FICÇÃO CIENTÍFICA: O GÊNERO QUE AMEDRONTA ESCRITORES

domingo | 31 | janeiro | 2010

Muitos autores “mainstream” escrevem livros de FC mas não querem ser apelidados como escritores do género: fogem da FC como o Diabo da cruz.

A atribuição do Nobel da Literatura 2007 a Doris Lessing foi considerada uma vitória para a FC. Entre 1979 e 1983, Lessing publicou a série “Canopus em Argos”, constituída por cinco romances de FC (editados entre nós pela Europa-América). Ao contrário de outros autores, nunca teve problemas em admitir que escrevia FC e chegou a considerar os livros da série os mais importantes na sua carreira.

O crítico americano Harold Bloom considerou, na altura, a atribuição do Nobel a Lessing “pura correcção política” da Academia Sueca. “Apesar de Doris Lessing ter demonstrado qualidades literárias admiráveis no início da sua carreira, as obras que escreveu nos últimos 15 anos são livros de FC de quarta categoria”, disse à “Associated Press”.

Lessing é um caso raro de uma escritora conhecida que nunca teve medo de assumir que escrevia e gostava de FC. O mesmo não acontece com Margaret Atwood. A autora de “Órix e Crex -O Último Homem” (ed. Asa) classifi ca os seus livros como “ficção especulativa” ou “romance de aventura”, mas nunca como FC.

“Atwood acha que existe uma certa abjecção a pairar sobre o título de FC. Pode ser considerado uma traição, mas consigo entendê-la perfeitamente”, disse o escritor de FC Brian Aldiss ao “Times Online”.

Em 1975, Kingsley Amis, Arthur C. Clarke e Brian Aldiss preparavamse para atribuir o prémio de melhor romance de FC do ano a Salman Rushdie, pelo seu primeiro livro “Grimus”, quando no último minuto os editores resolveram retirar a obra do concurso. “Se Salman Rushdie tivesse ganho o prémio seria classifi cado como escritor de FC e nunca mais ninguém voltaria a ouvir falar dele”, explicou na altura Brian Aldiss.

Nas livrarias, não se encontra o “1984”, de George Orwell, ou “O Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, ao lado de obras de Philip K. Dick ou Arthur C. Clarke, apesar de todos pertencerem ao mesmo género. O livro de Orwell é, na edição da Antígona, caracterizado como “sátira”. “O estigma de apelidar um livro de FC de um autor consagrado é tão grande, que a maior parte dos críticos chega mesmo a utilizar palavras como ‘parábola’ ou ‘fábula'”, escreve Michael Chabon, crítico do “The New York Review of Books”, numa recensão a “A Estrada” de Cormac McCarthy -apontado por alguns críticos como um romance de FC. “Nos últimos anos, muitos escritores ‘mainstream’ têm escrito FC, embora não sejam classifi cados como autores do género”, diz ao Ípsilon Felicity Mellor, professora no Imperial College, em Londres, autora de textos publicados nas revistas “Social Studies of Science” e “Public Understanding of Science.” “Os editores sabem que ao classificarem um livro de FC vão limitar a sua audiência”, acrescenta. Existem cada vez mais livros que misturam FC e outros géneros.

A trilogia “Noughts and Crosses”, de Malorie Blackman, “Crónica do Pássaro de Corda” de Haruki Murakami ou “Nunca Me Deixes” de Kazuo Ishiguro são alguns que têm FC, para além de outros géneros. “Isto não quer dizer que os géneros literários tenham deixado de existir e de ser explorados nas suas especificidades. Eles, inclusive, ainda norteiam toda a lógica taxonómica do mercado editorial, os estudos académicos e as normas dos concursos literários” acrescenta ao Ípsilon a escritora brasileira Maria Esther Maciel, que lecionou a cadeira “Seminários sobre Literatura Brasileira e outras literaturas: escritas híbridas na literatura contemporânea”, em 2006, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
>> ÍPSILON – por Eduarda Sousa


ARGENTINA FANTÁSTICA: O PERDIDO REINO DE TRAPALANDA

domingo | 31 | janeiro | 2010

A região da Patagônia, no sul da Argentina, foi vista no passado como que acolhendo um lugar maravilhoso: o Reino da Trapalanda. Era uma espécie de El Dorado tão procurado pelos conquistadores espanhóis. Uma terra fantasticamente rica, onde todas as construções das cidades, ruas e casas, eram feitas de ouro maciço e puríssima prata. Segundo Ezequiel Martinez Estrada, um dos maiores ensaístas da língua espanhola, este mito especioso de existir uma pátria cheia de tesouros ocultos, a espera de quem os encontrasse, nunca teria sido esquecido pelos seus conterrâneos argentinos.

“ O ilusório superou o verdadeiro.
A verdade, a terra ilimitada e vazia, a solidão, sobre isso ninguém adverte.”

E.M.Estrada – Radiografia de la Pampa, 1933

As Cidades dos Césares
Conforme o conquistador Garcia Furtado de Mendonça e seus homens alcançavam as regiões mais meridionais do continente sul-americano, cresciam, intensos, os rumores da existência de um grande e riquíssimo império logo mais abaixo. Instalados no Chile, por volta de 1570, os murmúrios entre os espanhóis foram tão mais fortes que o adelantado, o governador, não teve outro remédio senão mandar um dos seus ir investigar aquela boataria. A soldadesca, aquela altura, falava abertamente no misterioso Reino de Trapalanda, lugar fabuloso, mágico, “onde as cidades tinhas as ruas pavimentadas com lingotes de ouro e as portas das casa eram de prata”. Cidades dos Césares encravadas entre os Andes e a planície.

Região de monstros
O relato dessa aventura, escrito pelo capitão Arias Pardo Maldonado, tornou-se , segundo Luis Sepulveda, o primeiro registro da literatura fantástica em língua castelhana que se conhece. Maldonado descreveu os habitantes de Trapalanda como figuras monstruosas, gigantes de pés enormes, que não precisavam de vestimenta nem de cobertores pois envolviam-se em suas próprias orelhas para dormir. Pior ainda era o cheiro que exalavam. Tal a pestilência que nenhum deles se aproximava do outro, formando uma estranha raça que não se acoplava nem tinha descendência. Nunca se soube a razão desse registro maluco deixado pelo capitão Maldonado. Alguns o imaginam com a intenção de espantar daquelas possíveis maravilhas, a cobiça dos bandos de aventureiros e desertores. Não passava de uma contrapropaganda.

Radiografia do pampa
Para Ezequiel Martínez Estrada, o soberbo ensaísta da Radiografia do Pampa( Buenos Aires, 1933), tais relatos tenebrosos, novelas do pútrido, não alteraram em nada as alucinações de opulência e esplendor que sempre excitaram a imaginação dos imigrantes que vieram para o Novo Mundo. Entre eles o fracassado pai de Ezequiel, um homem de Navarra, Espanha, que se desencantou na Argentina. Cada um que embarcava da Ibéria para as terras austrais vinha atrás da quimérica Trapalanda, sempre esperançosos em poder encontrar as barras douradas acumuladas em algum lugar inaudito, que ninguém vira antes , as quais bastaria por na algibeira e galopar de volta a um porto.

TRAPALANDA NÃO EXISTIA

O gaúcho argentino (Carlos Ferreyra)A decepção porém, chegava de chofre. Por vezes, já no desembarque, em Buenos Aires mesmo. Ao entrarem Pampa adentro, piorava. Espaço vazio, sem vivalma, deparavam-se, além da solidão absoluta, com “ um cansaço cósmico que caia dos céus com todo o seu peso”. Não havia nada no horizonte. Nunca se via onde acabava a terra e começava o céu. O pampa era o pampa. Os olhos, esbugalhados perante aquele mundo sem-fim, logo se desiludiam. Os filhos deles herdavam o malogro. Eram donos do nada, pois nunca ninguém encontrara a propalada Trapalanda. Concentraram-se então em Buenos Aires, que assim virou um enorme depósito de fracassos e frustrações dos que vieram antes e também dos recém chegados. Tornou-se, a capital portenha, um “polipero monstruoso”, como Martinez Estrada preferiu dizer.

A solidão e a imitação
A república argentina, para ele, nada mais era do que “ uma grande cidade de 3 milhões de quilômetros quadrados, com alguns terrenos baldios no seu centro e com dez quarteirões cercados por deserto”. Buenos Aires, então – sublimando as desditas e tentando superar a imensa solidão em que seus habitantes se encontram no perdido mundo americano – , imitou Paris, repetindo-lhe o traçado urbano, as avenidas largas, o obelisco, e o gosto pelos cafés. Importou os costumes da Europa: a ópera, a psicanálise, e até o tango, cujos primeiros acordes ouviram-se no bairro dos gringos: la Boca. Até um poeta cego, Jorge Luís Borges, fez-lhes as vezes de um Homero, enquanto Victoria Ocampo com sua Revista Sur apresentava-lhes a intelectualidade européia em primeira mão. Martinez Estrada apelidou-a de “ a cabeça de Golias”.

A civilização, a felicidade, enfim, veio-lhes de fora. Essa estrutura externa, a “ amplitude, as aparências de vida heróica e rápida…de cidade cosmopolita e rica, de grande destino” não lhe extirpou , entretanto, a alma de vilarejo bárbaro, onde a brutalidade da região se acoitara e que, por vezes, irrompia, fazendo os seus moradores regredirem à cenas de espantoso canibalismo político, como tantas vezes se viu: de Juan Domingo Perón a Jorge Rafael Videla.

A fantasia persiste
Não lhes abandonou também, mesmo quatro século depois, a delirante fantasia de estarem bem perto do Reino da Trapalanda, vizinhos da terra do ouro e do mel, escondida em algum lugar da Patagônia, o que levava os argentinos ao comportamento perdulário, a gastar tudo o que tinham e o que não tinham, porque um dia, tinham certeza disso, todos tropeçariam no baú da sorte, e o tampão do almejado tesouro, escancarado, infalivelmente se abriria para todos.

Síntese da radiografia do pampa
Numa entrevista, dada bem antes da sua morte, ocorrida em 1964, Ezequiel Martinez Estrada resolveu ,ele mesmo, fazer uma síntese das reflexões contidas no seu Radiografia de la Pampa. Começou por ressaltar o papel ilusório que o Reino de Trapalanda exerceu na imaginação dos conquistadores – e naqueles que imigraram depois para a Argentina – , denunciando a abismal desilusão que sofreram ao entrarem em contanto com a realidade. Utopia, diga-se, alimentada e difundida por Domingo Sarmiento, o grande intelectual e estadista argentino do século XIX, teimosos engenheiro construtor de pontes sobre a realidade, que insistia em pôr fraque e cartola nos gaúchos.

Ao invés de acharem tesouros ao rés do chão, os recém vindos deram com uma terra agreste, a qual era preciso lavrar e semear, regando-a com suor e sangue. O choque com esta situação inesperada, conduziu-os para poderem superar a frustração a que concebessem uma espécie de pseudotrapanlanda, fazendo com que o argentino cismasse em querer o que não tem, querendo-o como algum dia quisera ter.

SÓ NUM MUNDO SOLITÁRIO

A solidão do pampa ( tela ‘os peões’ de Carina L. Winschel)O povoador do pampa encontrou-se só num mundo solitário. A mãe dos filhos dele é de outro sangue ( uma índia do pampa). O enorme oceano que o separa da Europa fez com que o continente se assemelhasse a uma ilha, na qual ele se viu desamparado. Porém, ele não se sentia um Robinson, modesto e morigerado, vivendo numa choupana, com um Sexta-feira nativo ao seu lado. Ao contrário, viu-se como um grande senhor em momentânea pobreza. Como Prospero, o personagem de A Tempestade de Shakespeare, passou a supor fazer maravilhas na ilha conquistada. Ao contrário do que os ingleses fizeram na América do Norte, que ergueram uma pátria onde viver e morrer, o recém chegado ao pampa vive chorando a pátria perdida, a Jerusalém da qual ele foi obrigado a desterrar-se. Vive num exílio desconfortável, psicologicamente insatisfeito na terra que lhe deu abrigo.

A erosão do homem e o papel de B.Aires
Neste cenário entram em ação as forças telúricas, as energias primitivas , elementares, que trabalhando com a água, a terra e o vento, dão para destruir suas construções precárias feitas de adobe e couro que eles levantaram como abrigo no meio daquele nada. A terra corrige os erros dos homens, erodindo tudo aquilo que constróem. É então que surge Buenos Aires como a chave do entendimento da obra. A grande cidade, que Lugones disse ser banhada por um rio cor de leão, nada mais é do que a Espanha , “ nossa inimiga em casa” , disse dela Martinez Estrada. Ela absorve, devora, dilapida e corrompe. É um foco de infeção. Ela explora o interior, a nação , o povo, a quem esfola sem piedade. O resto do país é a sua colônia que ela mantém submetida e embrutecida para evitar que, como no passado, indomáveis caudilhos como Facundo Quiroga ou Chacho Peñalosa , a ameaçassem com suas cavalgadas de guerra e seus rastros de desordem.

O natural e o artificial
Há, portanto, na formação argentina, uma duplicidade insuperável entre a capital ( sede das instituições e costumes artificiais importados da Europa, cidade cosmopolita permanente representante de interesses coloniais, requentados e reatualizados, desde a independência, pela plutocracia portenha) , e o interior (nativista e autentico, sempre exposto às extorsões de Buenos Aires).

O resultado disso, desta latente tensão entre o falso e o natural, entre a grande metrópole e os territórios vizinhos (a quem ela vê como a morada dos brutos, dos selvagens a serem amansados), é o medo: o trauma inibitório da vida nacional. Portanto, a vida política esta impregnada por esse temor crônico que tudo invade e que se manifesta em reações irracionais. O que os argentinos entendem como sendo suas estruturas, não passam de edifícios sem pilotis, prédios flutuando sobre uma superfície de ilusões. Um labirinto de enganos, obrigando a todos, angustiados, a tentarem buscar estacas firmes que os mantenham presos ao continente para sempre.

O CONVÍVIO DOS EXTREMO

A tese dele, retrabalhando a dualidade “Civilização ou Barbárie”, exposta por Sarmiento no seu clássico ensaio Facundo (1845), é de que a civilização , no Prata, apesar de todo adamascado de Buenos Aires, com seus ares de grande urbe européia, não superara ou eliminara a barbárie. Convivia com ela, pois, as imperecíveis forças telúricas, selváticas, carnívoras, que muitos imaginavam esquecidas, retornavam a todo o momento como espectros, reaparecendo como a realidade profunda do país. Assim, a Argentina vive num cabo-de-guerra, onde está muito longe de decidir-se para que lado da ponta da corda ela irá pender definitivamente: se para o lado da civilização ou da temível barbárie.

Bibliografia
ESTRADA, Ezequiel Martínez – Radiografia de la pampa ( Colección Archivos-Unesco, B.Aires, 1991)
SARMIENTO, Domingo F. – Facundo: civilização e barbárie no pampa argentino ( Editora da Universidade RS-Edipucrs, P.Alegre, 1996)

>> TERRA – por Voltaire Schilling


O NOSFERATU DE HERZOG

sexta-feira | 29 | janeiro | 2010

Werner Herzog é o melhor diretor alemão da sua geração, que inclui Fassbinder, Wim Wenders e outros pesos-pesados.  Acho Herzog o mais interessante, pela variedade e pelo inesperado dos seus temas, pelo tom alucinatório de muitas das suas narrativas, pelo seu flerte permanente com o fantástico, pelas experiências radicais em que mergulha a si mesmo e sua equipe para realizar um filme.  Pode ser que tudo isso não sejam virtudes propriamente cinematográficas, mas Herzog é um diretor capaz de fazer milagres com uma câmara, meia dúzia de atores e uma trilha sonora.  A prova disso é este filme, um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. 

Nos comentários à versão em DVD, Herzog afirma que todo mundo precisa de uma tradição, de uma ligação com o cinema do passado, e que a época hitlerista deixou muito pouco cinema para a geração que se seguiu.  Tiveram que remontar ao tempo do Expressionismo (décadas de 20-30), e, para ele, o melhor filme daquele tempo foi o “Nosferatu” de F. W. Murnau (1922), inspirado no romance “Drácula”, de Bram Stoker.  Daí a idéia de fazer uma nova versão em 1979, versão que ele afirma não se tratar de uma refilmagem.  De fato, trata-se do reaproveitamento de parte do mesmo material (o tema, o enredo básico, alguns personagens) para dar uma interpretação totalmente diversa.

Murnau foi um dos reis do claro-escuro na época do cinema em preto-e-branco; Herzog responde a suas imagens magníficas com um filme a cores em que as luzes e sombras são trabalhadas junto com contrastes de cores, numa fotografia memorável.  A trilha sonora, feita por Popol Vuh, é impressionante (e o áudio é um dos principais elementos narrativos do filme). 

Herzog rejeita as versões de Stoker e de Murnau.  Em Stoker, há a vitória final da ciência, do cavalheirismo masculino, dos valores vitorianos.  Em Murnau, a vitória do altruísmo feminino, do amor que leva ao auto-sacrifício, mas com final feliz (Drácula morre, Harker e a esposa acabam juntos).  Herzog descreve um mundo onde o Mal prevalece porque já está no interior das pessoas.  É Harker quem traz Drácula para destruir sua cidade.  Todo seu trajeto para a Transilvânia é um trajeto para o interior de si mesmo, para atender ao chamado do Drácula que quer emergir.  Drácula é seu retrato de Dorian Gray.

Como num conto de A. E. Van Vogt, em que a mente de um astronauta em hibernação permanece acordada durante séculos, Drácula é alguma coisa que está acordada e imóvel há séculos, ou milênios, na mente de Harker, pedindo para despertar.  É um conjunto de desejos insatisfeitos que giram perpetuamente num círculo vicioso, porque no momento em que encontram satisfação querem repeti-la, sem se darem nunca por saciados.  São como o cavalo do Barão de Munchausen, que bebia água sem parar porque fôra cortado ao meio e o estômago estava aberto.  Drácula é um sorvedouro de energia, vital mas destrutiva, que Harker reprimiu a vida toda e libertou toda de uma vez.
>> MUNDO FANTASMO – por Braulio Tavares

Assita à abertura do filme de Herzog


“RETORNO AO BIG-BANG MICROCÓSMICO”: FAGULHA CÓSMICA

sexta-feira | 29 | janeiro | 2010

O escritor paulistano Denis Moura de Lima lança seu romance de estreia, a ficção científica “Retorno ao Big-Bang Microcósmico”

Só a duras penas, a ficção científica conseguiu se estabelecer como gênero literário respeitável, como objeto de estudos literários que não depreciarão o estudioso. Claro que a mudança não se deu tal o milagre que verteu água e vinho. Ainda resiste muito preconceito (no caso da literatura, o paradoxo da não-leitura). O Brasil, onde ainda persiste vícios de um beletrismo francês, decadente, do século XX, a situação é ainda pior.

No então não faltam resistentes. E recentemente, numa daquelas circunstâncias difíceis de explicar, foi deflagrado um boom de títulos de ficção científica, com repercussões em diversos Estados. O Ceará contribui agora como “Retorno ao Big-Bang Microcósmico” (BNB, 196 páginas
2010
, do paulistano radicado no Estado Denis Moura de Lima.

Com trânsito entre os escritores locais – mais notadamente nas férteis cenas da poesia e do conto -, Denis Moura não se intimidou diante da forma longa e complexa do romance. Formado em Telemática, ele prefere se concentrar no ofício de escritor do que no de cientista (afinal, quem precisa do verossímil em FC?).

Ilustrações de Pedro Uchoa para o livro “Retorno ao Big-Bang Microcósmico”, de Denis Moura de Lima

O clássico e o presente
A leitura do livro mostra que ele não poderia ter seguido outro caminho. Aqui não se trata de uma história estendida, mas de uma narrativa que necessita das bases que o gênero romanesco dá: a possibilidade de se aprofundar na psicologia dos personagens; de trabalhar como tempo em camadas, com presente, passado e futuro; e permitem que o estilo dê reviravoltas, conforme a história avança.

A obra de Denis Moura de Lima é daquelas que se encaixam na concepção de Ursula K. Le Guin da ficção científica. A escritora, autora de clássicos do gênero como “A mão esquerda da escuridão”, diz que a “ficção científica não prevê: descreve”. Em “Retorno ao Big-Bang Microcósmico”, a descrição fica por conta de uma concepção de democracia digital, que rege o mundo em que transitam seus personagens. Não é o caso de dizer onde chegaremos na vida “conectada”, mas de fazer uma caricatura do ponto em que nos encontramos.

Além do suposto exercício de futurologia, que muitos tomam como essencial da FC, há no livro de Denis Moura aquele tipo de especulação existencial que, de fato, é uma das marcas das melhores obras do gênero. Especulação que se dá na revisão de um dos temas clássicos da ficção científica: a viagem no tempo. A diferença é que o escritor deixa que esta viagem sempre traumática modele o texto. O Big-Bang do título pode ser lido como uma pista a respeito da forma escolhida para narrar a história. Diversos fragmentos, difícieis de ordenar ou hierarquizar, mas cuja leitura conferem uma ideia de todo, de jogo, como num quebra-cabeças.
>> CADERNO 3 – por Dellano Rios

Para ver os primeiros capítulos, acessem:
http://bigbangmicrocosmico.blogspot.com/

Assista ao booktrailer do livro:


“GHOSTFACERS”: VEJA A SÉRIE DERIVADA DE “SUPERNATURAL”

sexta-feira | 29 | janeiro | 2010

Ontem o jornal Variety divulgou a notícia de que a série “Supernatural” terá uma spinoff a ser produzida pela Warner e a Wonderland direto para a Internet no formato websérie. Sem ter ainda a confirmação de que “Supernatural” terá ou não uma 6ª temporada, o canal CW já prepara o terreno para uma possível substituição para quando a série tiver que sair do ar. Se a spinoff conquistar uma boa receptividade via Internet, é bem possível que consiga fazer a transição para a televisão.

A spinoff (série derivada de outra) será estrelada e escrita por A.J. Buckley e Travis Wester, os Ghostfacers que já apareceram em pelo menos 3 episódios de “Supernatural”. Os dois são autoproclamados investigadores profissionais das manifestações paranormais e apresentam seu próprio reality show, o “Ghost Ghostfacers”.

Na história da websérie, os dois investigarão ocorrências de paranormalidade, explorando a narrativa documental. Também no elenco estão Brittany Ishibashi, de “E-Ring”, e  Austin Basis, de “Life Unexpected”; sendo que no primeiro websódio a atriz convidada é Kelly Carlson, de “Nip/Tuck”. Serão produzidos 10 websódios de 3 minutos de duração os quais serão exibidos no site do CW e da WB, ainda sem data de estréia definida. Além da websérie, também serão disponibilizados na página oficial, imagens de bastidores, galeria de fotos e mais informações sobre a mitologia da série.

A série “Supernatural” já promoveu a publicação de 18 histórias em quadrinhos, com mais 6 à caminho, além de livros, revistas especializadas e convenções.
>> TV SÉRIES – por Fernada Furquim


FILME B JAPONÊS TEM HOMEM VESTIDO DE MULHER QUE BRIGA COM ESTUDANTES DA LIGA DAS TOTALMENTE NUAS

sexta-feira | 29 | janeiro | 2010

O que é o que é? É filme B protagonizado por um travesti, mas não é “Glen ou Glenda”, clássico trash do “pior cineasta do mundo” Ed Wood. Tem ficção científica, mas não é Jaspion ou Godzilla. Mistura humor com erotismo, mas não é pornochanchada. É filme japonês sobre gangues, mas não foi dirigido por Takeshi Kitano. A resposta é “Sukeban Boy”, filme B japonês inspirado em mangá com humor, erotismo e ficção científica.

O filme japonês de 2006 é daqueles trabalhos que fazem os neurônios do espectador passarem por verdadeiro exercício de contorcionismo. Não que ele tenha uma trama rocambolesca ou seja de difícil compreensão. Longe disso. Mas sua história é uma gigantesca mistura de gêneros que mereceria uma prateleira à parte na locadora.

A história, baseada em um mangá japonês criado por Go Nagai em 1974, é uma comédia com toques eróticos sobre um estudante, o Sukeban do título, que tem que se vestir de garota para poder estudar em um colégio só para meninas.

Na escola, ela – ops, quis dizer ele – convive com colegas pouco amistosas. O caro internauta já deve ter ouvido falar de gangues escolares ou de panelinhas, certo? Pois o protagonista também vai ter que lidar com uma turminha da pesada. O colégio conta com várias gangues como a Liga da Meia-Calça, a Liga das Sem-Sutiãs e a Liga das Totalmente Nuas

Os nomes são bem sugestivos e atiçam a imaginação de qualquer homem. O problema, no entanto, é que o protagonista não vai ter tempo de colocar a sua testosterona em ação. As gangues são barra pesada e estão prontas para uma boa pancadaria. Mas não se trata de socos e pontapés. As garotas das gangues têm algumas armas secretas bem esquisitas. Só para dar o gostinho do arsenal bizarro vale citar uma garota que tem seios de onde florescem botões de rosas (!) que disparam balas como se fossem pistolas (!!).

O cineasta Noboru Iguchi abusou da imaginação e criou brigas que misturam um tanto de gore (prepare-se para ver uma boa dose de sangue jorrando na tela) com leve toque de sadismo.

O trabalho de pouco mais de uma hora de duração sintetiza um certo tipo de ficção nonsense produzido no Japão. É o mesmo gênero que serviu de fonte de inspiração para Quentin Tarantino criar seus trabalhos, em especial, os dois “Kill Bill”. Dá até para traçar um paralelo entre a gangue de Lucy Liu com as estudantes de “Sukeban Boy”. Perdoem o trocadilho, mas, no quesito pancadaria, as duas gangues ficam pau a pau.
>> UOL Tabloide em São Paulo


É UM PÁSSARO? UM AVIÃO? NÃO, É O PRESIDENTE!

sexta-feira | 29 | janeiro | 2010
A política sempre foi uma grande inspiração para os humoristas. No caso dos chargistas, todos os Presidentes da República foram “vítimas” de lápis afiados em livros e jornais, sem desrespeito ou partidarismo. Mas e quando o principal dirigente do país acaba nas páginas dos quadrinhos? Essa situação está se tornando cada vez mais comum.

Nos EUA, a lista de presidentes coadjuvantes em HQs é imensa: Franklin Roosevelt, Ronald Reagan, Jimmy Carter, Bill Clinton e George Bush são alguns deles. Em 1964, John Kennedy aparece num gibi pedindo ajuda ao Superman para divulgar um programa nacional de prática de atividades físicas. Por sua vez, Richard Nixon é provavelmente o recordista de aparições, inclusive na minissérie Watchmen, como o presidente vitalício dos EUA.

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Bush em Ultimates 3

Obama e Sarkozy Na última eleição americana, um gibi com as
biografias de Barack Obama e John McCain foram vendidas aos borbotões. Havia uma versão simplificada de cada candidato e uma no formato “dois em um”. Em janeiro de 2009 a revista Amazing Spider-Man mostrou Obama cumprimentando o Homem-Aranha.“Foi algo natural depois que o novo presidente se declarou fã do personagem”, declarou Joe Quesada, editor-chefe da Marvel.LEIA A MATÉRIA COMPLETA

Obama na capa HQ homem aranha 2009

Na França, é normal as editoras lançarem álbuns durante as campanhas presidenciais, alegando que as vendas até o dia da eleição compensam o investimento. Um bom exemplo é La face karchée de Sarkozy (co-editado pela Fayard e a Vents d´Ouest). Resultado de uma detalhada reportagem do jornalista Philippe Cohen, com roteiro do advogado e cenarista de Richard Malka e desenhos de Riss, o livro biográfico de Nicolas Sarkozy vendeu mais de 200 mil exemplares. O sucesso foi tanto que inspirou o lançamento de outros dois álbuns de autores diferentes: Tout sur Sarko (Tudo Sobre Sarko) e Tout sur Ségo (Tudo Sobre Ségolene Royal, sua adversária política).

LULA EM QUADRINHOS

capa gibi Lula 2002 by Bira Dantas

Se hoje o presidente Lula é tema de filme, a tentativa de transpor sua vida para os quadrinhos aconteceu durante a corrida presidencial de 2002. Um movimento independente lançou o gibi Lula – A história de um vencedor com tiragem total de 580 mil exemplares. A revista contava a trajetória do “mocinho” Luiz Inácio Lula da Silva e apresentando seus então adversários José Serra e Ciro Gomes. Além do idealizador, o desenhista Bira Dantas, participaram do projeto o pesquisador Bargas, o arte-finalista Ricardo Cruzeiro e o cartunista Paulo Caruso, que escreveu a apresentação.

O financiamento para a tiragem inicial de 60 mil cópias veio de um fazendeiro de Ponta Grossa (PR). O lançamento aconteceu num jantar em Curitiba, com a presença do próprio Lula, que não esperava a surpresa.

– Ele não sabia de nada, só a Marisa, que acompanhou tudo, dando palpites nas caricaturas do marido – lembra Dantas.
– Quando o Lula viu a revista em cima do prato e começou a folhear, seus olhos encheram de lágrimas. Para a segunda edição ele só pediu uma mudança: que na cena dele no velório da primeira mulher, houvesse menos flores e que ele não aparecesse abraçando o caixão, que não aconteceu. Claro que atendi ao pedido pré-presidencial.

Membro do PT desde 1980, Dantas lembra que a revista fez sucesso entre os leitores, petistas ou não. Mas teve que passar por mudanças no segundo turno, quando Ciro passou a apoiar Lula.

– Sobre as mudanças, eu sempre fui muito categórico em aceitá-las. Mas quando fizemos a edição na Bahia eu disse: “Bargas, se você pedir para eu tirar o ACM ou Sarney, eu não tiro. Aí é questão de honra!” .

Para a eleição deste ano, Bira diz que aceitaria fazer um gibi com a biografia de Dilma Roussef. Mas e se algum quadrinista fizesse uma revista atacando o seu candidato? O artista acha saudável, desde que a discussão se dê no campo das idéias e propostas.
>> JORNAL DO BRASIL – por Pedro de Luna

Kennedy e Superman em 1964

O DISNEY BRASILEIRO FOI UM JORNALISTA, E NÃO UM QUADRINISTA…

quinta-feira | 28 | janeiro | 2010

Sei que o que vou escrever será visto como insulto por muitas pessoas. Mas, espero que todas elas entendam o que vou dizer.
Hoje, saiu uma nota no Anime News Network acerca de um trabalho do Maurício de Sousa. É um título que ele e Osamu Tezuka pensaram em fazer quando o segundo ainda estava vivo. Há uma tradução do Animepró. A nota original saiu no Asahi. Um fato a ser levado em conta é: a comparação colocada na matéria só foi posta ali, porque alguém aqui do Brasil disse para o jronalista que produziu o material. Eles não teriam chegado a tal conclusão do nada. Ou seja, o dito comentário provavelmente saiu daqui…

Na matéria, fala-se que Maurício de Sousa é o Walt Disney brasileiro. Cara, desculpem não é. Porque para ser o Disney brasileiro, ele teria que ter construido um império a altura. E veja: império no cinema, música, parques, na televisão… Quando vivo, o Walt Disney soube administrar tudo o que conseguiu. E em vários momentos, as empresas dele tiveram problemas, não foram só rosas. Mesmo assim, ele construiu um império.

Muitos podem dizer: “é, mas o Disney tinha apoio do governo americano…” E daí? Leonardo da Vinci também tinha apoio dos mecenas e nem por isso foi menos genial. Mas daí podem dizer, “mas ambos faziam quadrinhos…” Cara, isso não quer dizer nada. Até porque o Disney não fazia quadrinhos, escreveu algumas poucas histórias só…
Se um pesquisador americano ler este comentário de que Maurício de Sousa é o Disney brasileiro, possivelmente, ele faria as seguintes perguntas:

Pesquisador – Maurício de Sousa tem uma produtora de cinema? Uma das maiores do país?
Brasil – Não.
Pesquisador – Tem uma rede de televisão?
Brasil – Não…
Pesquisaodr – Tem algum parque de diversão?
Brasil – Tem até fevereiro…
Pesquisador – Tem uma gravadora?
Brasil – Não…
Pesquisador – Alguém aqui fez, construiu algo parecido?
Brasil – Sim, Roberto Marinho.
Pesquisador – Fale sobre ele…
Brasil – Bem, ele (a família) começou com um jornal. Anos depois conseguiram rádio, editora, depois fizeram uma TV, a primeira rede no país. Hoje, a Globo é tudo isso e mais uma produtora de cinema, além de acionista majoritária da maior operadora de TV a cabo do país…
Pesquisador – Obrigado. Então, o Disney brasileiro foi um jornalista, e não um quadrinhista como me informaram…

Tive a oportunidade em alguns momentos, de ver pessoas que trabalham para o Maurício de Sousa fazer comentários semelhantes, que ele é o Disney brasileiro. O que estas pessoas não percebem é que – além de tudo – compará-lo ao Disney é ruim para o próprio Maurício de Sousa, pois é como se ele não fosse bom o suficiente para ser visto com as próprias pernas… O Maurício de Sousa deveria falar isso para estas pessoas!!!

Maurício de Sousa é Maurício de Sousa é pronto. Não precisa de comparação. Ele é bom. Ele é um cara que sabe o que faz. Compará-lo, sempre, com alguém que não tem comparação, só o coloca muito abaixo do Dinsey, por toda a realização que o americano fez no contexto da comunicação. O Disney criou uma “major”, o Maurício de Sousa não.

Por fim, fazer comparação de trabalhos também não é correto, pois um trabalhou majoritariamente com animação, o outro com quadrinhos.

E só para constar… Não confundam a pessoa Walt Disney com o estúdio Walt Disney. A pessoa foi genial. Os seus estúdios fizeram algumas “bobagens”, como copiar Kimba. Mas, vale lembrar de uma outra coisa. Osamu Tezuka era “devoto” de Walt Disney. Tanto que o Tezuka fez algumas adaptações de animações da Disney para histórias em quadrinhos.

Enfim, coloquem Maurício de Sousa no topo. Ele por ele mesmo. Compará-lo a Disney só faz depreciá-lo e depreciar ao Disney, como se este não tivesse produzido nada na vida econômica das empresas dele…

E parabéns ao Maurício de Sousa pelo trabalho envolvendo Tezuka.
>> PAPO DE BUDEGA – por Sandra Monte


COMPARANDO DISNEY

quinta-feira | 28 | janeiro | 2010

Comparando Walt Disney

Inicio esta coluna com base num post do dia 11/01 no blog da amiga Sandra Monte, o Papo de Budega. Ela levanta uma questão interessante sobre as comparações feitas no Brasil entre Walt Disney e Mauricio de Sousa. E tenta, com argumentos válidos (mas que irei respeitosamente discordar a seguir) de que a melhor comparação de Walt Disney a um brasileiro seria Roberto Marinho. Enfim, vamos primeiro ao Mauricio: 

Tive a oportunidade em alguns momentos, de ver pessoas que trabalham para o Maurício de Sousa fazer comentários semelhantes, que ele é o Disney brasileiro. O que estas pessoas não percebem é que – além de tudo – compará-lo ao Disney é ruim para o próprio Maurício de Sousa, pois é como se ele não fosse bom o suficiente para ser visto com as próprias pernas… O Mauricio de Sousa deveria falar isso para estas pessoas! 

Voltei. Nunca vi o próprio Mauricio de Sousa fazer esta comparação com Walt Disney, mas já vi membros da equipe dele e, claro, muitos fãs, fazerem essa comparação infeliz. É infeliz porque é desproporcional. É infeliz porque acaba menosprezando os feitos do Mauricio, que por si só, não são pequenos. Mas eu acho que deixam por isso mesmo porque ajuda no marketing, e sabemos que isso é que tem destacado os lançamentos da Turma da Mônica nos últimos anos. 

Agora, num exercício maluco de comparação, qual brasileiro poderia ser comparado a Walt Disney? A Sandra em seu post destaca que o Walt “Disney criou uma major” (a grande produtora e distribuidora que é hoje). E faz um exercício de lógica envolvendo um hipotético pesquisador perguntando se alguém fez algo parecido com Walt Disney no Brasil. Vejamos um trecho: 

Pesquisador – Alguém aqui fez, construiu algo parecido?
Brasil – Sim, Roberto Marinho.
Pesquisador – Fale sobre ele…
Brasil – Bem, ele (a família) começou com um jornal. Anos depois conseguiram rádio, editora, depois fizeram uma TV, a primeira rede no país. Hoje, a Globo é tudo isso e mais uma produtora de cinema, além de acionista majoritária da maior operadora de TV a cabo do país…
Pesquisador – Obrigado. Então, o Disney brasileiro foi um jornalista, e não um quadrinhista como me informaram… 

Voltei: A argumentação é válida, mas o tempo e os acontecimentos infelizmente não combinam. O Roberto Marinho foi jornalista e um ótimo admnistrador. Mas nunca foi um executivo criativo. Se formos comparar corretamente, Roberto Marinho está mais para Roy Disney (irmão de Walt, responsável pelas finanças e operações do estúdio) do que para o Walt. 

Roberto Marinho era também intimamente ligado ao mundo da política, se beneficiando dela para aumentar a hegemonia da holding Globo. Walt Disney também foi beneficiário do governo americano em algumas oportunidades, mas nunca foi ligado a política. Pelo contrário, era considerado um ingênuo nessa área. Era um conservador republicano, mas que votara em uma ocasião para um democrata. 

Walt Disney era um homem criativo mais do que administrador. Ouvia seu grupo de artistas e tomava sua própria decisão, certa ou errada com base nas necessidades de suas idéias e na evolução técnica delas. Roberto Marinho tinha seus homens criativos, como foi o caso de Walter Clark. A Rede Globo é o que é hoje graças a um homem chamado Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. É dele essa estruturação de novelas e a formatação do Jornal Nacional e o Fantástico – e todo o ideário de “padrão Globo de qualidade”. Roberto Marinho “apenas” administrou. 

E por fim, Walt Disney não chegou a ver o seu estúdio transformado em uma grande corporação. Na época de sua morte (1966), a Walt Disney Productions se resumia aos estúdios e a um parque temático, a Disneylândia na Califórnia. O Walt Disney World ficaria pronto somente em 1971. A Disney se tornaria uma grande corporação a partir da administração Eisner-Wells em 1984, chegando ao seu ápice com a compra da Capital-Cities/ABC (incluindo a ESPN) em 1995. 

Então, se Roberto Marinho não é uma boa comparação, quem seria? Novamente, é sempre complicado fazer esse tipo de análise, mas é possível um esforço. Os mais próximos do estilo “Walt Disney” de administrar são Victor Civita (fundador da Editora Abril) e Silvio Santos. Ambos personalidades criativas. Victor Civita (1907-1990) tinha sacadas geniais para lançar as revistas, ouvia seus colaboradores e tinha um faro inigualável para arriscar em novidades. Apostou nos gibis Disney e bancou a revista Veja por anos, mesmo dando prejuízo. E assim como Walt, também tinha suas idéias malucas e que não foram para frente como dos Hotéis Quatro Roda (inspirados na revista) e o projeto de um frigorífico. O resultado é o Grupo Abril, hoje responsável por diversos negócios.
 
Na televisão temos Silvio Santos. Personalidade criativa, soube como ninguém adaptar os game-shows que assistia nos EUA para o gosto do brasileiro. Assim como Civita, também é ligado ao universo Disney, exibindo no SBT muitas séries, filmes e especiais. Ouve seus colaboradores, dá preferência para os mais simples, tem um faro para produtos que os demais nunca comprariam para exibição (Chaves é um bom exemplo) e tem uma presença cativante. Como todo gênio, faz suas bobagens, por vezes não tem paciência e muitas vezes erra. Mas essa é uma característica do gênio criativo. O resultado é o Grupo Silvio Santos com o SBT, teatro, bancos, a Tele Sena, hotel no Guarujá, lojas, etc.
 
Agora cabe a cada um equacionar as informações. Mas cada um desses personagens tem características únicas, que os tornam (mais uma vez) peças difíceis de serem comparadas. Sobre o restante do post do blog, sobre “Kimba”, discordo, mas deixarei essa polêmica para outra hora. 
>> ANIMATION-ANIMAGIC – por Celbi Pegoraro


“KICK-ASS” GANHA TÍTULO NACIONAL E DATA DE ESTRÉIA NO BRASIL

quinta-feira | 28 | janeiro | 2010


“Kick-Ass – Quebrando Tudo” chega em 11 de junho aos cinemas daqui

A Universal Pictures acaba de escolher o título nacional de Kick-Ass, adaptação às telas dos quadrinhos de Mark Millar e John Romita Jr.

O nome foi sugerido por um leitor do Omelete, participante da nossa promoção via Twitter. Será Kick Ass – Quebrando Tudo. Várias pessoas enviaram títulos semelhantes, mas o primeiro a mandar essa ideia foi Alexandre Bulhões (@bulhas), de Itabuna/BA.

O vencedor receberá um álbum importado Kick-Ass: Creating the Comic, Making the Movie (de Mark Millar, John Romita Jr., Jane Goldman e Matthew Vaughn).

O segundo colocado – que sugeriu o título Ação Sem Noção – foi Carlos Fischer (@carlos_fischer), que também receberá Kick-Ass: Creating the Comic, Making the Movie.

A distribuidora do filme por aqui, a Paramount Pictures, aproveitou o resultado da promoção para nos informar, com exclusividade, a data do lançamento do longa no Brasil. Será dia 11 de junho.

Kick Ass – Quebrando Tudo narra a história de um adolescente normal, Dave Lizewski (Aaron Johnson), que decide adotar o codinome Kick-Ass, vestir uma fantasia de super-herói, pintar bastões e combater o crime. Christopher Mintz-Plasse, Nicolas Cage, Chloë Moretz, Lyndsy Fonseca, Duke Clark e Mark Strong também estão no elenco, entre outros. Matthew Vaughn (Nem Tudo É o que Parece) dirige.
>> OMELETE – por Érico Borgo


“MENTHALOS” TRAZ HISTÓRIA SADOMASOQUISTA PAUTADA POR REFERÊNCIAS

quinta-feira | 28 | janeiro | 2010

Menthalos. Crédito: capa cedida pelo autor
Capa do álbum nacional, que tem lançamento em São Paulo nesta quinta-feira, na Livraria HQMIX

“Menthalos”, que tem lançamento nesta quinta-feira em São Paulo, marca duas estreias. No campo editorial, representa a entrada da Annablume na área dos álbuns nacionais. Na parte autoral, traz o primeiro roteiro em quadrinhos de Antonio Vicente Seraphim Pietroforte. Professor de Linguística e Semiótica na Universidade de São Paulo, ele construiu neste primeiro trabalho uma narrativa sadomasoquista permeada por referências de várias ordens.

Da Filosofia aos estudos da linguagem, dos quadrinhos à literatura, as citações englobam diferentes campos teóricos e ajudam a moldar a história de 80 páginas. O sadomasoquismo, uma das referências centrais da obra, também já havia sido explorado por ele: organizou em 2008 uma antologia sobre o tema em parceria com Glauco Mattoso.

A tradução visual dos temas ficou a cargo de Jorge Zugliani, que assina como Jozz. Este é o primeiro álbum dele desde “O Circo de Lucca”, publicado em 2008 pela Devir. Nesse intervalo, os quadrinhos de Jozz tem sido publicados no circuito independente.

Na leitura dele, “Menthalos” dialoga com o lado literário de Pietroforte, autor de romances e poemas publicados por diferentes editoras. Nesses livros, as referências também dão o tom. “Acho que o leitor se identifica com uma garota comum em foco e fica mais interessante ver como ela chega a constatações, reflexões e imagens aparentemente absurdas, mas partindo de hábitos simples do meio social”, diz o desenhista.

Paulistano de 45 anos, Pietroforte está na USP desde 2002. Ele foge do estereótipo do professor tradicional da universidade. Destoa nos temas, no visual, no uso de acessórios. O envolvimento com os quadrinhos vem desde criança. Como pesquisador, já abordou o tema em mais de um livro teórico com estudos sobre o processo de leitura das imagens.

A última obra foi lançada no fim do ano passado, também pela Annablume: “Análise Textual da História em Quadrinhos – Uma Abordagem Semiótica da Obra de Luiz Gê”. A Annablume, editora onde ele publicou muitos de seus livros, pediu a ele que pense em outros trabalhos para compor uma coleção de álbuns nacionais.

Página de Menthalos. Crédito: imagem cedida pelo autor

O embrião do selo de quadrinhos da Annablume é um dos temas desta entrevista com Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, feito após sucessivas trocas de e-mail. As referências vistas em “Menthalos” pautam também as respostas. Com erudição, mas sem perder a clareza própria de um docente, ele detalha suas influências para a obra.

Blog – Do que trata o álbum?
Antonio Vicente Seraphim Pietroforte
– Antes de tudo, trata-se de uma novela gráfica sadomasoquista, cuja influência principal é George Pichard, com ênfase na podolatria, influenciada, nesse tópico, por Franco Saudelli e Dennis Cramer. Contudo, como Menthalos e suas companheiras são anti-super-heróis, o diálogo com Stan Lee e a Marvel Comics é evidente. Contudo, não se trata apenas disso, há, em Menthalos, pelo menos uma tematização mítico-religiosa, quase esotérica, nas citações de Cornélios Agrippa e Robert Fludd; uma tematização musical, nas diversas citações de instrumentos musicais e músicos de jazz, em especial, do álbum Song X, de Pat Metheny e Ornette Coleman; e uma tematização metalingüística, quando os quadrinhos falam dos próprios quadrinhos, mas, ainda, quando são citados temas da semiótica, das teorias da linguagem e da lingüística moderna, como frases dos lingüistas mais importantes do século 20, Noam Chomsky e Ferdinand de Saussure – este último aparece como personagem da HQ no capítulo 6. Em síntese, o álbum trata da construção do sentido e da projeção da subjetividade erótica nesse processo.
 
É seu primeiro roteiro de quadrinhos, não? O que o levou a ele?
Gosto de transitar por várias linguagens, por isso, mesmo na área de Letras, estudei Semiótica, que me permite não me concentrar apenas em questões de língua e literatura. Depois de haver escrito romances, contos e poesias – trabalhos em linguagem verbal – resolvi fazer roteiros de HQs e, atualmente, estou envolvido em dois projetos: um com o Cleyton Fernandes, Maurício DeBonis, Marcus Pereira, Rodrigo Procknov e o mestre Willy Correia, todos músicos eruditos, em uma proposta de dar forma musical a poemas da literatura brasileira contemporânea; outro com a poetisa Ana Cristina Joaquim, o fotógrafo Lucas Kiler e a performer Milze K., na elaboração de um livro que combine fotos e poemas sadomasoquistas. 
 
Você tem trabalhos de análises semióticas de histórias em quadrinhos em mais de um livro. Uma pergunta dividida em duas: 1) você sente na USP e fora dela algum olhar torto sobre o tema?; 2) como acha que será visto pelos pares agora que é roteirista de quadrinhos?
Não sinto, não, a universidade está aberta a estudar canções populares, histórias em quadrinhos, cinema, etc; o preconceito contra essas linguagens já acabou faz tempo. Meus pares, meus amigos continuarão me vendo como sempre viram. A universidade é habitada por todos os tipos de pessoas, o professor sisudo e mergulhado apenas nas gramáticas e no cânone literário conservador é apenas um estereótipo. Os poetas Horácio Costa e Jaa Torrano são professores da USP, basta ler os livros de poemas “Homoeróticas e Paulistanas”, do Horácio, e “A Esfera e os Dias”, do Torrano, para confirmar o quanto eles podem ser bem “malucos”.
   
Qual a sua leitura do momento atual dos quadrinhos nas universidades brasileiras?
O que eu noto, às vezes, por parte dos alunos interessados no tema, é certo desconhecimento da história da história em quadrinhos e uma concentração em quadrinhos americanos de super-heróis e mangás. Como é quase só isso que circula nas bancas, fica bem difícil acessar artistas como Winsor Maccay, Goerge Herriman, Andrea Pazienza, Vuillemin; no erotismo, o mercado está bastante restrito ao Milo Manara, falta material do George Pichard e do Franco Saudelli, até mesmo do Guido Crepax, muita coisa está esgotada; no quadrinho nacional, pouca gente se lembra de Jayme Cortez, Júlio Shimamoto, Flávio Colin, Luiz Gê.

Há algum outro projeto semelhante em pauta?
Tenho mais três roteiros de histórias em quadrinhos, estou tentando convencer o Jozz para desenhar o segundo. Além disso, eu e o Jozz estamos coordenando a coleção “Em quadrinhos”, do selo [e]xperimental, da editora Annablume, cujo projeto é editar os novos autores do quadrinho brasileiro.

Queria que aprofundasse sobre do que se trata o selo “Em quadrinhos”. Como funciona na prática a seleção das obras e o que foi conversado com a editora?
Dentro da Annablume, os selos Demônio Negro e [e]xperimental cuidam de divulgar a literatura contemporânea – o selo Demônio Negro edita escritores com mais tempo de carreira, como o Augusto de Campos, o Horácio Costa e o Glauco Mattoso; o selo [e]xperimental, escritores mais recentes – dentro dessa proposta de divulgação da literatura contemporânea, surgiu a idéia, até em função da publicação de Menthalos, de fazer também um selo que editasse quadrinhos da nova geração. O Vanderley Mendonça, responsável pelo Demônio Negro, já foi editor de quadrinhos; o Zé Roberto, editor da Annablume, está dando bastante força para o projeto; o Jozz, que está no selo “[e]m quadrinhos” junto comigo, conhece bastante a nova geração de quadrinistas brasileiros. Por enquanto, temos apenas projetos para o futuro; queremos lançar, pelo menos, um álbum por semestre.
>> BLOG DOS QUADRINHOS – por Paulo Ramos 

Página dupla de Menthalos. Crédito: imagem cedida pelo autor


SERVIÇO
– Lançamento de “Menthalos”.
Quando: nesta quinta-feira (28.01).
Horário: 19h30.
Onde: HQMix Livraria.
Endereço: Praça Roosevelt, 142, centro de São Paulo.


SOBRE VAMPIROS

quarta-feira | 27 | janeiro | 2010

Foi-se o tempo em que falar sobre vampiros era o mesmo que querer assustar alguém com algo que poria medo. Os tempos são outros e o antigo monstro, senhor das trevas e fonte de todo mal, é reverenciado como um objeto de desejo por parte das mulheres. Seria mais uma prova de que seus poderes são ilimitados?

Pelo menos no campo da ficção isso parece ser uma verdade incontestável. Quando o personagem “vampiro” (seja qual for o nome que adota, de Dracula a Edward, de Lestat a Angel, de Bill True Blood ao senhor Barlow, de Salem´s Lot, de Stephen King), todos passaram por verdadeiras transformações que vão do comportamento à aparência. O vampiro moderno não lembra em quase nada o clássico, apenas a sede de sangue continua. A grande diferença é que, hoje, o vampiro segue preceitos sociais (mesmo que não pertença a esses círculos) e se torna o príncipe das garotas.

Mesmo que seja um príncipe das trevas… Afinal, o que importa é o momento…

Porém o que se nota mesmo é que, de todos os personagens que se usam desde os tempos mais remotos, o vampiro é o único que passa por atualizações e modificações constantes. Basta ter acesso a uma boa videolocadora e procurar os filmes mais antigos. Alguns apresentam um vampiro magro, orelhudo e pálido, algo entre um cadáver em decomposição e os morcegos que se tornaram sua marca registrada. Já os modernos, além de terem escrúpulos, muitas vezes se tornam alvo de admiração das novas gerações. Afinal, quem nunca sonhou em ser como Edward ou Bill? Com certeza as mulheres de hoje nunca repararam no “tanquinho” que o Drácula possuía. E olha que Bela Lugosi foi um Drácula que meteu medo sem jamais mostrar para as câmeras um único dente canino.

Mesmo o que se conhecia antes sobre o mito desse monstro da noite, não se leva mais em consideração. Até pouco tempo atrás era a figura histórica de Vlad Tepes, senhor da Valáquia, que era apontada como a fonte histórica do Drácula de Bram Stocker e, portanto, a fonte de todos os vampiros. Hoje já há quem afirme que nem mesmo o famigerado castelo Drácula (que, segundo os guias daquela região, hoje parte da Transilvânia) é o correto. Esses pesquisadores colocaram em cheque até mesmo se a denominação Dracula poderia ser usada no caso de Vlad. Essa é uma maneira segura de afirmar que estão querendo tirar de Drácula seu papel de inspiração, o que, com certeza, o mercado turístico nunca vai deixar acontecer…

Mas afinal, se o mito começou com Vlad Tepes, então significa que se trata de uma criação de tempos recentes e, portanto, passível de ser adaptada. Bem, não é assim quando entendemos um pouco sobre toda a mitologia que cerca o vampiro. Em civilizações antigas, como a da Grécia, já havia referências a esses seres da noite, porém com ligeiras (ou melhor, profundas) diferenças. Isso porque há aqueles que são considerados como “vampirólogos”, ou seja, estudiosos de vampiros, que seguem o rastro do mito desde suas origens em histórias onde eram acompanhados de tudo que é ruim e podre (corpos em decomposição, insetos, ratos e névoas animadas) até a forma galante e vegetariana dos vampiros modernos. Ver como tudo mudou e a influência que os diversos veículos de mídia tiveram nessa evolução é algo que deixa qualquer um embasbacado.

E vale também dizer que, se pensar na importância de tal personagem, não seria bem assunto de figuras históricas, não é? Pois bem, se assim fosse não teríamos nomes como o de Voltaire, filósofo francês, que escreveu em sua obra Dicionário Filosófico:

 “Estes vampiros eram corpos que saem das suas campas de noite para sugar o sangue dos vivos, nos seus pescoços ou estômagos, regressando depois aos seus cemitérios”.

Hoje em dia não há tema mais abundante na literatura do que o dos vampiros. Fornecedor de matéria-prima para escritores internacionais como a mãe dos vampiros modernos, Stephanie Meyers, também é porta de entrada para escritores nacionais fazerem sua estréia no gênero, batizado de literatura fantástica. O mais famoso deles, claro, é André Vianco, mas há outros nomes tão famosos quanto e que escrevem com mais freqüência e variedade, como Martha Argel, Giulia Moon, J Modesto, Nelson Magrini e Kizzy Ysatis, entre outros.

Na tv e no cinema o vampiro tem seu lugar garantido em produções luxuosas e que conquistam milhares de fãs, como a série original da HBO True Blood e Diários de um Vampiro (The Vampire Diaries), inspirada numa série de literatura. O cinema, claro, se rendeu à saga criada por Stephanie Meyers e os vampiros que não saem ao Sol porque suas peles brilham hoje são os prediletos do público feminino.

Uma das últimas séries a ganhar o gosto do público foi Moonlight, que conta a história de Mick St. John (Alex O’Loughlin), um detetive particular ao estilo noir, que descreve seus pensamentos enquanto se envolve em casos exóticos. Ele se tornou vampiro em 1952, quando foi mordido por Coraline (Shannyn Sossamon), sua noiva, que o transformou no dia do casamento. Mick a abandonou com raiva e repulsa, mas nunca se viu livre dela, que ainda o ama. Nesta série muito da mitologia é deixada de lado: os vampiros andam temporariamente ao Sol (e não brilham) e não morrem com estacas, apenas ficam paralisados. Apesar do sucesso, a série foi cancelada depois de apenas 16 episódios, mas marcou os fãs, que buscam na Internet e nas chamadas fan fic (histórias criadas por fãs) possíveis continuações.

Quando todos pensam que já houve o suficiente para os seres que se transformam em bebedores de sangue, sempre há uma contribuição que os tira de seu estado letárgico e os coloca de novo sob a luz dos refletores (Sol, não!).
>> CANTO DO ORÁCULO – por Sérgio Pereira Couto


VAMPIROS: AS EDITORAS DE LIVROS ESTÃO DE OLHO NESSA ONDA

terça-feira | 26 | janeiro | 2010


A estudante de psicologia rio-pretense Shya Alana, 25 anos,
leitora da saga Crepúsculo e dos livros de André Vianco
(como ‘Os Sete’): interesse pelo surreal (foto: Ferdinando Ramos)

 

Vampiros! Eles estão por toda parte. Seja na ficção literária, nas telas do cinema, na tevê. E quem sabe não exista mesmo um agora aí do seu lado, fazendo o que mais gostam: sugando a energia vital. A bem da verdade, atualmente, eles estão mais para mocinhos do que bandidos, já que se tornaram queridos graças às novas características românticas atribuídas aos personagens Edward e Bela, já há algum tempo a febre da ficção literária (e agora cinematográfica) jovem. Mas os sugadores de sangue têm cativado não apenas um público adolescente, mas arrastado adultos, vários adultos, para dentro de suas histórias – e não por acaso têm, com frequência, liderado rankings de bilheterias de cinema ou lista de livros mais vendidos.

“Uma loucura só”, é como Cristiane Freitas Ferreira, gerente de uma rede de livraria de Rio Preto, define a frequência na loja de aficionados pelo gênero logo após os lançamentos de filmes como os da saga “Crepúsculo”, da autora norte-americana Stephenie Meyer, publicados no País pela editora Intrínseca – cujo segundo episódio da série, “Lua Nova”, está no momento em cartaz.

O momento favorável à literatura de vampiro é tão grande que até editoras novas, menores, sem tradição, estão explorando o gênero. Não é o caso da editora Rocco, que já publicava livros com histórias de vampiros bem antes que Stephanie Meyer pensasse em escrever. É a editora, por exemplo, quem publica no Brasil a norte-americana Anne Ricce, responsável por criar os primeiros seguidores do gênero por aqui, ainda nos anos 1970. Anne tem mais de 20 livros publicados, entre eles “Vittorio, o vampiro”, “A hora das bruxas”, “A rainha dos condenados”, “Lasher”, “Taltos”, “Memnoch”, “Pandora”, “O vampiro Armand”, “O vampiro Lestat”, todos editados pela Rocco, que detém direitos sobre 15 obras da autora.

Mas não há como negar a força de “Crepúsculo” para esta novo estado de fama experimentado pelos vampiros. Tanto que, após arrecadar milhões de dólares em livros e filmes, a franquia vai explorar agora a linguagem das HQs. Sim, o fenômeno teve sua primeira história em quadrinhos, “Twilight: The Graphic Novel”, anunciada pela revista Entertainment Weekly, que divulgou uma das páginas, no último dia 20. O lançamento, marcado para o dia 16 de março, será por enquanto apenas no mercado americano.

As histórias estão sendo elaboras pelas mãos da artista Young Kim, que garante que os personagens Bela e Edward também vão virar desenho, em uma adaptação fiel do livro da escritora. O empresário e editor Paulo Tadeu, da Matrix, afirma que o primeiro projeto da editora nesta linha, “Vampiros, Origens, lendas e mistérios”, de autoria de Marcos Torrigo, pegou bem a carona do tema. “Já foram quase três mil livros da primeira edição em pouco mais de três meses, então, estou pensando em trabalhar mais títulos que forem chegando com a mesma temática. O livro lançado por aqui saiu em outubro e já está indo para a segunda edição.”

Tadeu explica que a obra chegou justamente quando estava começando o fenômeno Crepúsculo. “Foi uma aposta da editora. E ela tem se mostrado acertada. Afinal, toda essa onda em torno dos vampiros gera procura não só pelos livros da série, como por tudo que se relacione. Tem muita gente querendo informações sobre como os vampiros são, como se propagou a lenda, e daí por diante.”

Fãs do gênero se multiplicam
Mesmo quem nunca gostou de histórias de vampiros hoje se dobra à leitura de títulos como “Crepúsculo”. É o caso da enfermeira Eliene Minarini Alves, de 23 anos, que já leu toda a saga de Edward e Bella e ainda incentivou a irmã de 34 a se tornar fã. “Vi o filme e decidi ler o livro. Gostei tanto que não consegui parar enquanto não terminei a saga. Acho que o romance por trás da história é o que mais estimula”, diz.

Quem também não parou enquanto não concluiu a leitura de todos os títulos (Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Amanhecer) foi a estudante de psicologia Shya Alana M. Lim, de 25 anos. Como leitora de tudo que lhe cai às mãos, afirma que após ler “Os Sete”, de André Vianco, passou a se interessar pelo universo vampiresco. “Acho que o fato de ser algo tão surreal é que faz com que se torne interessante”, diz.

“O primeiro livro da série foi avaliado por nosso editor, Jorge Oakim, em um final de semana. Ele levou o livro para ler na sexta-feira e, no dia seguinte, sábado, já tinha certeza de que se tratava de um sucesso, tanto pela originalidade da história quanto pela qualidade do texto, que prende a atenção do leitor, um fenômeno chamado de ‘turning pages’”, diz Juliana Cirne, da editora Intrínseca. “ O enredo de Crepúsculo representa um retorno ao romantismo, uma nostalgia do amor romântico que tem forte apelo para os jovens.”

Outros produtos
O potencial dos vampiros despertou a atenção também dos produtores de tevê. Duas séries sobre o tema fazem sucesso atualmente nos canais por assinatura: “True Blood”, que teve duas temporadas exibidas pelo HBO, e “The Vampire Diaries”, pela Warner (o SBT também adquiriu os direitos e garante exibi-la este ano).

Eles já estavam presentes na mitologia grega
Para a antropóloga Niminon Suzel Pinheiro, professora da Unirp, o vampirismo está relacionado à crítica e ao moralismo cristão desde sempre. Seja por sua ligação com o humano à tensão entre a imaginação e a moralidade, a percepção do daimonismo na natureza e a culpa. “A dúvida e ansiedade daí decorrentes podem provocar e gerar a criação e o sucesso desse tipo de ficção”, afirma.

“Ao longo do processo histórico e social, diferentes figuras representaram o lugar hoje ocupado pelos vampiros. A Górgona grega mostra bem isso”, diz. Na arte antiga, ela é representada com uma cabeça sorridente, de barba e presas.

A professora observa que o vampirismo é como um escudo ou um ímã. “Nos vemos nele, se agimos mal, somos atraídos e engolidos e agimos bem. Ele nos fortalece. Observe que os navios antigos tinham cabeças de monstros na proas dos navios para desviar más influências. Nem tudo que parece do mal traz o mal. Eles servem para afastá-los, conforme a ideia de similaridade”, desafia.

Niminon propõe pensar outra questão importante. “O vampirismo da atualidade veiculado pela mídia e refinado pela imaginação popular é a relação com o sexo. Isso decorre da ideia, também antiga, da tocaia, do estupro e do devoramento da presa após o ato sexual. Assombrações, feiticeiros, duendes, gnomos, hárpias, seres das trevas, demônios errantes, morte e renascimento, partes complementares do ciclo da mãe-natureza, que sintetizam-se no vampiro glamurizado nas telas de hollywood”, diz.

Na internet
Nem todos os escritores do gênero vampiresco são conhecidos da grande mídia. Porém, a democracia de acesso do mundo virtual lhes permite atrair muitos fãs. É o caso do paulista Adriano Siqueira, diagramador e design gráfico de 44 anos que se tornou conhecido graças a seu trabalho no site www.adoravelnoite.com, seguido de perto por milhares de internautas.

“A humanidade tem uma atração por conhecer seres poderosos, dominantes, sedutores e solitários e com muita ênfase em Paixões proibidas. Os vampiros são os únicos seres sobrenaturais a ter tudo isso em suas histórias. Isso prende o leitor”, diz.

Na entrevista abaixo, concedida pelo paulista Adriano Siqueira, de 44 anos, diagramador e design gráfico, autor do site Adorável Noite, o leitor vai conhecer um pouco mais sobre o leitor que de tanto colecionar livros, HQs, filmes, Cds e tudo mais que existe sobre vampiros, acabou por transformar isto em sua profissão. Ele conta como tudo começou e, garante, que já conseguiram – ele ao lado de vários outros escritores nacionais, que participam da criação do grupo de novos escritores “Tinta Rubra”, há dez anos – cravar seus dentes pontiagudos no cenário cultural do País. Hoje, além de escrever, Siqueira é consultor de novos sites sobre
vampiros, ministra palestras sobre vampiros, participa de exposições, e também concede entrevistas às diversas mídias, além de produzir curtas metragens, HQs e radionovelas sobre vampiros. Acompanhe a íntegra da entrevista.

Diário – Como começou a escrever sobre vampiros?
Adriano Siqueira – Foi em 1996, quando comprei um computador e tive acesso as BBS´s (sistema offmail de comunicação) A onda sobre vampiros crescia muito por causa do RPG que era a novidade dos vampiros. Comecei a escrever contos pequenos e em pouco tempo comecei a ter muitos leitores que apreciavam as histórias que eu escrevia. As raízes dos vampiros se fortaleciam a cada dia. Foi naquela década que passou nos cinemas, o Filme Entrevista com o vampiro e Drácula do Ford Copolla. Na TV passava o Seriado Buffy a caça-vampiros, o Seriado Maldição Eterna e o seriado Kindred – Irmãos de sangue, que era sobre RPG. A década de 90 também tivemos o lançamento do “Livro dos Vampiros” do autor Gordon Melton. Tudo isso fez com que a vitalidade do assunto sobre os vampiros crescesse muito e foi nesta década que comecei a escrever.

E como surgiu a idéia do site?
Criei um site em 1999 para colocar os contos que escrevia e logo em seguida criei o site Conto noturno (atual Adorável Noite) para divulgar mais ainda os meus contos. A ideia foi tão positiva que comecei também a divulgar os livros sobre vampiros. Eu precisava de mais apoio. Então pedi ajuda para um site que tinha muitos grupos no antigo e-groups (hoje é o Yahoo), sugerindo a criação de um grupo específico para contos de vampiros. Foi assim que no ano 2000, nasceu o primeiro grupo de contos de vampiros do Brasil, o Grupo Tinta Rubra. Com este grupo ficou bem mais fácil divulgar meu trabalho e o dos novos escritores de vampiros. Aliás, muitos livros existentes hoje são de autores que já passaram por ele. Até porque, o site Adorável Noite (www.adoravelnoite.com) e o grupo Tinta Rubra, completam este ano, 10 anos de vida!

Além deste grupo de escritores, o site deu origem a outras situações?
Em 2008 estreia o primeiro livro com a minha participação. “Amor Vampiro” junto com mais seis autores; em 2009, teve o livro “Draculea” – o livro secreto dos vampiros ao qual participei com um conto chamado Filosofia Vlad e em seguida “Metamorfose” a fúria dos lobisomens com uma história sobre um vampiro e um lobo.

O que, em sua opinião, cativa tanto os leitores, quando se aborda este assunto?
A humanidade tem uma atração por conhecer seres poderosos, dominantes, sedutores e solitários e com muita ênfase em paixões proibidas. Os vampiros são os únicos seres sobrenaturais a ter tudo isso em suas histórias. Isso prende o leitor. O vampiro tem muitas vertentes. E a cada livro, a cada autor, o leitor fica interessando em saber sobre qual o tipo de vampiro que o personagem é. As armadilhas sedutoras que o vampiro planeja para conquistar as suas vítimas deixa a dúvida se ele está apaixonado ou se ele só faz estes jogos para se alimentar. A curiosidade sobre o assunto é tão vasta que certamente ainda teremos muitas histórias a serem contadas.

Acredita que em algum momento este tipo de literatura terá tanto espaço, quanto tem hoje, os livros de auto-ajuda, por exemplo?
Faz pouco tempo que temos a categoria terror nacional nas livrarias. Antes, era tudo colocado em literatura nacional, romance ou infanto juvenil. Os vampiros ainda terão uma categoria própria, pois a quantidade de livros aumentam, a pesquisa que fiz em 2009 mostrou que tivemos mais de 20 livros sobre vampiros em um único ano. Isso é um record brasileiro. Se continuar assim neste ano vamos ter o dobro. O Brasil é uma forte potência sobre o tema. Tem escritores experientes e existem mais aparecendo. Tudo indica que em breve teremos mais editoras acreditando neste tema. Abrindo mais as portas para os escritores nacionais que escrevem sobre vampiros.

Como você vê a expansão da abordagem deste tema, com a repercussão de livros como “Crepúsculo”, e os demais da autora?
Foram os livros da Stephenie Meyer sobre vampiros, que fizeram com que a mídia fosse tomada pelo tema e as editoras abrissem mais ainda as portas para os escritores nacionais. Já vimos esta moda de vampiros no Brasil quando estreiou a série Buffy – a caça-vampiros e mais tarde com a novela “Beijo do Vampiro”. A cada década sempre tivemos os vampiros na moda. Na década de 90, foi o filme “Entrevista com o vampiro” que personalizou até a roupagem dos vampiros; na década de 80, foram “Os Garotos Perdidos” que estabeleceu a rebeldia dos adolescentes em sua eterna vida noturna; a década de 70, vieram os filmes do Chirstopher Lee sobre Drácula, que mostrou como um homem completamente desconhecido pode dominar as mulheres com poucas palavras. Nesta nova década, quem sabe não será a vez do Brasil, finalmente tomar a frente com suas próprias histórias.

Tem alguma publicação independentes sobre vampiros?
Eu organizo o Fanzine Adorável Noite – Contos de Vampiros. Ele foi criado em 2001, e tem por objetivo divulgar os contos e poemas de autores nacionais. O fanzine é entregue em casas noturnas e eventos sobre o tema. Se alguém estiver interessado em participar deste fanzine, ou mesmo ler alguns, pode fazê-lo através do site http://www.adoravelnoite.com/fanzines/index.html que é totalmente gratuito.
>> DIÁRIO DA REGIÃO – por Cecília Dionizio


“CAPRICA”: ASSISTA AO TRAILER DO SERIADO

terça-feira | 26 | janeiro | 2010

O canal americano SyFy revelou o trailer da primeira temporada de Caprica, série que será um prequel de Battlestar Galactica.

Confira o vídeo abaixo.

Caprica serve como prólogo a Battlestar Gallactica, e mostra a colônia estelar homônima 50 anos antes dos ataques dos Cylons. O ator Eric Stoltz, que nos anos 90 fez Pulp Fiction, é o protagonista da ficção, que ainda tem Polly Walker, Esai Morales e Paula Malcomson no elenco. A produção fica por conta de Ronald D. Moore e David Eick, os mesmos de Battlestar Galactica. O time de roteiristas também será o mesmo.

A trama mostra como surgiu a rivalidade entre os Adamas e os Graystones, que viram suas filhas morrerem em uma tragédia. Os personagens principais da produção são Joseph Adama (Esai Morales) e Daniel Graystone (Eric Stoltz).
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


“CONAN”: ESCOLHIDO O NOVO BÁRBARO DA CIMÉRIA NO CINEMA

terça-feira | 26 | janeiro | 2010

A Nu Image e a Millennium Pictures definiram o nome do ator que viverá o guerreiro cimério de Conan, reinício da saga nas telonas. Depois de conseguir os nomes dos três finalistas ao papel, o blog Deadline Hollywood crava o escolhido: Jason Momoa, de 30 anos, o Ronon Dex de Stargate: Atlantis.

Ao mesmo tempo, o Latino Review diz que as produtoras já estão atrás do resto do elenco. Um convite teria sido feito a Mickey Rourke para que ele interprete o pai de Conan, Corin.

O roteiro é de Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer (dupla de Sahara) e as revisões ficaram a cargo de Dirk Blackman e Howard McCain. Marcus Nispel (Sexta-Feira 13) dirige.

As filmagens começam em 15 de março, na Bulgária.

A Nu Image e a Millennium Pictures definiram o nome do ator que viverá o guerreiro cimério de Conan, reinício da saga nas telonas. Depois de conseguir os nomes dos três finalistas ao papel, o blog Deadline Hollywood crava o escolhido: Jason Momoa, de 30 anos, o Ronon Dex de Stargate: Atlantis.

Ao mesmo tempo, o Latino Review diz que as produtoras já estão atrás do resto do elenco. Um convite teria sido feito a Mickey Rourke para que ele interprete o pai de Conan, Corin.

O roteiro é de Thomas Dean Donnelly e Joshua Oppenheimer (dupla de Sahara) e as revisões ficaram a cargo de Dirk Blackman e Howard McCain. Marcus Nispel (Sexta-Feira 13) dirige.As filmagens começam em 15 de março, na Bulgária.
>> OMELETE – por Marcelo Hessel


SAMUEL L. JACKSON ESCREVERÁ HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

terça-feira | 26 | janeiro | 2010

O Boom! Studios revelou nesta segunda-feira que o ator Samuel L. Jackson escreverá uma nova HQ para a editora, chamada Cold Space. Os roteiros serão feitos em parceria com Eric Calderon, e os desenhos ficam por conta de Jeremy Rock.

O que? Você achou que Samuel L. Jackson iria escrever Os Supremos para a Marvel Comics? Não entendeu? Bem, Jackson foi a base para a versão de Nick Fury presente em Os Supremos. No fim das contas, o ator agora interpreta Fury nos filmes da Marvel.

A revista terá seu personagem principal baseado no próprio ator, como você pode conferir acima. O herói será um forasteiro que cai em um planeta alienígena bem no meio de uma guerra civil.

Cold Space ainda não tem data para sair.

O Boom! Studios foi inaugurado em 2005, com a proposta de viabilizar projetos autorais de grandes nomes dos quadrinhos. A editora possui uma série de títulos em vários gêneros diferentes, entre os quais se destacam Hero Squared, Zombie Tales, Cthulhu Tales e títulos com personagens da Pixar e Disney. Mark Waid é seu atual editor.
>> HQ MANIACS – por Artur Tavares


“OS PASSARINHOS”: PRÉ-VENDA AJUDA A PAGAR CUSTOS DE LIVRO DE TIRAS

terça-feira | 26 | janeiro | 2010

Os Passarinhos. Crédito: divulgação

A internet se tornou um rica janela virtual para expor trabalhos em quadrinhos. De graça, porque não se ganha para produzir tiras e histórias num site ou num blog. A falta de pagamento é contornada com ganhos indiretos – eventual publicação em jornal, por exemplo – ou com o uso da criatividade para não ficar no vermelho.

Foi exatamente com criatividade que o desenhista Estevão Ribeiro conseguiu viabilizar a publicação em papel das tiras de “Os Passarinhos”, até então exclusivas de seu blog.

O jeitinho que o autor encontrou foi dividir os custos com o leitor. O internauta que segue a página faz um pagamento prévio da obra. E parte desse dinheiro que foi feito o livro, que tem lançamento nesta segunda-feira à noite no Rio de Janeiro e no mês que vem em São Paulo.

O sistema de pré-venda já é usado há alguns anos em diferentes sites, inclusive de editoras brasileiras. A estratégia é oferecer a compra antecipada de determinado produto dias ou semanas antes de ele ser posto à venda.Cada leitor do blog com as tiras de “Os Passarinhos” foi convidado a fazer um depósito entre R$ 8 e R$ 9,50. A diferença é por causa da variação do frete para o envio da obra.

Em troca, além do recebimento do livro, os patrocinadores terão os nomes impressos no livro como forma de agradecimento. 72 pessoas ajudaram e serão mencionadas na obra.Segundo Ribeiro, o esquema não permitiu o pagamento de toda a obra, mas garantiu 25% do custo total. Ele arcou com outros 25% e metade com a editora, a estreante Balão.

No entender do desenhista, o apelo direto ao leitor ajuda a contornar a burocracia de outras formas de viabilização de um projeto como esse, como as leis de incentivo cultural. O retorno foi uma surpresa. Alguns fãs depositaram dinheiro a mais. Outros aproveitaram para comprar outros trabalhos escritos por ele, como o livro “Contos Tristes”, segundo lugar no Prêmio Capixaba de Literatura Infanto-Juvenil, em 2007.

Quem não fez o depósito poderá ler as tiras do mesmo jeito. As inéditas – metade da obra – serão colocadas no blog algum tempo depois do lançamento do livro. “Algumas pessoas podem não querer desperdiçar numa publicação que estará on-line em três meses, e eu não as culpo”, diz Estevão, que está com 30 anos.

O desenhista, que também é ilustrador do jornal carioca “O Dia”, pretende repetir a experiência da pré-venda. Planeja lançar mais livrinhos da série ainda este ano. Este primeiro foi feito em formato horizontal e com as páginas grampeadas. São 102 tiras em preto-e-branco, uma por página. O preço R$ 9, um pouco mais caro que a pré-venda. O conteúdo mostra em papel o que o leitor virtual já conhece. A série tem como protagonistas dois passarinhos, Afonso, parecido com um sabiá, e o baixinho Hector.

Segundo o autor, os dois surgiram por acaso. “Eu estava num estúdio de animação esperando para apresentar um teste de roteiro e comecei a desenhar para passar o tempo.” “Em poucos minutos, eu fiz a ilustração do Hector, o passarinho menor. Fiz mais alguns desenhos dele, até que pensei que poderia fazer algo legal com o personagem. Então, decidi fazer outro personagem para acompanhá-lo e criei o Afonso, que inicialmente era para ser um periquito.”

Os Passarinhos. Crédito: reprodução do blog do autor

Da concepção para a realização. Estevão Ribeiro deu início ao blog da série em julho do ano passado. Desde então, tem usado a internet como ferramenta de divulgação. “Às vezes damos foras, eu tenho sido chamado de chato por algumas pessoas na Internet. Tento compensar com qualidade de trabalho”, diz o desenhista, nascido em Vitória (ES) e morando há quase dois anos em Niteroi (RJ).

O burburinho virtual teve seu ápice com a criação de Piu Gaiman, paródia em forma de ave de Neil Gaiman, conhecido por ser o roteirista da série norte-americana “Sandman”. O link com a tira com o personagem foi divulgada no Twitter e foi descoberta pelo próprio Gaiman. O escritor mencionou o trabalho e ajudou a pôr o blog brasileiro em evidência.

“Naquele momento, meu Twitter entrou em parafuso: pessoas comentando, repassando a mensagem do Neil Gaiman para outros”, diz o desenhista de 30 anos. “Ao todo, foram 65 ´recomendações´ para os seguidores, resultando mais de 1.200 acessos no blog. Foi o maior número de acessos num só dia.”

O blog de “Os Passarinhos” soma até agora 18 mil visitas, segundo o autor. A meta de Ribeiro é acentuar a popularização da série e publicar outro projeto. Ele organiza o livro “Pequenos Heróis”, que tem como ponto central a criação de histórias que tenham como fundo os superseres da editora norte-americana DC Comics.

“´Pequenos Heróis´ é um álbum em quadrinhos que conta oito histórias de crianças e adolescentes que tem algo em comum: num determinado momento da história eles agem heroicamente, fazendo referência a grandes super-heróis.” O livro irá fazer referência a Super-Homem, Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Aquaman, Canário Negro, Ajax e os Lanternas Verdes. Estevão assina os roteiros, todos sem balões.

Serão oito histórias, cada uma com arte de um desenhista: Mário César, Emerson Lopes, Fernanda Chiella, Vitor Cafaggi, Jaum, Leo Finocchi, Ric Milk & Dandi – arte e cor – e Raphael Salimena.

Estevão aguarda a finalização de duas das histórias. Planeja lançar a obra ainda este ano e, depois, levá-la ao exterior. Ele já imagina também duas sequências, uma com heróis da Marvel – Homem-Aranha, Hulk, entre outros – e de clássicos, como Flash Gordon e Spirit.
>> BLOG DOS QUARINHOS – por Paulo Ramos

Os Passarinhos. Crédito: reprodução do blog do autor 

Serviço – Lançamentos de “Hector & Afonso – Os Passarinhos”
Rio de Janeiro. Quando: nesta segunda-feira (25.01). Horário: 19h. Onde: Blooks Livraria. Endereço: Praia de Botafogo, 316
São Paulo. Quando: 20 de fevereiro. Horário: a partir das 17h. Onde: Quanta Academia. Endereço: rua Dr. José de Queirós, 246, Vila Mariana


J.J. ABRAMS: CINEASTA FALA SOBRE “LOST”, “FRINGE”, “STAR TREK” E SUA PRÓXIMA SÉRIE, “UNDERCOVERS”

segunda-feira | 25 | janeiro | 2010

J.J. Abrams esteve na festa do canal Fox para a turnê de inverno da Associação dos Críticos de Televisão representando o seu programa Fringe. Mas, com tantas coisas rondando sua escrivaninha, como o final de Lost, a nova série Undercovers e a sequência de Star Trek, o cineasta teve de falar sobre um pouco de tudo.

Quem esteve por lá foi Sara Wayland, da equipe de colaboradores do Collider, parceiro do Omelete em Los Angeles. Confira o que ele falou sobre os seus trabalhos:

Os dois universos de Fringe vão finalmente começar a colidir?

Tem várias coisas muito legais que vão acontecer até o fim da segunda temporada. No entanto, o Jeff [Pinkner] e o Joel [Wyman], que estão realmente comandando o programa, ameaçaram me matar se eu revelar alguma coisa. Eu vou dizer que a trama que eles tinham no início dessa temporada, e que conversamos também com o Akiva Goldsman, vai ter um encerramento muito bom. Estou muito empolgado com isso. 

Vai ter mais William Bell interpretado pelo Leonard Nimoy?

Existe uma chance disso, com certeza. Eu não quero dar certeza nem para sim, nem para não, mas definitivamente existe a possibilidade. 

Em que estágio de desenvolvimento está o seu novo piloto para a NBC, Undercovers?

Nós começamos a filmar na segunda-feira. Então estamos bem mais adiantados do que eu sinto que estamos. 

Esse é mais um projeto de ficção científica?

Não. É uma série romântica que é uma comédia-drama sobre um casal de espiões. 

Com Lost chegando ao fim nesta temporada, você vai dirigir o último episódio?

Não. O Jack Bender realmente é o cara desse programa, como produtor/diretor, então seria errado da minha parte chegar e dizer “Olha, chega pra lá que eu vou dirigir”.

Mas você dirigiu o primeiro episódio. 

Eu sei, mas de alguma maneira seria estragar todo o trabalho incrível que ele fez. Mas o fato é que ele está morando no Havaí com o elenco, então ele vai dirigir o último episódio. 

Você vai cuidar da direção no seu novo programa?

Eu vou dirigir o piloto de Undercovers, sim. 

A NBC parece receptiva para novos dramas, agora que eles vão vagar o espaço das 22h de novo?

Eles já eram um lugar receptivo quando compraram o piloto, então eu estou muito feliz de estar lá. De repente há mais horas disponíveis por semana, o que é bom, mas isso não a torna mais ou menos receptiva. As pessoas da NBC têm sido extraordinariamente gentis e deram muito apoio a este piloto. É o início de um relacionamento. É uma coisa esquisita. Quando você faz um piloto com uma nova emissora, ou até com uma conhecida, e com atores com quem você nunca trabalhou, é sempre uma questão de fé. Você está entrando apressadamente num casamento com pessoas que você acredita que são ótimos parceiros, mas não tem certeza. Tudo que você pode fazer é, no dia-a-dia, perguntar “O que você acha disso? Me parece bom” ou “Isso está me incomodando, então vamos conversar sobre o assunto”. É literalmente como estar num relacionamento. Por enquanto ainda não tivemos brigas, estamos no período de lua-de-mel. 

Com terroristas ao redor do mundo e guerras acontecendo, você consegue fazer dramas sérios sobre terrorismo e medo, ou é melhor fazer algo mais leve?

Uma das coisas divertidas desta nova série que estamos fazendo é que ela é muito mais divertida, leve e escapista, ao invés de um drama pesado e complexo. Para mim, a ideia de combater qualquer coisa que se assemelhe ao terrorismo de verdade, não é bem o que eu quero assistir nesse momento. Eu não estou dizendo que isso é uma coisa que eu não assistiria, caso alguma outra pessoa fizesse, mas não é o que eu estou focando neste momento. 

É uma aposta mais arriscada tentar fazer uma coisa assim, com a situação do mundo agora? 

Quando se trata do que as pessoas estão indo assistir no cinema, pelo menos, está mais difícil fazer histórias de guerra. No entanto, uma das melhores coisas que a TV oferece é não só saber as notícias de tudo que está acontecendo nesse exato momento, em qualquer lugar do mundo, mas também a oportunidade de escapar de tudo isso. Querer uma dose de desejos realizados e diversão escapista é uma coisa que, como fã de televisão, eu consigo compreender, agora mais do que nunca. 

Você acha difícil passar de drama de ficção científica para um seriado mais leve?

Não, é sempre um alívio pular de um gênero para o outro porque, por mais que você esteja se divertindo e que tudo esteja dando certo, depois de trabalhar numa coisa por certo tempo, é refrescante trabalhar em alguma coisa que tenha outro ponto de vista. Uma outra abordagem e outro gênero. 

Você vai mesmo colocar a mão na massa nesse novo seriado? Você vai se envolver no dia-a-dia ou vai lançar, como com Lost e Fringe, e depois confiar na sua equipe?

Eu acho que, no começo, eu vou estar presente no dia-a-dia do programa. Eu vou dirigir o piloto, mas depois eu acho que o Josh Reims – com quem eu já trabalhei antes em Felicity – vai comandar o programa no dia-a-dia. Mas é importante para mim que a gente acerte o tom, consiga a energia e a dinâmica certa com os personagens. 

Você gostaria de dirigir um episódio de Fringe?

Eu adoraria. Isso foi antes do surgimento de Undercovers, mas não diminui minha vontade de fazer o episódio. Eu nunca consegui a chance de trabalhar com o Josh [Jackson], Anna [Torv] e John [Noble], e colocar a mão na massa, então eu ainda gostaria muito de fazer isso. Com certeza não é uma possibilidade que eu estou eliminando. 

Você acha que a Fox quer mesmo fazer uma terceira temporada de Fringe?

Eles têm dado um apoio maravilhoso. Eu não tenho nenhuma reclamação sobre como a Fox tem lidado com a gente. Apesar de não haver nenhuma notícia oficial sobre nada, eu tenho esperanças de que, apesar de tudo, nós vamos manter nosso território com eles. 

Essa temporada vai terminar com um gancho empolgante para a próxima?

Ela não vai terminar concluindo a série. 

Você já está mais próximo de uma decisão sobre dirigir ou não o próximo filme de Star Trek?

Não. Nós ainda não temos um roteiro nem nada, mas temos uma data de estreia [29 de junho de 2012 nos Estados Unidos]. A ideia é que eles tenham fé na equipe para esse filme. 

Foi gratificante descobrir sobre a indicação ao prêmio do Writer’s Guild para o primeiro filme?

Eu estou muito feliz pelo Alex [Kurtzman] e pelo Bob [Orci].

Você esperava que isso acontecesse? 

Não. Estou muito feliz por eles. A verdade é que eles são incrivelmente talentosos e trabalhadores e muitas vezes acabam marginalizados porque são tão bem sucedidos. Mas eles são ótimos escritores e é maravilhoso ver que estão ganhando o tipo de reconhecimento que merecem. O designer de produção Scott Chambliss foi indicado. A equipe de maquiagem foi indicada. Os efeitos visuais também foram indicados. É ótimo ver as indicações desses artistas incríveis e que trabalharam tanto, que poderiam ser facilmente marginalizados porque é algo chamado Star Trek. Eles são muito bons. Espero que o Michael Kaplan, que fez um trabalho incrível com o figurino, seja reconhecido também. Pessoas maravilhosas trabalharam nesse filme. 

Estão rolando boatos de que o filme poderia ser indicado ao Oscar. O que isso significaria para o filme?

Eu não consigo nem imaginar, mas seria uma coisa maravilhosa para todos os envolvidos. É difícil imaginar isso. 

Em Lost, como você já sabia o que [os produtores-executivos] Damon Lindelof e Carlton Cuse iam fazer, conforme a última temporada foi se desenrolando você sentiu momentos verdadeiros de empolgação, ao descobrir o que ia acontecer?

Nessa temporada, eles estão fazendo umas coisas incríveis e complicadas que são realmente inesperadas e diferentes, em vários aspectos. O jeito que vai terminar é consistente com o histórico incrível que eles têm em contar histórias. Histórias que são surpreendentes, de jeitos que te explodem a cabeça, que é justamente o ponto-chave do programa e que eu acho que eles fizeram maravilhosamente bem. 

O fim da série é o que você achava que seria, desde o começo? 

Nossa, de maneira alguma! Não. Existem pequenos fios e elementos aqui e ali, mas na verdade, quando começamos, nós não sabíamos exatamente o que ia sair. Nós tínhamos ideias, mas não sabíamos até que ponto elas iriam. A ideia dos Outros estava lá, mas nós não sabíamos exatamente o que isso ia significar. Damon ainda não tinha tido a ideia dos flash forwards. Ver onde estamos agora e o que eles criaram é insanamente gratificante e é algo que ninguém teria previsto no começo. A evolução da série realmente faz parte do incrível experimento deles de pegar uma série que no começo nós falávamos “Como você transforma isso numa série?”. Ver o que o Damon e o Carlton fizeram é realmente incrível para mim. 

Mas você que teve a ideia para a base da série, certo? 

Existiam muitas ideias, mas o jeito como as coisas aconteceram faz parte daquela questão de fé, de acreditar que vai dar certo. Isso não significa que você planeja tudo. Você tem grandes ideias, mas quando as ideias melhores e maiores aparecem, você segue com elas. 

O que você aprendeu com Lost que vai conseguir levar para outros seriados de gênero?

Lost é um caso especial. É difícil saber. Podemos dizer que é melhor que você não fique muito “serializado” porque, em um certo momento, é difícil. Mas a verdade é que eu não sei se Lost teria dado certo se fosse qualquer outra coisa. E não sei como aquilo se aplicaria a qualquer outro seriado.  

Se os detalhes e a mitologia de Lost não tivessem dado certo com o público, você teria tentado mudar, ou teria simplesmente desistido?

É difícil imaginar a versão de Lost em um universo paralelo, em que você pensa “Olha, essa é a versão do outro jeito de contar a história”. Realmente parece uma trajetória que começou sem um lugar óbvio para terminar. Com o tempo, eles criaram essa narrativa incrível, que é simplesmente resultado daquele momento de fé, e de confiar que os personagens vão nos mostrar o que é a série, tanto quanto qualquer coisa. Damon e Carlton realmente fizeram um trabalho incrível. 

A ABC anunciar tão cedo uma data para o fim da série ajudou, na questão de contar a história? 

Isso é uma coisa que o Damon e o Carlton insistiram muito. Eles disseram “Nos digam quanto tempo nós temos, para que a gente saiba onde o jogo acaba e onde é a linha de chegada”. Se você não sabe se serão 10 temporadas ou 6 temporadas, você não vai sair do lugar. Estou muito feliz em ver os outdoors que dizem “A Última Temporada”. Você não vê isso com frequência. Saber que uma série está acabando por conta própria traz uma sensação de inevitabilidade, ao invés da sensação de que a série está reagindo ao mercado e aos números de audiência. Isso é muito bacana. 

 Você acha que essa última temporada vai satisfazer aqueles que acompanharam a história desde o começo?

Acho que vai ser agri-doce. Ao mesmo tempo que eu acho que será muito satisfatório, também acho que será o fim de uma coisa que, para o elenco e todos os envolvidos, foi uma aventura mágica. Então a ideia que vai acabar é meio triste, mas é muito melhor que acabe assim do que com a impressão de que deveria ter acabado dois anos atrás. Eu acredito que será um final muito satisfatório, com certeza. 

Você gostaria de ter um plano parecido para Fringe, terminar a série numa data específica?

Eu acho que isso seria maravilhoso. Acho que não tem como dar errado quando você já sabe até onde ir. Algumas séries não precisam disso, porque são tão engraçadas que você não quer que elas acabem. Mas, numa série como Fringe, chega um momento em que você precisa saber quanto tempo você vai ficar no ar. 

Você tem alguma ideia de onde quer levar a série?

Ah, claro. Nós tivemos algumas ótimas conversas, logo no início, sobre onde isso poderia ir parar. Mas não importa o quando você converse sobre o assunto, quando chega no espisódio 40 e alguma coisa de uma série, ela também está te falando pra onde ir. Já evoluiu bastante, mas qualquer série é assim. 

O que aconteceu nessa temporada que você não estava esperando?

Teve algumas histórias, especialmente a do Walter e Peter, e algumas coisas com a Olivia, que na verdade iam durar mais tempo mas que nós antecipamos e fizemos antes. E tem algumas outras coisas que tínhamos conversado, como o padrasto dela, que acabamos adiando. Existem muitas oportunidades de caminhos a seguir além desta temporada, e vou ser otimista em relação a isso. Eu sinto que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas a evolução é essencial. O programa encontrou um ritmo que é agradável de assistir e eu estou muito orgulhoso de todos os envolvidos. 

Você sabia que as pessoas estavam tendo problemas para aceitar a personagem Olivia (interpretada pela Anna Torv)?

Sim. Mas isso sempre foi parte da ideia. A personagem dela é naturalmente alguém que está nesse mundo estranho com esses personagens e situações, e é meio difícil para ela ser receptiva e fofa nesse papel. Então foi uma questão de dar a ela um pouco de vulnerabilidade e incerteza em sua própria vida, sobre de onde ela veio e para onde ela está indo. Esse foi um caminho. 

Você imagina um arco de seis anos para Fringe, da mesma maneira que para Lost?

Em Lost foi só na terceira temporada que nós chegamos a um ponto em que falamos “Precisamos saber onde é a metade do caminho”. Eu acho que isso é uma coisa que, se nós tivermos sorte o suficiente para continuar. Seria inteligente pensar realmente qual é a data do fim, para que a gente saiba até onde levar as coisas. 

Mas vocês ainda não chegaram lá?

Ainda não. 

Você se dedica tanto, coloca tanto de si na televisão e agora você também tem o cinema. Como você vai equilibrar os dois?

Uma parte é trabalhar com pessoas que são incríveis e cujo trabalho te surpreende, e isso se aplica tanto ao Jeff e Joel em Fringe como ao Damon e Carlton em Lost. Existem alguns produtores que encontram um material, ajudam a colocar no ar e depois supervisionam ao lado de uma equipe que trabalha com eles. É isso que eu faço, mas às vezes eu também escrevo e dirijo. Pode parecer que eu estou abandonando o negócio, mas o que eu estou tentando fazer é deixá-lo de pé. Eu posso não ter a paciência de pessoas como o Joss [Whedon], David Kelley, Damon ou Chris Carter, que ficam lá desde o começo, por diversas razões, porque eu tenho um pouco mais de déficit de atenção que eles, mas eu nunca deixaria uma série sem a certeza de que ela está em excelentes e dignas mãos, que eu sinceramente acredite que farão um trabalho muito melhor, no longo prazo, do que eu poderia fazer. Eu nunca sei exatamente como as coisas vão acontecer, mas é assim que tem sido até agora. 

O que você acha da data de estreia de Homem-Aranha 4 batendo com a de Star Trek 2 no verão de 2012? 

Estão ansiosos para ver como será isso. Eu sei que eles estão falando sobre um reboot de Homem-Aranha, então será interessante. Eu acho que existe espaço para todos nós. 

Você tem uma data para entregar o roteiro de Star Trek 2?

Não muito. Eu tenho certeza que existe um prazo, mas eu ainda não decidi quando isso será. Você pode trabalhar de trás para frente e descobrir que precisa de alguma coisa para, merda, agora! 

>> OMELETE – por Carina Toledo


FICÇÃO CIENTÍFICA À PORTUGUESA

domingo | 24 | janeiro | 2010

Há muito que o género perdeu a sua estante exclusiva nas livrarias. Por quê? 
Viajar no tempo, usar um manto de invisibilidade ou dar um passeio pelo centro da Terra são impossibilidades que um dia a Ciência poderá concretizar. Por enquanto, resta sonhar. Ou ler Ficção Científica. Mas será fácil? Basta entrar numa qualquer livraria e perguntar pela secção de livros de Ficção Científica (FC). A resposta mais comum é a de que isso não existe. Há muito que o género perdeu a sua estante exclusiva. Os livros ou estão dispersos, sem pouso fixo, ou sobrevivem no meio da literatura de género Fantástico e de divulgação científica. Longe vai a “Idade de Ouro da FC”. Entre os anos 30 e 50, o género recebeu a ampla atenção do público e surgiram autores como Isaac Asimov, Robert A. Heinlein e Arthur C. Clarke, hoje clássicos. Meio século depois, o retrato que os livreiros traçam é unânime: a FC já não está na moda. 

A constatação vem de quem vende e de quem publica. Nos anos 80, a Caminho apostou numa colecção dedicada à FC e criou o prémio Editorial Caminho Ficção Científica. O último romance saiu em 2001. A colecção de capa azul morreu. 

Na série de FC mais antiga e prestigiada do país – Argonauta (Livros do Brasil) – já não se publica um livro desde 2006. Na década de 60, as tiragens dos livros da Argonauta rondavam os 20 mil exemplares. As últimas edições não ultrapassam as 5 mil unidades. O próximo volume está, no entanto, agendado para Fevereiro. 

A colecção “Livros de Bolso – Série Ficção Científica”, da Europa-América, está sem novidades desde 1998. A outra chancela do grupo dedicada a este tipo de literatura, a Nébula, está com mais sorte apesar do ritmo de publicação ter diminuído. 

O editor da Europa-América, Tito Lyon de Castro, reconhece que o mercado de FC já viveu melhores dias e está, neste momento, “fraco”. 

“Viajantes no Tempo” é a série da Presença que surgiu em 2002. “Apesar do mercado internacional apostar no género como nova tendência, a colecção da Presença nunca obteve vendas significativas”, refere o director de marketing Francisco Pinto Espadinha. No início do ano, a colecção parou. Em 2005 a Saída de Emergência começou a publicar FC apesar do editor Luís Corte Real reconhecer que o género é “comercialmente desinteressante”. 

“Editamos por carolice. Não existe um retorno financeiro expressivo com a publicação deste tipo de literatura”, assegura. Apesar do mercado não estar virado para a FC, existem sempre algumas editoras que decidem remar contra a maré. É o caso das Edições Chimpanzé Intelectual que abriram o catálogo, em 2006, com a antologia “Ficções Científicas e Fantásticas” de nove escritores portugueses. “Começamos pela colectânea ‘Ficções Científicas e Fantásticas’ por estes serem géneros que em Portugal têm pouca tradição e reduzido espaço de afirmação, apesar de continuarem a dar azo a grandes obras da literatura mundial, assumindo um papel de contracultura importante”, justifica o editor Miguel Neto. Este ano, a editora já lançou “A Bondade dos Estranhos”, de João Barreiros. É o primeiro volume da primeira trilogia portuguesa de FC. A Gailivro também arriscou e publicou o romance “Ar”, de Geoff Ryman. 

O passado, não o futuro 
Este panorama sombrio não impediu, contudo, que um núcleo português de criadores do género saísse da obscuridade graças à extinta colecção da Caminho. João Barreiros, um dos autores que publicou nessa colecção, acha que o público português não lê FC porque está mais interessado no passado -o sucesso dos romances históricos é disso exemplo -e não consegue visualizar o universo que o rodeia. 

“O maior problema deste tipo de literatura deve-se ao desconhecimento do público em relação aos livros que são publicados”, opina também Luís Filipe Silva, vencedor do Prémio Ficção Científica Caminho 1991 com “O Futuro à Janela”. “Neste momento, as editoras publicam muitas obras de género Fantástico. Os escassos livros de FC que vão saindo acabam por desaparecer rapidamente da exposição nas livrarias.” O universo destes dois géneros de literatura não poderia estar mais distante: a Ficção Científica especula sobre situações que um dia a Ciência poderá vir a concretizar; a literatura Fantástica usa o sobrenatural, algo extraordinário que deriva da imaginação e se supõe não existir. 

A “iliteracia” dos leitores é, para o ex-realizador e escritor de FC António de Macedo, a causa da fraca adesão a este género: “A FC de agora é mais exigente, ao contrário da que surgiu nos anos 50, e o público tem dificuldade em ler algo que o obrigue a participar activamente na leitura. Mas os leitores pensam que para lerem FC precisam de conhecimentos científicos, o que não é verdade”, acrescenta. 

Rogério Ribeiro, presidente da Associação Portuguesa do Fantástico nas Artes -Épica, destaca a “má fama” de que a FC goza por estar ligada demasiadas vezes a obras de qualidade inferior. “Na verdade, a FC terá a mesma proporção de más obras do que qualquer temática literária”, ressalva. As “más traduções” e a “publicação das obras mais obscuras dos autores mais medíocres” são outras razões que, diz João Barreiros, levam os portugueses a não consumirem esta literatura. 

Mais optimista está Luís Miguel Sequeira, presidente da Associação Portuguesa de Ficção Científica e Fantástico -Simetria: “Não creio nada que o público português não se interesse por FC. Está é a consumila sem se aperceber do género que está a ler”. O problema não parece estar, para Sequeira, do lado das editoras, porque tem visto boas edições que não recebem a recepção do público. Todos parecem estar de acordo num ponto: a comunicação social não dá atenção ao que se vai publicando dentro do género. 

As vendas de FC editada em Portugal não reflectem, contudo, o entusiasmo dos leitores do género. Cristina Alves, bióloga, lê dois ou mais livros do género por mês. Apesar de ter começado por obras traduzidas em português, rapidamente saltou para as edições originais que compra na Net. “Os livros mais recentes nunca estão traduzidos. As compras online colocam os livros nas mãos três dias depois de serem publicados. Para quê esperar 10 anos pela tradução portuguesa?” pergunta João Barreiros. 

FC à portuguesa? 
A leitura de FC está em crise e o espaço reservado para os escritores portugueses não gozará de melhor saúde. Na colecção Argonauta não encontramos um único autor luso. A Nébula (Europa-América) precisou de editar primeiro 100 livros de autores estrangeiros para dar à estampa “Os Nogmas”, da portuguesa Cátia Palha. 

Os autores nacionais só encontraram um espaço de acolhimento visível no mundo editorial no final dos anos 80 com a colecção Caminho Ficção Científica. Excluindo este período de vitalidade, a publicação deste tipo de narrativas escritas por portugueses sempre viveu na clandestinidade, nota a investigadora e docente Teresa Sousa de Almeida, na antologia Fronteiras, publicada pela Simetria em 1998: “Em Portugal a FC é completamente ignorada pela instituição literária nacional, pela escola e, salvo honrosas excepções, pela crítica. Tem sido relegada para edições de autor, colecções especializadas, fanzines de duração efémera e algumas antologias que fizeram história. Face a esse esquecimento, responde na mesma moeda”. 

Mesmo não sendo muito visível, António Macedo acredita numa FC portuguesa. Mais céptico é Luís Filipe Silva que reconhece a existência de uma FC escrita por portugueses mas prefere não reivindicar o estatuto de Ficção Científica Portuguesa por serem poucos os escritores lusos e não se inspirarem em elementos de identidade nacional. “Os romances inspiram-se em tradições não portuguesas e por isso caem num vazio conceptual no nosso meio literário, o que não abona em favor deles”. 

“Os autores portugueses de FC são herdeiros espirituais de Eça de Queirós ou de Júlio Dinis” acrescenta Luís Miguel Sequeira. A ironia, a paródia, a preocupação com a realidade portuguesa e uma ligeira tendência para ficções de natureza política são as características da FC escrita por autores portugueses que a investigadora Teresa Sousa de Almeida destaca. 

Existem discussões e especulações sobre a morte da FC. Na Internet, os argumentos são muitos, desde o rápido avanço da ciência que a FC não acompanha, até à constatação de que já vivemos num cenário de FC, o que torna o género obsoleto ou redundante. 

“Quando existe algo que se torna realidade, surge sempre outra coisa que é preciso inventar”, diz António de Macedo que não acredita no fim deste tipo de literatura. Menos certezas têm João Barreiros: “Não sei se a FC está a morrer devido ao desinteresse crescente pelo futuro, mas se assim é, estamos todos em perigo. Daqui a 200 anos quem é que se lembrará do ‘Memorial do Convento’, de José Saramago? Mas a ‘Máquina do Tempo’ do Wells, o ‘Frankenstein’ da Shelly, ‘O Deus das Moscas’ de Golding, o ‘Admirável Mundo Novo’ de Aldous Huxley ou a ‘Laranja Mecânica’ de Burgess continuarão a ser lidos”, vaticina. O que a FC precisa é, segundo Luís Filipe Silva, de se reinventar, “Mais tarde ou mais cedo, a FC acabará por conquistar um público mais expressivo em Portugal”, prevê Francisco Espadinha. Um núcleo de escritores e entusiastas no nosso país está pronto para jogar. Mas, para isso, precisam que a literatura de FC acorde do longo sono em que mergulhou para viajar à velocidade da luz pela mente dos leitores. Em direcção a mundos desconhecidos. 

A jornada pode já começar com algumas das próximas publicações do género em Portugal: “Brasil” de Ian McDonald chegou às livrarias, com o selo da Gailivro; “A Máquina do Tempo Acidental”, de Joe Haldeman, será publicado em Dezembro na Nébula; “The Memory Cathedral” de Jack Dann está agendado para Fevereiro de 2009, pela Saída de Emergência. 
>> íPSILON – por Eduarda Sousa


ORWELL VERSUS HUXLEY

domingo | 24 | janeiro | 2010






>> O PARAISO É UMA BIBLIOTECA – por Paulo


MUTARELLI E OS CADERNOS LIBERTÁRIOS

sábado | 23 | janeiro | 2010

Um dos mais respeitados autores do País estreia no Estado de São Paulo com a tira Ensaio Sobre a Bobeira


ARTISTA – Tiras vão revelar suas experimentações, oriundas de notas e esboços

Um dos mais celebrados autores de obras em quadrinhos contemporâneas, no Brasil e no exterior, o paulistano Lourenço Mutarelli, de 46 anos, é o primeiro novo “reforço” da página de quadrinhos do Caderno 2. Mutarelli estreia amanhã com a série Ensaio Sobre a Bobeira, uma experiência gráfica cheia de nonsense e estranhamento, um tipo de comentário visual sobre a natureza humana.

A página de quadrinhos foi reformulada para abrigar novos autores, cujo trabalho não pode ser simplesmente definido como “tira de humor” ou “tirinha”. São visões arrojadas de uma nova perspectiva gráfica.

Lourenço Mutarelli é um artista múltiplo. Já lançou cinco romances, além de escrever peças de teatro e roteiros para filmes. Dele a Companhia das Letras publicou também O Natimorto e Miguel e os Demônios. Assinou a arte do filme Nina, dirigido por Heitor Dhalia, e seu romance O Cheiro do Ralo foi adaptado para o cinema, estrelado por Selton Mello.

O criador prossegue em fase ebulitiva. Em outubro, ficou entre os vencedores do prêmio Portugal Telecom com o livro A Arte de Produzir Um Efeito Sem Causa. No dia 18 de março, estará no palco no Festival de Teatro de Curitiba ao lado de Mario Bortolotto e Paulo de Tharso. Em 2011, volta definitivamente aos quadrinhos com o álbum Quando Meu Pai se Encontrou com o E.T. Fazia um Dia Quente, que será lançado pela Companhia das Letras e RT Features.

Há quanto tempo você não fazia quadrinhos?
Faz tempo, não me lembro ao certo. Vamos ver… Tá aqui… 2005. Foi o último que desenhei, Caixa de Areia, saiu pela Devir Editora. Eu tentei parar de desenhar para reformatar o cérebro, para ver se mudava alguma coisa.

Mas nessa época você já escrevia prosa, não?
Tava escrevendo, já tinha publicado algumas coisas. Aí eu quis tentar parar de desenhar. Parei um ano e alguma coisa, nenhum rabisco, nada. Aí comecei a fazer os gráficos para o livro A Arte de Produzir Um Efeito Sem Causa. Acho que não estava mais aguentando ficar sem desenhar e comecei a criar uns gráficos. Em 2007, fiz uma viagem e comecei a usar uns cadernos de esboços Moleskine.

Quantos cadernos você já desenhou?
Tenho uns 22 cadernos. São estudos, começou com uma mistura de texto e imagem e agora passou à coisa somente visual. Tem uns estudos da nova história que estou começando, e umas coisas que estou fazendo para o Estado. Batizei de Ensaio Sobre a Bobeira, e a série chama Moças com Bifes Sobre o Rosto. São coisas assim, pin-ups, coisas nonsense. Tenho usado muito acrílico agora. E é meio nessa linha o que estou fazendo para o Estado, coisas mais experimentais.

Você consegue definir precisamente, nesses cadernos, onde há um trabalho que não tem intenção de ser prosa e outro que é só gráfico?
Aqui eu consigo uma coisa que é um meio-termo. Às vezes faço um desenho e, a partir do desenho, crio algum diálogo, algum texto, que é um processo inverso de você fazer um roteiro de quadrinhos. Você cria uma imagem e vê o que essa imagem quer dizer, complementa ela com alguma frase. A minha ideia com esses cadernos é uma experimentação total, tentar chegar a alguma coisa antes de filtrar, tanto técnica – usando material que limite um pouco o meu domínio técnico – quanto na parte criativa. E faço e viro a página e vou indo, e depois de um tempo vou olhar o que eu gerei.

O esboço tem alguma vantagem sobre a produção em série, para um álbum em quadrinhos, por exemplo?
Eu acho que é um exercício. O problema é que acabo gostando. No estágio em que estou, que é o estágio natural de qualquer pessoa que trabalha muito com desenho durante muito tempo, é você querer voltar ao espontâneo, à liberdade. E quando é um estudo, consigo chegar a isso bem, mas se eu diagramar uma página para tentar fazer essa coisa espontânea, ela não vem. Só de diagramar, só de saber que tem um propósito, isso já começa a endurecer o traço e bloquear essa liberdade criativa. Por isso que tô fazendo assim. A ideia do Ensaio Sobre a Bobeira justifica o que vier, sem muita elaboração, e tendo esse prazer de… nem sei o que quer dizer, não é pensado, não tem uma mensagem.

Você faz alguma leitura psicanalítica daquilo?
Com o tempo eu acho que algumas coisas se encaixam. Quando faço, acho que é tudo fábula, tudo ficcional, mas às vezes passam meses, um ano, e cai a ficha de alguma coisa interna.

Você foi dos quadrinhos para o cinema e para o teatro. Quando você viu O Natimorto materializado no teatro, ficou satisfeito?
O Natimorto foi um dos meus trabalhos muito febris, tinha uma ideia conceitual e fui em frente. Eu tinha um estudo sobre o tarô, que era para casar com as imagens, mas a estrutura da história foi se formando. A coisa de ver isso adaptado para o teatro, o grande prazer disso é que você tem um retorno imediato do que você fez. Mario Bortolotto (diretor da montagem) foi muito fiel ao original, não deixava os atores colocarem nem um caco, mudarem nem uma vírgula. O que estava escrito era o que era dito. Eu vi muitas vezes a peça e estar ali, misturado com a plateia, tinha uma resposta imediata a alguns diálogos, algumas brincadeiras. Esse retorno é muito interessante de se sentir.

A sua experiência como ator no cinema, em O Natimorto, parece que você não gostou muito…
Eu gostei muito de participar do projeto, de acompanhar o processo de filmagem, ver o filme pronto. Mas minha mulher tinha falado: na hora que o filme sair, você não vai estar pronto para isso. E a hora que o filme passa, de fato, você fica muito exposto, você ouve muita coisa. Não foi agradável estar ali perto quando o filme foi passado… Adoro o trabalho do Paulo Machline, que adaptou para o cinema, e que é completamente diferente do trabalho do Mario Bortolotto, são visões muito distintas de um mesmo texto, mas é muito difícil você se ver sem o olhar crítico.

O quadrinho é uma atividade muito solitária. E você fez isso durante décadas…
Durante décadas. Algumas pessoas dizem isso, e parece brincadeira, mas ou você faz quadrinhos ou você vive. Quando eu fiz O Cheiro do Ralo, e ele acabou sendo adaptado, passei a viver e a escrever de forma compulsiva. Eu tinha poucas horas e passei a viver muito. Só fazer besteira, mas esse é o lado bom. E agora tô voltando aos quadrinhos, voltando a desenhar. Tem de ter uma disciplina, tem de baixar a cabeça e desenhar, não tem jeito.

É muita pesquisa, não? Mas a literatura também envolve bastante pesquisa, não?
É diferente. Se bem que a literatura, seus jogos de palavras, suas associações de ideias vão se limitando, você precisa se reciclar, pesquisar alguma coisa que é diferente para me contaminar daquele universo.

Por que você resolveu desenhar justamente para o meio jornal?
Vou te responder sinceramente: quando comecei a desenhar, eu tentei publicar em jornal e não consegui. Não conseguia desenvolver, meu trabalho tem uma estranheza que não cabia muito. Desisti e nunca mais quis, nunca mais tive vontade. Mas o convite do Estado pesou muito, é um jornal que eu respeito e admiro. Hoje em dia eu tenho uma liberdade, construí um nome que me permite isso. E o fato de ter essa liberdade num lugar que eu respeito, e a possibilidade de trazer gente nova. O que me incomoda às vezes nas tiras, e hoje até que está mudando isso, é que havia um monopólio de alguns, e não se abre espaço para o pessoal novo. E acho que tem de haver um lugar onde os novos possam mostrar seu trabalho. Tem de vir a molecada, esse pessoal tem de vir. Quando comecei, era difícil e havia um monte de revistas em bancas. Hoje em dia não tem revista em banca, e se não houver espaço não tem como desenvolver.

E como você definiria sua tira Ensaio Sobre a Bobeira?
Tem um personagem, que é o Bob, uma brincadeira com o bobo. São figuras de máscaras, e ele geralmente responde a perguntas estranhas que me ocorrem. É uma piada que está sendo contada para mim naquele momento que estou fazendo. Quando ando pela rua e me ocorre alguma eu anoto. E tem esse ensaio, uma homenagem ao Zéfiro, essas mulheres com bifes sobre o rosto, que é só para eu ser perseguido pelas feministas (risos).
>> O ESTADO DE SÃO PAULO – por Jotabê Medeiros


Assista entrevista com Lourenço Mutarelli


MARCELLO QUINTANILHA: DE REPORTAGENS A CAPA DE DISCO

sábado | 23 | janeiro | 2010

Artista já fez de tudo um pouco antes de se tornar um ilustrador cultuado no Brasil e no exterior
 


SALVADOR DA BAHIA, SEGUNDO QUINTANILHA – Autor desenhou sua visão da capital baiana para a elogiada série editorial Cidades Ilustradas

Entre os trabalhos destacados de Marcello Eduardo Mouco Quintanilha (nome completo do autor, de 38 anos) está a homenagem que fez à cidade de Salvador no projeto Cidades Ilustradas, da editora Casa 21. Quintanilha retratou os monumentos, ruas, feiras, praias e praças da capital baiana em um livro ricamente ilustrado, no qual a paisagem é importante, mas a paisagem humana é mais importante ainda.
Cidades Ilustradas é um projeto editorial que buscou realizar uma série de livros cujo tema são as principais cidades brasileiras vistas através do traço e arte de desenhistas nacionais e internacionais. O inglês David Lloyd (de V de Vingança) desenhou São Paulo. O francês Jano desenhou o Rio de Janeiro.

Quintanilha explora, como diz, “bastidores do futebol; histórias ou desestórias de amor; cotidiano”. Começou a carreira na Editora Bloch, desenhando Mestre Kim. Após publicar na Heavy Metal, ganhou prêmios nas Bienais de Quadrinhos do Rio de Janeiro de 1991 e 1993. Ilustrou para revistas, como Trip, Bravo!, República, Vip, Sabor, entre outras; fez capas de livros, como da biografia do sambista Martinho da Vila, para a Editora Record; e desenhou um encarte de um CD do grupo Planet Hemp; entre outras atividades.

Nos anos 1990, quando ainda assinava Marcello Gaú, Quintanilha começou a conquistar muitos leitores no Brasil com seus trabalhos publicados nas revistas General, Nervos de Aço e Metal Pesado e no álbum Fealdade de Fabiano Gorila (que tem o hipercitado prefácio do músico Aldir Blanc, no qual ele compara o quadrinista a Rosselini). Fealdade foi um dos primeiros títulos de quadrinhos da então emergente Conrad.

Atualmente, além de trabalhar na série de quadrinhos Sept Balles Pour Oxford, em parceria com Jorge Zentner e Montecarlo (para a editora belga Editions du Lombard), ele faz ilustrações para revistas brasileiras e foi premiado nas bienais de quadrinhos do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Também colabora com a revista virtual Zé Pereira, que tem várias HQs dele postadas

“Trabalho basicamente com grafite e aquarela. O grafite é um eco da imprensa do século 19, de imagens litográficas, e cujo objetivo é recuperar essa estética, esse grafismo, como ponto de partida para uma proposta pessoal. Aliado à aquarela, a intenção é simular o efeito de realidade que acho tão importante.”

Sábado dos Meus Amores, no ano passado, veio coroar uma carreira de grande coerência. Há um grande componente lírico na obra, para que os leitores não pensem que o título é mero efeito. Por exemplo, na história do amor de uma moça simples semianalfabeta por um pescador sagaz, que é especialmente tocante. “Tiago é macumbeiro eu sou evangélica mas eu vou rezar pra Iemanjá trazer o barco dele de volta são e salvo”, ela escreve em sua cartilha.

Com mais de 20 anos de carreira, sempre se batendo para publicar num mercado rarefeito, não avalia com entusiasmo desmesurado o momento brasileiro de quadrinhos. “Esse mercado ainda é incipiente e as iniciativas de muitas editoras em lançar títulos na esteira da visibilidade que os quadrinhos têm hoje não necessariamente colabora para sua consolidação. É difícil dizer o que pode decorrer do momento que vivem os quadrinhos no Brasil, quando os títulos migram cada vez mais para as livrarias e lojas especializadas, mas, sem dúvida, pode ser um passo importante para conquistar novos leitores.”
>> O ESTADO DE SÃO PAULO – por Jotabê Medeiros


PEQUENO FORMATO COM QUADRINHOS E HUMOR EM GRANDE FORMATO

sábado | 23 | janeiro | 2010

Nem sempre a boa produção de HQs e Humor estão disponíveis em livros de grande formato e muitas páginas. Muito menos são divulgadas pela mídia impressa habitual ou estão à venda em grandes redes de livrarias. Mas isso não impede que a qualidade e originalidade também estejam presentes nessas publicações.

Levadas pelo baixo custo de produção e facilidade de exposição e manuseio do produto – sem contar a crise que nos ronda ou a consciência ecológica de não desperdiçarmos materiais – muitas edições independentes têm adotado o pequeno formato (quase do tamanho de um celular ou uma carteira) como uma solução para poder mostrar e divulgar o trabalho de artistas do traço e da palavra.

Destaco aqui três delas que foram lançadas recentemente e que merecem ser conhecidas pelos leitores de quadrinhos e de humor:


ZINE ROYALE #4

É uma grande revista em pequeno formato. Seu número 4, uma edição latino-americana, traz boas HQs de vários artistas brasileiros, um mexicano e uma argentina. Além disso, apresenta uma entrevista com Eloar Guazzelli e um artigo sobre os quadrinhos da América Latina e sua quase inexistência no mercado brasileiro.

Editada com competência pelo quadrinhista Jozz e com o selo do coletivo de produtores de quadrinhos independentes Quarto Mundo, Zine Royale é uma ótima revista que ocupa, com algumas outras publicações, o espaço de revistas de HQ de autor, negligenciado pelas editoras comerciais.
zineroyale.wordpress.com

colecao_tulipio.jpg image by zine_brasil

TULÍPIO Nº 9

Tulípio é uma revista de humor onde o personagem beberrão, criado por Paulo Stocker e Eduardo Rodrigues, protagoniza cartuns com situações e piadas de botequim. Neste número da publicação há várias participações especiais: um cartum de Luiz Gê e textos de Aldir Blanc e Moacyr Luz.

A revista, colorida e muito bem produzida, não é vendida. Ela é distribuída em bares, botecos e algumas livrarias especializadas em São Paulo e no Rio de Janeiro. E Tulípio também acaba de ganhar uma versão em livro (pela Devir), com uma seleção das tiradas bem humoradas desse personagem inspirado no típico brasileiro frequentador de bares pelo Brasil afora.
tulipio.com.br


MACACO ALBINO Nº 2

Macaco Albino é uma criação de Leandro Robles e, para quem ainda não conhece, é uma ótima surpresa. O personagem irreverente, às vezes violento, às vezes reflexivo, tem um quê de Macunaíma. Um Macunaíma atual, que se propõe a escrever best-sellers, se aventura no trânsito maluco e, com seu pavio curto, se revolta contra muitas coisas que fazem parte do dia-a-dia e que nem percebemos como vão minando nossa vida.

Com um humor inteligente e inovador, a revista ainda dá espaço para mais de uma dezena de colaboradores, que enriquecem a publicação e ampliam a visão do personagem. Surgido na tira infantil Escola de Animais, Macaco Albino depois ganhou vida própria, com um conteúdo mais adulto. O site do autor ainda traz uma infinidade de tiras do macaquinho que, com seus companheiros, divide sua vida entre a filosofia e a ação.
escoladeanimais.com

>> TERRA MAGAZINE – por Claudio Martini


DIA DO QUADRINHO NACIONAL EM PERNANBUCO

sábado | 23 | janeiro | 2010

Dia do Quadrinho Nacional

AUDITÓRIO CAPIBA – FAC. MAURÍCIO DE NASSAU – BLOCO C
RUA JOAQUIM NABUCO, N. 778, GRAÇAS.

Programação

13h05| Abertura do Evento
Boas Vindas ao Público

Inauguração da Exposição “Pré-história das Histórias em Quadrinhos”

13h15 | Conferência de Abertura
Por uma (pré)História das Histórias em Quadrinhos
Prof. Ms. Amaro Braga – Fac. Maurício de Nassau/CDICHQ

13h35 | Palestra
O Papel do FIHQPE na História dos Quadrinhos Pernambucanos
Laílson de Hollanda Cavalcanti

14h05 | Apresentação de trabalho
Pernambuco tem História,  em quadrinhos!
Prof.ª  Esp. Danielle Jaimes – CDICHQ
Prof. Ms. Amaro Braga – Fac. Maurício de Nassau/CDICHQ

14h25 | Apresentação de Vídeos e TCC´s sobre Quadrinhos

14h45 |Mesa-Redonda
Mercado em Quadrinho no Nordeste
– Papel da Marca de Fantasia nos quadrinhos do Nordeste
Prof. Dr. Henrique Magalhães
– A trajetória da PADA nos quadrinhos em Pernambuco
Arnaldo Luiz Nazario e Milson Marins – PADA/Prismarte
– De Gost-Drawer ao Reconhecimento:  um relato de experiências na produção de quadrinho para o mercado americano
Pedro Ponzo – Impacto Studios

15h45 | Palestra de Encerramento
Jornalismo sobre Quadrinhos em Pernambuco


MAFALDA, A PEQUENA NOTÁVEL

sábado | 23 | janeiro | 2010

Sempre que pode, o cartunista argentino Quino diz não se arrepender de ter parado de desenhar Mafalda nove anos depois da primeira tirinha, quando seu personagem tinha um número crescente de fãs. Entretanto, ele admite que se arrepende de algo que fez nas primeiras tiras da personagem: ter criticado tão duramente a presidência de Arturo Illia, que comandou a Argentina entre 1963 e 1966. E não é que aquele governo tenha sido assim tão bom. Quino é que não sabia que, depois do golpe militar que encerrou o mandato de Illia, a situação iria piorar tanto.

Mafalda apareceu pela primeira vez em 29 de setembro de 1964, na mais importante revista semanal argentina da época, a Primeira Plana. No ano seguinte, as tiras passaram a ser diárias, veiculadas no jornal El Mundo. Em 1967 Mafalda foi para a revista semanal Siete Días Ilustrados, onde ficou até a última historieta, publicada no dia 25 junho de 1973. Suas 1 928 tiras já foram publicadas em mais de 20 idiomas, incluindo russo, polonês e norueguês. Praticamente todas essas histórias, que ainda saem em jornais ao redor do mundo, estão reunidas na hilária coletânea Toda Mafalda.

Depois do golpe, as histórias da personagem e de seus amigos revelam as diferentes fases da ditadura argentina: a ineficácia do governo, a crise econômica, o endurecimento do regime. Durante quatro governos militares, Mafalda não se intimidou e permaneceu questionando a situação do país e fazendo perguntas bombásticas a seus pais. Para acompanhar a trajetória desse difícil trecho da história argentina, Toda Mafalda é uma verdadeira enciclopédia. Apesar de já ser quarentona, a personagem continua muito atual quando o assunto é a insatisfação diante da realidade social e política da América Latina.

Mudança de ares
Enquanto permaneceu no comando da Argentina, Arturo Illia sofreu críticas de todos os lados. Era comum que, dada sua lentidão em tomar decisões, ele fosse comparado a uma tartaruga – justamente o animal de estimação que Quino deu a Mafalda e batizou de “Burocracia”. “De um lado, Illia foi um presidente honesto e cauteloso, que evitou transformações abruptas num momento em que nacional e internacionalmente elas significariam riscos grandes”, afirma Júlio Pimentel Pinto, professor de História da América Latina da Universidade de São Paulo. “De outro, teve uma atuação inexpressiva na condução da economia e da política interna e externa.” Apesar do cenário desanimador, os argentinos pelo menos estavam vivendo um período de liberdade – algo muito valioso num país que tinha assistido a golpes de Estado nas três décadas anteriores. A imprensa aproveitava para satirizar Illia, coisa que Quino fazia muito bem.

Isso tudo tinha data para acabar. Não tardou para que os militares tomassem o poder e resolvessem as coisas à sua moda: o general Juan Carlos Onganía assumiu a presidência em 1966, onde permaneceu até 1970. Seus colegas de farda ficariam no poder até as eleições de 1973. A ascensão dos militares foi, como de costume, acompanhada por repressão. Quino respondeu à nova realidade de várias formas. Uma das mais geniais foi a última personagem criada por ele para a turma de Mafalda. Filha de hippies e esquerdista, ela tem duas características que a tornam uma metáfora explícita: é muito pequenina (tem menos da metade do tamanho de Mafalda) e se chama Liberdade.

Crise sem fim
Durante os nove anos das aventuras da Mafalda, foram várias as crises econômicas presenciadas pelos argentinos e registradas por Quino. Em 1964, por exemplo, havia uma conjunção de desvalorização constante da moeda e fraco desempenho agrícola. A conseqüente recessão deixou desempregados quase um terço dos trabalhadores. Apesar de alguns períodos mais prósperos (como em 1966, quando a taxa de crescimento anual foi de 5,6%), o que predominou, como podemos ver em Toda Mafalda, foi a crise generalizada e a estagnação. Quando tomou o poder, o general Onganía lançou seu Plano de Estabilização e Desenvolvimento. Uma das principais medidas foi facilitar a entrada de produtos estrangeiros no país, o que causou a falência de centenas de empresas argentinas, incapazes de competir com os importados.

O personagem que Quino melhor usa para falar de economia é Manolito, que trabalha na mercearia do pai, freqüentada pela turma de Mafalda. Seu sonho é ter uma cadeia de supermercados e ganhar muito, muito dinheiro – em busca desse objetivo, não é raro que ele tente enganar seus clientes. Manolito, que adora o modo como a inflação faz aumentar o preço das mercadorias que vende, vai muito mal na escola e não dá valor a “superfluosidades” – tais como as canções dos Beatles.

Repressão em alta
A partir de 1966, a Argentina viu sua liberdade ser dramaticamente reduzida. Estudantes viravam alvos da polícia, jovens desapareciam de um dia para o outro, jornais eram censurados – fenômenos bastante parecidos com o que ocorreu no Brasil e em outros países latino-americanos no mesmo período. As medidas autoritárias e impopulares do general Onganía, como o congelamento de salários, incomodavam muito os trabalhadores. Com a justificativa de combater o “comunismo”, o governo militar criou a Dipa (Direção de Investigação de Políticas Antidemocráticas) para perseguir, encarcerar e torturar militantes políticos e sindicais contrários ao governo. Onganía dissolveu partidos políticos e interveio nas universidades com ações violentas.

Dois episódios marcaram o aumento de violência do regime e foram, de maneira mais ou menos velada, retratados por Quino em tiras presentes em Toda Mafalda. O primeiro, ocorrido em 29 de julho de 1966, ficou conhecido como La Noche de Los Bastones Largos (ou “a noite dos cacetetes compridos”). Professores, diretores e alunos da Universidade de Buenos Aires foram arrancados das faculdades pela polícia, que tinha a ordem de não economizar no uso de seus bastones.

Três anos depois, um protesto semelhante aconteceu em Córdoba, com conseqüências ainda mais desastrosas. O ápice da truculência policial e militar foi batizado de Cordobazo e é considerado o equivalente argentino dos conflitos que marcaram o mês de maio de 1968 na França. Em 29 de maio de 1969, a maior manifestação de estudantes e trabalhadores já vista no país foi violentamente reprimida pelo exército (pois a polícia já havia se rendido diante da força dos manifestantes) e deixou dezenas de mortos e centenas de feridos. Marco na história recente da Argentina, o Cordobazo acabou tendo um efeito multiplicador, incitando manifestações país afora e enfraquecendo o regime militar.

Intragável censura
Mafalda odeia sopa. Todos os (muitos) dias que sua mãe insiste em lhe servir a iguaria, a menina faz questão de mostrar seu descontentamento. Esse foi um dos modos que Quino encontrou para manifestar seu desgosto com relação à ditadura. A sopa, segundo o cartunista, era “uma metáfora do autoritarismo militar”, assunto que não permitia abordagens muito diretas. Durante a ditadura, os veículos de comunicação que publicavam as tiras de Mafalda deixavam os limites bem claros: “Logo me advertiram que havia temas, como sexo, militares e repressão, em que não se podia tocar”, disse Quino em entrevista publicada no jornal argentino Clarín em 28 de julho de 2004.

Em Toda Mafalda, entretanto, existem tirinhas que dão a impressão de que os censores argentinos não eram assim tão rigorosos. Quino é bastante incisivo em certas alusões à tortura e à falta de liberdades democráticas, por exemplo. No fim dos anos 60, cartuns com esse conteúdo dificilmente poderiam ser publicados no Brasil – onde, após o Ato Institucional nº 5, de 1968, toda a produção jornalística e cultural foi ferozmente censurada. “Pode-se dizer que, no período que vai de 1968 até 1976, a censura foi um pouco mais branda na Argentina do que aqui”, diz o historiador Júlio Pimentel. “Entretanto, com o golpe militar argentino de 1976, a situação por lá ficou realmente complicada.” Quino acabou dando sorte, já que, nessa época, Mafalda não era mais publicada.

Mafalda se cala
Em 1973, Quino decidiu que era hora de deixar de desenhar Mafalda. Na época, ao se justificar, o cartunista disse que, diante do novo panorama argentino, a personagem teria de presenciar coisas que não suportaria. O curioso é que Quino não se referia a mais uma medida infeliz dos militares. A ditadura havia acabado e Héctor Cámpora havia sido eleito presidente em março daquele ano. O problema é que ele era um mero fantoche nas mãos de Juan Domingo Perón, líder populista que já tinha governado a Argentina por duas vezes. No exílio havia quase 18 anos, Perón tinha sido proibido pelos militares de se candidatar.

Em 20 de junho, Perón retornou ao país, vindo da Espanha. Uma recepção havia sido armada no Aeroporto de Ezeiza, nos arredores de Buenos Aires. Mas o local acabou sendo palco de um sangrento confronto entre facções rivais de peronistas. O evento, que ficou conhecido como Massacre de Ezeiza, deixou um saldo desconhecido de mortos e feridos. O ex-presidente pousou em outro local, mas o estrago já estava feito, revelando a grave crise no peronismo. Como Quino suspeitava, o retorno de Perón (que em setembro, após a renúncia de Cámpora, voltaria a ser eleito presidente) traria instabilidade à Argentina. Cinco dias depois do massacre, Mafalda despediu-se de seus fãs. Quino só voltaria a desenhá-la raríssimas vezes, como numa campanha do Unicef (o Fundo das Nações Unidas para a Infância) realizada em 1977 para divulgar a Declaração dos Direitos das Crianças.

“M” de Mansfield
Quino criou Mafalda para uma campanha publicitária
Foi só aos 7 anos, ao ingressar na escola primária, que o argentino Joaquín Salvador Lavado descobriu que não se chamava Quino. Haviam lhe dado esse apelido logo após o nascimento, em 17 de julho de 1932, para que não fosse confundido com seu tio Joaquín Tejón, que era desenhista publicitário. Além do primeiro nome, Quino compartilhou com ele desde cedo a vocação para o desenho. Aos 13 anos, enquanto retratava vasos e naturezas mortas na Escola de Belas Artes de Mendoza, o jovem descobriu a revista de quadrinhos Rico Tipo e decidiu que queria ver seus desenhos publicados nela. Em 1951, depois de ter abandonado a Belas Artes, Quino visitou todas as redações de Buenos Aires em busca de emprego como cartunista, sem sucesso. Só em 1954 ele veria seu primeiro desenho publicado, no semanário Esto Es.

A partir daí, seus trabalhos passariam a sair em diversos veículos, incluindo a Rico Tipo – onde começou a colocar texto em suas tiras. Em 1960, se casou e passou a lua-de-mel no Brasil, onde entrou em contato com colegas e editores estrangeiros pela primeira vez. Dois anos depois, publicou a primeira compilação de seus desenhos. O cartunista criou sua mais conhecida personagem em 1963, para estrelar uma campanha publicitária da marca de eletrodomésticos Mansfield (a empresa exigia que o nome de sua mascote também começasse com “M”). Como a campanha não vingou, Mafalda só apareceria no ano seguinte, na revista Primeira Plana – as tiras dessa época, consideradas ruins pelo próprio autor, não estão em Toda Mafalda. Hoje, mais de 30 anos após ter parado de desenhar regularmente sua mais famosa criação, Quino continua fazendo tiras que abordam temas como a vida moderna, o poder e a corrupção. Mas elas não têm personagens fixos.
>> O PARAISO É UMA BIBLIOTECA – por Paulo


PHILIP K. DICK É ADAPTADO PELA MARVEL

sexta-feira | 22 | janeiro | 2010

Há muitos anos, a Marvel Comics adaptou para os quadrinhos o filme Blade Runner. Agora, a editora anuncia outra HQ baseada na obra do lendário escritor de ficção científica Philip K. Dick, um gênio indiscutível, mas que nunca viu seus livros e contos fazerem sucesso.

Electric Ant é a história de Garson Poole, um homem que tem uma boa vida, um bom trabalho, um belo apartamento, uma assistente sexy. De repente, ele acorda em um leito de hospital, com os médicos o informando que ele esteve envolvido em um acidente de carro e que eles não podem tratá-lo. Isso porque ele é um robô, mais especificamente, a Electric Ant, do título (uma formiga elétrica, em tradução livre). Esse tipo de máquina foi construída para ser parecida com os seres humanos e para executar uma função específica. Mas qual seria essa função?

Agora que descobriu ser uma máquina, como se desenvolverá a relação de Garson com seus amigos e colegas de trabalho? Quanto de seu mundo é real e quanto do que ele viveu e conhece é parte de uma programação?

A minissérie em cinco partes tem roteiro de David Mack, de Kabuki, e arte de Pascal Alix, de Eternals Annual. A capa fica por conta do incrível Paul Pope, com variante do próprio Mack (ao lado). Electric Ant #1 tem 32 páginas, ao preço de 3.99 dólares e chega às bancas estadunidenses em abril.

A Marvel Comics é uma das principais editoras de quadrinhos nos EUA, com personagens como Homem-Aranha, X-Men, Quarteto Fantástico, Hulk, Capitão América, Homem de Ferro, Thor e Demolidor. A empresa foi fundada em 1939 como Timely Publications e era conhecida como Atlas Comics na década de 1950. O lançamento do Quarteto Fantástico por Stan Lee e Jack Kirby e outros personagens no início da década de 1960 foi um marco importante para o sucesso que continua até hoje.
>> HQ MANIACS – por Fernando Tecchio


UBIK E AS FALSAS PERCEPÇÕES DA REALIDADE

sexta-feira | 22 | janeiro | 2010


Podemos ter certeza do que estamos fazendo agora? Eu aqui escrevendo e você aí lendo, tudo isso é real? Será que não estamos sonhando e, na verdade, vivemos em outro lugar ou em outro tempo? Costumo dizer: estou convicto de que posso estar errado em minhas convicções. Estar certo de algo é temerário, por isso que a fé, muitas vezes, é perigosa. Ser cético sempre, também. Como disse o filósofo Henri Poincaré: “Duvidar de tudo ou crer em tudo são duas soluções igualmente cômodas, que nos dispensam, ambas, de refletir.”

Philip K. Dick (ou PKD para os leitores “íntimos”) foi um escritor que trabalhou bastante com a questão do espaço e do tempo em suas obras literárias. No romance Ubik (Editora Aleph, 240 páginas, 42 reais, tradução de Ludimila Hashimoto), é difícil precisar – tanto para os personagens quanto para o leitor – onde e quando os fatos estão se desenvolvendo.

A história se passa em 1992 (o romance foi publicado originalmente em 1969). Glen Runciter é dono de uma empresa cujos funcionários, chamados de inerciais, são contratados para neutralizarem o poder de telepatas e precogs (estes últimos aparecem também em outras obras de PKD, como, por exemplo, no conto Minority Report, adaptado para o cinema por Steven Spielberg). Nessa sociedade futurista as pessoas, depois de morrerem, são levadas para moratórios, ficando numa espécie de meia-vida, em que podem ter suas mentes ativadas para se comunicarem com os vivos. E é consultando sua esposa em um desses moratórios que Runciter aceita um trabalho na lua.

Lá, no entanto, junto com os antipsis, ele cai em uma armadilha provocada por uma empresa rival. Acontece uma explosão e Runciter morre. O enredo passa a se centrar em Joe Chip, que se torna o responsável pela empresa. Como não consegue levar a tempo o corpo de Runciter para realizar o processo de criogênese no moratório, fica sem poder se comunicar com o chefe. E agora, como conduzir os negócios?

MENSAGENS – A partir desse momento, fatos estranhos começam a acontecer. As coisas aos poucos parecem que vão envelhecendo, como o café com leite azedo, os cigarros se desmanchando, os elevadores que se tornam antigos. Alguns inerciais que escaparam do atentado na lua envelhecem até se desintegrarem. É como se o tempo tivesse retrocedendo, mas no mesmo espaço. Junte-se a isso estranhas mensagens em diferentes objetos e em lugares como um banheiro público, parecendo uma tentativa de Runciter, no além-túmulo, se comunicar com Joe Chip. Bem, caro leitor, revelar outros fatos é estragar as surpresas, que são muitas, as quais a história ainda tem para oferecer.

Em Ubik, o escritor nos faz refletir sobre as percepções que temos da realidade. Nem tudo que é percebido pelos sentidos pode ser considerado real. Assim como os personagens, que parecem ter certeza de tudo, o leitor – julgando saber mais do que eles (aquilo de ficar dizendo “não faça isso” ou “vai por esse lado”) – também pode estar sendo enganado. O narrador em terceira pessoa (falsamente onisciente) e o título do romance (que vem de ubiquidade, a capacidade de estar em todo lugar, onipresença) nos levam a uma falsa interpretação. Ou seja, PKD estimula a mente do leitor, o inquieta, tenta despertá-lo para enxergar sob um novo ângulo as coisas que o cercam.

Philip K. Dick, que morreu em 1982, foi o autor de histórias que deram origem – além do já citado Minority Report – a outros filmes de sucesso, como Blade Runner, o Caçador de Androides, O Vingador do Futuro e O Homem Duplo. No entanto, seus livros até hoje são poucos lidos. Então, se o leitor vai conhecer pela primeira vez uma obra de Philip K. Dick, seja bem-vindo a esse grupo de privilegiados, mas espero que não fique à vontade.
>> GAZETA DO SUL – por Cassionei Niches Petry


“METRÓPOLIS”: VERSÃO LONGA DO FILME DE FRITZ LANG SERÁ EXIBIDA EM BERLIM

sexta-feira | 22 | janeiro | 2010

O Museu do Cinema e da Televisão de Berlim inaugura nesta quinta-feira a exposição “Metrópolis Completa”, sobre o emblemático filme mudo de Fritz Lang, quando será exibida sua versão longa, incluindo cenas até então inéditas.

Esta versão, que por muito tempo se acreditava perdida, tem 25 minutos a mais de duração, que foram milagrosamente encontrados na casa de um particular em Buenos Aires, em 2008 e restaurados, fazendo com que o filme recobre seu tempo original conforme exibido nos cinemas em janeiro de 1927.

Este filme, o mais caro realizado na época de sua estreia, foi mal recebido pela crítica e quase provocou a falência dos estúdios UFA que o produziram.

Com o passar do tempo, “Metrópolis” se converteu num filme cult e inspirou todas as grandes produções de ficção científica nos anos 1970-80.

A nova versão, de 145 minutos, será exibida no dia 12 de fevereiro, por ocasião do Festival de Berlim.

A trilha sonoro da filme, composta por Gottfried Huppertz, será interpretada por uma orquestra ao vivo.

O filme, situado num futuro não determinado, mostra a separação de uma cidade alta, onde vive uma elite ociosa, que se dedica ao luxo e às diversões, e uma cidade baixa, habitada por operários que trabalham em condições muito difíceis.

Freder Fredersen, filho do dirigente da cidade alta, se apaixona por Maria, uma moça da cidade baixa que quer reconciliar as duas classes, enquanto que, nas sombras, age Rotwang, um cientista louco que constroi homens-máquinas.

O Museu do Cinema e da Televisão de Berlim inaugura nesta quinta-feira a exposição “Metrópolis Completa”, sobre o emblemático filme mudo de Fritz Lang, quando será exibida sua versão longa, incluindo cenas até então inéditas.

Esta versão, que por muito tempo se acreditava perdida, tem 25 minutos a mais de duração, que foram milagrosamente encontrados na casa de um particular em Buenos Aires, em 2008 e restaurados, fazendo com que o filme recobre seu tempo original conforme exibido nos cinemas em janeiro de 1927.

Este filme, o mais caro realizado na época de sua estreia, foi mal recebido pela crítica e quase provocou a falência dos estúdios UFA que o produziram.

Com o passar do tempo, “Metrópolis” se converteu num filme cult e inspirou todas as grandes produções de ficção científica nos anos 1970-80.

A nova versão, de 145 minutos, será exibida no dia 12 de fevereiro, por ocasião do Festival de Berlim.

A trilha sonoro da filme, composta por Gottfried Huppertz, será interpretada por uma orquestra ao vivo.

O filme, situado num futuro não determinado, mostra a separação de uma cidade alta, onde vive uma elite ociosa, que se dedica ao luxo e às diversões, e uma cidade baixa, habitada por operários que trabalham em condições muito difíceis.

Freder Fredersen, filho do dirigente da cidade alta, se apaixona por Maria, uma moça da cidade baixa que quer reconciliar as duas classes, enquanto que, nas sombras, age Rotwang, um cientista louco que constroi homens-máquinas.
>> FRANCE PRESS


“SPARTACUS”: UM BRASILEIRO NA ARENA

sexta-feira | 22 | janeiro | 2010

Fazer as malas e sair do Brasil é a estrada que muitos brasileiros tomam sempre que percebem as limitações em suas profissões ou a necessidade de vivenciar experiências em outras culturas antes de dar início à sua carreira. Thiago Moraes, primo da atriz Alice Braga, é um desses brasileiros que foi embora do país em busca de crescimento profissional.

Conheci o Thiago quando estudei no Studio Fátima Toledo, parada obrigatória de muitos atores e diretores que buscam expandir seu conhecimento na atuação para o cinema. Depois que saímos de lá cada um seguiu seu caminho: por motivos financeiros precisei voltar para o jornalismo e Thiago foi trabalhar no casting de filmes, bem como preparador de atores.

Mas a “indústria cinematográfica” brasileira só existe nos sonhos e logo Thiago se viu limitado novamente. Fez as malas e foi embora. Esta não foi a primeira vez que ele saiu do país. Anos atrás ele fez intercâmbio pelo Rotary Club em Tóquio, o que lhe permitiu ter uma outra visão da vida ainda muito cedo.

Em busca de repetir essa experiência, com uma visão adulta, ele chegou em 2008 na Nova Zelândia, onde conseguiu trabalhos como figurante na série de Sam Raimi, “Legend of the Seeker”. A produção gostou da dedicação e do trabalho de Thiago e quando surgiu a oportunidade de produzir “Spartacus” no país, ofereceram a ele um contrato fixo, para trabalhar como o stand-in de Andy Whitfield ator que interpreta Spartacus. O stand-in é a pessoa que substitui o ator antes das filmagens terem início, para ajustes técnicos de cenas.

Thiago com Andy Whitfield, que interpreta Spartacus

TVS. Por que a Nova Zelândia?
TM. Entre todos os países que pesquisei a Nova Zelândia se encaixou mais com o meu perfil. Queria mudar, trabalhar com cinema. A Nova Zelândia é um país onde o mercado de cinema está crescendo, um lugar perfeito para locações de grandes produções e seu estilo de vida “Kiwi” é muito parecido com o que eu gosto. É muito importante para mim conseguir conciliar trabalho e estilo de vida. E deu certo, adoro a minha vida e aqui me sinto em casa.

TVS. O fato da sua prima, Alice Braga, ter tido sucesso no exterior influenciou sua decisão de ir embora?
TM.Não só a experiência dela como a de outros primos que moram fora, além de amigos. Eu já tinha tido essa experiência no aspecto pessoal quando fui morar no Japão; agora queria ter a experiência como profissional. Em 2007 li um livro do diretor Sidney Lumet sobre a indústria do cinema e fiquei encantado com a forma como ela funciona, a organização e o profissionalismo. Queria conhecer isso.

TVS. No Brasil não tem isso?
TM. Acho que no Brasil nós temos profissionais muito competentes, criativos, com visão artística, mas falta um pouco de organização e valorização. O Brasil precisa pensar mais como uma indústria.

TVS. É difícil começar em outro país?
TM. O começo é sempre difícil, especialmente em outro idioma e cultura. Mas sempre acreditei que, quando se ama o que se faz, as oportunidades sempre aparecem. Trabalhei muito aqui, fiz um pouco de tudo, mas sempre fiquei feliz com as oportunidades e aproveitei cada etapa. Hoje estou trabalhando na minha área, e isso é maravilhoso.

TVS. Como foi que aconteceu começar a trabalhar com cinema na Nova Zelândia?
TM. Logo no segundo mês comecei a pesquisar agências de figuração, porque meu inglês na época não era muito bom. Tive dificuldades em ser agenciado porque queriam que eu tivesse carro para poder chegar nas locações, que ficam, na maioria, longe do centro da cidade. O transporte público é complicado e na época eu só tinha uma bicicleta. Na terceira tentativa disse que pegaria o carro de um amigo. Então, me deram o trabalho.

Em cena de “Legend of the Seeker”

TVS. Que trabalho foi este?
TM.Era para fazer figuração em “Legend of the Seeker”. Eu interpretava um guarda em alguns episódios. Tinha que estar lá às 5 da manhã. E como meu amigo não emprestou o carro, eu ia de bicicleta. Mas o estúdio era muito longe, então eu tinha que acordar às 3 da manhã e pedalar 20 km mais ou menos.

TVS. Valeu a pena?
TM. Ô se valeu! Era meu primeiro trabalho, e era sempre o primeiro a chegar, todo feliz! Esta experiência me levou a conhecer o pessoal da produção da série. Fiz contatos que foram importantes.

TVS. Você saiu de lá diretor para “Spartacus”?
TM. Não, eu ainda fiz alguns curtas. Tanto como ator como diretor de atores. Foi muito bom, primeiro porque estava atuando pela primeira vez em outro idioma, e segundo porque estava dirigindo atores, que é algo que eu adoro fazer.

TVS. Atuar em outro idioma é muito diferente? Limita?
TM. Exige muita atenção, apesar de acreditar que a principal função do ator é saber trabalhar a emoção, não importa qual o idioma. Acho que o que mais pesa é a cobrança pessoal de querer fazer o trabalho bem feito e falar de forma correta, para que todos entendam. Isso exige muita paciência e, principalmente, saber controlar a auto crítica.

TVS. Como foi que você chegou em “Spartacus”?
TM. Algumas pessoas da equipe do “Spartacus” trabalharam em “Legend of the Seeker”. Eles gostaram de mim e me ofereceram um contrato. O ambiente é maravilho. Todos foram muito carinhosos comigo, principalmente no começo quando tinha dificuldades com o idioma. São profissionais incríveis.

Com Lucy Lawless que interpreta Lucrécia

TVS. Como foi trabalhar com os atores do elenco?
TM. Todos foram maravilhosos. Trabalhei com a Lucy Lawless, o John Hannah e o Andy Whitfield. São pessoas incríveis. A Lucy é carismática, humana, generosa e atenciosa com todo mundo. O John tem um sorriso e uma alegria contagiante, o que torna o ambiente mais descontraído. O Andy é uma pessoa extremamente dedicada ao trabalho e tenho certeza de que ainda irá fazer muitos filmes no futuro. Uma vez um professor de teatro me disse que para ser um bom ator é preciso ser um grande ser humano. Trabalho com seres humanos fantásticos!

TVS. Você disse que queria ter a experiência de trabalhar em um ambiente profissional. Como é trabalhar em “Spartacus”?
TM. Aqui tudo funciona como um relógio. Começamos a filmar às 7 horas e terminamos às 19 horas. Tem horário certo para comer, preocupação com o bem estar e a segurança de cada um, responsabilidade com o pagamento. Tudo é muito planejado, organizado. Tudo isso ajuda a manter uma equipe motivada.

TVS. A série já foi renovada para uma segunda temporada antes mesmo da estréia da primeira. Você continuará na produção?
TM. Espero que sim. Preciso esperar, mas vou estar pronto se e quando isso acontecer. Creio que eles vão manter a mesma equipe, principalmente pelo carinho e a união que foram construídos ao longo da primeira temporada.

TVS. Você acha que a série tem chances de atrair o público brasileiro?
TM. Tenho certeza que sim. É uma série com um visual fantástico, com roteiro cheio de surpresas. Cada episódio que leio fico ansioso para saber o que vai acontecer no próximo. É uma série boa para ser exibida pelo SBT, por exemplo, que já passou “Roma”.

TVS. A imprensa americana fala muito sobre as cenas de violência e sexo que são apresentadas na série. Qual sua opinião sobre isso?
TM. É ficção, de mentira, puro entretenimento. Tenho um conceito diferente de violência. Para mim violência é assistir ao Jornal e ver o repórter perguntando para uma mãe o que ela sente quando vê a foto do filho que acabou de ser assassinado. E isso passa toda hora no Brasil. Video game e série de televisão é entretenimento.

Com John Hannah que interpreta Batiatus

TVS.Você já pensou em mudar e tentar trabalhar em outros países, como na Europa ou nos Estados Unidos?
TM. Planos a gente sempre tem, tudo pode mudar, mas no atual momento estou focado na Nova Zelândia. Estou feliz aqui , tenho os meus objetivos, aprendi muito e ainda tenho muito que aprender.  Quero viver bem cada momento de cada vez.

TVS. E com a sua prima, Alice Braga, tem vontade de trabalhar com ela?
TM.Lógico. Eu a adoro, ela é ótima e seria maravilhoso. Quem sabe um dia ela  vem para a Nova Zelândia fazer algum filme? Torço muito para que isso aconteça. Eu iria amar, é muito bom ter pessoas que a gente gosta perto da a gente.

TVS. Pensa em voltar ao Brasil?
TM. Por enquanto fico aqui. Tenho trabalho, casa e amigos. Fica a saudade da família, do futebol, da cerveja com os amigos. Mas aqui descobri outras coisas que também gosto!

TVS.Que dica daria para quem pensa em ir embora do Brasil.
TM. Procure sempre ser educado; tente aprender a cultura do país e se adaptar a ela. Seja honesto e esforçado. Vá para outro país com o objetivo de agregar, isso é fundamental.

Com um visual que resgata os video games e o filme “300”, a série “Spartacus: Blood and Sand” estréia nos EUA no dia 22 de janeiro pelo canal Starz. Ainda não há previsão de sua estréia no Brasil.
>> TV SÉRIES – por Fernanda Furquim


CREPÚSCULO: STEPHENIE MEYER FALA SOBRE O FUTURO DOS LIVROS DA SÉRIE

quinta-feira | 21 | janeiro | 2010

Escritora diz que pode “fechar portas que ficaram abertas” no futuro

Em entrevista ao Entertainment Weekly, a autora dos livos de Crepúsculo, Stephenie Meyer, falou da possibilidade de escrever mais volumes da série – ideia que ela parecia ter aposentado desde que vazou Amanhecer antes da publicação.

“Não posso dizer que minha experiência com Crepúsculo terminou para sempre. Não estou trabalhando em nada relacionado à saga no momento, nem nos próximos meses. Mas ainda existe a possibilidade de voltar e fechar algumas portas que permaneceram abertas”, disse.

Por enquanto, a quadrilogia segue sendo adaptada ao cinema. O terceiro filme, Eclipse, estreia em 20 de junho, com direção de David Slade (MeninaMá.com, 30 Dias de Noite).
>> OMELETE – por Marcelo Hessel


“WARM BODIES”: ROMANCE DE ZUMBIS VAI VIRAR FILME

quinta-feira | 21 | janeiro | 2010

Warm Bodies terá direção e roteiro de Jonathan Levine

O diretor Jonathan Levine (The Wackness, Tudo por Ela) vai escrever e dirigir a adaptação ao cinema do livro que combina romance e zumbis Warm Bodies, escrito por Isaac Marion.

A história se passa num cenário pós-apocalíptico e tem como foco um zumbi em crise existencial que faz uma amizade improvável com uma humana, a namorada de uma de suas vítimas. O envolvimento dos dois acaba despertando uma reação em cadeia que causa uma transformação nele e nos outros desmortos.

A produção fica por conta de Bruna Papanadrea. Laurie Webb e Cori Shepherd Stern serão as produtoras-executivas. O livro Warm Bodies será lançado nos EUA na metade do ano pela editora independente Atria Books.
>> UARÉVAA – por Jack Starman – 3/04/2008

Assista abaixo ao trailer do livro (e não do filme) para ouvir o ponto de vista do zumbi.


“HOMEM-ARANHA”: MARC WEBB VAI DIRIGIR PRÓXIMO FILME

quinta-feira | 21 | janeiro | 2010


Webb e Gordon-Levitt: diretor e ator de ‘(500) dias com ela’

Marc Webb, do simpático “(500) dias com ela”, será o novo diretor da franquia do Homem-Aranha. Segundo o blog Vulture, da New York Magazine, Webb foi contratado pela Sony para fazer três filmes. Ele substituirá Sam Raimi, que entrou em conflito criativo com o estúdio ao insistir na escolha do personagem Abutre como vilão e no ator John Malkovich para interpretá-lo.

Mais conhecido por clipes de bandas como Green Day, Webb diz que é um sonho que se torna realidade. Ele terá a árdua missão de recomeçar a série de filmes do zero, focando na juventude do herói. Agora só falta escolherem o ótimo Joseph Gordon-Levitt, de “(500) dias com ela”, para ser Peter Parker.
>> GIBIZADA – por Telio Navega


“MASS EFFECT”: JOGO DE FICÇÃO CIENTÍFICA GANHA TERCEIRO LIVRO

quinta-feira | 21 | janeiro | 2010

Retribution  é terceira adaptação literária de jogo e narra eventos que antecedem aos vistos em  Mass Effect 2O estúdio Bioware, da cidade de Edmonton, Canadá, anunciou que seu jogo de ficção científica Mass Effect está sendo adaptado para o formato literário, ou seja, transformado na obra Mass Effect Retribution, assinada pelo escritor canadense Drew Karpyshyn.

Retribution é o terceiro livro Mass Effect. O escritor assinou as duas outras obras (Revelation e Revolution), e as adaptações dos jogos Baldur’s Gate e Star Wars: Darth Bane.

Karpyshyn é também roteirista dos jogos Jade Empire e Star Wars: Knights of the Old Republic.

Conforme o blog VG247, Retribution serve como uma prequência de Mass Effect 2, narra eventos que antecedem aos vistos no jogo.

O livro Mass Effect Retribution estreia em 27 de julho de 2010.

Jogo
Mass Effect (ME) é uma série de ficção científica que permite fazer várias escolhas, mudando eventos e até o final da jornada conforme as ações tomadas pelo jogador.

No papel do (ou da) tenente-comandante Shepard (pode ser homem ou mulher), primeiro ser humano a ingressar na Spectres, força de elite do Conselho de Citadel, uma enorme estação espacial, você pode visitar (muitos) planetas pela Via Láctea.

Casey Hudson, diretor de ME2, informou que, logo depois do lançamento do título, a equipe inteira de desenvolvimento passará a cuidar das produções de expansões, permitindo a criação de diferentes tipos de conteúdo adicional para ME2. A saber, haverá desde a inclusão de novos personagens, planetas e tramas ao jogo.

Para o primeiro ME foram produzidas duas expansões, Bring Down the Sky e Pinnacle Station. Espera-se que para ME2 o número de expansões seja superior.
>> TERRA – por Darius Roos


“FEVRE DREAM”: ÉPICO DE VAMPIROS PELA AVATAR

quinta-feira | 21 | janeiro | 2010

Criado pelo escritor George R.R. Martin, o livro Fevre Dream será adaptando para os quadrinhos em uma série em dez edições que será lançada a partir de março pela Avatar Press e mostrará a briga de diferentes clãs de vampiros no sul dos Estados Unidos.

Na história, estamos em 1857 e logo conhecemos Abner Marsh, um homem de feiúra singular, mas o melhor capitão de barcos a vapor do Mississipi. Abner é contratado pelo pálido Joshua, um homem misterioso, acostumado a horários pouco convencionais, mas que oferece dinheiro mais do que suficiente para uma parceria. Logo, no entanto, Abner vai perceber que seu barco está indo em direção a lugares perigosos e dignos de pesadelos.

A adaptação da história foi feita por Daniel Abraham. Os desenhos são de Rafa Lopez e as capas foram pintadas pelo brasileiro Felipe Massafera.  Clique aqui  para ver as três obras de Massafera para o primeiro número.

A Avatar Press é uma editora americana fundada em 1997 por William Christiansen. Ela ficou conhecida por publicar quadrinhos de “bad girls” como Pandora, Hellina e Lookers. Publica materiais pertencentes a artistas como Frank Miller, Warren Ellis, Alan Moore e Garth Ennis. Também publica adaptações de cinema e televisão, como Robocop e Stargate SG-1.
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


BRUCE CAMPBELL ENFRENTARÁ FRANKENSTEIN

quinta-feira | 21 | janeiro | 2010

O ator Bruce Campbell confirmou ao Ain´t It Cool News que o filme no qual ele interpreta ele mesmo, My Name Is Bruce, terá continuação.

Mais uma vez Bruce viverá Bruce, desta vez em Bruce vs. Frankenstein, uma produção da Dark House. Como no primeiro filme, o longa deve misturar elementos da realidade e da ficção.

Em My Name is Bruce, o ator Bruce Campbell, da série de filmes Uma Noite Alucinante, mais uma vez brinca com sua própria imagem, vivendo “ele mesmo” ao mesmo tempo em que vive um personagem. Na história, Campbell é raptado pelo último sobrevivente do ataque inicial de um monstro chinês a uma pequena cidade do estado americano do Oregon. Acreditando que tudo não passa de uma grande brincadeira armada pelo seu empresário, Bruce acaba indo até a cidade e lidera o restante dos moradores numa cruzada contra o tal monstro.
>> HQ MANIACS – por Marília Bissigo


SANTA CLARA POLTERGEIST: “CYBERPUNK” À BRASILEIRA?

quinta-feira | 21 | janeiro | 2010

A Cultura “Cyberpunk”.
A cultura “cyberpunk” é um fato, uma mistura de esoterismo, programação informática, piratarias e ficção científica (1), influenciada pela contra-cultura americana e pelos humores dos anos 80. Ela é uma cultura de rua, presente em vários países e que se expressa através de revistas “especializadas” (2), de jogos eletrônicos clandestinos (3), da pirataria digital (“hacking”, “phreaking”), do cinema e da televisão (4), das revistas em quadrinhos (5), dos vírus de computador (6), da moda (7), das novas expressões artísticas e das novas imagens (8). A cultura “cyberpunk” é, antes de mais nada, a expressão de um comportamento irreverente em relação às novas tecnologias.

Não precisamos muito para observar as mudanças e os “bouleversements” sócio-culturais por que passa a nossa sociedade contemporânea a partir da miniaturização e banalização das novas tecnologias de base micro-eletrônica. Alguns vão ver aí traços da “pós-modernidade”, outros, o agravamento e a radicalização do que foi o sonho tecnológico moderno. A cultura “cyberpunk” nos leva a crer que as duas posições fazem sentido.

Por um lado, os “cyberpunk’s” rejeitam o sonho do paraíso tecnológico, “brincam” e “jogam” de maneira irreverente com as regras impostas pelo sistema tecnocrático. Eles pretendem, pela subversão das regras e pelo prazer, recolocar a questão do poder tecnológico e popularisar a idéia de que a tecnologia deve ser uma ferramenta de liberdade, prazer e comunicação ao alcance de todos, e não previlégio de uma elite (cientistas, militares e industriais).

As grandes promessas da modernidade desabaram. O “no future” impera e a única saída é investir tudo no presente. Agora, a tecnologia só faz sentido se ela ajudar nessa “apropriação do quotidiano”. A cultura “cyberpunk”, fruto do sonho maior da modernidade (a informatização da sociedade), se volta contra seus paradigmas fundadores e apresenta uma outra maneira de pensar e utilizar a tecnologia. Nesse sentido ela é um “pesadelo” da modernidade. Aqui podemos estar vendo o nascimento do imaginário tecnológico da “pós-modernidade”.

Por outro lado, a aceitação do destino tecnológico (“a tecnologia está aí e nada podemos fazer a não ser utilizá-la de maneira criativa”), o surgimento de uma nova utopia da comunicação, livre e tecnicamente perfeita (relançando um novo “projeto” e uma nova “ideologia”), o isolamento do sujeito, imerso em uma parafernália hyper-tecnológica que reforça os ideais individualistas modernos (os “Otakus”) (9), a paixão quase religiosa por tudo o que é novidade no mundo da técnica, só para citar algumas pistas, atestaria uma radicalização dos paradigmas legitimadores da modernidade. A tecnologia contemporânea é vivida assim sob o signo desse paradoxo.

Hoje, a tecnologia de ponta, produto supremo da racionalidade instrumental, parece se misturar a uma nova “sociabilidade”, a uma espécie de “re-encantamento do mundo”. Como mostra Maffesoli, “…aussi paradoxal que cela puisse paraître, on peut établir une étroite liaison entre le développement technologique et l’amplification de l’esthétique. La technique qui avait été l’élément essentiel de la reification, de la séparation, s’inverse en son contraire et favorise une sorte de tactilité, une expérience commune” (1O). A cultura “cyberpunk” é fruto da busca dessa “tactilidade” e dessa “experiência comum” de que fala Maffesoli.

Embora seja uma cultura tecnológica, a cultura “cyberpunk” não se define unicamente pela tecnologia. Ela é, mais profundamente, uma “atitude”, um comportamento sócio-cultural, fruto do encontro da tecnologia micro-eletrônica com uma “nova sociabilidade” quotidiana, tribal, neo-religiosa, efêmera, que não responde mais aos esquemas clássicos de compreensão. Nessa “nova sociabilidade”, as tecnologias de comunicação se tornam coadjuvantes da vida quotidiana. Elas são imersas, não no destino histórico e heróico mas, no “présenteisme” (Maffesoli), numa forma do “homem sem qualidades” (Musil) fugir das pressões da racionalidade tecnológica moderna.

A solução proposta pela cultura “cyberpunk” é a seguinte: faça você mesmo de sua vida uma obra de arte, aqui e agora. A tecnologia está aí para lhe ajudar, mas desconfie das promessas da ciência e da técnica. Explore todas as possibilidades concretas e imaginárias de utilisação dos objetos. Tome nas suas mãos o destino tecnológico do planeta. Para agir nesse quotidiano hiper-tecnológico, todas as formas são boas, desde a subversão de signos, passando pelas piratarias, improvisações, até a criação artística. Aqui a parte “punk” da expressão ganha força: “do it your-self”.

A “Atitude cyberpunk”.
Descrever o surgimento da “atitude cyberpunk” nos obriga, de uma certa maneira, contar um pouco da história da informática e, em particular, da micro-informática. A própria história da cultura “cyberpunk” se mistura à história dos micro-computadores e, mais radicalmente, é a “atitude cyberpunk”, filha da contra-cultura americana, que cria a micro-informática nos Estados Unidos em 1975.

A informática é produto do desenvolvimento de vários domínios científicos a partir da década de 40 (cibernética, 1950; inteligência artificial, 1956; teoria da auto-organização e de sistemas, 1960; e da comunicação de massa do pós guerra). Philippe Breton (11) propõe a divisão da história da informática em três etapas: a primeira, de 1940 à 1960, onde a informática estava diretamente ligada à cibernética; a segunda, de 1960 à 1970, com os grandes sistemas centralizados e vinculados à projetos militares; e a terceira, de 1970 até hoje, caracterizada pela micro-informática e pelas redes de telecomunicação.

Na primeira etapa, a construção dos computadores estava diretamente influenciada pela teoria cibernética. Nesse momento, a comunicação passa a ser compreendida como um “comportamento” da informação em relação a um “meio ambiente”. As novas máquinas cibernéticas buscam imitar o comportamento do cérebro humano, baseado no imaginário da imperfeição do ser humano, e na crença da técnica como a única solução para o crescimento da complexidade civilizacional. Para Breton, esse foi o período “métaphysique” da informática. Aqui toda a mitologia das “criaturas artificiais” mostra a sua força e sua atualização (12).

Wiener (pai da teoria cibernética) era hostil à interferência militar no desenvolvimento da cibernética. Daí a separação entre a cibernética e a informática. Em Wiener nós podemos ver os primeiros traços da “atitude cyberpunk”. Ele começa a se interrogar sobre os “enjeux” éticos do uso das novas tecnologias. Agora, independente da cibernética, a informática inicia a segunda etapa: a dos grandes sistemas centralizados ligados estreitamente aos institutos de pesquisa, universidades e ao complexo militar-industrial.

A fase “metafísica” se desloca assim para um outro “mito” fundador da modernidade, o da “administração” racional e lógica da vida social. A invenção dos computadores se afasta da interrogação sobre o que é o homem e a comunicação, para se ligar ao desenvolvimento de máquinas de “ordenar” (em francês “ordinateur”, em espanhol, “ordenador”). A “infor-mática” será o meio automático de tratar a informação. A segunda informática é concebida então, como uma nova “utopia” de transformação e gestão da sociedade.

A invenção do micro-computador funda em 1975 a terceira etapa da informática. Ela é fruto de dois acontecimentos (técnico e sócio-cultural) importantes desse fim de século: o barateamento e a miniaturização dos componentes eletrônicos, que possibilitam o desenvolvimento de máquinas mais potentes, eficazes e menores, e uma “demanda” social que impulsionava esses progressos. A vontade de construir máquinas menores, potentes e baratas se explicitava. A “atitude cyberpunk” nasce aqui.

A micro-informática foi uma invenção de “radicais” californianos que combatiam a centralização da informação pela elite tecnocrática. Eles pretendiam democratizar os computadores e expandir a participação “popular” aos novos desafios da informática. Os computadores deveriam servir, não só como máquinas de “ordenar”, mas como instrumentos de criação, de prazer, de diversão e de comunicação. Em 1977 nasce na garagem dos Steves (Jobs e Wozniak) o Apple II. Nos textos promocionais nós líamos: “We build a device that gives people the same power over information that large corporations and government have over people” (13). Em 1981 IBM laça o seu primeiro PC (personal computer).

Na origem da “cultura informática” existia então, uma contestação do “peso” da segunda informática que reforçava os valores modernos (grandes sistemas centralizados, objetivos militares, ideologias políticas, crença no futuro, no progresso e na razão). A terceira informática vai colocar o acento sobre a democratização da comunicação e das tecnologias de comunicação. O modelo da “Apple”, simbolizada por uma maça mordida, criada numa garagem e pretendendo ser mais interativa, convivial e democrática é um rompimento com os ideais modernos, cujo modelo era a IBM (uma gigante, centralizadora e ligada à pesquisa militar).

Foi provavelmente o surgimento dessa sociabilidade, mais do que as inovações técnicas, que deu luz à cultura informática, onde a “cultura cyberpunk” é uma de suas facetas. Com a “atitude cyberpunk” surge uma nova lógica na utilização das tecnologias onde a “lógica” tradicional dos computadores “céda en partie la place à une image ludique, créative; enrichissante de l’informatique” (14).

Os “cyberpunk’s” querem participar do universo informático e rediscutir as orientações da tecnologia na cultura contemporânea. As estruturas do poder tecnológico e jurídico devem se reorientar e se adaptar as novos comportamentos. Eles questionam e desconfiam da boa intenção dos tecnocratas. O mundo tecnológico é inevitável e irreversível. A tecnologia deve se tornar um instrumento de criatividade, de construção de simbologias e de convivialidade (15), aqui e agora. Vários projetos vão nesse sentido (16).

 

Os “Phreaks” e os “Hackers”.
A formação de uma cultura de rua “high-tech” foi influenciada diretamente pela contra-cultura americana e pela consolidação de uma sociedade de “masse-média”. Nessa conjuntura nascem os “phreaks” e, anos mais tarde, acompanhando o desenvolvimento tecnológico, os “hackers”, o “cyberpunk” por excelência.

Os “phreaks” surgem nos anos 60 com o objetivo de explorar as possibilidades abertas pelas redes de telefones. Eles visavam “liberar” a tecnologia do controle estatal e industrial, e injetar um pouco de criatividade no domínio da telecomunicação. O “phreaking” era a manipulação “pirata” do sistema telefônico americano Bell. O objetivo dos “preaks” é realisar “free long distance calls”. A palavra “phreak” é resultado de um neologismo entre “free”, “phone” e “freaks”.

O “phreak” dos anos 60 manipulava tonalidades “multi-frequência” do sistema Bell. A reprodução dessas tonalidades musicais, através de equipamentos caseiros e improvisados inventados por estudantes (as “Blue Box’s”), permitiam aos “phreaks” estabelecer ligações telefônicas gratuitas e “passear” pelas redes de comunicação mundial. Começa aqui o que seria depois ampliado pelos “hackers”, as “viagens” pelo novo universo de dados e pelas redes de comunicação.

O “phreaking” se tornou publico em 1971, através de um artigo de Ron Rosenbaum na revista inglesa “Esquire” que revelava os “Secrets of the Little Blue Box”. Nesse mesmo ano é formado o “Youth International Party Line”, o primeiro jornal underground dos “phreaks”. “Phreaks” como Mark Bernay, Joe Engressia e John Draper, são os pais da cultura “cyberpunk” (17).

A passagem do “phreaking” ao “hacking” era então uma questão de tempo e de desenvolvimento technológico. Os “hackers” serão assim os “phreaks” dos computadores, e vão ajudar a consolidar esse espécie de “contra-cultura tecnológica”. Numa cultura informatizada, a consequência natural do “phreak” é o “hacker” (em português cortar, entalhar, bisbilhotar), o “cyberpunk”, o pirata romântico, aventureiro e “bricoleur” do universo tecnológico. No entanto, os “phreaks” existem até hoje acompanhando os desenvolvimentos tecnológicos dos telefones. O “phreaking” por telefones celulares já é uma prática (18). Hoje o “phreaking” e o “hacking” são duas faces da mesma moeda.

Os primeiros “hackers” foram os “viciados” em computadores que trabalhavam no M.I.T.. Eles desenvolviam, para se divertir, os primeiros jogos eletrônicos e experimentavam as primeiras “viagens” pelas redes de informação. Mais tarde, os estudantes americanos começam a fazer parte dessa nova “tribo”, onde era prática corrente entre eles deixar um “vírus” ou uma “bomba lógica” no sistema informático da universidade após o doutoramento. Com a banalização da micro-informática, são os adolescentes que vão se servir e ampliar as potencialidades da máquina. Eles serão os “hackers”, os jovens “ingênuos” e “desinteressados” que vão subverter as regras do universo informático (penetrar sistemas informáticos, copiar programas, produzir vírus, etc).

A fundação do “Chaos Computer Club” (CCC) em 1981 em Hamburgo na Alemanha, é a expressão mais fiel desse primeiro momento dos “hackers”. No programa de base do CCC nós podíamos ler: “nós reclamamos o reconhecimento de um novo direito dos homens, o direito à uma comunicação livre, sem entraves e sem controle, através do mundo inteiro, entre todos os homens sem excessão…” (19). Eles se colocam como “piratas éticos”, se opondo ao vândalo e criminoso. Um “hacker” não visa roubar, destruir ou espionar os dados dos outros, ele procura simplismente “admirar” e se apropriar do “cyberspace” (20).

As grandes linhas da “ética do pirata” são: o acesso ao computador e a tudo o que mostra o funcionamento desse mundo deve ser sem limite; toda informação deve ser livre e sem controle; deve-se julgar um pirata depois de seus atos e não pelo seu aspecto exterior, idade, sexo, raça ou posição social; o computador deve permitir a criação estética e artística; não semeie a destruição dos dados alheios.

O romantismo e a boa intenção acabam aí. Embora existam o que podemos chamar de “hackers éticos”, a prática do “hacking criminoso” (destruição de informações, espionagem internacional, vírus destrutivos, manipulação de cartões de crédito e códigos de acesso confidenciais, etc) é hoje uma realidade e vários países atualizam sua legislação para impedir toda espécie de “hacking” (21).

O “hacker-cyberpunk” encarna assim uma transfiguração, o mito do “puer aeternus” (22). Ele é uma figura meio angelical, meio demoníaca. Ele é jovem, puro, ingênuo, brincalhão, inocente e, ao mesmo tempo, vândalo, pirata, bisbilhoteiro, perigoso, viciado. Ele vive em função de um objeto (o computador), ligado à materialidade, sem deixar de ser um “cowboy” (23), um aventureiro, um herói “high-tech” circulando num espaço de “informação pura”. O “hacker” passa em média 10 horas por dia na “materialidade metafísica” do computador “desligado” do mundo.

Ele é o oposto do que foi a figura máxima do reino tecnológico moderno, o especialista. Esse buscava o conhecimento total do particular, enquanto o outro busca se virar na pluralidade dos eventos banais do quotidiano. O “hacker” quer o prazer presente e improvisado, o seu domínio não está no particular mas na generalidade. O status daquele que domina a técnica passa então do especialista ao “hacker”, esse mais próximo do arquétipo do “bricoleur”.

O “radical” tecnológico dos nossos dias não é, como se poderia pensar há alguns anos, um cientista objetivo, frio, asséptico e racional. Ele é um adolescente aventureiro e romântico, “sujo”, ligado religiosamente a sua pequena tribo, a algumas drogas e a tudo que é novidade no mundo da técnica. O “cyberpunk” é, podemos dizer, um sujeito de transmutação e do “re-encantamento” da tecnologia.

O “Underground High-Tech”.
O “underground high-tech” é amorfo e plural, formado por “hackers” e “phreaks” que se multiplicam, a nível mundial, a partir dos anos 80. As motivações são as mais diversas, dentre elas: o desejo de uma comunicação livre, o desafio de jogar com grandes sistemas de computadores, o prazer, a diversão e a liberdade em relação a tudo que se refere às novas tecnologias. O que vai caracterizar essa nova expressão cultural dos anos 80 é uma “atitude punk” frente às imposições tecnocráticas. Podemos compreender esse “underground” a partir de alguns aspectos: o “espaço de socialização”, o “objeto culto”, os “discursos”, as “ações”, o “ambiente” e a “relação com o corpo”.

O espaço de socialização: a noção de espaço não é mais geográfica. As mesmas transformações por que passam as fronteiras, a partir da formação de uma rede mundial de informações, se reproduzem no seio dessas tribos. Os contatos entre os “hackers” é mediático, onde os encontros físicos são irrelevantes. O indivíduo é assim colocado em questão. Os “hackers” se conhecem por seus “pseudos”, escapando do constrangimento da verdadeira “identidade”. No entanto, esse contato mediático, que poderia representar um isolamento, é visto como uma verdadeira forma de “comunicação”. Nesse sentido os “espaços de socialização” são os “clubs”, os “Bulletins Boards”, os “congressos” (24), as “copy party’s” (festas para cópias e piratarias de programas), e a própria rede mundial de dados.

O objeto culto: o computador (assim como toda a parafernália para circular pelo “cyberspace”) é o “objeto de culto”. O aspecto religioso e mítico não é aqui um exagero. O computador é nesse sentido um totem sagrado (25) visto também como uma espécie de “droga”. Os “cyberpunk’s” são também conhecidos como “computer addicts” ou “code junkies”. O discurso: como já vimos, o discurso do CCC é um exemplo do discurso dos “cyberpunk’s”. As ações: as ações são realizadas sem grandes objetivos. A “finalidade” é se divertir e explorar todas as potencialidades dos grandes sistemas informáticos, questionando a tecnologia através do lúdico. Nesse espírito são relizadas as “piratarias de programas”, os “hackings”, os “vírus”, a prática do “social engineering” (26), as trocas de códigos de acesso, etc.

O corpo: a teoria cibernética cria um “modelo informacional do homem”, onde o corpo pode ser melhor definido em função das trocas de “informações” à nivel celular. Persiste aí uma negação “cartesiana” do corpo, onde a razão (programação) é mais importante que a materialidade. Podemos ressaltar ainda uma influência do esoterismo e do misticismo oriental onde a matéria é uma fonte de ilusão. Os “hackers” são conhecidos pelo mau trato do corpo, pela não preocupação quanto à estética e à higiene corporal e pelo consumo de drogas. Eles são chamados de “mendigos da informática”. O ambiente: o ambiente é basicamente “tecno-masculino”, talvez como consequência natural da nossa civilização técnica que privilegia uma dimensão masculina da sociedade, onde os valores de razão tecnológica vem ao lado da “masculinização da sociedade”.

A cultura “cyberpunk” expressa assim as contradições da tecnologia contemporânea. A tecnologia de ponta, figura suprema do “reino do quantificável”, se “reencanta” e passa a ser uma ferramenta, não só do controle objetivo e causal dos eventos do mundo, mas da criação, do prazer estético, do “partage” de sentimentos e da singularidade. A “transfiguração” do moderno que nos levaria à pós-modernidade (Maffesoli), encontra aqui um reforço. A profusão material dos objetos faz com que, longe das crenças “frankfurtianas” de homogeneização social pela “racionalidade instrumental”, o reino da quantidade homogênea se transforme, como por encanto, no reino da qualidade e da pluralidade.

“Cyberpunk” à Brasileira: Santa Clara Poltergeist.
Embora ainda seja cedo para afirmarmos a exitência de uma cultura “cyberpunk” no Brasil (27), que significaria a existência de um conjunto de componentes concretos (“hackers”, “vírus”, revistas, “Bulletins Boards”, “associações”) e imaginários (moda, quadrinhos, cinema, ficção científica), como constatados na Europa e nos Estados Unidos, podemos, no entanto, perceber traços de um “imaginário cyberpunk” brasileiro no romance “Santa Clara Poltergeist” (28) do artista multimídia Fausto Fawcett.

Nessa obra Fawcett alia temas caros ao imaginário “cyberpunk”: a mistura entre tecnologias de ponta, saturação informacional, orientalismo e misticismo, tribos urbanas, violência, cultura pop e vulgarização científica, estética pornô e ficção científica, simulação, virtualidades e simbiose homem-máquina. “Santa Clara” é assim contemporânea das diversas expressões da cultura “cyberpunk”.

O romance se ambianta numa Copacabana “tecno-mística-erótica-caótica”, onde Mateus, um N.E.I. (Negão Eletricista Informático) recebe uma tarefa que vai salvar o bairro de um apocalípse “tecno-erótico”. Mateus é completamente viciado em tudo que se refere à informática, adora mulheres e “funk” misturado com Vivaldi e Bach. Ele é assim uma espécie de “hacker terceiro mundista”. O excessivo contato com as radiações elétricas fez com que Mateus perdesse parte de sua energia cerebral, e ele precisa, de tempo em tempo, recarregar um “fusivel” implantado em seu cérebro. Mateus mora em São Paulo.

Ao mesmo tempo coisas estranhas aconteciam no Rio de Janeiro. Santa Clara Poltergeist revolucionava Copacabana. A história da Santa se confunde com a metamorfose sofrida por Verinha Blumenal, uma garota que fazia sucesso vendendo seu corpo e amortecedores para os caminhoneiros sulistas. Um belo dia, Verinha encontrou uma bicicleta e resolveu dar um passeio. Durante o passeio, o banco da bicicleta saiu do lugar e o cano de ferro que sustenta o banco penetrou Verinha. A partir desse acidente, ela começa a ter poderes paranormais (fenômenos de psicocinese) e resolve fazer uma operação onde recebe “um intestino prótese a base de bateria automobilística, que deveria ser recarregado toda semana” (29). A psicocinese no entanto continuava.

Vera resolve então explorar comercialmente seus poderes fazendo shows “tecno-pornô-místicos” virando a vedete dos caminhoneiros. Ela recebe um convite e vai trabalhar no Rio, em Copacabana, nas boates de “Ramayana Porshe” o “hindu manda chuva do comércio erótico do bairro” (30) e o fundador mundial das “academias aeróbicas do Tao pornô” (31).

Nesse momento, uma “falha magnética baixa” tomava conta de Copacabana e começava a interferir no corpo de Verinha. Ela descobre que o seu sangue pode curar e resolve, junto com o místico hindu, ajudar as milhares de pessoas necessitadas. Ela para os espetáculos pornôs e se dedica à boa causa. Descobre-se: Verinha seria a re-encarnação de Clara Vonheim, uma santa conhecida em toda a Europa central, principalmente na Alemanha.

A convocação para as seções de cura se dava através de televisões ligadas “fora do ar”. A TV “fora do ar” virou um totem místico em Copacabana. Todos tinham televisores “fora do ar” ligados em altares esperando a convocação da Santa. Copacabana se transforma assim num “balneário de misticismo erótico, num pólo de atração total” (32). A temperatura ambiente era de 55°C.

Santa Clara propõe ajudar a curar Mateus mas, para tanto, ele deveria ajudá-la a capturar “o ovário míssel” que está circulando nos subterrâneos do bairro. Ele tem no seu interior uma bomba e o único meio de salvar Copa é introduzindo-o no ventre de “Santa Clara”. Ele foi escolhido por suas capacidades técnicas, já que terá de construir um “híbrido de aspirador e imã com materiais só encontrados em certos estabelecimentos desse bairro esdrúxulo” (33) para recuperar o estranho míssel.

A partir daí a aventura de Mateus será recheada de personagens singulares (“xiitas orgônicos”, “místicos profissionais”, “cientistas ambulantes”, “Manson Chips”), lugares estranhos saturados de tecnologia, erotismo e misticismo (“Oba Oba Espíritas”, “Academias Aeróbicas do Tao Pornô”, “Clínicas de Próteses Tecnológicas”, “Serviços Ninja Sêmem”). A tecnologia está em todo o bairro, numa mistura de sucatas, objetos improvisados, telas de vídeo e micro-eletrônica (“ovário-míssel”, “aspirador detector do ovário míssel”, “gavião blaster”, “roupas refrigeradas”, “orgiódromos high-tech”, “céu televisivo”).

Um Brasil “cyberpunk”?
Para o sociólogo Michel Maffesoli, o Brasil é um “laboratório da pós-modernidade”. Num colóquio recente sobre a América Latina (34), Maffesoli começou sua exposição com uma imagem da pós-modernidade: “Lenin dizia que a modernidade seria a eletricidade mais os soviéticos. Para mim a pós-modernidade é a informática mais o candomblé”.

Nessa comparação podemos ressaltar que o que caracterizaria a pós-modernidade seria uma certa convivência entre lógicas distintas, uma mistura entre o passado e o futuro, como o “futurismo” da informática e o “arcaismo” do candomblé. Por outro lado, o papel fundamental da tecnologia como construtora do espaço/tempo, seja ele moderno (eletricidade) ou pós-moderno (informática), se explicita.

Lyotard mostrou bem como nossa época se legitima mais pela “paralogia” que pelo consenso (35). A modernidade enfatisava o “projeto coerente”, mirando o futuro e “administrando” a vida social. Vai aí a utopia e a coerência “eletricidade mais soviéticos”. A pós-modernidade, ao contrário, se estabelece pelo esgotamento de grandes projetos e pela pluralidade cultural. Vai aí a falta de compromissos e o “présentéisme” do “informática mais candomblé”.

O Brasil encarna bem as transfigurações por que passa a nossa sociedade contemporânea e a fórmula “informática mais candomblé” é um bom retrato do país. A diversidade e a pluralidade cultural, a crise política e econômica, o convívio entre bolsões de riqueza e de pobreza, de desenvolvimento tecnológico e de carência básica, só pra citar alguns exemplos, nos coloca diante dessa “transfiguração”.

Dentro desse quadro de contradições “futuristas e arcaicas”, seria possível encontrar traços da cultura “cyberpunk”, cultura tipicamente “high-tech” e característica de países “pós-industriais”, num país que ainda não alcançou sequer as promessas da modernidade? Nesse ponto uma outra questão se coloca: seria preciso esgotar a modernidade para entrar na pós-modernidade? Se pudermos responder afirmativamente à primeira questão, então a segunda seria respondida negativamente.

O “imaginário” de Santa Clara Poltergeist representa assim o Brasil: uma sociedade dominada pela informatização, povoada das mais diversas tribos urbanas, onde convivem “hackers” (os NEI’s), místicos, cientistas. A violência convive de perto com o misticismo, o erotismo e os “gadgets” technológicos. A sociabilidade se configura numa civilização de “imagens em telas” e da “comunicação mediatizada”. Copacabana tinha um “céu televisivo” assim como no romance de Gibson “le ciel au-dessus du port était couleur télé calée sur un émetteur hors service” (36). O caos urbano impera e as interferências corporais, pelo meio de componentes artificiais, se tornam quotidianas e banais.

O romance é influenciado principalmente pelos “bouleversement” filosóficos causados pela física quântica, pelas novas tecnologias micro-eletrônicas, pela cultura pop e pela ficção científica. Santa Clara Poltergeist é talvez uma primeira expressão do imaginário e da cultura “cyberpunk” brasileira. O romance é recheado de “nonsens”, de humor negro e de erotismo, sempre com um pano de fundo “tecno-místico”. O bairro de Copacabana representa a própria imagem da cultura contemporânea: um bairro terceiro mundista, num futuro próximo e já atual, recheado de contradições sociais, super-informatizado e ao mesmo tempo caótico e violento. Aqui se misturam o “pré-moderno” e as tecnologias de ponta, o passado e o futuro.

O misticismo recheado à violência e ao sexo representa a faceta da nossa “sociedade dionisíaca” (37). A super informatização social, a banalização tecnológica, e as simbioses corporais homem-máquina, expressam as profundas redefinições por que passa a nossa cultura tecnológica. A profusão de tribos urbanas e a presença do arquétipo do hacker (os N.E.Is) retratam a “transfiguração” do indivíduo clássico. A falta de orientação moral (tudo é bom), o sexo radicalizado e comercializado, o poder difuso das multinacionais, a faceta totalitária e perigosa da ciência (“polícia científica”, “xiitas orgônicos”) reproduzem o nosso “espírito do tempo”.

Quem conhece Copacabana sabe que a “caricatura” de “Santa Clara Poltergeist” não é muito distinta da face real da Copacabana de hoje. Aqui o imaginário e o real se confundem. Como diz o “Papa” da ciência ficção “cyberpunk”, Willam Gibson, “quem acha que ficção científica fala do futuro é um ingênuo”. A estética “cyberpunk” não é mais privilégio (se é que ela é um privilégio) dos países pós-industriais. O Brasil pintado por Fawcett é um “Brasil laboratório em exercício” da pós-modernidade. Pelo menos no imaginário nós já vivemos a “cultura cyberpunk”.

NOTAS e REFERÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
1. A origem do termo “cyberpunk” vem da corrente homônima da ficção científica. A obra que deu origem ao movimento foi “Neuromancer” de Willian Gibson em 1984. Ver também coletânia de Bruce Sterling, Mirroshades, New York, Arbor House, 1986.
2. As californianas “Mondo 2000”, “Reality Hackers”, e “Wired”, a francesa “Terminal”, a inglesa “Interzone”, a japonesa “Hayakawa’s SF Magasine”, a holandesa “HackTick”, entre outras.
3. Sobre os jogos nazistas e clandestinos que circulam nas escolas da Alemenha, Áustria e Holanda, ver Meissner, Gerd., “Marchandise nazie. Auscwitz en jeu informatique”., in Chaos Computer Club., Danger Pirates Informatiques., Paris, Plon, 1989.
4. O imaginário cinematográfico “cyberpunk” vem se expandindo a partir dos anos 80. São exemplos a série da televisão inglesa Max Headroom e os filmes Blade Runner (81), Tron (82), War Games (83), Brazil (84), Akira(88), Terminator 2 (91), The Lawnmower Man (92), Univeral Soldier (92) e Sneakers (92).
5. Katsuhiro Otomo (Akira), Moebius, Seyfried e Reiman (Future Subjunkies), Tornatore entre outros.
6. Sobre os “vírus”, “bombas lógicas” e “cavalos de tróia” ver Lovinfosse, J-P., Le Piratage Informatique, Alleur, Marabout, 1991., Rosé,P., La Criminalité Informatique., Paris, PUF, 1988., e Clough, B.; Mungo,P. Approaching Zero. Data Crime and the Computer Underworld., London, Faber and Faber, 1992.
7. Existe uma moda “cyberpunk” na Europa e nos Estados Unidos com lojas especialisadas. As revistas citadas acima mostram, a cada número, novas expressões.
8. “Sampling”, video-arte, holografia, “morphing”, realidades virtuais, imagens de síntese. Sobre a realidade virtual ver Rheingold, H. Virtual Reality., Londres, Secker & Warburg, 1991.
9. Os Otakus japoneses são uma espécie de “hacker” radical japonês. Eles vivem isolados do mundo dentro de seus “bunkers” tecnológicos e tem um comportamento violento. Ver Greenfeld, Karl Taro, “The Incredibly Strange Mutant Creatures who Rule the Univers of Alienated Japanese Zombi Computer Nerds”, in Wired, n°1, 1993.
10. Maffesoli, M., La Transfiguration du Politique. La Tribalisation du Monde., Paris, Grasset, 1992.
11. Breton, P. Une Histoire de l’Informatique., Paris, Seuil, 1990.
12. Sobre as criaturas artificiais como Frankstein, Golem e outras, ver Breton, P. La Tribu Informatique., Paris, Métaillé, 1991, principalmente o capítulo 8.
13. Clough, B.; Mungo,P., op.cit., p.32.
14. Breton, “Une histoire …”, op.cit., p.233.
15. Ver Illich, I., La Convivialité., Paris, Seuil, 1973.
16. “Peoples Computer Club – P.C.C.” (Menlo Park,1972), “Community Memory” (Berkeley,1973), “Electronic Frontier Foundation” (Washington,1990) e outros no Canadá e na França onde o objetivo é a criação de uma participação comunitária independente em relação às novas tecnologias de comunicação.
17. Sobre as ações dos “phreaks” ver Clough e Mungo, op.cit.
18. Ver Markoff, J., Cellular Phreaks e Code Dudes. in Wired, n°1, 1993.
19. Ammann, T., Après Nous le Futur. Les Débuts du Chaos Computer Club., in Chaos Computre Club., op.cit., p.11.
20. Sobre as ações dos hackers ver: Clough,B. e Mungo., op.cit.; Hafner e Markoff., Cyberpunk. Outlaws and Hackers on the Computer Frontier., New York, Touchstone, 1991.; Acco e Zucchelli, E., La Peste Informatique., Paris, Ed. Plume, 1989.; Chaos Computer Club., op.cit. e Levy, Steven., Hackers: Heroes of the Computers Revolution., New York, Anchor Press, 1984.
21. O hacking criminal é confirmado pela existência de Bulletins Boards de piratas e pelas perdas milionárias causadas em diversas instituições. Ver Rosé, Philippe., op.cit. e Clough e Mungo, op.cit.
22. Sobre o imaginário do “puer aeternus”, ver Durand, “Les Structures Anthropologique de l’Imaginaire”., Paris, Bordas, 1969.
23. Case, o herói de “Neuromancer”, é descrito como um “cowboy do cyberespaço”. Ver GIBSON, W., Neuromancien., Paris, Ed. La Découverte, 1985.
24. Realizou-se em agosto de 1989 em Amsterdam um congresso des “hackers” chamado ITACA 89. Ver Sparfel, J-Y., ICATA 89: de l’Utilité du Piratage Informatique., in Terminal, n°47, oct-nov 1989, p.12.
25. Ver Miguel, C., Mythologies Modernes et Micro Informatique., Paris, L’Harmattan, 1991.
26. A prática do “social engennering” é uma astúcia usada pelos “hackers” para conseguir códigos (logins e pseudos) se passando por outra pessoa.
27. Pesquisa em andamento como tese de doutoramento do autor. CEAQ-Paris V Sorbonne/CNPq.
28. Fawcett, Fausto., Santa Clara Poltergeist., Rio de Janeiro, Ed. Eco, sd.
29. Fawcett, op.cit.,p.25.
30. Idem, p.30.
31. Idem, p.32.
32. Idem, p.24.
33. Idem, p.48.
34. Colóquio sobre “L’Amérique Latine à L’Aube de L’An 2000”, Paris, Université Paris VII, 14 et 21/11/92.
35. LYOTARD, J-F., La Condition Postmoderne., Paris, Editions du Minuit, 1979.
36. Gibson, op.cit., p.5.
37. Sobre o lado “dionisíaco” e “orgiástico” da sociedade contemporânea ver Maffesoli, M., L’Ombre de Dionysos. Contribution à une Sociologie de l’Orgie., Paris, Méridiens, 1982.

>> FACOM – UNIVERSIDADE DA BAHIA – por André L.M. Lemos


FAUSTO FAWCETT: O VAMPIRO DE COPA

quarta-feira | 20 | janeiro | 2010

Editora Papagaio relança a obra literária completa de Fausto Fawcett, com três livros (inclusive o cyberpunk “Santa Clara Poltergeist”) e mais dois inéditos, “Favelost” e o infantil “Loirinha Levada”, a partir de março


CALCINHA EXOCET– Fawcett na semana passada, em Copacabana.

Uma  hora e  meia com Fausto Fawcett num bar no Leblon, e tudo que ele bebe é uma garrafinha de água de 300 ml. A memória lembra dele nos anos 80 e 90 sempre com um copo de uísque na mão. Está magrinho e fala baixo, é até possível tomá-lo por um mero Fausto Falsete. Mas os olhos muito miúdos e o jorro vertiginosamente verborrágico confirmam: é ele mesmo, o grande vampiro visionário de Copacabana, o detentor do recorde mundial do maior número de versos já feitos no menor espaço de tempo para um único bairro do planeta.

Músico, escritor, poeta, colunista de jornais, divulgador  de loiras, Fausto Fawcett, o bardo que revirou o pop dos anos 80 e 90 com hits como Kátia Flávia e Juliette, está  agora com 52 anos. E seus tenazes admiradores vão vibrar com a notícia: a Editora Papagaio, de São Paulo, prepara-se para reeditar todos os seus livros – Santa Clara Poltergeist (1990), Básico Instinto (1992) e Copacabana Lua Cheia (2000). De quebra, vai lançar dois inéditos: Favelost e o  infantil Loirinha Levada. Foi justamente esse o pretexto que levou a reportagem ao Rio para um encontro com Fawcett:

No mesmo dia que morreu o Michael Jackson, havia morrido a Farrah Fawcett. E havia só dois ramalhetes de flores para ela na Calçada da Fama. Foi ela que te deu o nome, não? O que acontece com as loiras?
O que acontece? Tudo, né? Tanto particularmente quanto para a mídia. Sem loira, fica difícil. Fica difícil para qualquer coisa, desde a burrice, para as piadas, até as loiras fatais.

Você falava muito nos anos 1980 dos programas militares americanos, dos bastidores do projeto Guerra nas Estrelas, e também abordava muito o simulacro baudrillardiano. Aquele futuro se realizou?
Ali pelos anos 90, até o meio da década, houve, para variar, uma euforia com essa nova ferramenta, o computador. Parecia que era só abrir um site e ficar milionário. Agora, nesta década, aconteceu que o povão mundial tomou conta. Aí, o que o neguinho quer mesmo é fofoca. As redes sociais envolvem muita gente. E teve gente que se pôs a pensar que isso era uma revolução, que as redes sociais nos trariam uma inteligência coletiva. Eu acho que o grande barato que se tem nessa situação tecnológica atual é a banalidade. Não temos mais aqueles sonhos positivistas, de que a ciência vai nos levar a uma excelência, a uma utopia. Não há dúvidas que temos mais conforto, temos uma capacidade gigantesca de armazenamento de dados, de informações. Mas essa meta de a gente chegar, com o  progresso, a algum lugar, não vai dar porque a gente é errado, maluco, trágico. Vai dar defeito. Então aquela onda do Baudrillard… O que eu gostava mesmo dele era aquele jeito meio apocalíptico, até meio obscurantista. Eu gostava da verve dele. Eu me lembro de um poema do Paulo Leminski que diz assim: “Um poema que você não entende é digno de nota/ Tem a dignidade de um navio perdendo a rota”. Então eu gostava daquele negócio do Baudrillard, não do simulacro, essas coisas que eram até divertidas, mas o lance daquele cara, aquele sociólogo, pensando de forma catastrófica a comunicação. Não tenho esse deslumbramento. Por exemplo: foi um auê quando apareceu o Second Life, e hoje ninguém se interessa mais pelo Second Life. Virou uma trucagem, mas era o grande hit, tinha empresa lá dentro, dinheiro. Mas as pessoas têm o Second Life aqui dentro (aponta para a cabeça). A publicidade já tem Second Life há 70 anos, sacou? Então aquilo ali é apenas um desenho animado.

Mas hoje temos situações efetivamente novas, como a mudança no eixo econômico mundial. E teve a frase do Stockhausen, que foi quase linchado quando falou que o atentado do 11 de Setembro ficaria como a grande obra de arte do século 21…
Para quem escreve, para o humorista, você acaba se interessando pelo tragicômico de tudo isso. Em última instância, um pedaço de carne com prazo de validade é um delírio, possibilita um ensaio mamífero ao autor. Tem de haver civilização, tem de fazer filho, cada vez que uma mulher abre as pernas e faz um novo tamagochi, você tem de trabalhar mais um pouco. Para os escritores, de uma forma digamos clássica, você tem de tratar a humanidade a socos e pontapés para a gente se aproximar mais do ser humano através do patético dele, da fraqueza dele, e com isso demonstrar a capacidade de força civilizatória. Aí entra moral, tecnologia, entra tudo, para dar sentido àquilo. Mas começando pelo dark side, pela falha. Porque senão não vai. Eu fico maluco vendo meia dúzia de reportagens sobre o filme Avatar, que ainda não vi. E a maioria das matérias diz que “é realmente uma crítica ao estágio em que estamos de deterioração”. Na verdade, é esse milenarismo do discurso do aquecimento global… Vai falar para os poloneses que morrem com 40º abaixo de zero sobre aquecimento global… Em Avatar, parece que o cara vai para um planeta que tem algum recurso, alguma iguaria mineral, e vão todos falando que é uma crítica porque lá estão povos da floresta, existe uma preservação, não sei o que mais…. Pô, a esta altura do campeonato o nego vem com uma conversa dessas? Não rola. Não rola porque nós não somos assim. Nós somos industriosos, artificiosos, e ainda temos sentimentos, pô! Nós somos antinatureza, no sentido que queremos cutucá-la com vara científica curta. Olha em volta, cara! O conforto da gente vem daí, esse é o efeito colateral.

Você agora escreveu Loirinha Levada, um livro infantil inédito. O que é isso? Fausto Fawcett escrevendo livro infantil?
(Risos) É a história de uma menina, o que eu chamo de Sub-12. Se é para crianças? Só para as espertas (risos). É uma garota que narra na primeira pessoa, e vai narrando a vida dela, meio blog. Estou ainda no meio do negócio. É uma menina bem temperamental, ela diz que tem “sangue de chefia”. Ela começa falando da vida dela com o irmão, mas aí o irmão morre, e ela fica abalada. Os pais se separam, ela se reveza entre pai e mãe. Então, essa “levada” pode ser levada de travessa ou de quem vai de um lado para outro. Ela começa a fazer sucesso em comerciais, e a mãe quer seu dinheiro. E ela tem um ritmo verbal de rap, também tem essa outra “levada”.

Algum dos seus livros anteriores fez sucesso?
Nenhum deles vendeu, foram vendendo aos poucos. Santa Clara Poltergeist não foi bem, mas foi ótimo de crítica. Sempre encontro pessoas que dizem que leram. O livro completa 20 anos agora. No estreitíssimo círculo de ficção científica, entre cyberpunks, cyberneiros, etc., ele virou referência. E o Básico Instinto é uma onda dos shows do disco. Também é a mesma coisa, colheu elogios, etc., mas não decolou. Copacabana Lua Cheia fazia parte de uma coleção, que acabou só tendo três livros editados, que era para dar uma geral no Rio, vários artistas falando de várias regiões da cidade. Eu fiquei com o primeiro. E a coleção acabou abortando após três livros, nenhum dos três teve sucesso.
>> O ESTADO DE SÃO PAULO – por Jotabê Medeiros


ASIMOV: FICCIONISTA E VISIONÁRIO DO FUTURO

quarta-feira | 20 | janeiro | 2010

Ele escreveu 470 livros. Seu conto O cair da noite, escrito em 1941, foi considerado pela Associação dos Escritores de Ficção Científica da América como a melhor história de todos os tempos. E a trilogia Fundação, do período 1951/1953, foi premiada com um Hugo, a mais cobiçada homenagem prestada pela Convenção Mundial de Ficção Científica, como a melhor série já escrita. Ao todo, foram oito prêmios de alto significado como reconhecimento público. Mas resumir a importância de Asimov a esses feitos seria subestimá-lo, pois ele não foi apenas ficcionista. Foi também um pioneiro na popularização dos conhecimentos e um visionário, e como tal influenciou o próprio desenvolvimento da ciência.

A melhor prova disso foram suas histórias sobre robôs, justamente aquelas que lhe conquistaram a popularidade, no início dos anos 40. Antes dele, a ficção científica era influenciada pelo chamado complexo de Frankenstein, pois os robôs geralmente eram pintados como simples monstros, que acabavam se voltando contra seus criadores. Asimov rompeu com o mito ao descrever robôs que também eram dóceis, inteligentes e dignos. Elaborou, além disso, as três leis da robótica: um robô não pode ferir uma pessoa, nem, por omissão, permitir que ela sofra; deve obedecer aos humanos, exceto quando houver conflito com a primeira lei; deve proteger sua própria existência, ressalvadas as regras precedentes. Esses conceitos tiveram o efeito de um clarão sobre as possibilidades do futuro, lembra um dos pais da inteligência artificial, o americano Marvin Minsky, hoje professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

“A primeira vez que tomei contato com as idéias de Isaac foi há cinqüenta anos, quando estava entrando na adolescência. As histórias sobre espaço e tempo me fascinaram, mas sua concepção sobre robôs me impressionou demais.” Depois disso, diz o cientista, nunca mais parou de pensar sobre como a mente trabalha. Como os robôs iriam pensar? Como construir os robôs com senso comum, intuição, consciência e emoção? Como o cérebro faz essas coisas? Para Asimov, em contraposição, foi gratificante a velocidade com que tais idéias se concretizaram, pois não acreditava que os robôs habitariam a Terra em seu tempo de vida. “Mas eles estão aí”, escreveu no segundo volume de sua autobiografia, publicado em 1980: In Joy Still Felt (Ainda com alegria, em tradução livre). O primeiro volume, In Memory Yet Green (Na memória ainda fresca) havia sido lançado um ano antes.

São robôs industriais, criados para realizar tarefas específicas, e não criaturas sensíveis. Mas já representam máquinas complexas e têm, inclusive, salvaguardas embutidas — um eco das leis de Asimov. “Eu fui o primeiro a retratar robôs assim”, pleiteia ele com toda a justiça. Apesar da empolgação que sentia ao ver o avanço da robótica, Asimov sempre recusou os convites de Minsky para conhecer os robôs em operação. “Eu lia avidamente tudo sobre Marvin e seus robôs, mas não fazia questão de vê-los funcionando. Seria como entrar em contato com o material da ficção. Talvez eu não goste da invasão do mundo real na minha ficção científica.”

Publicados originalmente na revista Astounding Science Fiction, editada por John Campbell, os contos sobre robôs foram reunidos, em 1951, no segundo livro de Asimov, “Eu, Robô”. Campbell era conhecido por sua habilidade em descobrir e incentivar novos talentos, e muitas das histórias de Asimov, antes de irem para o papel, foram debatidas longamente com ele. As três leis da robótica surgiram numa dessas conversas e Asimov atribuiu sua criação a Campbell, que se tornou seu amigo. Fora da ficção científica, Asimov rompeu com o mito de Frankenstein em outro sentido — descrevendo os cientistas como pessoas comuns, e não como magos, muitas vezes esquisitos.

O próprio Dr. Frankenstein criado por Mary Shelley em 1818, parecia mais um alquimista do que um pesquisador moderno. Em seus livros de divulgação, Asimov escreveu sobre quase todas as áreas do conhecimento humano. Explicou o que é um buraco negro, os corpos mais densos que podem existir; falou sobre o valor exato de pi, a razão entre a circunferência e o diâmetro; ensinou a nomenclatura da Química orgânica; e discorreu até mesmo sobre o número de batimentos cardíacos de um gato ao longo da vida. Se não conhecia um assunto, comprava alguns livros e não parava de ler enquanto não pudesse escrever a respeito.

“Para todos nós ele era um monumento”, elogia o prêmio Nobel de Física de 1988 e professor da Universidade de Chicago, Leon Lederman. “Muitos cientistas americanos foram levados para a ciência por causa dos livros de Asimov. Ele era notável pela sua capacidade de popularizar e entreter.” Para o astrônomo Carl Sagan, outro monstro sagrado da divulgação científica, Asimov era motivado por um forte impulso democrático. “Ele dizia que a ciência era muito importante para ficar na mão dos cientistas”, escreveu Sagan em um artigo publicado na revista inglesa Nature logo após a morte de Asimov.

Os dois eram amigos desde o início dos anos 60, quando o astrônomo, leitor ávido das aventuras intergaláticas narradas por Asimov, deu início a uma correspondência que se tornaria freqüente. Com sua típica falta de modéstia, Asimov costumava dizer que em toda a vida só encontrara dois homens mais inteligentes que ele: Carl Sagan e Marvin Minsky. E completava: “Não quer dizer que sejam mais talentosos que eu”. Menino de memória fotográfica, ele aprendeu a ler sozinho aos 5 anos, entrou na faculdade aos 15, e publicou sua primeira história aos 18.

Bem longe do local em que passaria a infância, ele havia nascido em Petrovich, a 200 quilômetros de Moscou, filho de Judah e Anna Rachel Asimov. Comemorava seu aniversário em 20 de janeiro, mas pode ter nascido em qualquer dia entre 4 de outubro de 1919 e 2 de janeiro de 1920, devido à mudança do calendário na Rússia. Aos três anos, emigrou com os pais para os Estados Unidos e se instalou na área judaica do Brooklyn. Aí, seu pai adquiriu a primeira da série de mercearias que teria.

Foi na banca de jornais e revistas, ao fundo da loja, que ele entrou em contato com as revistas de ficção científica. Lia as histórias com cuidado para não amassar as revistas, que seriam vendidas poste-riormente. A infância não foi fácil. Durante todos os dias, até mudar-se de No-va York em 1942, Asimov ajudava o pai, e suas obrigações na loja o impediam de fazer amigos. Solitário, passava a maior parte do tempo lendo e escrevendo. Anos mais tarde, ele admitiu que isso ajudou a torná-lo um escritor compulsivo, pois a loja ficava aberta dezesseis horas por dia, sete dias por semana.

“De alguma forma, eu assimilei esse horário como normal, e me orgulho de ter um despertador que nunca uso, apesar de acordar sempre às 6 horas. Eu continuo mostrando pro meu pai que não sou um vagabundo.” E não era mesmo. Acostumado aos apertos, ele passou metade da vida procurando uma garantia de estabilidade, mesmo que isso representasse muito trabalho e pouco tempo junto à máquina de escrever. O fato é que até se tornar escritor em tempo integral, em 1958, Asimov não acreditava que poderia viver apenas da literatura. Por causa disso, em 1942, ele suspendeu a tese de doutorado em Bioquímica na Universidade Columbia e aceitou um cargo de pesquisador na Marinha, no Estado da Filadélfia.

Havia se formado em Química três anos antes, e aos 21 anos concluíra o mestrado. Naquela época, ainda se debatia com o fracasso em entrar para a faculdade de Medicina e satisfazer o desejo da família. Esse complexo só iria desaparecer em 1950, quando pôde presentear o pai com seu primeiro livro, Pebble in the Sky (Cavernas de Marte em português). A década anterior havia sido conturbada. No início de dezembro de 1941, os japoneses atacaram a base americana de Pearl Harbour, no Pacífico, e o Congresso aprovou a declaração de guerra contra o Japão, Alemanha e Itália.

Assim, ao aceitar o trabalho de pesquisador na Marinha — onde trabalhou com Robert Heinlein e Sprague de Camp, já então dois grandes grandes nomes da ficção científica —, Asimov afastou temporariamente a ameaça de convocação. Também garantiu um salário providencial: tinha acabado de conhecer Gertrude Blugerman, com quem se casaria após cinco meses de namoro. Em 1946, finalmente, conseguiu dar baixa, retomar o estudo em Columbia e concluir o doutorado em Bioquímica. Sua primeira pesquisa foi a busca de uma vacina para a malária, que logo depois abandonou, com um desempenho apenas modesto, e aceitou o cargo de professor e pesquisador na Universitade de Boston.

Mas, então, seu interesse pela ciência tomaria um impulso avassalador com o sucesso soviético no lançamento do satélite Sputnik, em 1957. Os americanos reagiram de pronto com a criação de uma agência espacial, a NASA, e a ficção científica ganhou o coração de milhões de pessoas. Além disso, Asimov havia escrito um artigo sobre Genética e as raças humanas, e ganhou gosto pela divulgação da ciência. Como resultado afastou-se da pesquisa e aumentou a produção literária. Já não precisava correr atrás dos editores, que o procuravam espontaneamente pedindo histórias e artigos. Nada mais natural que acelerasse o passo na literatura, terminando a década de 50 com 32 livros publicados. Na década seguinte, foram 70 livros; nos anos 70, 109; e nos últimos doze anos de vida, 259.

Para sustentar esse ritmo, Asimov jamais tirava férias sem levar consigo a máquina de escrever portátil, e enquanto todos se divertiam, ficava trabalhando. Na maioria das vezes, a mulher Gertrude e os filhos, David, de 1951, e Robyn, quatro anos mais nova, viajavam sozinhos. Esses desencontros só terminaram com a separação e com o retorno de Asimov a Nova York, em 1970. É verdade que a ausência do escritor nas viagens não se devia apenas ao trabalho: embora fosse idealizador de naves espaciais e impérios galácticos, Asimov era acrófobo — passava mal só de pensar em entrar num avião. Ele só voou uma vez na vida: quando estava na Marinha e uma recusa significaria corte marcial.

Outra esquisitice era uma espécie de paranóia que o fazia pular da cama para ver se a porta do apartamento estava trancada. Se sua segunda mulher, a psiquiatra e escritora Janet Jeppson, demorava a chegar em casa, logo pensava que ela tinha caído num buraco. Amigos desde os anos 50, casaram-se em 1973, quando a fama e a influência de Asimov chegou ao auge.

Nas muitas palestras que era convidado a fazer, ele passou a disseminar uma inestimável confiança no conhecimento e na democracia. Ateu, recusava crenças de qualquer tipo — “duendes, diabos e bruxas” —, e dizia que a única coisa que merecia ser chamada de Deus era a racionalidade. “Houve um tempo que o mundo nos parecia repleto de inteligências superiores à nossa. Agora, que sabemos tanto a respeito do Universo, podemos nos concentrar nos males reais.” O homem que foi ao delírio quando o russo Yuri Gagárin subiu pela primeira vez ao céu, acreditava que no espaço se encontraria solução para boa parte dos problemas terrestres. Imaginava que a colonização da Lua e de Marte seria uma válvula para a superpopulação. E propunha colocar captadores de energia solar em órbita co-mo saída para se obter energia limpa.

Pessoalmente, sua realização foi ter escrito livros, como ele mesmo declarou enfaticamente numa conversa em quesua primeira mulher lhe perguntou como se sentiria se, depois de gastar tanto tempo escrevendo, percebesse que perdera toda a essência da vida. Ele respondeu: “Para mim a essência da vida é escrever. Se eu publicar 100 livros e depois morrer minhas últimas palavras vão ser: só 100!” Na verdade, quando a morte sobreveio, em 6 de abril de 1992, por insuficiência renal, o número havia chegado a 468 e ainda estava crescendo.
>> OFICINA LITERÁRIA – por Paulo


XOCHIQUETZAL: UMA PRINCESA ASTECA ENTRE OS INCAS

terça-feira | 19 | janeiro | 2010

Antes de falar com os reis da Espanha, Colombo foi ao rei de Portugal propor seu plano de chegar às Índias pelo Ocidente. Que aconteceria se o convencesse? O romance Xochiquetzal: uma princesa asteca entre os incas, de Gerson Lodi-Ribeiro (Editora Draco, 144 págs., R$ 28,90) responde com uma aventura narrada por uma princesa asteca levada a Lisboa para ser educada como cristã e casada com um nobre português – a saber, Vasco da Gama. 

Xochiquetzal da Gama delicia-se em misturar xocolatl com vinho da Madeira enquanto acompanha o marido em um ataque punitivo a Calicute. Teria sido o ponto culminante dos Lusíadas de Camões na nossa realidade, mas neste romance é apenas um incidente a caminho de uma aventura maior. 

Vale notar que, no romance, Vasco da Gama não chega a Calicute depois de dobrar o Cabo das Tormentas, como na história real – e sim antes. Chega à Índia vindo do México, ou melhor, do Anáhuac, depois de ter sido vice-rei da Cabrália do Norte (América do Norte, para nós). A expedição de Bartolomeu Dias havia fracassado e os portugueses iniciam a colonização do Novo Mundo antes de chegarem ao Oceano Índico. 

É depois de partirem da Índia que Vasco e Xochiquetzal dobram o Cabo das Tormentas pela primeira vez (no sentido contrário), dão a volta ao mundo e destroçam a armada espanhola que tenta arrebatar o Novo Mundo a Portugal. Em seguida são chamados a intervir em nome de Portugal na guerra civil que divide o império incaico após a morte de Huayna Cápac, apoiando Atahualpa contra o usurpador Huáscar. 

Perfeita esposa, mãe e cronista, a princesa descreve em saboroso português quinhentista suas aventuras ao lado de Vasco da Gama nesse mundo no qual um Dom Manuel bem mais Venturoso reduziu a vassalos os imperadores inca e asteca e as “Três Cabrálias”, mas sem esmagar suas culturas e sociedades. O encadeamento dos acontecimentos pseudo-históricos e convincente a ponto de nos perguntarmos se esse caminho não teria sido mais lógico que o da história real. No mínimo, seria mais interessante. 

Há quem considere a história alternativa um gênero totalmente à parte da ficção científica, pois muitos romances de história alternativa foram escritos por autores não relacionados a esse gênero – como Philip Roth em Complô Contra a América e Michael Chabon em Academia Judaica de Polícia – e até são publicados por editoras que têm preconceito explícito contra a ficção científica, como a brasileira Companhia das Letras. 

Mas também se pode defender o contrário: a história alternativa não deixa de ser um gênero baseado na especulação ficcional sobre uma ciência, a história. E as mudanças nos caminhos da história frequentemente implicam desenvolvimentos sociais, científicos e tecnológicos alternativos, o que significa especular sobre ciências sociais e exatas como sempre fez a ficção científica. É o caso, por exemplo, de The Difference Machine, de William Gibson e Bruce Sterling, que supõe que Charles Babbage tivesse conseguido inventar o computador (mecânico) na era vitoriana e foi comentado em nossa coluna de agosto de 2008: Steampunk, saudade ou rebeldia? 

Há escritores que trafegam muito bem entre outras formas de ficção científica e a história alternativa – o que não é de surpreender, já que em ambos os casos se trata de especulação racional, em oposição à pura fantasia ou terror, que se baseiam em outras lógicas. Além de Gibson e Sterling, que antes de se aventurar na história alternativa criaram o subgênero cyberpunk ao especular sobre o impacto da internet e da informática no futuro, um bom exemplo é Philip K. Dick, autor tanto dos contos que inspiraram sucessos de Hollywood como Blade Runner, O Vingador do Futuro e Minority Report quando da história alternativa O Homem do Castelo Alto, no qual se especula sobre um mundo no qual o Eixo venceu a II Guerra Mundial. 

Outro bom exemplo é o próprio Lodi-Ribeiro, que introduziu a história alternativa no Brasil com o conto A Ética da Traição, de 1992 (no qual o Paraguai vence a Guerra da Tríplice Aliança e acaba por se tornar uma superpotência) e continuou a cultivar o gênero com outras hipóteses surpreendentes – por exemplo, a sobrevivência do Quilombo dos Palmares até sua transformação em nação moderna, em uma série de contos e noveletas que incluem Pátrias de Chuteiras, A Traição de Palmares e O Vampiro de Nova Holanda. Mas antes já escrevia contos de ficção científica convencional e continua a produzi-los, como a recente coletânea Taikodom: Crônicas, baseada no universo futurista que criou para o jogo online Taikodom, da Hoplon. 

Deve-se ressalvar que, se o autor já mostrou ser capaz de trafegar entre a ficção científica e a história alternativa com fluidez e competência, aparenta um pouco mais de dificuldade com transitar do conto para o romance. O romance recém-publicado é a continuação e desenvolvimento de um conto de 1999 intitulado Xochiquetzal e a Esquadra da Vingança, originalmente publicado sob o pseudônimo de Carla Cristina Pereira para tornar possível ao autor publicar mais de um conto na mesma antologia, Phantastica Brasiliana. Com algumas modificações, o conto original foi incorporado a este volume como prólogo. 

Do conto de 1999 para o romance de 2009, a evolução é notável em termos de caracterização do mundo ficcional, dos acontecimentos pseudo-históricos e da linguagem, que procura reproduzir da maneira mais convincente possível (sem deixar de ser inteligível a um leitor do século XXI) o estilo dos cronistas do século XVI. Traz um mundo mais rico e complexo, no qual a cultura, história e costumes de astecas, incas e portugueses são mais e melhor exploradas. 

Entretanto, os principais personagens não tiveram um desenvolvimento proporcional e ficaram aquém do que se espera de personagens de um romance. Ao longo de suas aventuras no Caribe e nos Andes, permanecem os mesmos do episódio inicial, repetindo os mesmos gestos, manias e bordões: conta-se vezes demais que Xochiquetzal gosta de vinho e chocolate e se preocupa com os filhos, que Vasco da Gama cofia a barba e brada ordens heroicas, que os bravos portugueses enfrentam os inimigos usando rapieira e misericórdia. 

Não, não é que tivessem compaixão para com os vencidos: “misericórdia” era o apelido de uma grande adaga ou punhal que era usada na mão esquerda (junto com a espada na direita) e que servia tanto para aparar a arma do inimigo quanto para desferir-lhe o “golpe de misericórdia”. Vale notar, também que a “rapieira” é um dos raros anacronismos não intencionais da trama, de resto bem fundamentada nos usos da época: o nome e o modelo de espada surgiram gerações depois dos Descobrimentos, na França dos mosqueteiros. Para os portugueses do século XVI diziam apenas “espada”. 

Uma caracterização que era adequada e suficiente para um conto referente a um dia na vida dos protagonistas, torna-se repetitiva, monótona e até caricatural quando é mantida ao longo de uma narrativa extensa e que acompanha a vida dos personagens durante vários anos. Um conto se estrutura em torno de um conflito simples, que sustenta por si só a narrativa: personagens apenas esboçados podem dar conta do recado. Mas num romance, espera-se que os protagonistas mostrem outras facetas, evoluam e revelem mais de si e de sua subjetividade. Salvo raras exceções, são os fios condutores da trama e devem ser interessantes por si mesmos. 

Na ficção especulativa, é frequente que a profundidade do cenário e da especulação sejam mais importantes que a dos personagens, mas ainda assim pode-se e deve-se esperar, até para melhor expressar o espírito do mundo ficcional ao qual pertencem e do qual são a face mais visível, que eles se mostrem como seres vivos e complexos, não como ideais recortados de livros escolares. Nestes casos, o heroico navegador e a princesa indígena transformada em esposa dedicada (ainda que ligeiramente alcoólatra). 

É uma pena, pois a ideia de uma filha de Montezuma nascida em Tenochtítlan (Tenochilitão, como dizem os portugueses do romance) e educada em Lisboa por clérigos portugueses é fascinante. Poderia ser uma fonte de conflitos e reflexões tão insólitas e interessantes quanto o do próprio mundo ficcional que se estende à sua volta. Mas isso apenas é sugerido: resta ao leitor imaginar como seria viver na pele de uma mulher com essa história de vida, pois ela quase nada nos diz sobre si própria. 

Numa discussão sobre o filme Avatar na comunidade Ficção Científica no Orkut, o integrante Jorge Pereira definiu o filme com a seguinte frase: “Um filme em 3D, com personagens bidimensionais e uma história absolutamente linear”. Xochiquetzal, pode-se dizer, tem virtudes e defeitos semelhantes: um cenário complexo e interessante (com menos abuso de fantástico inexplicável e de efeitos especiais), mas os personagens são planos – e o fato de a trama ser mais longa e complexa e dispensar o maniqueísmo do filme de James Cameron torna isso ainda mais patente. No conjunto, é um bom livro, mas é de se desejar que, nos seus próximos romances, o autor considere mais a necessidade de fazer seus personagens crescerem proporcionalmente às suas narrativas e cenários.
>> CARTA CAPITAL – por Antonio Luiz M. C. Costa


AS MORADAS DA UTOPIA

terça-feira | 19 | janeiro | 2010

Já me disseram que toda a ficção científica é poesia, mas o formato em si é coisa rara na literatura fantástica. São poucos os autores que se arriscam nele e, quando o fazem, é de maneira rápida, a serviço de algum efeito dramático em sua prosa, ou então como uma prática à parte, sem envolvimento com a FC&F. Mas isso tem mudado.

Especialmente em 2009, foram publicados várias coletâneas poéticas de FC&F, tais como Bicho de sete cabeças e outros seres fantásticos, de Eucanaã Ferraz, Antropophagya, de Marius Arthorius, Sete sombras e uma vela, Alexandre de Souza e Momentos noturnos, de Adriano Siqueira. Mas estava sentido falta de um lançamento em 2009 do meu amigo José Ronaldo Viega Alves, poeta e contista de Sant’Ana do Livramento, que há tempos vem publicando, sem falta, pelo menos um título ao ano, sempre pela editora Opção2. São 18 títulos no total e já tenho uma pequena coleção deles, a maior parte com poesias do autor, eventualmente crônicas.

E José Ronaldo não me decepcionou: recebi há pouco As moradas da utopia, coletânea poética com 58 páginas publicada em 2009, na qual o autor explora, como nas edições anteriores, suas memórias, os espaços de sua cidade natal, referências da cultura pop etc. Nem todas são explicitamante fantásticas, mas sempre há alguma referência. Por exemplo:

Cidade-universo
 

por José Ronaldo Viega Alves
Toda cidade é um universo
onde a cidade do passado
vive se entrelaçando
com a cidade do presente.
Sobretudo aquela
que cada vez mais
se perde na distância,
a cidade encantada
da nossa infância.

 

As poesias são cândidas, positivistas e construtivas, sem experimentalismos gráficos, brutalismo e outras pós-modernidades. Poesias ingênuas e saudosistas que se lê com prazer, completadas com alguns haikais nas últimas páginas.

O autor não está na internet, mas pode ser encontrado na Rua Hugolino Andrade, 941, Centro, Sant’Ana do Livramento/RS, CEP 97574-010. A editora Opção2 pode ser contatada pelo e-mail arthur.goju@bol.com.br.
>> MENSAGENS DO HIPERESPAÇO – por Cesar Silva

“FRAGMENTOS – POÉTICA FANTÁSTICA”, DE NANA B.: LANÇAMENTO NO RIO DE JANEIRO

terça-feira | 19 | janeiro | 2010

“Fragmentos de um mundo ou pequenos mundos conectados entre si?

Um mundo fragmentado ou um fragmento, um pequeno pedacinho que contém o todo?

Aventure-se, então, pois é uma verdadeira aventura vivenciar os cinquenta fragmentos do mundo das emoções de Nana B, e admire-se como este mundo, tão doce e cativante, algumas vezes, e tão cru e seco, por outras, lhe é muito familiar.

Nana B, uma poetisa que desperta, e cujo nome veio para ficar, com seu jeito e sua marca própria de externar anseios.

Fragmentos é uma obra única, mais que recomendada.”

Prefácio: Nelson Magrini (autor de Relâmpagos de Sangue, ANJO A Face do Mal, Amor Vampiro e Os Guardiões do Tempo)

>> MUNDO DE FANTAS – por Celly Borges

ASSISTA AO Booktrailler de  “Fragmentos – Poética Fantástica”:


“TEKKEN”: PRIMEIRO TRAILER DO FILME

segunda-feira | 18 | janeiro | 2010

Foi divulgado o primeiro trailer da adaptação para os cinemas de Tekken. No vídeo vemos algumas lutas e alguns personagens dos jogos. Embora a coreografia e movimentos pareçam bem conduzidos, por outro lado, a maioria dos visuais dos lutadores deixam muito a desejar.

Dirigido por Dwight Little, Tekken é um filme de artes marciais futurístico, baseado no jogo de mesmo nome desenvolvido pela Namco. O filme será uma ficção-científica, ambientada num futuro próximo. A estreia será neste ano, ainda sem uma data oficial.

Na trama, Heihachi Mishima (vivido por Cary-Hiroyuki Tagawa), através de sua corrupta organização Tekken, promove um torneio mundial de artes marciais. Participam os lutadores Jin Kazama (Jon Foo), Kazuya (Ian Anthony Dale), Bryan Fury (Gary Daniels), Marshall Law (Cung Le), Steve Fox (Luke Goss), Eddy Gordo (Lateef Crowder), Nina Williams (Candicé Hillebrand), Yoshimitsu (Gary Ray Stearns), Hwoarang (Hyun-Kyoon Lee), Jack (David Pitt), Anna Williams (Marian Zapico), entre outros, cada um com seu motivo particular para integrar o torneio, muitos deles querendo apenas vingança contra Heihachi.
>> HQ MANIACS – por Leonardo Vicente Di Sessa

Assista ao traier abaixo:

youtube=http://www.youtube.com/watch?v=st6dHmDSkhY]


“CENTOPEIA”: CEARENSE E SIDERAL

segunda-feira | 18 | janeiro | 2010

Em 2008, o Ceará estreou seu primeiro longa de ficção científica, Centopeia. Rodado durante quatro anos e com orçamento de R$ 300, o filme é relançado e entra em circuito comercial a partir de hoje, no Centro Cultural Sesc, de Fortaleza, Ceará.

O longa-metragem Centopeia é assinado pelo jovem realizador Daniel Abreu (Divulgação)

Daniel Abreu tinha sete anos quando fez o primeiro filme. A câmera era de um tio; os roteiristas e atores, seus primos e amigos. A história era “louca e sem sentido“, e o título ele não revela. O cinema pegou o menino de jeito, e ele nunca deixou de apostar no lado insólito da sétima arte. Esse estágio nas produções caseiras, a formação em audiovisual e alguns anos morando nos Estados Unidos resultaram no primeiro longa-metragem de ficção científica cearense, Centopeia, lançado em 2008.

O filme se passa em 2056. Uma astronauta brasileira parte em uma expedição a Marte e acaba perdendo os tripulantes e a comunicação com a base. Ao mesmo tempo, um objeto voador não identificado está em rota de colisão com a Terra, prestes a destruir toda a população. Em Quixeramobim, um fazendeiro luta para sobreviver. Para contar a história, Daniel lança mão de efeitos visuais, produzidos por ele mesmo, em casa. Elenco e equipe técnica dispensaram cachês. Equipamento e estúdio com chroma key – para as cenas no planeta vermelho & foram cedidos pela Faculdade Grande Fortaleza. Com a viagem a Quixeramobim, os custos para a realização de Centopeia totalizaram exatamente… R$ 300.

“Até hoje, todos os filmes que fiz foram completamente independentes. Até dois filmes que fiz nos Estados Unidos foram assim, sem grana. Para você ter uma ideia, o filme mais caro que eu fiz foi A Lenda de Linda Cruz, que é medieval. Juntamos metade da população da cidade de Cruz para fazer cenas épicas, com lutas de espada. Custou R$ 3 mil“, revela o diretor.

Quase dois anos depois de sua estreia, Centopeia entra em cartaz novamente a partir de hoje, no Centro Cultural Sesc São Luiz. À época, as opiniões sobre a saga sci-fi foram divididas: “É uma ficção científica feita com R$ 300, que não tem atores conhecidos e com um tema que não é tradicional do Brasil. Teve gente que não gostou, teve gente que adorou. Acho interessante que o Centopeia seja assim. Você gostando ou não, ele é um filme que te propõe uma discussão, te instiga“, diz.

Segundo Abreu, a reestreia vem a pedidos. “Recebemos e-mails, ligações, pessoas falaram com a gente na rua achando que aquela primeira exibição foi muito pouco. Agora decidimos fazer um lançamento comercial, que não é para conseguir um retorno financeiro. Com o que conseguirmos arrecadar, vamos produzir cópias para a equipe envolvida e material publicitário para promover o filme em cineclubes pelo Brasil e no interior do Estado“, conta.

O filme, caracterizado pelo diretor como “difícil de ser assimilado em relação às questões técnicas“, foi gravado quase que integralmente com uma câmera de mão. Seu retorno ao cinema, então, traz consigo uma discussão: “Ouvi gente dizer que um longa só é longa se custar mais de R$ 100 mil. Se fosse assim, nós excluiríamos todos aqueles filmes feitos com baixíssimo orçamento e acabaram entrando para a história, se tornaram cult. Ainda existem pensamentos pejorativos em relação ao cinema de baixo custo, e tanto o espectador quanto os profissionais de cinema precisam amadurecer em relação a isso. Porque é arte, é livre para experimentar o maior número de possibilidades“, finaliza.

E MAIS
– No filme, o garotinho Juan Rios tem um papel crucial. Atualmente, Daniel Abreu trabalha em uma continuação de Centopeia que deve ser filmada quando Juan crescer.

– Este ano, Abreu comanda sua primeira produção com verba pública. O filme se chama A Sedição de Juazeiro e vai explorar o imaginário popular do nordestino.
>> O POVO – por Alinne Rodrigues


“CAVALEIROS DO ZODÍACO” VIRA SHOW PARA PÚBLICO GAY

segunda-feira | 18 | janeiro | 2010

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Versão tem sete personagens e trilha sonora com música eletrônica

Os heróis de cabelos compridos, olhos grandes e roupas inspiradas na época medieval agora vão aparecer em show para o público gay. “Os Cavaleiros do Zodíaco” ganhou versão com strippers que será apresentada na sexta, 29 deste mês, na boate Metrópole, no Recife.

História de ficção científica com elementos do zodíaco e da mitologia grega, a produção japonesa faz sucesso desde que foi criada, há 23 anos. A explicação talvez esteja na personalidade dos personagens que têm ética medieval seguindo regras de amizade, luta e conquista.

A versão em show conta com sete personagens, entre eles o herói da saga, o cavaleiro Seiya e a deusa Athena. Para esses papéis foram escalados o dancer Rick Bambino e a bela Valentine.

A eles se juntam os personagens Kamus (Felipe Prado), Saga (Allan Brazil), Ikki Fênix (Marley), Máscara da Morte (Kawan Nascimento) e Shiryu (Felipe Parck).

A produção inseriu ainda no show strippers conhecidos nacionalmente, mas que não encarnam personagens do desenho. São eles o paulistano Ricardo Studenroth e os baianos Danny The King e Tony Fernandes. O show vai celebrar o aniversário do promoter Felipe Bambam responsável pela festa.

No palco, o elenco vai exibir o figurino luxuoso inspirado na saga, mas em vez de lutar, todos vão dançar e muito. Para isso, a trilha sonora do show tem toques da original considerada a melhor dos desenhos japoneses com arranjos de ópera.

Se a performance for fiel ao desenho, o sentimento dos personagens estará sempre em evidência. Eles são intensos, têm traços fortes e demonstram essa intensidade o tempo todo.

Há 5 gerações, Os Cavaleiros do Zodíaco não saem de cena. Os fãs não vão se incomodar com um show voltado para o público gay, já que eles sempre acharam que o personagem Afrodite de Peixes é homossexual por seus traços femininos e sua tática de usar rosas mortais ao lutar.

Outro cavaleiro, o Shun de Andromeda, também é famoso por rumores quanto a sexualidade, já que usa uma armadura rosa.
>> ATHOS GLS – da Redação do Toda Forma de Amor


“LES EXTRAORDINAIRES AVENTURES D’ADÈLE BLANC-SEC”: ASSISTA AO TRAILER

segunda-feira | 18 | janeiro | 2010

Já está disponível um trailer do filme Les Extraordinaires Aventures d’Adèle Blanc-Sec, filme baseado na personagem Adèle Blanc-Sec, de Jacques Tardi.

O filme é um produção francesa de Luc Besson (de O Profissional e O Quinto Elemento), que também vai dirigir o filme. A trilha sonora será de Eric Serra.

O elenco inclui: Louise Bourgoin (como Adèle Blanc-Sec), Mathieu Amalric, Gilles Lellouche, Philippe Nahon, Jean-Paul Rouve, Frédérique Bel, Eric Naggar, Swann Arlaud, Christophe Dimitri Réveille e Grégory Ragot.

A atriz francesa Louise Bourgoin também atuou no filme Le Petit Nicolas (O Pequeno Nicolau), de 2009, baseado na obra de Renée Goscinny e Sempé.

Les Aventures Extraordinaires d'Adèle Blanc-Sec

Adèle Blanc-Sec surgiu em 1976, nas páginas da revista Pilote. A editora Casterman já publicou nove volumes da série, que já vendeu mais de 2 milhões de álbuns.

Adèle Blanc-Sec é uma heroína cínica. Suas histórias estão situadas em Paris, uma cidade cheia de criaturas fantásticas, no período entre o começo do Século XX e alguns anos após a Primeira Guerra Mundial. Adèle é uma das primeiras personagens femininas independentes dos quadrinhos franco-belgas.

Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec estreará na França em 14 de abril.
>> UNIVERSO HQ – por Sérgio Codespoti

Veja o trailer abaixo.


O CINEMA FANTASMÁTICO

domingo | 17 | janeiro | 2010

David Bowie, como Nikolas Tesla, em O Grande Truque

Nada se parece tanto ao cinema quanto a mágica de salão, a mágica dos artistas que serram mulheres ao meio, fazem surgir e desaparecer moedas entre os dedos, adivinham a carta de baralho que escolhemos, fazem uma pessoa sumir no palco agitando um lenço colorido à sua frente.

Nos anos 1920, quando cristalizou sua linguagem, o cinema se apoderou da extrema maleabilidade do mundo das imagens, da superfície aparente do real. Formas, volumes, movimento, ação – tudo isto ele reproduzia com verossimilhança assustadora. E ao mesmo tempo era capaz de produzir nessa superfície tão realista uma série de modificações impossíveis de ocorrer no mundo material. A arte dos efeitos especiais, desenvolvida principalmente por Méliès, começou como se fosse uma atração circense ou teatral, mas evoluiu para ajudar a criar um mundo virtual onde a matéria aparentemente sólida se tornava elusiva como a fumaça e dócil como massinha de modelar.

Daí o meu espanto ao ver como o cinema explora pouco o mundo dos mágicos de cartola, dos Houdinis e dos Blackstones que, na época em que ele surgiu como Arte, dominavam as platéias. Os efeitos especiais são o equivalente à magia do palco. Sabemos que aquilo não aconteceu fisicamente no momento da filmagem, sabemos que foi um truque, mas talvez o fato de sabermos que se trata de um truque nos encante ainda mais. Qualquer idiota pode filmar um homem desaparecendo: basta ter uma câmara e apontá-la para um homem capaz de desaparecer. Muito mais difícil é produzir a ilusão de um desaparecimento que todos sabemos impossível.

Dois filmes recentes exploram com brilho esse universo: O Ilusionista de Neil Burger e O Grande Truque de Christopher Nolan. O primeiro é um filme policial, o segundo é um filme de ficção científica. Em O Ilusionista temos uma trama complexa que envolve crime e investigação, e o ilusionismo entra como aquele fator de encantamento que os grandes criminosos tentam produzir – impedir, através de “prestidigitação” e de pistas falsas, que o detetive saiba o que realmente aconteceu (e, mesmo quando desconfie, não possa prová-lo).

O Grande Truque, baseado num romance de Christopher Priest (conhecido escritor britânico de FC) introduz o elemento ficcientífico através de uma invenção imaginária de Nikola Tesla, rival de Thomas Edison na domesticação da eletricidade. Alguns críticos (como Roger Ebert) se sentiram trapaceados com o desfecho deste filme, mas apenas porque não sabiam que era uma história de FC, e esperavam uma solução realista. Enquanto O Ilusionista tem um final realista de espetacular engenhosidade, O Grande Truque nos arrasta consigo para o território do fantástico. São filmes que se baseiam em imagens vistas muito rapidamente e mal identificadas, em cortes bruscos produzindo uma ilusão de continuidade entre dois tempos ou dois espaços. Magia do cinema, magia do palco e, no segundo filme, a magia da FC.
>> MUNDO FANTASMO – por Braulio Tavares


“HUMAN TARGET”: DOS QUADRINHOS PARA A TV

domingo | 17 | janeiro | 2010

Neste domingo, dia 17 de janeiro, estréia pela Fox americana mais uma tentativa de transformar “Human Target” em uma série de TV. O segundo episódio será exibido na quarta-feira, dia e horário que a série ocupará na grade da TV americana.

Criada para os quadrinhos, a história já foi adaptada nos anos 90 para uma série de TV que teve curta duração estrelada por Ricky Spriengfield. Agora, com Mark Valley, de “Boston Legal/Justiça Sem Limites” e “Fringe”, no papel título, a Fox espera acertar o passo.

A princípio, “Human Target” é uma tentativa da Fox de encontrar um possível substituto para “24 Horas”, série que está chegando à sua contagem regressiva, podendo ter ou não uma 9ª temporada, a qual, por sua vez, poderá ser a última.

Essa versão para a TV foi adaptada por Jonathan E. Steinberg, de “Jericho”, e traz Christopher Chance (Valley) um agente particular que salva o mundo sempre que contratado. Aparentemente Chance não tem medo de nada visto que em várias ocasiões se coloca propositalmente em situações de risco, provocando a morte sempre que pode. Sua equipe é formada por Guerrero (Jackie Earle Haley), ex-empregado da máfia,  especialista em armas, que vive no limite da legalidade.

Tem ainda Winston, interpretado por Chi McBride, que parece repetir o mesmo tipo de personagem que fez em “Pushing Daisies”, ou seja, rabugento, mas sem o tom de humor da série anterior. Winston parece ser o secretário e conselheiro de Chance, que não vai muito com a lata de Guerrero.

Uma versão condensada do piloto foi exibida na sexta-feira, dia 15 de janeiro no Canadá e já caiu na rede. O piloto tem a participação especial de Tricia Helfer, a Número 6 de “Battlestar Galactica”, e pontas de Donnelly Rhodes (o Dr. Cottle, de “Battlestar Galactica) e Danny Glover.

O visual da série sugere que as histórias serão desenvolvidas com uma certa profundidade, mas logo ela denuncia seu verdadeiro perfil:  história e situações previsíveis, apresentando um estilo narrativo típico dos anos 80 (que na minha opinião já está, ou deveria estar, ultrapassado), muita ação e heroísmos; com pouca verossimilhança, mas muita superficialidade.

A série é destinada a quem procura ação e entretenimento sem compromisso. A princípio apenas o personagem de Guerrero traz algum conteúdo para ser desenvolvido de forma a transformar a série em um seriado, ou seja, uma história com arco contínuo; algo que daria à produção espaço para aprofundar a trama.

Confira abaixo a abertura da série criada pela Imaginary Forces (responsável pelas aberturas de “Mad Men” e “Chuck”). Tal como o desenho “Archer“, lembra as introduções das séries de ação dos anos 60, as quais, por sua vez, foram inspiradas nos filmes de James Bond. A trilha sonora é de Bear McCreary, de “Battlestar Galactica”. Veja os cartazes divulgados aqui e aqui e as fotos promocionais aqui. Confira ainda os primeiros 4 minutos do piloto aqui.

O Original dos Quadrinhos

Os fãs de “Human Target” versão quadrinhos vão, com certeza, se decepcionar com a série, visto que a produção traz muito pouco da história original publicada pela DC Comics. Na HQ Chance é uma espécie de guarda-costas, que assume a identidade da pessoa que está protegendo, caracterizando-se como ela, o que o leva, com o tempo a criar um conflito de personalidade.

Este tipo de proposta já foi vista na televisão em séries como “Missão: Impossível” nos anos 60, na qual o personagem de Martin Landau, e depois Leonard Nimoy, assumiam a identidade de pessoas existentes na trama de cada episódio, muitas vezes interpretando o original e a cópia; ou Artemus Gordon em “James West”. A maioria das séries exploram uma variação desta abordagem, como em “Contrato de Risco/Stingray”, nos anos 80 em que o personagem podia assumir uma identidade existente ou criar uma nova; e ainda, mais recentemente em “Dollhouse”, na qual a personagem acredita ser a identidade que assumiu.

Mas, a perfeita caracterização do personagem nos quadrinhos sempre que assumia a identidade de seus clientes, obrigaria os produtores da série a substituírem Mark Valley por diferentes atores convidados para cada episódio, o que elevaria o custo de produção. Assim, apenas o nome e a profissão foram adaptados para a TV. Para compensar, Chance se tornou expert em tudo, à lá “The Pretender”, série dos anos 90, sendo capaz de falar qualquer idioma, e realizar qualquer ação exigida por episódio, criando uma nova identidade para infiltrar-se nos locais.

“Human Target” surgiu nos quadrinhos em 1953 sob o nome de Fred Venable em uma história da “Detective Comics”; ele retornaria em 1958 com a mesma missão e atitude na revista “Gang Busters” também publicada pela DC Comics.

Sob o nome de Christopher Chance, ele reapareceu em 1972 dentro da linha “Action Comics”, com histórias assinadas por Len Wein e Carmine Infantino. “Human Target” ganhou sua própria publicação em 1991, incorporando os amigos de Chance criados para a primeira série de TV, que seria lançada em 1992. No original dos quadrinhos, Chance trabalha sozinho. Nas duas produções feitas para a TV, o personagem ganha a ajuda de diferentes parceiros, criados especialmente para cada série.

A Primeira Versão para a TV

Adaptado para TV por Danny Bilson e Paul DeMeo, “Human Target” teve 7 episódios produzidos em 1990 mas que só foram exibidos em 1992 pela rede ABC para preencher espaços vazios na programação durante as Olimpíadas. Estrelada por Ricky Springfield como Christopher Chance, a série ainda tinha em seu elenco principal os atores Kirk Baltz, Sami Chester e Signy Coleman.

Nesta adaptação Chance é um veterano do Vietnã que se transforma em investigador particular e guarda-costas; ele cobra 10% do salário anual de seus clientes para protegê-los. Em sua equipe temos Philo Marsden, um gênio dos computadores, que criava as máscaras com as quais Chance assumia a identidade de seus clientes; Jeff Carlyle, chofer, piloto e cozinheiro; e Lily Page, ex-agente da CIA que o auxilia em suas missões de campo.
>> TV SÉRIES – por Fernanda Furquim

Confira abaixo os 5 primeiros minutos da primeira versão de “Human Target” para a TV:


SINGULARIDADE TECNOLÓGICA: DESTINO PÓS-HUMANO

sexta-feira | 15 | janeiro | 2010

O matemático e escritor de ficção científica Vernor Vinge aposta que o avanço tecnológico vai pôr fim à vida como a conhecemos

Profetas do apocalipse não faltam no planeta. E os há de todos os tipos. Os religiosos, sobretudo americanos, que aguardam para os próximos anos o fim deste mundo e o advento do Reino dos Céus. Há os que prevêem mudanças radicais no clima, capazes de destruir os habitats de várias espécies. Há quem preveja uma crise dramática de escassez de água.

Mas, diferentes de todos esses, há pessoas como o matemático Vernor Vinge, de 60 anos, escritor de ficção científica e ganhador de quatro Hugo Awards, o Oscar do gênero. Ele enveredou por essa área da Literatura inspirado por seus ídolos, Arthur C. Clarke, Robert Heilein e Isaac Asimov.

Sua fama surgiu com a publicação, em 1981, de True Names, na qual descrevia redes de computadores e os efeitos da internet – que na época nem sequer existia – sobre a vida das pessoas. O primeiro prêmio veio em 1992 com a obra A Fire Upon the Deep, em que descreve uma galáxia dividida em zonas de pensamento. Quanto mais distante do centro, mais elevado seria o nível de tecnologia nessas paragens.

A Terra, na descrição de Vinge, ocuparia a zona lenta, onde estão os incapazes de superar a velocidade da luz. Há 30 anos, o então professor de Ciência da Computação da San Diego State University (ele se aposentou em 2002) desenvolveu a idéia de que o avanço tecnológico na área de informática vai pôr fim à vida como a conhecemos.

Nos últimos anos, ele tem se dedicado a burilar e explicar esse conceito. Quem acha que se trata de delírio de cientista maluco precisa saber que Vinge dá consultoria para grandes empresas e suas palestras são concorridíssimas.

Vernor Vinge é escritor de ficção científica, ganhou quatro Hugo Awards, o Oscar do gênero. Foi casado com a escritora de ficção Joan de Vinge. A seguir, um pouco de suas idéias:

ÉPOCA – Como o senhor explica seu conceito de singularidade tecnológica?
Vernor Vinge

Acredito que entre 2005 e 2030 vamos conseguir criar um supercomputador muito mais inteligente do que nós. E a partir desse momento o mundo não será mais nosso. As máquinas terão consciência própria e capacidade de criar outras máquinas ainda mais inteligentes e criativas, e assim por diante.

Por que chamou isso de singularidade?
É uma referência à Física. Singularidade para os físicos é um universo no qual as leis naturais que conhecemos não valem mais, e nem sequer somos capazes de imaginar esse outro universo (a palavra ‘singularidade’ costuma ser usada para se referir à situação do cosmos no momento imediatamente anterior ao big bang). Após a criação do supercomputador, nosso mundo vai mudar de tal forma que hoje somos incapazes de conceber. Daí a expressão singularidade tecnológica. É um mundo impenetrável para nós, para nossas mentes de hoje, acostumadas com o mundo no qual fomos criados.

Vamos desaparecer da face da Terra ou seremos escravizados pelas máquinas, como mostram alguns filmes de ficção científica?
Não temos como saber. Por mais úteis que sejam, os computadores que usamos hoje são estúpidos, bastante simples se comparados a nossa capacidade intelectual. Somos bem melhores. As máquinas que antevejo serão absolutamente fantásticas. Se pudéssemos trazer de volta a nosso tempo um gênio como Benjamin Franklin, levaríamos mais ou menos um dia para explicar a ele as mudanças que ocorreram desde seu tempo. Agora, imagine fazer o mesmo com um peixinho dourado. Seremos o peixinho dourado após a singularidade. Qual foi a última invenção que seu cachorro ou gato fez? Pois é, nossas invenções e idéias vão parecer assim para esses supercomputadores.

Estamos vivendo novamente um período de medo de fim do mundo, com religiosos anunciando o apocalipse, o temor de grandes mudanças causadas pelo aquecimento global e por inovações como os transgênicos e a nanotecnologia?
O século XXI é um século perigoso. Convivemos com os efeitos do aquecimento global, com o risco de esgotamento de recursos naturais, com novas pragas e doenças que se disseminam rapidamente. O sentimento de medo do fim do mundo não é novo – passamos os anos 60 e 70 com medo da hecatombe nuclear. Mas a sensação de medo se intensificou porque a tecnologia avança mais depressa e está muito presente em nossa vida.

De onde vêm suas idéias, da Matemática ou da ficção científica?
Tento manter a ficção separada da Matemática. Minha idéia sobre a singularidade tecnológica é especulação, mas não é ficção – que é o que faço para ganhar dinheiro (risos). Tento ser o mais fiel possível ao que sabemos hoje em termos de tecnologia.

Como o senhor começou a enveredar para a ficção?
Sempre me interessei por Ciência e pelo que ela poderia fazer. Para isso, a Matemática é fundamental. Ao mesmo tempo, sempre fui fascinado pelas revoluções tecnológicas e pelo impacto que produzem na sociedade. Esse é o terreno da ficção científica. Na verdade, a ficção científica foi a primeira área afetada por minhas idéias. Hoje boa parte dos livros trata da singularidade, se ela ocorre ou não, da impossibilidade de antever o futuro que se segue a ela.

Quais são os sinais de que esse momento estaria se aproximando?
Essa singularidade pode ocorrer ou não. Se houver um interesse menor por inovações na área de computação, ela terá menos chances de ocorrer. Nada aqui é inevitável. Mas o sucesso cada vez maior das conexões sem fio é um sinal de sua aproximação. Outro é o desenvolvimento de softwares de computador capazes de se autoprogramar. No mundo da computação, algumas atividades estão ficando obsoletas e a programação é uma delas. Veremos também o crescimento do número de CPUs trabalhando em rede.

Qual é o futuro dos robôs no cenário que o senhor imagina?
Eles ficarão cada vez mais perfeitos e nós teremos dificuldades para diferenciar o ser vivo da máquina. Temos hoje bonecas-robôs, cães-robôs e gatos-robôs, mas nenhum deles é capaz de nos enganar; sabemos que são máquinas. Mas vai chegar o dia em que ficaremos em dúvida de tão perfeitos que serão. O aparecimento, por exemplo, de um robô doméstico capaz de limpar um banheiro com perfeição pode ser o sonho das donas de casa, mas também pode apontar para a proximidade da singularidade. São avanços graduais todos eles. Tomados individualmente não têm muita importância, mas somados indicam um potencial cada vez maior.

A simbiose entre o homem e as máquinas seria outro indicador?
Sem dúvida. Hoje você não consegue viver sem seu computador, uma máquina que aumenta sua capacidade mental, que permite a você ter todo tipo de informação à mão numa fração de segundo. Você também não vive sem celular, que oferece acesso à internet onde quer que você esteja. Temos os palms também. Cada vez mais a tendência é de desenvolvimento de equipamentos que acompanhem as pessoas o tempo todo, criando uma espécie de simbiose.

O filósofo americano Francis Fukuyama, aquele que ficou famoso há alguns anos pregando o ‘fim da História’, afirma que esse ponto de virada, em que nossa espécie passará por transformações radicais, virá da Biologia Molecular e da manipulação do DNA. O que o senhor acha disso?
Não creio. A Biologia vai mudar muita coisa em nossa vida, nos dará diagnósticos mais precisos, drogas mais seguras, exames preditivos confiáveis. Vai até mesmo permitir que nossa memória seja preservada a despeito da idade. Mas nada disso será radicalmente significativo. Até porque grandes revoluções na Biologia dependem hoje de ferramentas de computação cada vez mais sofisticadas. O supercomputador consciente da própria existência e de sua capacidade virá primeiro.

E quanto tempo após a criação desse supercomputador seria necessário para que se criasse essa singularidade?
Nós nos tornaríamos obsoletos umas cem horas após o aparecimento desse computador consciente. O que aconteceria conosco é impossível prever. A vida pode se tornar insuportável para nós em meio a esses computadores geniais que vão transformar o mundo segundo sua vontade e necessidade. Para eles, nossas criações seriam irrelevantes e inúteis. Pode ser que sejamos extintos. Pode ser também que alguns de nós sejam mantidos para executar algumas tarefas. Tudo pode acontecer.

Seres humanos são guiados por necessidades físicas claras – sexo, alimento e descanso. É claro que esses não seriam os mesmos imperativos de máquinas. O que o faz pensar que elas nos levariam à extinção?
Elas também podem nos manter como animais de estimação. Particularmente, acho que a convivência com essas superinteligências seria mais fácil do que a convivência com outros seres humanos. Sucesso para nossa espécie é uma coisa sangrenta, obtida com esforço e luta, derramamento de sangue, guerras, conquistas. Máquinas não seriam tão intensas e passionais.
>> ÉPOCA – por Ruth Helena Bellinghini

A mula-robô foi criada para transportar munições dos fuzileiros dos EUA. Veja abaixo um vídeo mostrando a sua impressionante locomoção:


“O LOBISOMEM”: NOVO POSTER E TEASER

sexta-feira | 15 | janeiro | 2010

A Universal divulgou nesta quinta-feira o primeiro teaser de TV de O Lobisomem.

Além disso, o site CHUD um novo pôster do filme, desenhado pelo artista conceitual Basil Gogos, especializado em desenhos de monstros clássicos, como Drácula, Frankenstein e lobisomens.

O Lobisomem traz Benicio Del Toro no papel principal, interpretando Lawrence Talbot, um nobre que retorna à mansão de sua família após o desaparecimento de seu irmão. Lá, ele reencontra seu pai, vivido por Anthony Hopkins.

Talbot aceita o pedido da noiva de seu irmão, Gwen Conliffe (Emily Blunt), para que procure o noivo desaparecido. No processo, ele descobre que aldeões vêm sendo mortos por algo feroz e sanguinário. Um inspetor da Scotland Yard, chamado Aberline (Hugo Weaving), chega à cidade para investigar os crimes. Conforme as peças do quebra-cabeças vão se encaixando, Lawrence descobre uma antiga maldição que transforma suas vítimas em lobisomens, nas noites de lua cheia. E para proteger a mulher por quem se apaixonou, Talbot deve destruir a criatura que se oculta no bosque de Blackmoor.

A direção é de Joe Johnston e o filme tem estreia marcada para 10 de fevereiro de 2009 nos EUA e 12 de fevereiro no Brasil.
>> HQ MANIACS – por Artur Tavares


“O ENIGMA DE OUTRO MUNDO”: DETALHES DO NOVO FILME

quinta-feira | 14 | janeiro | 2010

A Universal liberou uma descrição dos principais personagens do novo filme de O Enigma de Outro Mundo, e com isso fica claro que a predominância de homens que podia ser percebida na versão cinematográfica dirigida por John Carpenter na década de 1980 fica para trás. Confira abaixo as descrições divulgadas pelo estúdio, que já busca atores para ocuparem os papéis:

Kate Lloyd – Tem entre 20 e 30 anos, é bonita, tem olhos brilhantes e é inteligente. Ela é uma pós-graduada de Columbia e é candidata a um doutorado em paleontologia. Por recomendação de seu amigo Adam Goodman, Kate é convidada pelo Dr. Sander Halvorson para aderir à sua equipe de pesquisa na Antártida, onde uma extraordinária descoberta foi feita. Após a chegada, Kate logo se vê em desacordo com Halvorson sobre a melhor forma de prosseguir com a descoberta – uma nave alienígena com uma misteriosa e sinistra coisa congelada nas proximidades – especificamente. Enquanto ela quer a transferência da amostra para uma instalação mais adequada para análise, Halvorson prefere furar o invólucro para conseguir uma amostra de tecido. Kate aumenta suas dúvidas a respeito de sua participação quando Halvorson ignora seus conselhos e coleta a amostra de tecido – um erro crítico que liberta organismos presos e inicia uma série de incidentes horríveis e ataques. Para ampliar a sua sensação de isolamento no local, a maioria dos cientistas fala norueguês, uma língua que ela não compreende. Kate recorre a Adam para ajudar a parar a obsessão de Sander. No final, sua única esperança de sobrevivência é juntar forças com Sam Carter, o piloto do helicóptero que levou sua equipe para a remota base norueguesa na Antártida.

Dr. Sander Halvorson – É um acadêmico arrogante que tem entre 30 e 50 anos. Ele é um microbiólogo da Universidade de Nova York que lidera uma equipe de investigação científica na Antártida para ajudar seu velho amigo Edvard a interpretar e analisar uma descoberta extraordinária feita sob o gelo. Sander, um cientista brilhante e um mestre de autopromoção, sabe que a sua participação em tal descoberta histórica vai trazer-lhe fama e fortuna. Cegado pela ambição, ele se recusa a abandonar o projeto mesmo que os corpos amontoem em torno dele. Ele fica chateado quando Kate, a quem ele considera mais como uma igual do que como uma aprendiz, discorda abertamente de sua opinião em questões importantes na frente dos outros.

Sam Carter – Tem cerca de 30 anos e é piloto de helicóptero de uma empresa de aviação privada, que transporta materiais e pessoas da Estação McMurdo para remotas estações de pesquisa em toda a Antártida. Carter é um mercenário. Ele voa quando quer, onde quer, e por só um motivo: dinheiro. Ele é o primeiro a suspeitar que algo estranho e perigoso está acontecendo na pesquisa de Halvorson. Preso pelo equipamento defeituoso, ele torna-se um aliado improvável de Kate – ela se lembra de seu pai ao olhar para ele, uma vez que é filha de um piloto já falecido.

Edvard Volner – É um geocientista norueguês que tem cerca de 40 anos de idade e é um gentil e leal erudito. Ele e sua equipe descobriram uma nave alienígena e uma coisa misteriosa congelados em uma profunda fenda na Antártida. Edvard solicitou a assistência de seu colega Dr. Sander Halvorson e fica satisfeito em ver seu velho amigo chegar no local. Os olhos de ambos brilham porque sabem que seus esforços combinados lhes trarão fama na comunidade científica, mas depois que Edvard perde dois de seus homens para a coisa horrível, ele não quer arriscar mais vidas.

Adam Goodman – É um inteligente, ousado e ambicioso homem que já passou dos 30 anos. Adam vai à Antártida como um assistente de investigação de Halvorson. É amigo de Kate desde que foram graduandos em Columbia. Foi Adam que a recomendou ao Dr. Halvorson. Apesar de seu respeito por Kate ser verdadeiro, ele é um oportunista simpático que acredita que sua associação profissional com o estimado Dr. Halvorson vai avançar sua carreira. A viagem à Antártida aparece, em primeiro lugar, para provar que essa teoria está correta. Ao contrário de Kate, uma idealista que toma decisões com base em intuição e consciência, Adam é mais um pragmático e um capitalista vestido de cientista. Como as circunstâncias tornam tudo mais e mais terrível, ele é forçado a escolher entre a ambição (Halvorson) ou amizade (Kate).

Derek Jameson – É um afro-americano que tem mais do que 30 anos de idade e é amigo de Carter e também seu co-piloto. Esta é a última temporada de Jameson na Antártida. Ele está se mudando para a Flórida e vai iniciar um negócio com seu irmão. A viagem à Estação Thule é apenas mais um vôo para ele, outro dia na contagem regressiva antes de deixar de vez o pólo sul. No entanto, ele fica preso no local com Carter quando o helicóptero fica inutilizado.

Jonas – Este homem norueguês tem mais de 40 anos, fala com forte sotaque e é parte da tripulação de Edvard. Ele é o documentarista da equipe, que tira fotografias com flash da nave alienígena e joga pôquer com Colin para desabafar.

Juliette – É uma francesa de mais de 30 anos que fala norueguês fluentemente. Ela foi educada na Academia de Geociências Oslo, e é uma das geólogas que descobriu a nave e a coisa na Antártida. Sentindo a frustração pela barreira da língua, Kate faz amizade com Juliette. É ela que lhe fornece traduções úteis e um sorriso acolhedor entre estranhos. Em um momento crítico, Juliette convence Kate de que seu colega Lars sucumbiu à Coisa, para esconder que na verdade é ela mesma quem abriga a forma alienígena.

Colin – É alguém que tem cerca de 40 anos e é uma pessoa um pouco cínica. Planta algumas sementes de dúvida e desconfiança entre os seus novos colegas, Kate e Adam, e depois joga pôquer com Jonas para desabafar. Colin prefere cometer suicídio a sucumbir à Coisa.

O Enigma de Outro Mundo é baseado em um conto do escritor John W. Campbell Jr. Sua primeira versão para os cinemas foi filmada por Howard Hawks em 1951. Sua versão mais conhecida foi lançada em 1982, com direção de John Carpenter, e tem Kurt Russell no papel principal.
>> HQ MANIACS – por Émerson Vasconcelos