nas vestimentas, em joias, na tecnologia. “Para tanto os idealizadores lançaram mão de conceitos sofisticados que garantissem a possibilidade de qualquer um, em qualquer lugar, independente do poder aquisitivo, idade ou qualquer outro entrave costumeiro, se visse impossibilitado de fruir a cultura Steampunk do seu jeito e sem a necessidade de aderir a qualquer organização burocrática ou centralizadora”, garante o texto de apresentação do projeto criado pelo empresário Bruno Accioly. O conceito que tem apenas dois anos já se difundiu por quatro estados que também criaram suas representações regionais – São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais – denominadas no jargão do Conselho de Lojas, em uma citação explícita a certa Sociedade Secreta, algo que chamou a atenção de um visitante ilustre.

“Lojas. Como lojas maçônicas? Rapaz, isto é terrivelmente século XIX.” Quem fez o comentário foi um escritor fundamental para se entender tanto o punk cibernético quanto o a vapor: Bruce Sterling, autor do romance Piratas de dados e organizador da coletânea Mirrorshades, o homem que ao lado de Willian Gibson – de Neuromancer – criou os paradigmas do cyberpunk em meados dos anos 80. O comentário saiu no dia 20 de julho, no blog que o autor americano mantém no site da Wired, a revista mais respeitada em termos de cultura tecnológica. Foi, na verdade, o segundo post em que ele falou sobre a iniciativa brasileira. Dois dias antes ele havia descoberto a página do Conselho Steampunk e brincara com a ideia, batizando o conceito de “bossa steampunk”. Na outra oportunidade, Sterling divulgou uma mensagem enviada por Bruno Accioly, dando conta das atividades do grupo no Brasil, que não se restringem a discussões virtuais, pois a Loja São Paulo, por exemplo, já organizou dois encontros em que os participantes, vestidos como nossos antepassados do século retrasado, passearam em trens a vapor naquele estado. Esta postagem, o blogueiro encerrou com a frase: “O mundo é um lugar vasto e maravilhoso, damas e cavalheiros.”

Não é um apoio qualquer que as damas e os cavalheiros do Conselho Steampunk atraíram. Como já disse, Bruce Sterling é um dos criadores da parte literária do movimento cyberpunk, mas ele e seu parceiro Willian Gibson também têm muito a ver com o steampunk como subgênero da FC. Ambos, a quatro mãos, escreveram em 1990 a obra mais representativa do início desta nova vertente. É bem verdade que já existiam livros anteriores apontando para algumas das características que seriam aprofundadas mais tarde, escritos por autores como Tim Powers e K. W. Jeter – que, aliás, foi quem cunhou o termo, três anos antes, em uma troca de cartas – mas é praticamente um consenso por parte da crítica que The Difference Engine foi o marco inicial do estilo steamer. No romance, a hipótese de partida é que o cientista e matemático inglês Charles Babbage (1791-1871) teria construído uma máquina (que chegou mesmo a projetar): o primeiro computador do mundo, baseado apenas em peças mecânicas. A invenção dá um impulso muito maior ao Império Britânico, que vivia o auge do período Vitoriano, ou seja, o tempo em que a Rainha Vitória esteve no poder, de 1837 a 1901.

Muitas das convenções do gênero estavam ali, reunidas. O período histórico definido, a tecnologia capaz de mudar tudo o que conhecemos, e até mesmo a utilização de figuras reais e apropriações de criações literárias estão presentes naquele livro. Este último item é uma tentação e tanto a todos os que se aventuram a seguir os passos de Sterling e Gibson, pois as obras escritas naqueles tempos, como os romances e os personagens mais famosos dos pais da Ficção Científica, Jules Verne, H. G. Wells, por exemplo, estão em domínio público, disponíveis para quem desejar reinterpretá-los. O uso mais radical desta característica steampunk foi feito não na literatura, mas nos quadrinhos, com a série de álbuns de A Liga Extraordinária (iniciada em 1999), do inglês Alan Moore, uma combinação de praticamente tudo o que o século XIX tem a oferecer em termos de ficção fantástica ou aventureira. Boa parte do fascínio que o gênero evoca atualmente tem como origem tais HQs escritas por Moore e ilustradas por Kevin O’Neill, que podem ter dado origem a um filme desastroso, mas continuam sendo fonte inesgotável de ideias a cada novo lançamento no papel.

Porém, quando eu escrevi que o assunto tomou a Internet não me referia apenas ao diálogo entre o Conselho Steampunk e o blog de Bruce Sterling. O tema também ganhou outros espaços na rede recentemente. Um bom exemplo é o post que a escritora e historiadora Ana Cristina Rodrigues publicou em um de seus blogs no dia 16 de julho. “Ficção a vapor” é o que chamei de verdadeira aula sobre steampunk. Com muito mais propriedade que eu neste espaço e com uma riqueza de detalhes bem maior, ela analisou todo o contexto sobre o qual acabo de escrever e teceu algumas considerações sobre o cenário nacional nesta área. Cito trechos:

Agora, é de se admirar que um país que nos deu o Barão de Mauá, Augusto Zaluar, D. Pedro II, Santos Dummont… não tenha produzido obras a vapor suficientemente interessantes. Poxa, nosso imperador provavelmente foi o governante mais steampunk de sua época. Seu interesse por gadgets, ciências e novidades era/é notório.

Até esse ano, aconteceram algumas tateadas. Gerson Lodi-Ribeiro, Carlos Orsi Martinho e Octavio Aragão tangenciaram o gênero – os dois primeiros em contos, o último em seu romance, A mão que cria. Mas talvez a primeira obra consciente e declaradamente steampunk do Brasil sejam os quadrinhos de Expresso! de Alexandre Lancaster. O piloto da série foi publicado em um projeto online de curta duração, mas a saga continua, já que novas HQ’s estão previstas e um conto sobre o protagonista vai entrar na primeira coletânea nacional do gênero.

Outro escritor e crítico de Ficção Científica também tratou desta pauta foi Antonio Luiz M. C. Costa. Ele publicou um longo artigo na coluna que mantém no site da revista em que trabalha a CartaCapital. Datada do dia 11 de agosto, “Steampunk, saudade ou rebeldia?” é outra contribuição para o debate, que igualmente detalhou o histórico do gênero e ponderou sobre a situação em nosso país. Citando novamente:

É sempre bom fugir um pouco do famoso slogan de Margaret Thatcher e Francis Fukuyama, o TINA, There Is No Alternative – “Não há alternativa (ao status quo neoliberal dos anos 80 e 90)” e considerar como as coisas poderiam ser diferentes. O curioso é que, neste caso, trata-se geralmente de uma alternativa, em muitos aspectos, bem semelhante à realidade atual, com o Império Britânico e os financistas da City no papel dos EUA e de Wall Street.

Pode reforçar a ideia de que as roupas e maneiras podem mudar, mas a essência da sociedade foi e sempre será a mesma. Como também pode funcionar como alegoria ou caricatura de problemas atuais e mostrar o que têm de histórico e contingente, como dependem de desenvolvimentos específicos e podem vir a ser superados. É um campo no qual concepções opostas podem se expressar em um ambiente fantástico e de sabor nostálgico, mas ainda assim com uma relação bem clara com a realidade social, política e ambiental do século XXI.

O pleno desenvolvimento dessas possibilidades no Brasil depende, porém, de que o Steampunk não seja apenas consumido como moda ou como decoração de animês e aventuras hollywoodianas. Para ser criativo, precisa ser produzido e discutido como um subgênero literário e associado ao ponto de vista brasileiro ou à história (real e imaginada) de nosso país. Por enquanto, conta-se apenas com a recém-lançada antologia de contos Steampunk, da Tarja (R$ 39, 184 páginas), que inclui uma colaboração do autor desta coluna. Uma segunda antologia, a ser intitulada Vaporpunk, está sendo organizada pelo escritor Gerson Lodi-Ribeiro e é esperada para breve. Teremos então uma boa ideia de como se imagina, em terras tropicais, essa história paralela.

Os dois fizeram referência ao mesmo livro ao final de seus textos, uma coletânea chamada Steampunk – Histórias de um passado extraordinário. O livro foi lançado em São Paulo no último final de semana de julho e também participo dele com um dos nove textos. Curiosamente, apesar de não ter sido um pedido expresso da editora, a maioria dos contos longos publicados no livro tratam, sim, de aspectos históricos do Brasil e usam personagens locais entre os principais destaques de suas tramas, alguns deles citados por Ana Cristina. Neste blog, em um mesmo post podemos ler duas resenhas da obra que também ganhou destaque em um respeitado blog português dedicado ao autor Jules Verne, e ainda no endereço de um dos maiores resenhistas de literatura fantástica, Larry Nolen, entre outros endereços da rede que repercutiram o lançamento. Alguns desses endereços foram reunidos por mim em um blog que criei para me ajudar a planejar a noveleta escrita para a coletânea.

E de fato ainda há mais por vir. Uma coletânea binacional, com escritores brasileiros e portugueses, está sendo organizada neste momento, com uma visão bem menos purista do gênero mas que pretende ser ainda mais focada na história destes dois países. Um romance também pode ser lançado em breve, chamado de Baronato de Shoah, de autoria de José Roberto Vieira. Fora do terreno da literatura, os quadrinhos também devem apresentar novidades com influência steampunk. Outro romance está em andamento, escrito por Pablo Frazão, e publicado aos poucos em seu site, O Chapeleiro Louco. O trabalho de Alexandre Lancaster com Expresso!, sua série inspirada nos mangás, pode ser acompanhado na página que o autor mantém no site DeviantART. Também inspirados nos quadrinhos japoneses, Douglas MCT e Ulisses Perez lançarão pela editora NewPop uma série com o nome Hansel&Gretel. O escritor Tibor Moricz já anunciou seu terceiro livro, chamado O Peregrino, que contém muitos elementos do gênero. Por último, mas não menos importante, no site dedicado a webcomics da DC, o Zuda Comics, é um brasileiro, Igor Noronha, quem desenha a HQ Sidewise que mostra as aventuras de um adolescente deslocado no tempo para um período vitoriano alternativo.

Certamente, essas e outras manifestações do steampunk serão tema de um evento que vai ocorrer no fim de novembro em São Paulo, a Fantástica Jornada Noite Adentro, que será dedicada ao gênero e que deve ser o maior ponto de encontro dos aficionados brasileiros.

Como se vê, a agitação em torno da cultura steampunk no Brasil é grande, a ponto de chamar a atenção em outros países e dar ao leitor várias opções para participar ou ao menos experimentar esta nova versão da Revolução Industrial. O carvão queima e as engrenagens se movimentam. Boa viagem.
>> CIDADE PHANTASTICA – por Romeu Martins


O GÊNIO DESCONHECIDO DE ALAN TURING

domingo | 18 | outubro | 2009

Talvez nenhuma ciência recente ilustre tão bem aquela frase famosa de Isaac Newton – quando ele disse ter feito o que fez porque estava apoiado nos ombros de gigantes – quanto a informática. Quem não estudou as entranhas técnicas da TI nem faz ideia de quantos pequenos avanços, incorporações de teorias de outras áreas, repentinas evoluções e personagens fascinantes ela é feita. Um dia vou reunir toda esta informação (que está disponível por aí) e compilar em um livro – digital, claro.

Por enquanto falemos de Alan Turing (1912-54), cuja genialidade só se equipara a tragédia do fim de sua vida. Condenado por ser homossexual na Inglaterra pós-Segunda Guerra e submetido a um brutal tratamento com hormônios femininos (que, dentre outros efeitos colaterais, gerou o crescimento anormal de suas glândulas mamárias), decidiu pelo suicídio comendo uma maçã embebida em cianureto aos 41 anos de idade – alguns consideram sua morte acidental. Recentemente, uma petição online que buscava o perdão oficial do governo britânico a Turing e sua família conseguiu que o primeiro-ministro Gordon Brown reconhecesse o absurdo tratamento dispensado a uma das mentes mais importantes do século XX.

Alan Turing foi aluno de Wittgenstein (embora dizer que Wittgenstein tenha sido professor é quase uma licença poética) e, posso estar enganado, mas um dos poucos pupilos que o desafiaram. Matemático, interessou-se por computação quando ela mal havia nascido; ele formalizou a ideia do algoritmo computacional (ou seja, como instruir um computador a fazer o que deve ser feito) e ainda investigou a possibilidade da inteligência artificial ao criar o teste que levaria seu nome. Nosso mundo altamente tecnológico e baseado em computadores simplesmente não existiria sem Turing e VonNeumman. Explicar a contribuição de VonNeumann é mais complicado: digamos que ele criou a estrutura que permitiu que a ideia do algoritmo possa ser implementada. E mais: a partir deles, a ideia de uma máquina programável, maleável, capaz de realizar qualquer função desde que instruída formalmente para isso, saía das pranchetas de Charles Babbage (1791-1871) para o mundo real.

Turing demonstraria o poder dos computadores de forma dramática e decisiva: durante o ano de 1944, em um projeto secreto do governo britânico, ele participou (embora, ao contrário da crença geral, não a tenha liderado) da equipe que criou o Colossus, o primeiro computador digital programável. A missão da máquina era decrifrar os códigos gerados pelo Enigma, o criptografador de mensagens nazista. A empreitada foi um sucesso; entretanto, nenhum dos membros do time recebeu o merecido tratamento de um herói de guerra – graças a natureza confidencial do projeto. Turing acabou hostilizado por ser homossexual, humilhado publicamente e impedido de voltar a lecionar. Condenado pela mesma lei que já havia enquadrado o dândi Oscar Wilde, optou pela castração química no lugar da prisão.

Talvez ele jamais tenha imaginado que a máquina que ele ajudou a inventar seria o veículo usado para conseguir um tardio perdão por um ato que jamais deveria ter havido.
>> UNIVERSO TANGENTE – por Marcelo Lopes


JORGE LUIS BORGES: A POSTULAÇÃO DA REALIDADE

domingo | 18 | outubro | 2009

Escrever (criar qualquer obra de arte narrativa) é selecionar, reduzir, filtrar, escolher o pouco que precisa ser dito, o muito que basta ser sugerido, e o incalculável que deve ser deixado de fora. Em seu artigo de 1931 “A postulação da realidade” (em Discussão), Jorge Luís Borges examina e cita trechos de algumas narrativas clássicas, tentando descobrir como estes autores conseguem transmitir, com economia de meios, a impressão de um ambiente complexo ou de uma história mais ampla.

Borges define (e exemplifica) os três procedimentos que considera mais importantes (e que viria a aplicar em sua obra literária posterior). O primeiro consiste em “uma notificação geral dos fatos que importam”. Este é o que ele menos comenta, e eu o glosaria assim: sabemos mais da história que contamos do que o leitor, e precisamos fornecer a este um mínimo de informações para que a história possa ser fruída por ele, aproveitando cada parágrafo, cada frase nova que o autor lhe fornece. Seja um romance de ficção científica, de crise conjugal, de cangaço, de infância feliz, de aventuras marítimas, sempre há uma porção de coisas sobre as quais ele precisa ter certeza, para poder assimilar o resto. Saber o quanto dizer ao leitor é um desafio ao qual o autor não pode fugir.

O segundo procedimento é “imaginar uma realidade mais complexa do que a declarada ao leitor, e referir suas derivações e efeitos”. Este vem para suprir as lacunas inevitáveis do primeiro. Suponhamos uma história sertaneja, entre vaqueiros, nos confins do fim do mundo. Aquilo podia estar ocorrendo em 1920, mas na terceira página o personagem ergue os olhos e vê um avião cruzando o céu. Isto ambienta a história num nicho de tempo mais nítido, mais demarcado, e ao mesmo tempo sugere todo o restante de um mundo que fica fora daquela história. Pode ser algo mais indireto, como quando Borges num conto mostra um cara chegando numa casa e diz: “Uma mulher cansada abriu por fim a porta”. Entende-se, com este “por fim”, que o cara ficou algum tempo batendo e chamando.

O terceiro procedimento é parente próximo deste, e consiste em exercer “a invenção circunstancial”. Mostrar um pequeno detalhe não-essencial mas que pela surpresa de sua aparição, e pela vividez com que é apresentado, torna mais real o contexto que o recebe. Borges se refere a “uma casa rosada que em outros tempos havia sido carmesim”, indicando sua antiguidade. Ao descrever outra casa, situada num descampado, diz (em “O Morto” e também em “O Congresso”) que “o primeiro sol e o último a golpeiam”. Detalhes assim correm o risco de incorrer em clichês, o que é previsto por ele em “O encontro”, quando o narrador entra numa sala onde homens bebem e jogam baralho: “Era evidente que todos estavam bêbados. Não sei se havia no chão duas ou três garrafas para lá jogadas ou se o abuso do cinema me sugere essa falsa recordação”. Pequenos detalhes que tornam mais verossímil o irreal.
>> MUNDO FANTASMO – por Bráulio Tavares


INVENÇÃO NA LITERATURA – A IMAGINAÇÃO É O REINO DO LEITOR

sábado | 17 | outubro | 2009

livros

Este é um tema crucial na Arte em geral. O da invenção artística. Fala-se da capacidade de surpreender e de acrescentar algo às nossas vidas, como escritores e como leitores. Falo da Arte e isso engloba as várias manifestações criativas, as da literatura e das artes plásticas, a da música, cinema, teatro ou de outras expressões nas quais um indivíduo ou indivíduos criam e executam algo proposto como criativo, inventado como expressão artística, com maior ou menor talento. Isso diz respeito à autoria, mas creio que diga respeito fundamentalmente ao observador da obra de arte, ao leitor da obra escrita, ou seja – o público será a parcela, provavelmente, mais importante do fenômeno cultural.

Essa minha convicção espelha os meus sentimentos como escritor e como artista plástico, na forma como vejo a obra criada e o seu reflexo, infinitamente maior e mais consistente, na recepção e na interpretação pelo público.

Vamos falar da Literatura. O grande Jorge Luis Borges afirmava que “ler é a outra espécie da felicidade”. E Gaston Bachelard, instado sobre a existência ou não do Paraíso, aquiesceu dizendo que o imaginava como uma formidável e estupenda biblioteca. A promessa da epifania e do prazer da descoberta, recorrente e eterno, na leitura dos livros.

Em ambas as afirmações, significativamente está a expectativa dos dois, no papel de leitores, pelas surpresas das invenções escritas por outros.

Em Literatura pode-se inventar formalmente ou em conteúdo. Existe constantemente a busca de maneiras diversas de se expressar, de maneira coloquial, com estilos lapidados e modificados, com transgressões de pontuação, com a criação de novas palavras, com coletas de documentos, anexação de imagens, fac-simíles, estruturas gráficas ousadas, propostas de reestruturação estética ou com a revelação de uma narrativa de conteúdo original.

Recentemente Ferreira Gullar, em um artigo sobre os poetas neo-concretistas da década sessenta no Brasil, escreveu acerca de suas dúvidas frente a um manifesto da época, que impunha que a poesia nova e contemporânea deveria ser feita segundo umas determinadas equações matemáticas. Ferreira Gullar refutou o preceito e pediu aos poetas que lhe enviassem esses novos poemas matemáticos. O que nunca aconteceu.

Esse fato, de uma invenção proposta teoricamente, que não se concretizou, chama a atenção para duas situações almagamadas: não basta uma proposta inusitada e pretensamente original, é necessário antes concretizá-la (e vai aí muito trabalho, muita atividade árdua para a realização da idéia inicial) e a felicidade de realizá-la com talento.

Poder-se-ia imaginar, por exemplo – formalmente – um romance de umas trezentas e poucas páginas, que começasse com uma maiúscula e seguisse numa linha só, descritivo e com diálogos, ao longo de todo entrecho, pontuado com virgulas e parênteses, terminando centenas de milhares de palavras depois, com apenas um ponto final.Talvez até já se tenha escrito algo assim, mas não se tornou algo conhecido e admirado por muitos. A pergunta que alguém faria… e o conteúdo?

Talvez seja essa a surpresa de imaginação, a originalidade da invenção estruturada no ato de escrever, a que nos seja a mais importante, a experiência mais funda e radical – a do conteúdo literário. O romance Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa é o farol bem sucedido dessa experiência profunda. É evidente que ela pode vir revestida de outras inovações formais, é bom e é saudável que seja também assim. Júlio Cortázar e Ignácio de Loyola Brandão transitaram com desenvoltura nessas lindas experimentações, mas a originalidade das suas invenções esteve sempre estruturada na originalidade da idéia literária, no seu conteúdo literário e na qualidade da sua escrita.

Nesse caminho da invenção, há um outro requisito importante. O do conhecimento. Para se ser verdadeiramente original e inventivo, talvez seja necessário antes de tudo ser curioso, ler muito e bem, investigar e pesquisar, a partir de suas próprias vivências e das vivências escritas de outros. É bastante importante que se saiba o que já se fez, o que se faz, como se fez e o que se está fazendo. Para não se inventar o que já se inventou, por exemplo.

O ler muito será, sem dúvida, uma exigência, agradável, ao bom e criativo escritor. O que nos remete àquela afirmação de Borges, a da leitura como a outra espécie de felicidade, o que já traz em si uma promessa cativante. Ler muito nunca será uma demasia.

Aqui gostaria de traçar dois paralelos com as artes plásticas. O do paradigma e o da consonância ao seu próprio tempo.

É difícil ser verdadeiramente inventivo sem deixar de ser paradigmático. O artista é paradigmático quando os outros se fazem parecidos a ele e não ao revés. É impossível ser inventivo quando a obra de algum artista se parece a de algum outro.

Certa ocasião, frente à pintura de um importante artista, testemunhei uma pergunta de Bertrand Lorquin, filósofo, escritor e conservador-chefe do Musée Maillol, de Paris, ao interloculor que lhe apresentava a obra. “Esse artista gostava muito da obra de De Köoning, não é mesmo”? A pergunta continha duas armadilhas. A resposta positiva denunciaria a influência, talvez excessiva, do artista europeu sobre o seu seguidor, o que retirava parte da originalidade da obra apresentada.

Negativa, demonstraria uma ignorância do pintor sobre um dos artistas modernos mais importantes no circuito internacional. Obviamente que o artista, bem informado conhecia bastante bem aquela obra-fonte que o influenciava, o que automaticamente o colocava numa posição de não-paradigmático. O que resultou num interesse menor por parte dos europeus que consideraram não existir naquela obra apresentada uma originalidade singular e sim algo que trazia elementos reconhecíveis e identificados com outro artista, este sim a semente daquela linguagem.

A invenção está algo ligada ao paradigma.

Foi áspero (e impactante) para Picasso ser cubista em 1907, com “Demoiselles d’Avignon” (“As Senhoritas do Carrer Avignó – Barcelona), então de difícil e de demorado reconhecimento… mas realizar pintura cubista hoje, convenhamos, um século depois, é bastante fora de sintonia com o seu próprio tempo e algo sem interesse para qualquer um aficcionado em arte. É também algo estéril fazer hoje uma obra de arte à maneira de Marcel Duchamp, artista este sim, inventivo, único e paradigmático, de quem se diz, com propriedade, que a obra, seminal e revolucionária, começa com ele e termina com ele próprio, porque qualquer trabalho outro realizado hoje em dia da mesma maneira, quase um século depois de sua fatura, sempre resultará apenas num duchamp inautêntico e apócrifo. Um pastiche, algo falsificado, extemporâneo, daquele artista notável.

Quem pode ser Miró, que não seja o próprio Miró?

Assim vale para a literatura, especialmente quando se fala de invenção literária.

Eu ressaltaria ainda dois aspectos que considero importantes: a vivência da fantasia individual do escritor e a técnica pessoal de sua expressão, (aquilo que poderíamos chamar de talento).

Com estes dois elementos o escritor poderá construir uma realidade ficcional que será sutilmente modificada ou recriada pelo leitor, a partir das sua próprias experiências individuais e de sua coleção cultural; e deste processo de conhecimento pela leitura uma nova realidade ficcional resultará numa nova percepção, esta agora, do leitor.

O escritor poderá criar o seu texto, bem ou mal. Teremos como resultado uma literatura boa ou ruim. O texto poderá ser de grande relevância, de surpresa e de invenção (ou o escritor poderá não ser bem sucedido na sua aventura). Será, normalmente, uma aventura individual, árdua, com todos os seus procedimentos técnicos, a escrita, as correções, o “limar” interminável e exigente do próprio texto, as revisões finais até a edição do livro.

Agora chegamos ao ponto em que entra em cena o grande protagonista, o que parametriza e determina efetivamente, com precisão, o grau de acerto da invenção, aquele que é o mais importante: o leitor.

Essa minha convicção não é uma informação simplória, tampouco uma demagogia.

Nas artes plásticas, na pintura, quando Leonardo Da Vinci pintou a Mona Lisa, ele não decidiu, nem terá sequer desejado, que aquela obra fosse se tornar o ícone em pintura mais reconhecido e celebrado na história da arte ocidental, talvez do mundo.

Ele não poderia imaginar esse futuro, ele apenas pintou o esplêndido quadro com o talento e a técnica apurada que desenvolvera. Foi o público que elegeu a obra e deu-lhe a dimensão incomum.

Eu busco aqui um exemplo muito específico no qual a presença do leitor será a chave para a dimensão abrangente e mutante do texto, estabelecendo níveis de compreensão transitórios e cumulativos desde as experiências individuais e às releituras do texto pelo leitor. Essa é uma curiosidade e uma interrogação que nos assinala.

Ou seja, o texto é continua sendo exatamente o mesmo, mas a leitura especializa-se nas transformações ocorridas em quem o lê e posteriormente o relê – ele se modifica e se enriquece à partir das mudanças ocorridas no universo de cada leitor, no aprendizado, no sofrimento, nas experiências, no conhecimento adquirido, nas novas leituras incorporadas. O leitor transforma-se com o passar do tempo, com a absorção de novas experiências, o texto já não é percebido da mesma forma, há uma nova avaliação, uma nova exigência, às vezes para melhor, muitas vezes para uma redução na qualidade da avaliação.

Explico melhor citando o Quarteto de Alexandria, de Lawrence Durrel, esse belíssimo conjunto de quatro romances que tanto encantou a Erico Verissimo. Os quatro livros (Justine, Baltasar, Mountlive e Cléa) contam, em quatro versões diferentes, narradas por quatro personagens com suas respectivas óticas e conhecimentos específicos e testemunhados, a mesma história, que vai se modificando para o único que detém o conhecimento privilegiado das nuances subjetivas que cercam toda a trama. Este é, evidentemente, o leitor, que forma a sua quinta versão, somatório interpretado das quatro versões de óticas diversas colando-se às suas próprias experiências existenciais. Ora, essa versão “definitiva” (que não será também, como veremos a seguir) não está escrita, ela existe apenas na imaginação do leitor. A história inventada pelo leitor.

Digo que ela não é ainda a versão definitiva, uma vez que cada leitor terá a sua em seus próprios tempos. Eu li os quatro volumes em quatro momentos diferentes de minha vida de leitor, e os compreendi que maneiras diferentes, interpretei trechos e reflexões do autor à luz de novas experiências e do amadurecimento pessoal.

E os livros sempre me pareceram renovados, mais empolgantes e mais assombrosos na capacidade imaginativa daquele autor. E a minha versão final sempre resultou sutilmente modificada, tendo sido construída página a página em cumplicidade silenciosa com aquele escritor. Ora, como isso pôde ocorrer? O texto original estava ali desde o início… No entanto tudo mudou.

E isso certamente ocorreu e ocorre com todos os leitores que lêem os quatro livros. Terá o escritor previsto essa infinidade de novas versões imaginadas? Talvez, mas a riqueza literária que ele detonou, no conjunto reconstruído por seus leitores é imensa, e esse “volume” de imaginação, se é que podemos chamar assim, é da responsabilidade dos seus leitores.

E me parece que é isso que eterniza os bons livros (como naquele caso do quadro da Mona Lisa), – o livro permanece vivo não porque o autor (em muitos casos, já falecido e ausente) assim o desejou, ele não tem esse poder de antecipação, o texto permanece, cresce e se renova, constantemente, no ato da leitura, pela presença e pela existência de seus leitores.

Dessa forma, eu concluo que o livro só existe porque o leitor existe.
>> CRONÓPIOS – por Alfredo Aquino


OS MORTOS-VIVOS – VOLUME QUATRO: DESEJOS CARNAIS

sábado | 17 | outubro | 2009

Mortos vivos4_capaARelacionamentos pegam fogo no quarto volume de uma das séries mais aclamadas da atualidade.

Depois que o mundo foi devastado por zumbis, um pequeno grupo de seres humanos sobrevive como pode, vagando de refúgio em refúgio, até encontrar a fortaleza perfeita – o interior de um complexo penitenciário de segurança máxima.

O futuro, a princípio, parece sorrir para o bando liderado pelo policial Rick Grimes. No entanto, a vida no interior da prisão traz desafios ainda maiores que os onipresentes e famintos mortos-vivos espreitando do lado de fora. Os sobreviventes finalmente estão seguros dentro das barras da prisão, com fartura de comida e um futuro tranquilo em perspectiva – e é então que os problemas começam.

A chegada de Michonne, uma nova e misteriosa personagem, além dos conflitos internos que chegam a seu ponto de ebulição, dão início a uma série de reviravoltas na vida dos novos moradores penitenciários, onde o suspense espreita a cada momento. Ciúmes, brigas, desejo, rebeliões e mortes alterando radicalmente os relacionamentos entre os personagens.

Escrito por Robert Kirkman (de Invencível e Zumbis Marvel), com arte de Charlie Adlard (Arquivo X, Marte Ataca!) e tons de cinza de Cliff Ratburn, Os Mortos-Vivos: Desejos Carnais é o quarto volume da série de terror cultuada no mundo inteiro. Sucesso de público e crítica, a série é ganhadora do prestigiado Prêmio Eagle, foi indicada ao Eisner – o Oscar dos quadrinhos – e premiada em nosso país com o Troféu HQMix de melhor álbum de terror com Dias Passados, o primeiro volume.

Rick e os demais personagens de Os Mortos-Vivos demonstram que viver em um mundo infestado por zumbis é muito mais que tentar não ser devorado. Embora o perigo seja aterrorizante, refletir sobre aquilo que nos torna humanos é ainda mais assustador.

Desejos Carnais traz posfácio de Telio Navega, jornalista, designer, colaborador do caderno Megazine do jornal O Globo e responsável pelo blog Gibizada. O álbum conta também com galeria das capas originais das edições 19 a 24 da série The Walking Dead, reunidas neste volume.

Os Mortos-Vivos – Volume Quatro: Desejos Carnais
Roteiro: Robert Kirkman
Arte: Charlie Adlard
HQ Maniacs Editora
148 Páginas
Formato: 16,5 x 24 cm
Desaconselhável para menores de 16 anos

Lançamento em outubro na 16ª Fest Comix.
De 16 a 18 de outubro, no Centro de Eventos do Colégio São Luis, em São Paulo.


“LOGAN’S RUN” GANHA NOVA VERSÃO EM QUADRINHOS

sábado | 17 | outubro | 2009


Capas da nova versão HQ
(clique para ampliar)

Desde os anos 90 que vem se tentando produzir um remake do filme “Logan´s Run”. Atualmente existe uma versão sendo preparada para 2012. Mas antes disso, o livro que virou filme e que virou série, ganha mais uma versão em quadrinhos.

A Bluewater Comics anunciou o projeto de publicar a versão em HQ com base no livro de 1967, “Logan´s Run”, de Willam F. Nolan e George Clayton Johnson, um dos roteiristas de “Além da Imaginação”.

Capa do livro e cartaz do filme
(clique nas imagens para ampliar)

A história situada no futuro traz uma sociedade que para prevenir a superpopulação mata todos aqueles que chegam aos 30 anos. Condicionados a essa realidade, a população cumpre com a lei. Mas existem aqueles que não aceitam entrar no Carrossel para serem mortos, e tentam fugir.

Entram então em cena os guardiães, responsáveis pela segurança da Cidade dos Domos e pelo cumprimento da lei, tendo como missão caçar e trazer de volta todos aqueles que fugirem. Até que um dos guardiães Logan conhece Jessica, uma das jovens que tenta escapar da condenação e, juntos, fogem da Cidade dos Domos em busca de um lugar conhecido como Santuário, onde é permitido às pessoas viverem o tempo que lhes foi dado.

Gregory Harrison e Heather Menzies na versão para a TV

Na versão em quadrinhos, que conta com a colaboração do autor do livro, William Nolan, o Santuário está sob ameaça de destruição. A primeira edição da história está prevista para lançamento em janeiro de 2010 nos EUA.  Estão previstas, inicialmente, quatro edições.

Esta é a quinta adaptação do livro para as HQs. Entre os anos 70 e 90, “Logan´s Run” teve versões em quadrinhos pela Marvel Comics, pela Adventure Comics, pela Malibu Comics, e pela britânica Look-In. Todas tiveram uma média de 5 a 7 edições.

O filme para o cinema estrelado por Michael York trazia no elenco Farrah Fawcett, de “As Panteras”. Na TV, a série de 1977, com 14 episódios produzidos, era estrelada por Gregory Harrison e Heather Menzies, entre outros.
>> TV SÉRIES – por Fernanda Furquim


MAURICIO DE SOUSA: DAS TIRAS DE JORNAL À MÁQUINA DE QUADRINHOS

sábado | 17 | outubro | 2009

A Turma da Mônica, criação do desenhista, faz parte da Educação das crianças brasileiras

mauricioNascido em Santa Isabel, pequena cidade do interior de São Paulo, Mauricio de Sousa passou a infância entre Mogi das Cruzes e a capital São Paulo. Suas primeiras aulas foram no Externato São Franciso, no centro de São Paulo.

Ainda estudante, ele trabalhou em rádios e desenhando cartazes e pôsteres, para ajudar no orçamento doméstico. Depois foi repórter policial do jornal Folha da Manhã durante cinco anos. Em 1959, criou uma série de tiras em quadrinhos com um cãozinho e seu dono – Bidu e Franjinha – e ofereceu o material para os redatores da Folha. As historietas foram aceitas. O jornalismo perdeu um repórter policial e ganhou um desenhista.

Mauricio criou personagens e gibis que fizeram e fazem parte da infância de muitos brasileiros. Além de Bidu e Franjinha, você certamente conhece Cebolinha, Chico Bento, Penadinho, Horácio, Astronauta, Mônica, Cascão e Magali, todos criados por Mauricio.

Hoje, em seu estúdio, o criador da Turma da Mônica emprega mais de 500 pessoas e tem na família a sua principal fonte de energia. Com dez filhos, 11 netos e um bisneto, Mauricio lançou recentemente o site Máquina de Quadrinhos, o primeiro editor online de histórias em quadrinhos do Brasil. Mas ele ainda tem um sonho a realizar: fazer uma série de TV nos moldes do antigo Vila Sésamo, voltada para a primeira infância.

Foi em seu estúdio, em meio a um clima efervescente, que Mauricio parou um momento para falar com a repórter Jeanne Margareth e contar sobre sua escola, infância e sonhos de um Brasil mais feliz. “Precisamos melhorar, modernizar sistemas, padrões e estruturas, para poder receber dignamente esta criança moderna, curiosa, esperta e carente de perspectivas”, afirmou. Leia a seguir a entrevista na íntegra.

Qual foi a sua primeira escola?
Minha primeira experiência escolar foi no Externato São Francisco, no Largo São Francisco. Eu morava na rua Maria Antônia, centro de São Paulo, pertinho do colégio.

Quais são as suas lembranças dessa época?
 Um momento especial do dia, quando eu e uma priminha íamos a pé até o colégio. Eu tinha seis anos e já estava tomando conhecimento dos gibis. Outra coisa inesquecível não tinha nada a ver com a didática, mas é uma lembrança muito gostosa… a hora do lanche. Com os deliciosos sanduíches de marmelada que minha mãe preparava.

Quais foram os seus momentos mais marcantes na escola?
No Externato São Francisco,eu comecei a rabiscar minhas primeiras letras no caderno de caligrafia. Foi lá também que tomei minha primeira colherada de óleo de Santa Maria (contra vermes). Horroroso! Tinha que levar laranja para chupar após a colherada.

Você foi um bom aluno?
Em alguns períodos, sim. Mas, em outros, enfrentei problemas. As mudanças de endereço (e de cidade) me prejudicaram um pouco no primário e no final do ginásio. A necessidade de trabalhar também prejudicou bastante.

Você lembra dos professores?
Lembro de muitos. Alguns pela eficiência. Outros por métodos fracos de ensino. Mas, no geral, tive muitos bons professores. Fui bem servido em português, história, ciências, francês, geografia… mas nem tanto em matemática.

Algum desses mestres marcou a sua vida?
Sim, uma das professoras mais marcantes foi Dona Iracema Brasil, que ministrava um curso preparatório para entrar no ginásio. Quando fui estudar com ela, estava meio por baixo, depois de um quarto ano maltratado. Mas Dona Iracema me levantou a moral, usou carinho e psicologia e acabou me transformando num dos melhores alunos da classe e dos primeiros anos do ginásio. Nesse tempo, eu estudava em Mogi das Cruzes, e o colégio era o Washington Luiz.

Como era o ensino quando você frequentou os bancos escolares?
Melhor e diferente do que é atualmente. Os professores eram personalidades respeitadas e bem posicionadas economicamente na cidade. Consequentemente, podiam se dar mais e melhor para as aulas. Os alunos só lucravam com isso.

Na sua opinião, a tecnologia ajuda o ensino?
A tecnologia sempre vem para ajudar. Depende do uso que fazemos dela.

E a Turma da Mônica surgiu para ajudar na Educação ou apenas para divertir?
Nossas historinhas vieram originalmente para entreter e divertir. Mas, com o tempo e a força dos personagens, eu e os porfessores descobrimos caminhos possíveis na paradidática. Com o auxilio da técnica da narrativa dos quadrinhos e o carisma dos personagens, descobrimos uma forma de ajudar na Educação.

MAURICIO_turma
Você tem planos para a Turma da Mônica?
Fico feliz com a turminha indo para a escola nos livros escolares e trabalho dos alunos, mas está faltando a realização do meu grande sonho: uma série de TV, nos moldes do antigo Vila Sésamo, onde ensinaríamos primeiras letras e números para a turminha que ainda vai entrar na escola. Uma pré-escola pela TV. Faz falta isso neste país.

Qual é a sua maior preocupação em relação à Educação no Brasil?
É a preparação para a escola. Precisamos melhorar, modernizar sistemas, padrões e estruturas, para poder receber dignamente esta criança moderna, curiosa, esperta e carente de perspectivas.

Você foi um pai fiscalizador, severo ou do tipo mais tranquilo com relação aos estudos dos filhos?
Não me considero um pai severo quanto aos estudos dos filhos. Mas exigente, sim. Conversamos muito, sempre, e os resultados aparecem.

O que faz uma boa escola e um bom professor?
Mauricio:
Um bom método de ensino faz uma boa escola. Um bom professor é aquele que segue, usa e aperfeiçoa esse bom método.

Qual foi o primeiro livro que chamou a sua atenção?
Um livrinho simples, de história de fadas, de papel ruim e ilustrações idem. Mas era um livro. Um objeto mágico. Que “falava” comigo.

Qual livro indicaria aos jovens para despertar o gosto pela leitura?
Ah! Existem tantas opções nos dias de hoje… começando pelas revistas e gibis. Acho que o jovem deve frequentar mais as livrarias, transitar pelas estantes, tentar se interessar por algum título, folhear, pinçar frases em algumas folhas, ver a “orelha” do livro e… seguir o seu instinto. Também há as indicações. Que podem ou não servir. Cada leitor é uma cultura.

Em sua opinião, qual matéria não pode faltar no currículo escolar?
Informática, que sempre deve ser estudada em profundidade.

O que pode ser feito contra a desvalorização do professor?
Mauricio:
Reciclagem geral. Governos e instituições deveriam mudar o trato com os professores e criar sistemas para aperfeiçoamento da didática.

Os quadrinhos podem ser um caminho para estimular o estudo e a leitura?
Sim. Foi dessa forma com os meus filhos, comigo e é com milhares de brasileiros.

Como seria a escola de seus sonhos?
Aquela da esquina do meu quarteirão. Continuação da minha casa. Mistura de carinho com dever.
>> EDUCAR PARA CRESCER – por Jack Starman – 3/04/2008


A FICÇÃO CIENTÍFICA SEGUNDO OS FAMOSOS

quarta-feira | 14 | outubro | 2009

Um dos livros mais originais na biblioteca da ficção científica é “L’Effet Science-Fiction”, dos irmãos Igor e Grichka Bogdanoff, que são uma espécie de Gêmeos Geniais da FC francesa, onde atuam como produtores de TV.  Na introdução eles afirmam: “Tudo começou com uma idéia provavelmente idiota: perguntar a um papa, a um rei e a um presidente a opinião pessoal de cada um sobre a ficção científica”.
 
A idéia acabou produzindo uma enquete gigantesca, conduzida em meados dos anos 1970 e cujos resultados foram reunidos neste livro (Éditions Robert Laffont, Paris 1979) que reproduz longas respostas de escritores, críticos, intelectuais.  O melhor são as respostas pomposas e perplexas de quem não sabe do que diabo se trata. O secretário do Príncipe Charles informa: “Sua Alteza Real lhes enviará sua opinião sobre a ficção científica tão cedo quanto possível”.  O secretário do Papa responde: “As questões formuladas necessitariam de longas considerações. Não é aconselhável, portanto, respondê-las por escrito.  A Secretaria de Estado aconselha Vv.Sas. a consultar um especialista na sua vizinhança, ou a se dirigir, caso necessário, à autoridade eclesiástica local”.  Um drible dos mais diplomáticos é dado pelo secretário particular do Príncipe Rainier de Mônaco, que diz: “Para que me seja possível apresentar a Sua Alteza todos os elementos necessários, gostaria de receber cópia das respostas das demais personalidades mencionadas em sua carta: o Presidente da França, o Rei da Bélgica, o Príncipe Charles da Inglaterra, Monsieur André Malraux, etc.”.

Os famosos dão respostas curtas, e às vezes interessantes.  Charles Aznavour: “A ficção científica é um olho aberto sobre o futuro.  E outro sobre o presente”.  Paloma Picasso: “Se a ficção científica interessa às crianças é porque há nela algo de importante”.  Cassius Clay (assim citado no livro, embora nessa época já se chamasse Muhammad Ali): “A ficção científica é um soco na realidade.  É a realidade posta a nocaute”.  Bjorn Borg, o tenista: “A ficção científica me deixa frio porque ela pretende colocar o futuro em conserva dentro dos livros”.  O surrealista Louis Aragon: “É algo de que não se pode falar quando se está firme sobre os pés”.  O roqueiro David Bowie: “A ficção científica sou eu”.

Jean-Paul Sartre afirmou: “Nada tenho a comentar sobre a literatura de ficção científica, a não ser que ela é demasiado absurda para poder representar verdadeiramente o sentimento do absurdo”.  E vejam só a resposta da bela Isabelle Adjani: “Amo tudo que se refere à ficção científica. Como todos os que terão cerca de 40 anos no ano 2000, posso dizer que sinto pelo gênero uma espécie de fascinação, e que prefiro lê-lo a ler um romance clássico. Tenho tanto prazer em ler FC quanto em ler Barthes ou Lacan. Há modernidade nos dois casos e, paradoxalmente, em ambos existe também a ficção”.  Uma resposta nada má para a deleitável Isabelle, hem?
>> JORNAL DA PARAIBA – por Bráulio Tavares


O FLERTE ENTRE A ASTRONOMIA E A FICÇÃO CIENTÍFICA

quarta-feira | 14 | outubro | 2009

A astronomia é uma das mais antigas entre as ciências naturais. Desde que os egípcios começaram a utilizar o movimento do Sol para contar o tempo – em 750 a.C. – até as últimas descobertas com os grandes telescópios, os humanos têm fascínio por essa ciência. Esse encanto vai além do que é concreto, visível e adentra no imaginário, isto é, na ficção. A ficção científica difere da fantasia, porque alguns de seus elementos imaginários se baseiam em postulados científicos fundamentados nas leis da natureza. Ao ser questionado sobre a relação entre ficção científica e astronomia, Andrew Fraknoi, chefe do Departamento de Astronomia da Faculdade Foothill, na Califórnia, e consultor educacional da Sociedade Astronômica do Pacífico diz: “A ficção científica amplia nosso pensamento, torna bem vindas novas percepções. A astronomia é a ciência mais aberta a tais ideias”.

E é também fonte para a criação. “A astronomia tem uma grande influência na ficção científica. Muitos dos autores da chamada ‘hard science fiction‘ – onde ‘hard‘ significa com forte embasamento científico – mantêm-se em contato com a astronomia e tentam retratar as novas ideias”, complementa Fraknoi. Entre os autores de ficção científica, aqueles que mais estão em contato com as grandes questões da astronomia atual, segundo Fraknoi, são Alastair Reynolds, Jack McDevitt e Geoffrey Landis.

Entusiasta da área, Andrew Fraknoi compilou uma lista de histórias curtas de ficção científica “hard” que abordam os principais temas da astronomia atual. Os tópicos variam desde arqueoastronomia (que estuda a astronomia de povos antigos), passando pela busca por inteligência extraterrestre (como o programa Search for Extraterrestrial Intelligence), até super novas e telescópios. A lista, em inglês, está disponível no site da Sociedade Astronômica do Pacífico.

Primeiras relações com a literatura
Os laços entre astronomia e ficção científica datam do século XVII. Em 1634, o filho de Johannes Kepler, Ludwig Kepler, após a morte do pai, publica o manuscrito Sonminum (Sonho), no qual um aluno do astrônomo Tycho Brahe é transportado para a Lua por forças ocultas. No manuscrito, Kepler apresenta uma descrição imaginativa detalhada de como a Terra pode parecer quando vista da Lua. Esse é considerado o primeiro tratado científico sério sobre astronomia lunar. Ainda nessa época, por volta de 1638, Francis Godwin escreveu o conto The man in the Moon (O homem na Lua). Nessa e em outras obras, Godwin se declara partidário do sistema cartesiano e adota os princípios da lei da gravitação, ao supor que a massa inercial decresce com a distância da Terra.

No mesmo século, usando os argumentos de Godwin, Cyrano de Bergerac escreveu sua obra L’autre monde (O outro mundo) que se dividia em duas partes: Histoire comique des états et empires de la Lune (História dos estados e impérios da Lua, 1657) e Histoire comique des états et empires du Soleil (História dos estados e impérios do Sol, 1662). Os contos, publicados por Henri Le Bret após a morte de Cyrano, relatam as aventuras de Dyrcona, que, na primeira parte, ao pousar na Lua, descobre que os habitantes de lá veem a Terra como uma lua sem vida. Na segunda parte, ao voltar da viagem à Lua, Dyrcona é acusado de bruxaria e preso, mas escapa e voa em direção ao Sol. Apesar de ter elementos fantasiosos, essa obra faz com que Cyrano de Bergerac seja considerado por Arthur C. Clarke, consagrado autor de ficção científica, como o primeiro a usar em suas obras foguetes para viagens espaciais.


A astronomia na ficção, em uma breve linha no tempo .

Astronomia na literatura de ficção nacional
Não é apenas a literatura estrangeira que tem laços com a astronomia. De acordo com Flavia Mara de Macedo, doutora em literatura comparada pela Universidade de Sorbonne, o brasileiro Monteiro Lobato também entrou nessa seara, sob influência de Júlio Verne. No livro Serões de Dona Benta, publicado em 1935, o personagem Pedrinho imagina uma viagem à Lua. Também no livro Viagem ao Céu, publicado três anos antes, Lobato narra flutuações na Via Láctea, encontro com marcianos e outras incursões na área da astronomia.
 
Aquelas obras do século XVII motivaram várias outras que reforçam as relações entre ficção científica e as grandes questões da astronomia. Entre elas, pode-se citar Micromégas, de Voltaire, publicado em 1752; Da Terra à Lua, de Júlio Verne, publicado em 1865; A guerra dos mundos (1898) e O primeiro homem na Lua (1901), de H. G. Wells, entre outros clássicos que permearam o século XX e motivaram muitos dos avanços científicos nessa época. Dos principais ficcionistas, nos últimos tempos, destacam-se Arthur Clarke – autor e um dos idealizadores dos satélites geoestacionários – e Carl Segan – astrônomo e autor do livro Contact (1985), em que relata a busca por inteligência extraterrestre através da inspeção de sinais de rádio, ao mesmo tempo em que discute a relação entre ciência e fé.

Segundo Roberto de Sousa Causo – escritor brasileiro de ficção científica e editor do livro Os melhores contos brasileiros de ficção científica –, outros autores também merecem destaque no cenário nacional. Entre eles, Causo indica Jorge Luiz Calife, um jornalista científico, considerado pai da ficção científica “hard” no Brasil e autor da trilogia Padrões de Contato, relançada neste ano em um único volume pela editora Devir. “Calife foi o sujeito que tirou Arthur C. Clarke da aposentadoria, resultando no romance 2010: uma odisséia no espaço II, uma continuação do clássico 2001: uma odisséia no espaço”, ressalta Causo.

Além de Jorge Luiz Calife, Causo cita o astrofísico Gerson Lodi-Ribeiro, o jornalista Clinton Davisson Fialho e o doutor em letras Nelson de Oliveira como escritores importantes na ficção científica brasileira contemporânea. Mas esses autores brasileiros não gozam do mesmo status que Segan e Clarke no meio acadêmico. “Como a ficção científica brasileira é um fenômeno intermitente dentro da literatura nacional, só agora ganhando algum impulso, eu imagino que os nossos astrônomos nem sabem que ela existe – com exceção talvez de Ronaldo de Freitas Mourão, que já resenhou o gênero para os jornais”, enfatiza.

Sétima e nona artes e a astronomia
Quem acompanha a indústria do entretenimento sabe que não é só na literatura que a astronomia e a ficção científica flertam. O cinema e as histórias em quadrinhos – nomeados, respectivamente, de sétima e nona artes, após o manifesto de Ricciotto Canudo, em 1923 – também são fontes de inspiração da astronomia através da ficção científica. Antes de 1995, viagens a planetas fora do sistema solar eram apenas frutos da imaginação retratados em filmes como a trilogia Guerra nas estrelas (George Lucas, 1977) ou Jornada nas estrelas (Robert Wise, 1979). Hoje, essas possibilidades são estudadas com muita seriedade por agências espaciais. Outros temas como viagens estrelares utilizando motores baseados na fusão nuclear também são temas abordados com frequência no cinema e que são pautas de pesquisas.

Nas histórias em quadrinhos, a obra pioneira foi As aventuras de Buck Rogers, publicada por Philip Francis Nolan em agosto de 1928. Pouco tempo depois, em janeiro de 1934, Alex Raymond publica Flash Gordon, onde as questões dos foguetes para viagens interplanetárias também são abordadas.

Primeiras revistas em quadrinhos que abordam a astronomia. 

A ficção científica como estratégia para o ensino da astronomia
Além da inspiração mútua, a ficção científica também é útil no ensino da astronomia. “A ficção científica também ajuda na divulgação das descobertas e ideias da astronomia, de maneira que o público leigo pode apreciar”, sustenta Fraknoi. O professor da USP e um dos colaboradores do portal Aliens da Ciência (Arte e Literatura no Ensino da Ciência), Luis Paulo de Carvalho Piassi, corrobora as afirmações do professor Fraknoi. “A ficção científica pode desempenhar um papel no ensino de astronomia e há diversos exemplos desse uso. Particularmente, os materiais didáticos da nova proposta curricular do estado de São Paulo fazem uso da ficção para abordar conceitos astronômicos”, destaca Piassi. Como exemplo do ensino de astronomia através da ficção científica, Piassi descreve a utilização do romance Os náufragos de Selene, de Arthur Clarke, para explicar a força da gravidade. No romance, um grupo de turistas em viagem à Lua em um ônibus espacial sofre um naufrágio em um depósito de poeira lunar (cratera). Os problemas decorrentes da menor força da gravidade na Lua são os argumentos para a explicação desse fenômeno físico.
 
“O aspecto interessante é que a ficção permite voos pela imaginação que uma simples descrição não é capaz de proporcionar. Além disso, a ficção especula também sobre as questões sociais e políticas que podem advir do desenvolvimento do conhecimento científico, coisa que raramente outros materiais didáticos enfocam”, finaliza Piassi. Um bom modelo de reflexão sobre questões sociais e políticas feitas pela ficção são os debates que se apresentam no livro Contact, de Carl Segan. Nesse romance, as relações entre ciência e fé, o impacto da divulgação de informações científicas ao público leigo e as questões entre financiamento público e privado da ciência são trazidas à baila. Agora, a nós, resta uma pergunta: se muito do que a ficção científica imaginou no passado hoje é realidade, o que será que o futuro da astronomia nos reserva?
>> COM CIÊNCIA – por André Gradvohl


‘FUTURO PRESENTE’ FAZ FICÇÃO CIENTÍFICA À BRASILEIRA

quarta-feira | 14 | outubro | 2009

Pode-se contar nos dedos os temas explorados pela atual literatura brasileira. Dramas da classe média, dilemas juvenis, conflitos sociais e, mais recentemente, a realidade violenta da periferia – são alguns dos que logo vêm à mente. Mas que tal descrever os confrontos de uma guerra interestelar? Ou prisões humanas controladas por robôs carcerários? Ou, ainda, imaginar os conflitos de um adultério virtual, e as misérias da São Paulo pós-catástrofes climáticas, num longínquo 2058?

As especulações intertemporais e interplanetárias da ficção científica não costumam derramar muita tinta entre os autores nacionais. Com códigos e regras delimitados, o gênero ainda sofre certo preconceito nas altas rodas literárias, ficando relegado a um grupo restrito de aficcionados. Recém-ingressado neste clube, o escritor e pesquisador Nelson de Oliveira acredita, porém, que o cenário está prestes a mudar. Aproveitando um crescimento do interesse pelo gênero no país, ele acaba de organizar a antologia de ficção científica Futuro presente, que traz 18 contos inéditos de autores nacionais, jogando luz sobre um território praticamente ignorado pela prosa brasileira “oficial”.

— A literatura brasileira contemporânea precisa despertar para o mundo atual – justifica Oliveira, autor do romance fantástico Subsolo infinito. – É um desperdício que a nova física, a nova psicologia, a nova astronomia, a nova biologia e a nova informática fiquem de fora da nossa ficção. Não dá para investir eternamente nessa prosa sociológica, centrada nas epifanias do sertanejo, do traficante, ou do adolescente perturbado. Se você olhar o mapa geopolítico da literatura brasileira, verá que a ficção científica está na periferia da periferia. Não é resenhada nos grandes jornais e seus autores não são levados a sério pelo Jabuti.

Preconceito histórico
Futuro presente faz uma aproximação de duas esferas da literatura: a do “mainstream”, ao qual pertencem os autores do “circuito cultural”, e a do fandom (abreviação de fanatic kingdom), que se refere ao conjunto de fãs do gênero. Na lista, constam decanos da ficção científica no Brasil, como Roberto de Sousa Causo e André Carneiro, mas também escritores que nunca haviam sonhado em se aventurar pelo gênero. Daí a surpresa de encontrar a veterana underground Andréa del Fuego discorrendo sobre seres híbridos, “mistura de carne animal e bits de água”, ou o autor do épico amazonense Mad Maria, Márcio Souza, imaginando um vírus mortal criado por uma ONG para exterminar os judeus. Também participam da antologia Ataíde Tartari, Paulo Sandrini, Edla Van Steen Luiz Bras, Maria Alzira Brum Lemos, Rinaldo de Fernandes, Luiz Roberto Guedes, Deonísio da Silva, além de novos valores, como Ivan Hegenberg e Carlos Mores.

A investida de nomes consagrados da “literatura oficial” (há até vencedores de Jabuti) pode retirar do gênero o rótulo de subliteratura.

– Quero que essa seja a primeira coletânea de uma série que provoque os autores “mainstream” a desafiar o gênero – diz Oliveira.

– Acredito que o preconceito venha do fato de a ficção científica ter surgido nas revistas pulps e ficado associada à literatura trash. Mas, diferentemente do cinema, os livros de FC empregam pouca ação e mais inteligência. Tem muito mais a ver com as ideias de pensadores como Michel Foucault do que com elementos estereotipados, como invasões marcianas.

Historicamente, a ficção científica apresenta as angústias e neuroses das sociedades diante de seu futuro (como as parábolas sobre radiação no auge da Guerra Fria, por exemplo). Nos contos do livro, os cenários apocalípticos ganham força, dando espaço aos temores das transformações climáticas e da disseminação da cultura digital.

– A FC projeta nossos medos em narrativas que podem se passar daqui a 200 anos, mas que revelam medos de hoje – explica o organizador, justificando o título da antologia.

“Existe uma retomada”, diz organizador da compilação
Quando Nelson de Oliveira começou a pesquisar a produção de FC no Brasil, pensou que estaria pisando em território virgem. Mas o escritor se surpreendeu com uma gigantesca tribo de seguidores, que ainda permanece invisível aos olhos de boa parte da indústria cultural.

– Percebi que há inúmeros autores e editoras pequenas publicando – conta. – Existe uma retomada. As editoras estão relançando Isaac Asimov, Philip K. Dick e Ray Bradbury. Falta agora investir nos expoentes brasileiros e mostrar que eles existem.

O boom pode ser comprovado com uma consulta ao Orkut, onde os espaços de discussão e trocas sobre o gênero se multiplicam, alguns com mais de 5 mil membros (vide as comunidades Escrever Ficção Científica, Pós-Cyber, New Weird Fiction e até uma dedicada ao escritor André Carneiro). Hoje, já existem editoras especializadas (como a Tarja Editorial e a Giz), enquanto outras, como a Devir, dedicam selos ao estilo.

Referência da FC no Brasil, o paulista Roberto de Sousa Causo acredita que o mercado no Brasil é esporádico, mas tornou-se mais constante graças ao interesse do público pela literatura de fantasia. Mesmo assim, continua minoritário em relação a esta última. O perfil atual do leitor do gênero é específico: relativamente jovem, preparando-se ou exercendo uma profissão da área da ciência e tecnologia ou então um profissional liberal interessado no gênero.

– O maior problema para a ficção científica foi o fim das coleções – diz o escritor. – O leitor habitual não encontrava mais um lugar onde pudesse voltar sempre e descobrir novos autores. Com a internet, porém, os escritores descobriram uma vitrine.

Mesmo sem muita tradição, a FC brasileira possui características próprias – ou melhor, uma vertente tropical e subdesenvolvida. O colonialismo e o neocolonialismo são temores que aparecem desde o século 19 no subtexto das mais diferentes tramas fantásticas. Sousa Causo, por exemplo, tem uma série de obras que se passam na Amazônia, como Terra verde (2001) e O par (2008), e que usam a invasão alienígena como metáfora para problemas como a biopirataria.

– Existem vários modos brasileiros de fazer FC – diz Sousa Causo. – As estratégias para entender a posição do Brasil são muitas, como o ambiente do país, sua posição no mundo, e até o diálogo com a sua literatura.
>> JORNAL DO BRASIL – por Bolívar Torres