POR QUE, AFINAL, A LITERATURA BRASILEIRA NÃO VENDE? E POR QUE VENDERIA?

quarta-feira | 16 | janeiro | 2013

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1. Um problema de sintonia

“Eles não chegam lá”: o título da esclarecedora matéria de Marco Rodrigo Almeida na capa da Ilustrada(Folha da S. Paulo03/01/2013) sintetizaum dado revelador do velho problema da produção e do consumo literários brasileiros. Enquanto os livros de não-ficção mais vendidos no país são predominantemente brasileiros, os de ficção são estrangeiros: as ficções nacionais encalham. Por quê?

É relativamente fácil compreender o predomínio de autores nacionais na não-ficção: eles costumam tratar de temas nacionais (embora isto não seja necessário, ou necessariamente positivo, pois no limite denota provincianismo), de imediato interesse local. A biografia de um bilionário nativo desperta mais interesse, por exemplo, do que o debate sobre o controle (ou o descontrole) de armas nos EUA. Além disso, como afirma Pascoal Soto, diretor-geral da Leya,

Na não-ficção encontramos autores dispostos a atender à demanda do grande público. Eles abordam temas interessantes [principalmente no sentido acima comentado] e escrevem de forma acessível. Já os romancistas escrevem para os amigos, para ganhar o Nobel de literatura.

A primeira parte da resposta parece verdadeira, mas a segunda, por força da ironia, acaba por ocultar as coisas. Os romancistas brasileiros escrevem, de fato, “para os amigos”, mas não como motivo primário. Na verdade, eles não escrevem para o público, que desprezam.

Esse desprezo pelo público se manifesta reiteradas vezes na matéria secundária à de capa (“Ficção perdeu os leitores, diz o autor de ‘O Filho Eterno’”, p. 3). O que não se compreende: pois as afirmações dos autores não são exatamente sofisticadas.

“O autor que se guia pelas tendências do mercado deixa de ser um artista para ser um comerciante” (Marçal Aquino)

“O que é bom não vende muito. O pessoal não tem nível intelectual para consumir um livro de maior qualidade” (Sérgio Sant’Anna)

“Há um sério problema de falta de sintonia entre o grande público e os escritores brasileiros” (Nelson de Oliveira)

“Nós perdemos o leitor depois dos anos 1970, quando a universidade passou a dominar a literatura. Houve uma poetização da prosa, a narrativa clássica implodiu. […] Se vender, ótimo. Mas ficar obcecado com isso pode envenenar o autor” (Cristovão Tezza)

A frase de Marçal Aquino é um velho clichê tardorromântico, que pressupõe a pureza espiritual do artista contra a impureza materialista do vil comerciante e, portanto, esquece, por exemplo, que Michelangelo e Da Vinci trabalhavam sob encomenda. Também esquece a “perda da inocência” ao longo de todo o século XX. A afirmação de Sérgio de Sant´Anna, por outro lado, é mais direta, e também mais desleixada: “O pessoal não tem nível intelectual para consumir um livro de maior qualidade”. O pessoal não tem nível intelectual? E se, para Pound, o artista era a antena da raça, para Nelson Oliveira é uma espécie de rádio, com um “sério problema de falta de sintonia” com o público. Já Cristóvão Tezza, antes de repetir o clichê de Aquino, parece confundir os anos 1970 com os anos 1920: a “poetização da prosa”, assim como a “explosão da narrativa clássica”, aconteceu cinquenta anos antes do que afirma. De qualquer modo, pouco poderia explicar das circunstâncias contemporâneas.

2. Gênio pobre versus vendilhão rico

O problema, em todo caso, estaria na defasagem entre o gosto médio do público por uma literatura igualmente média e a insistência dos ficcionistas brasileiros em criar uma literatura “sofisticada”. Isto geraria uma demanda sempre insatisfeita, de um lado, e uma oferta sempre insatisfatória, de outro. Pois a literatura “sofisticada” satisfaria apenas a demanda pessoal do próprio produtor, ignorando a demanda pública dos consumidores. Se fosse verdade, tratar-se-ia de um clássico problema de oferta. Neste caso, as próprias leis do mercado se encarregariam de solucioná-lo. Pois não é de se crer que o Brasil só produza candidatos a gênio literário, e nunca escritores que desejam simplesmente ficar ricos.

Prova disso é o mais rico escritor brasileiro – apesar de não se tratar, de fato, de um escritor. Refiro-me a Paulo Coelho. Ele não é um escritor porque escrever não é juntar palavras. Ou seja, juntar palavras não é suficiente. Por isso a lista telefônica não é literatura. Nem é literatura o que ele produz, pois literatura é trato com a linguagem verbal, de um lado, e trato da realidade pelo trato da linguagem verbal, de outro, e Coelho não faz uma coisa nem outra (operando por ocultamento do ocultamento, ao usar e abusar de clichês como se fossem obra sua, ou seja, por mera apropriação e reutilização do usado, abusado e gasto). Em todo caso, de seu sucesso comercial se concluiria que o gosto médio do público idem está de fato abaixo da média. Isto deixaria qualquer tentativa verdadeiramente literária de se adequar a esse gosto fadada ao fracasso. Mas também deixaria sem explicação outros fenômenos comerciais: de um lado, livros complexos ou complicados como O nome da rosa, de Umberto Eco; de outro, a verdadeira literatura média, mais do que robusta em lugares como EUA e Europa.

O caso de livros complexos de sucesso comercial é relativamente fácil de entender: trata-se do conhecido fenômeno do “livro de prestígio”, ou seja, que se torna importante ter, mas não necessariamente ler. Livros complexos, como regra, de fato não são fenômenos comerciais. Mas isto ainda não explica tudo. Mesmo porque, autores muito complexos já foram muito populares.

O exemplo máximo é Shakespeare, dramaturgo de maior sucesso popular na Inglaterra elisabetana, que, evidentemente, pensava em seu público ao escrever, ainda que não para simplesmente satisfazer do modo mais fácil o gosto desse público. O problema não está, de fato, em optar entre o baixo gosto médio do público e a alta arte sutil do grande escritor, assim condenado, ou à subliteratura, ou à solidão de estufa das flores raras. O problema está na incapacidade dos escritores de encarar o problema em sua inteireza e na inteireza de sua complexidade.

O verdadeiro dilema aqui é shakespeariano: ter o público em pauta ao escrever, mas não para simplesmente satisfazer de modo fácil o gosto desse público. Como a resposta-padrão dos escritores brasileiros retira o público mágica e convenientemente da equação (afinal, é um público que não serve para sua literatura), essa resposta-padrão nada responde e nada pode responder.

3. Literatura de entretenimento versus entretenimento pela literatura

Pesquisas indicam que o Brasil leitor é dez vezes menor do que o Brasil real, ou seja, um país de 20 milhões de habitantes. Mas um país de 20 milhões de habitantes ainda é meia Argentina, ou meia Espanha. Teríamos então, apesar de tudo, de ter um mercado equivalente à metade do argentino ou do espanhol. Mas estamos a anos-luz disso. A pequenez do público leitor brasileiro é, em todo caso, relativa. E não explica a falta de uma produção literária brasileira que o supra. Mesmo porque, toda a discussão começa pelo fato de esse público leitor se alimentar de livros importados.

Qual a principal característica desses livros? Ao contrário de Paulo Coelho, eles são literatura – mas integrada ao entretenimento, que é entretenimento do público. Portanto, o público faz parte da equação literária. A literatura média é, de fato, literatura de entretenimento.

Shakespeare também era, em sua época, entretenimento. Balzac era igualmente, em seu tempo, entretenimento. O problema é que hoje a literatura que prevê e, portanto, entretém o público seria uma literatura inferior. Ou talvez não. Porque o público atual é maior e mais diversificado: logo, não há apenas uma literatura de entretenimento, aquela reconhecida por este nome.

À exceção do relativamente recente e efêmero fenômeno das “sagas literárias”, que tiveram origem com O senhor dos anéisde Tolkien, a literatura moderna, passada a exceção vanguardista dos modernismos, é dominada, desde meados do século XIX, por duas vertentes centrais, derivadas dos dois principais criadores dessa literatura, Balzac e Poe. Enquanto Balzac consolidou e refinou a prosa de ficção como principal instrumento para retratar a sociedade urbana, burguesa e industrial, capaz de dar conta de seus aspectos materiais, psicológicos e sociais, o equivalente da épica para os povos antigos, Poe criou a literatura policial. Toda ou quase toda a literatura moderna deriva ou de Balzac, ou de Poe, ou de ambos. Jorge Luís Borges, Georges Simenon, Graham Greene, Dashiel Hamett, Patrícia Highsmith e ainda Stephen King e John Grisham são filhos de Poe, enquanto Ernest Hemingway, Saul Bellow, Phillip Roth, Amós Oz, Ohram Pamuk, Salman Rushdie, Ian McEwan e uma vasta lista descendem de Balzac (as vanguardas deixaram poucos descendentes na ficção mainstream, à diferença da poesia e das artes plásticas). E todos eles, a seu modo, são literatura de entretenimento. Porque são entretenimento pela literatura.

4. Entretendo-se com os herdeiros de Balzac e Poe

O inglês Graham Greene é o autor de ao menos uma perfeita obra-prima, o pequeno romance Fim de caso, que retrata em cápsula o momento histórico de Segunda Guerra Mundial e ainda cria uma das mais poderosas histórias de amor da literatura contemporânea, além de discutir a questão da teodiceia (a justiça divina). Há no livro algo de Stendhal, algo de Balzac e algo de Dostoievski. Mas também há muito da moderna literatura, bem, média norte-americana, cujo representante maior é Hemingway, o grande consolidador da escrita direta, seca, “objetiva”. Hemingway, um escritor médio? Sim, ao menos se comparado ao seu contemporâneo Joyce. Ou a Proust. Fundindo tudo isso, o que Greene consegue é um livro que, de fato, entretém, no sentido de que lê-lo não gera as angústias estético-intelectuais de um Joyce, mas sim puro prazer de leitura, sem deixar, no entanto, de ser um denso alimento para a inteligência. Na verdade, por ser, afinal, um denso alimento para a inteligência, sem falar nos sentidos, na imaginação e na empatia com os personagens. Portanto, Greene é de fato literatura de entretenimento – ainda que num sentido muito diferente do mais que banal Harold Robbins. Georges Simenon também, obviamente. Bertrand Russell costumava lê-lo todas as noites, e não por ser soporífero, mas o contrário: por ter grande leveza de fatura sem perder a densidade de estrutura narrativa e psicológica. Além de romances policiais, Simenon foi ainda o autor de uma longa série que chamou de romans durs, ou “romances duros”, que guardam certas semelhanças, mantidas todas as diferenças, com o Fim de caso de Greene. A “dureza” psicológico-realista desses romances curtos, em que o personagem central sempre está em uma situação limite criada ou possibilitada por ele mesmo, e em relação à qual não sabe se quer se salvar ou se perder, não impede, ao contrário, o puro prazer da leitura. Isto também mesmo vale para Phillip Roth, o mais balzaquiano desses três (portanto, o que mais status de alta literatura possui). Portanto, Roth também é, afinal, entretenimento. Literatura de entretenimento não é o mesmo que literatura ruim.

A incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros ao mesmo tempo bons e prazerosos é apenas a incapacidade dos escritores brasileiros de criarem livros ao mesmo tempo prazeroso e bons. Eles são, como regra, chatos, porque, como regra, são pretensiosos. E são pretensiosos por ignorarem o público leitor. Se não o ignorassem, não poderiam ser chatos, sob o risco do fracasso. Cria-se assim uma literatura satisfeita para ninguém, ou quase ninguém. Satisfeita talvez, mas não satisfatória. A menos que se considere a criação literária um hobby, que, de fato, só interessa para quem o pratica. Mas se se pretende algo além de um hobby, a literatura não pode satisfazer somente quem se dedica a ela. O público tem de ser posto na equação. Ou nas equações. Pois há uma simples e uma complexa.

A simples é simplesmente apostar no pior, no mais fácil, no mais paulo-coelho. A complexa é buscar a síntese de Simenon, de Greene, mas também de Roth e McEwan, ou de Shakespeare e Balzac: não trair a inteligência criativa, inclusive ou principalmente ao conquistar, sem traí-la, um grande público. Este é o caminho dos grandes escritores, sejam mediamente grandes ou grandemente geniais.

Somando-se a todos os conhecidos problemas editoriais e educativos, do lado da criação literária, não há no Brasil um grande mercado consumidor de leitores médios porque não há uma grande produção de literatura média. E não há porque os escritores brasileiros confundem literatura média com literatura menor, enquanto buscam certa “alta” literatura que, ao prescindir do público mas não ser nem poder se de vanguarda, é na verdade autista.

5. O cadáver insepulto da literatura policial brasileira

Resta comentar o caso específico da virtual inexistência de uma literatura policial no Brasil. Logo, um dos principais gêneros da ficção moderna, toda a linhagem derivada de Poe, simplesmente inexiste. Rubem Fonseca tentou criar uma literatura parapolicial no país, que abandona qualquer investigação de um crime para se concentrar (literalmente, em contos densos e duros) nos próprios crimes. Funcionou, mas se esgotou no próprio autor, que em seguida tentaria romances de investigação mais convencionais, chegando a tentar firmar seu próprio investigador canônico, o Mandrake. Não funcionou.

Os motivos do fracasso ainda maior de um ficcionismo brasileiro da linhagem de Poe, em relação ao da linhagem de Balzac, não estaria em qualquer descompromisso autista dos autores com o público, mas em circunstâncias objetivas – que nada tem a ver, no entanto, com nossos velhos problemas educativos e editoriais.

Para que haja interesse dramático numa novela policial é necessário que exista, no mínimo, além do imprescindível crime misterioso, uma coleção mais ou menos sortida de suspeitos sem culpa formada, sobre os quais nenhuma acusação se poderia formular. Em consequência, continuam soltos, atrapalhando o mais que podem a ação da polícia. O detetive seguirá pistas falsas, embrulhar-se-á, cairá em armadilhas habilmente urdidas. Até que, ao cabo de duzentas e cinquenta páginas, a ação se esgota, os recursos do criminoso esgotam-se, as faculdades inventivas do autor também se esgotam, a nervosa expectativa do leitor já se acha quase esgotada – e então o mistério é esclarecido e o romance acaba.

Mas no Brasil as coisas não se passariam assim. Se o romancista não quisesse fazer obra inteiramente falsa, sem qualquer possibilidade de convencer o leitor, deveria criar sua hipótese dramática de acordo com o que de fato aconteceria no caso de um crime real: a polícia começaria prendendo todos os suspeitos. Haveria, quando muito, uma trágica descrição de espancamentos, interrogatórios, torturas físicas e notícias berrantes nos jornais.

O que dá vida, interesse dramático e consistência à novela policial é um jogo sutil de raciocínio e brilho mental, a luta surda e ágil travada entre o investigador e o criminoso. Como se fosse uma dança, em que os dois se perseguem, se esquivam, se abraçam e se confundem.
Vê-se, desde logo, em que impossibilidade esbarraria o romance policial no Brasil e em outros países, nos quais os processos criminais não sejam orientados pelo maior liberalismo, nos quais não se admita, no suspeito, um possível inocente, em vez de nele se pressupor – como é de uso entre nós – um criminoso potencial. Não importam os textos dos códigos de direito penal, porque o que interessa não é a aparência formal e teórica das leis, mas, sobretudo, uma questão de aplicação prática das mesmas. […]
A novela policial só pode se desenvolver em países cujas instituições políticas e jurídicas se baseiam em normas essencialmente democráticas, isto é, em que haja um verdadeiro respeito pela pessoa humana. (Luís Martins, “Prefácio”, in Obras-primas do conto policial, São Paulo, Livraria Martins Editora, 1964, pp. 7-9)

O diagnóstico parece consistente demais para estar errado. Além disso, explica o fenômeno que pretende explicar de modo suficiente. Então talvez estejamos condenados a jamais ter uma literatura policial robusta. Ora, esta é outra explicação para as ficções nacionais não venderem – além de explicar a dificuldade em explicar o problema. Pois ela é normalmente ignorada. Com isso, não se discute o caso específico da linhagem de Poe, virtualmente amputada da produção literária nacional. Acontece que essa linhagem responde por boa parte dos livros mais vendáveis nos mercados centrais.

Recentemente, vários autores policiais suecos conquistaram seu mercado interno para, em seguida, lançaram-se sobre o mercado mundial e, naturalmente, acabaram virando filme. Ou filmes. No caso da trilogia Millenium, de Stieg Larsson, seu primeiro livro teve uma versão cinematográfica sueca e outra inglesa. A inglesa é superior, tratando de modo mais lento e consistente as várias camadas de circunstâncias que constroem a história, acabando por envolver e revolver o negro passado pró-nazista de parte da elite sueca, que se liga diretamente ao sadismo dos crimes contemporâneos de um de seus descendentes. Portanto, o sadismo deixa de ser gratuito (mero chamariz de emoções fáceis do leitor idem), tanto em termos literários quanto sociais (a lição de Balzac): não se trata de um “simples psicopata”, no sentido de que sua psicopatia se autoexplica para ser, então, “retratada” pelo autor em detalhadas cenas de sangue. Pois outra característica importante das ficções de alguma qualidade é que elas, de um modo ou de outro, mantêm a história na mira, não para fazer “romances históricos”, mas romances robustos, inclusive policiais. Algo que os escritores brasileiros têm dificuldade de manipular.

Mas se não tivemos, não temos e provavelmente não teremos uma literatura policial, o peso da responsabilidade sobre os herdeiros tupiniquins de Balzac é ainda maior. Eles podem continuar a ignorar soberbamente o público, e com isso deixar o mercado para seus congêneres estrangeiros, enquanto modorram em seu “olímpico” isolamento satisfeito por prêmios literários locais de prestígio duvidoso, ou tentar o caminho do verdadeiro criador, que é o caminho difícil. E a dificuldade, aqui, não é criar pálidas obras “sofisticadas” de estufa (na verdade, isso não é tão difícil: basta ter muito tempo, muita paciência e algum talento), mas livros que os leitores queiram ler (caso contrário, por que os leriam?).

6. Epílogo

Durante muitos anos, falou-se em certo “padrão Globo de qualidade”. Mas ele nunca existiu. Apenas a ausência das TVs americanas e europeias, enquanto não chegaram aqui as TVs a cabo, permitiu a manutenção desse mito provinciano. A Globo sempre foi o que é, incapaz de ir além de novelas, BBBs, comédias do mais baixo nível e “especiais” especialmente bregas de fim de ano. A TV de qualidade, assim como o cinema de qualidade, tem de ser importada. O mesmo vale, afinal, para a ficção. Os escritores de fato ignoram o público, mas não porque se dedicam a criar uma alta literatura brasileira contemporânea (tão real quanto o “padrão Globo”), e sim porque são incapazes de se profissionalizar, segundo padrões internacionais modernos.

Costuma-se acreditar que existem incontáveis empecilhos objetivos a essa profissionalização (que não dependeria, portanto, da postura dos escritores): das condições do mercado editorial à educação pública, passando pelas instituições políticas, ao menos no caso específico da ficção policial, como descreve convincentemente Luís Martins. Além disso, como referido de início, não fosse assim, a lei da oferta e da procura se encarregaria de gerar escritores eficientes, ou seja, simplesmente profissionais, como o são os ficcionistas estrangeiros. Mas o domínio do mercado interno brasileiro de não-ficção por autores nacionais complica o quadro das explicações conhecidas. Se os autores nacionais de não-ficção vendem relativamente bem, ser um autor brasileiro e vender relativamente bem é objetivamente possível. E se o problema se concentra, assim, na ficção, o problema não está, apesar de tudo, na demanda, no consumo ou em suas condições, mas na oferta: os produtos nacionais oferecidos não agradam o público consumidor, digo, o público leitor. Quem compraria um carro nacional se pudesse comprar um carro importado superior pelo mesmo preço? O que vale para os carros vale para os livros. Mesmo porque, não é apenas o pior da literatura de entretenimento que vende bem no Brasil, como Cinquenta tons de cinza, mas também seu melhor, como Philip Roth. E não temos equivalentes nacionais nem para um para o outro, mas apenas uma ficção tão pretensiosa quanto amadora – ao menos no sentido incontornável de não ser obra de profissionais, que vivem de seu trabalho literário e dependem, portanto, do público. Sendo nossos ficcionistas, afinal, amadores, podem ignorar o público, que, por sua vez, os ignora.
>> SIBILA – por Luis Dolhnikoff



UMA INTRODUÇÃO À LITERATURA FANTÁSTICA

terça-feira | 8 | janeiro | 2013

Hand_with_Reflecting_Sphere

Não há povo e não há homem que possa viver sem ela [a literatura], isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação. Assim como todos sonham todas as noites, ninguém é capaz de passar as vinte e quatro horas do dia sem alguns momentos de entrega ao universo fabulado […] a literatura é o sonho acordado das civilizações. – Antonio Cândido. O direito à literatura. In: Vários escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.

A Literatura é um fenômeno social/cultural nascido de gêneros milenares, que permanecem vivos apesar da passagem dos séculos. Em geral cada civilização gerou os mitos ligados às crenças de cada povo e às suas maneiras de ver o mundo. Entrelaçados com o desenvolvimento da linguagem e da filosofia, as narrativas mitológicas constituem-se em relatos sobre deuses, heróis e antepassados, estruturados em torno de arquétipos – modelos ideais que permanecem até hoje no inconsciente humano, segundo Carl Gustav Jung. Com o passar do tempo, as narrativas religiosas que constituíam os mitos perderam seu valor sagrado para nós, mas permaneceram nas narrativas profanas que continuaram na boca do povo, mudando de forma, emigrando para novas terras, revestindo-se de novas roupagens e adereços.

Assim nasceram os relatos que hoje chamamos contos de fadas, contos maravilhosos ou contos folclóricos; mora neles o que restou dos elementos dos mitos, depois que eles foram dessacralizados. E não existe obra literária antiga ou moderna, que não tenha raízes nessas narrativas ancestrais.

Ora, mitos e contos folclóricos são a matéria-prima do subgênero, pertencente aos gêneros romance e novela, que chamamos de Literatura Fantástica. Contudo, por um motivo ou outro, acabaram incluídas nesse amplo “rótulo” tendências tão distintas quanto o que chamamos de Literatura Gótica, de Horror, de Ficção Científica, de Fantasia. Esses subgêneros propiciaram ainda o surgimento de um outro sub-subgênero: o dos livros ligados aos RPGs (Role-Playing Games, jogos de interpretação em que o jogador representa um personagem, em ambientações características dos universos de fantasia), e que podem pertencer a três tipos: os livros-jogos (também chamados aventuras-solo), os complexos livros de regras para jogar, e as novelas elaboradas em torno de elementos de determinados sistemas de jogo.

Vamos encontrar ainda o fantástico na Literatura Clássica, com elementos de mitologia presentes nas manifestações literárias Líricas e Épicas. E na Era Medieval na Europa testemunhamos o choque entre o pensamento Cristão e o Pagão, evidente nas canções, poemas trovadorescos e lais. Além disso, na Idade Média temos o nascimento dos romances viejos, que dariam origem ao romance cortês e às novelas de cavalaria. Nessas obras, embora arcaicas e hoje de difícil leitura, existe grande misticismo e certos elementos que reconhecemos com facilidade: heróis, feiticeiros, espectros, animais míticos, objetos mágicos, seres elementais (são estes os seres ligados aos quatro elementos, ar, água, terra, fogo – as ninfas, silfos, elfos, goblins…).

Com o Renascimento, a partir do século XV, vemos na literatura a tentativa de se equilibrar o pensamento Cristão com a filosofia greco-romana; busca-se um humanismo que se sobreponha ao misticismo medieval. Apesar disso, aqueles mesmos elementos fantásticos permaneceram nesse período que gerou a Literatura chamada Clássica. Em Cervantes, Shakespeare, Camões, até Dante, ainda trombamos com seres mágicos, míticos, sobrenaturais. Seguindo para o período Pré-Romântico (entre 1700 e 1800) veremos a consagração da forma literária do romance, marcado ainda por novelas de cavalaria e romances picarescos medievais, repletos de aventuras heróicas.

Diz Ítalo Calvino no livro Contos Fantásticos do Século XIX que o conto fantástico propriamente dito nasce da especulação filosófica entre os séculos XVIII e XIX.

“Seu tema é a relação entre a realidade do mundo que habitamos e conhecemos por meio da percepção, e a realidade do mundo do pensamento que mora em nós e nos comanda. O problema da realidade daquilo que se vê – coisas extraordinárias que talvez sejam alucinações projetadas por nossa mente; coisas habituais que talvez ocultem, sob a aparência mais banal uma segunda natureza inquietante, misteriosa, aterradora – é a essência da literatura fantástica, cujos melhores efeitos se encontram na oscilação de níveis de realidade inconciliáveis”.

Ainda segundo Calvino, a literatura fantástica nasceu com o Romantismo alemão – é fácil fazer a ligação do povo alemão, também chamado Godo, ou Gótico, com o que hoje chamamos de novela gótica. O autor mais importante nessa vertente seria Hoffmann. Os autores ingleses também foram fundamentais no estabelecimento de uma literatura que privilegia a narrativa fantasiosa: Poe é considerado o mais influente de todos, embora alguns autores acreditem que a primeira novela de terror propriamente dita seja o Castelo de Otranto, de Horace Walpole. Já na França teremos até autores como Balzac também se dedicando à narrativa fantástica. Foi ainda o francês Galland quem traduziu As 1001 Noites, trazendo à Europa o sabor das narrativas árabes, repletas de djins e magos.

Na imensa lista de nomes ligados ao Romantismo, é difícil na verdade encontrar quem não tenha escrito ao menos alguns contos em que imperam o maravilhoso, o extraordinário, o fantasmagórico. Em alguns textos nos defrontamos tanto com seres míticos e fantasmas, quanto com cientistas insanos e detetives inusitados. Nessa época, aliás, é que irão nascer esses vários “compartimentos” que até então estavam misturados, porém separar-se-iam no futuro, embora acabassem incluídos na mesma “prateleira”, por assim dizer.

–  O romance de aventuras marítimas da época daria origem à ficção científica; de Daniel Defoe a Jules Verne, passando por H.G.Wells, eles abririam o caminho para Ray Bradbury, Arthur C. Clarke, Isaac Asimov…

–  O romance gótico em si – aventuras fantasmagóricas, urbanas e sinistras, que gerariam as novelas vampíricas, o gênero específico de Terror e até o universo Cyberpunk; aqui os ingleses foram mestres, com Mary Shelley, Robert Louis Stevenson e Bram Stoker, prenunciando autores como H. P. Lovecraft, Anne Rice, Stephen King…

–  O romance de mistério, que começa com Wilkie Collins e Edgard Alan Poe, avô do atual gênero policial.

–  O romance de imaginação – segundo a Profª Nelly Novaes Coelho, temos aqui obras em que a fantasia transfigura a realidade cotidiana; nesta vertente incluiríamos não apenas obras com estrutura de contos de fada, e os “mundos inventados” tão comuns hoje em dia, mas também o Realismo Mágico latino-americano. Neste caminho teremos autores tão diversos quanto Kafka, Jorge Luís Borges e Gabriel Garcia Márquez; e os ingleses e americanos que deixaram sua marca ao criar não apenas alguns contos e seus personagens, porém universos inteiros: J.R.R. Tolkien, C.S.Lewis, Ursula Le Guin, Marion Zimmer Bradley, Diana Wynne Jones, Frank Herbert (que, apesar de ser rotulado como autor de ficção científica, também transita por aqui).

Acrescentaríamos ainda uma categoria satírica, reunindo os autores que satirizam esses universos e tecem novos clássicos, assim como Cervantes gerou o que talvez seja o maior de todos os clássicos ao satirizar o Romance de Cavalaria… Temos então obras como O Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams ouA Cor da Magia e suas seqüências, por Terry Pratchett.

Mais uma vez recorrendo a Calvino, encontramos uma análise de Tzvetan Todorov, afirmando que na verdade o que distingue o “fantástico” narrativo é uma perplexidade diante de um fato inacreditável, a hesitação entre uma explicação racional e realista e o acatamento do sobrenatural.

Tolkien solucionou esse dualismo entre realidade e não-realidade criando os conceitos de Mundo Primário e Mundo Secundário; ou seja, o mundo em que vivemos é o Primário, mas o autor cria um universo Secundário derivado dele, em que o leitor penetra ao fruir da Literatura; e é nesse que tudo é possível, desde que respeitadas as leis particulares daquele universo. Ao ler fantasia, concordamos, então, em abdicar de nossos conceitos e preconceitos civilizados e embarcamos na leitura, conscientes de que na Terra-média, poderemos virar a estrada e ser atacados por um bando de orcs; que numa Londres Gótica ou na Transilvânia pode haver sombras ameaçadores em cada esquina; que em Nárnia é preciso conformar-se à ética de um Leão; e que em muitos mundos não se deve zombar de velhos estranhos que levam cajados cheios de inscrições rúnicas, ou levar para casa pedras estranhas que podem ser ovos de dragões…

O mais fantástico da Literatura Fantástica, porém, é que ela se mantém mais forte que nunca com o passar dos anos, dando origem a inúmeros filmes, peças de teatro e seriados, apesar de ser considerada pela crítica especializada um gênero menor… Quanto a nós, leitores, continuamos abdicando de nossos Mundos Primários e mergulhando com o maior prazer possível nesses Mundos Secundários em que, talvez, encontremos não apenas a fantasia, mas a nós mesmos.

Leituras sugeridas:
Calvino, Ítalo (org.). Contos fantásticos do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Coelho, Nelly Novaes. Conto de fadas, O. São Paulo: Ática, 1987 / Literatura e Linguagem. São Paulo: Vozes, 1994.

Lopes, Reinaldo José. A Árvore das Estórias: Uma proposta de tradução para Tree and Leaf, de J.R.R. Tolkien. Dissertação de mestrado da FFLCH – USP, 2006.

>> VALINOR – por Rosana Rios


FANTASTICON LONDRINA: LITERATURA FANTÁSTICA EM FOCO

segunda-feira | 5 | março | 2012
Silvio Alexandre: organizador do maior evento de literatura fantástica do País. Foto Olga Leiria

Silvio Alexandre: organizador do maior evento de literatura fantástica do País. Foto Olga Leiria

A literatura fantástica desembarca hoje no ”Londrina Comic Con”, cuja programação tem movimentado os aficionados em histórias em quadrinhos desde o início da semana com lançamentos, exposições, workshops, palestras, mesas-redondas, feira de revistas e exibição de filmes.

O simpósio ”Fantasticon Londrina”, integrado ao Comic Con, debate o gênero no bate-papo ”Um Panorama da Literatura Fantástica no Brasil”, que acontece às 16h na Sala de Espetáculos do Sesc com participação de Silvio Alexandre e Francisco Medina.

O primeiro é o idealizador e organizador do ”Fantasticon”, maior evento nacional do gênero, realizado anualmente desde 2007 em São Paulo. Já Medina é autor do livro ”A Fada e o Bruxo”. O segmento, um sucesso nercadológico no País, abrange narrativas de ficção científica, fantasia e horror.

A seguir, leia trechos da entrevista feita com Silvio Alexandre, que fala sobre o sucesso dessa vertente literária no Brasil, as novas tendências e a criação de um núcleo londrinense da ”Fantasticon”.

Quais são as características da literatura fantástica? O que a diferencia dos outros gêneros literários?
De acordo com os estudos literários, trata-se de um gênero narrativo que lida com a realidade supra-humana, sobrenatural e inexplicável remontando a textos primordiais sobre magia e seres mitológicos, a formas primitivas do medo, a epopeias gregas. Remete também ao gótico do século 18 com seus cenários de labirintos, catapultas, catedrais, ambientes sombrios e noturnos, arcanjos e forças do bem e do mal.

O rótulo engloba sub-gêneros distintos, não?
É difícil definir e delimitar a literatura fantástica. Podemos dizer que ela abrange a ficção científica com suas viagens no espaço e no tempo; a fantasia com sua magia, elfos e dragões; e o horror com seus vampiros, zumbis e lobisomens. Mas hoje em dia existe uma tendência de misturar tudo incorporando outros gêneros de entretenimento como, por exemplo, o policial. O leque ficou mais amplo. Na verdade, rótulo é uma preocupação de mercado. Nossa preocupação é a boa literatura, o texto que faz o leitor viajar por aquela aventura e viver outros tempos e outros mundos.

Quem lê literatura fantástica no Brasil? É possível quantificar esse segmento do público?
É um público grande e cativo de leitores, não só do Brasil como do mundo todo. Basta ver a lista de livros mais vendidos dos últimos anos. Tivemos sucessivos fenômenos de vendas com “Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “Crepúsculo” e agora “Guerra dos Tronos”, da série “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R.R. Martin. Aliás, os três primeiros volumes dessa série estão entre os 10 títulos mais vendidos no País.

O curioso é que uma numerosa fatia desse público leitor é formada por jovens, contrariando a idéia de que jovem não lê.
Sim. E são livros grossos lidos por garotos que não se intimidam diante de 500 ou 600 páginas.

Mas os autores nacionais do gênero estão encontrando público para seus livros?
Há alguns fenômenos também nesse segmento, como André Vianco, autor de cerca de 15 títulos sobre vampiros. Seus livros têm grande tiragem e vendem bem correndo por fora do mercado mainstream. Outro é Eduardo Spohr, autor de “Batalha do Apocalipse”, que começou publicando por pequenas editoras e atualmente lança pelo selo Verus, da Record. Há ainda uma série de editoras pequenas e médias investindo em autores nacionais do gênero, como a Tarja, a Draco e a Estronho. O nicho tem crescido acompanhando o aumento da produção. Além das obras individuais, têm sido publicadas antologias, que apesar de não serem homogêneas, revelam material de qualidade de novos escritores.

O “Fantasticon” que você organiza há cinco anos em São Paulo, tem repercutido essas novidades do mercado editorial?
Tivemos, por exemplo, 140 autores dando autógrafos na edição de 2011 para um público de mais de 1.200 pessoas durante três dias de programação. Veja lá no site (www.fantasticon.com.br). As pessoas reclamam que o espaço (uma biblioteca pública na Vila Mariana) já ficou pequeno para abrigar o evento. As próprias editoras já programam seus lançamentos no gênero pensando no “Fantasticon”.

Você pretende criar um núcleo do “Fantasticon” em Londrina?
Com a continuidade do “Londrina Comic Com”, a proposta é manter atividades ao longo do ano na cidade aglutinando pessoas para troca de idéias, informações e divulgação do gênero. Minha presença esta semana é a primeira etapa desse projeto.

>> FOLHA DE LONDRINA – por Nelson Sato


LITERATURA FANTÁSTICA: A NOVA CARA DA LITERATURA BRASILEIRA

sexta-feira | 24 | fevereiro | 2012

Com o sucesso internacional na literatura e cinema,
autores brasileiros comentam o sucesso do gênero
e como vem atraindo novos leitores

Martha Argel autora de "Amores Perigosos", "O Vampiro antes de Dráscula", entre outros e Giulia Moon, conhecida pelos livros “Kaori – Perfume de Vampira” e a continuação “Kaori – Coração de Vampira”- Foto Louise Duarte

Vampiros, bruxos, deuses, elfos, lobisomens e até anjos… Se você gosta de algumas das criaturas mitológicas citadas acima então você está com sorte. A chamada literatura fantástica nacional tem revelado nos últimos anos escritores talentosos antes escondidos pela obscuridade graças a preconceitos contra o gênero literário. Muitos deles não eram conhecidos porque o público achava estranho um vampiro ou lobisomem por exemplo, vivendo suas aventuras no Brasil. Mas se até Joss Whedon, criador das séries Buffy e Angel trouxe os vampiros Spike e Drusilla para o Brasil, por que não ter vampiros e outras criaturas em solo brasileiro? Afinal, nosso país tem uma vasta cultura mitológica que vai desde o Saci Pererê, passando pelo boto cor-de-rosa entre outros.

Levou um tempo para leitores se acostumarem com o gênero. Mesmo para os que já conheciam os clássicos como Drácula de Bram Stocker ou mesmo os livros da escritora Anne Rice, ainda existia um certo preconceito residual. Pior ainda para quem escrevia.  Giulia Moon, escritora conhecida pelos livros “Kaori – Perfume de Vampira” e a continuação “Kaori – Coração de Vampira” lembra da Bienal do Livro de 2011 quando tentou mostrar suas obras para um homem que reagiu de maneira agressiva em relação a temática de vampiros:“eu odeio esses livros de vampiros. Estou tentando tirar a minha filha dessa”, retrucou ele. Giulia explica: “fiquei espantada, pois ele se referia aos livros de vampiros como se fossem algum tipo de droga, de cuja má influência precisava salvar a filha. E ele, antes de ir embora, emendou: ‘e a senhora deveria fazer alguma coisa de útil em vez de escrever essas coisas!’,”ela lembra ainda perplexa com a atitude do homem.

A nova força da literatura nacional
Ainda falando dos vampiros, o personagem Lestat e Drácula são quase uma unanimidade entre os autores. Nazareth Fonseca, autora da saga “Alma e Sangue”  acredita que a literatura nacional vem ganhando força nos últimos anos quando o público finalmente começou a enxergar seus autores e acreditar em seu potencial formando novos leitores: “sim, a literatura fantástica tem o dom de pegar o leitor logo nas primeiras páginas.

A fantasia é inerente ao ser humano, ela está presente desde a infância quando somos bombardeados por contos de fadas, Papai Noel, o Bicho Papão. Crescemos e descobrimos que não existe príncipe encantado, que Papai Noel é seu pai, e que Peter Pan é um adulto que não quer crescer. O jeito é apelar para a fantasia. Nela ainda encontramos nossos monstros queridos, os heróis e as mocinhas. A maior prova disso é que no cinema as luzes são apagadas, assim podemos entrar na história e nos ocultar do julgamento de quem esta do lado, mas o certo é que pagamos para a fantasia continuar” , explica ela.

Nana B Poetisa, autora de Relíquias e Fragmentos

Muito além de Crepúsculo
Apesar de muitas pessoas acharem que a figura do vampiro tenha ficado mais romântica por causa da saga Crepúsculo, a escritora e romancista Nana B Poetisa, autora de Relíquias e de Fragmentos, além de ter participado de outras antologias, discorda: “muito antes de Stephanie Meyer criar seu romance Crepúsculo com vampiros que brilham, a autora Anne Rice já vinha arrebatando corações adolescentes, com suas Crônicas Vampirescas desde meados dos anos 70. Ela criou vampiros adoravelmente sofridos como, Louis de Ponte du Lac, ou poderosos e cheios de charme como o adorado e temido Lestat de Lioncourt. Isso tudo entre tantos outros que arrebatavam e ainda arrebatam os corações adolescentes. Essa autora sim, criou uma legião imensa e fiel de fãs, não apenas de adolescentes, mas de todas as idades, até hoje”, contesta ela.

Viviane Fair, autora da saga A Caçadora revela quais são os tipos de personagem que ela mais gosta de escrever: “os personagens que me atraem são os mais divertidos e sarcásticos; os personagens que surpreendem. Talvez porque me identifico mais neles e também porque são aqueles que causam no autor um desejo maior de continuar a história e sofrer reações”, ressalta.

Adriano Siqueira, autor de livros como Adorável Noite além de ter participado da antologia Amor Vampiro da qual também fazem parte Giulia Moon e Martha Argel, lembra de quando realmente começou o grande “ boom” literário no Brasil: “em 2007 começou esta grande onda fantástica da literatura nacional.Muito por causa das criaturas fantásticas que começaram a aparecer com maior intensidade nos livros estrangeiros e nos cinemas. Com as pesquisas que fiz indo em lançamentos nacionais houve um crescimento impressionante.Em 2008 tínhamos 10 lançamentos no ano, em 2009 chegou a 20 lançamentos só de livros de vampiros (nacionais e estrangeiros) e em 2010 chegou a passar dos 40 lançados.Já em 2011 cheguei a ir em mais de 50 eventos relacionados a lançamentos da literatura fantástica em geral e sem incluir a bienal do Rio que bateu recorde em lançamento da literatura fantástica. Neste ano ainda vai subir muito mais, pois novas editoras estão aparecendo tanto no campo de livros em papel como também em arquivos digitais. As editoras já estão mais seguras em acreditar no sucesso dos escritores nacionais e já se tornou sólido por isso ainda vamos ver muitos lançamentos”, explica Viviane.

Martha Argel autora de livros como Relações de Sangue, Amores Perigosos, O Vampiro da Mata Atlântica entre outros, lembra que após os lançamentos cinematográficos das sagas de Harry Potter, O Senhor dos Anéis e Crepúsculo foi que o mercado editorial começou a ver que o público gostava do gênero fantástico e também começaram a investir nesse gênero :“da forma como vejo, ao caírem no gosto popular, sobretudo dos adolescentes, esses blockbusters nascidos da literatura fizeram crescer o olho do mercado editorial, inclusive no Brasil. Toda editora e todo autor estreante agora quere ter o próximo mega-produto da indústria de entretenimento. Muita coisa de qualidade questionável acaba sendo publicada, mas o resultado final sem dúvida é positivo – o hábito da leitura parece estar em franca expansão, ao menos em nosso país,explica Martha.

Público brasileiro mergulha na fantasia literária nacional
E falando em antologias, Anny Lucard, organizadora da antologia Sociedade das Sombras – Contos Sobrenaturais lembra que apesar de ter sido árdua organizar uma antologia também foi prazerosa e menciona o preconceito em relação ao gênero tanto por parte das editoras como por parte do próprio público: “creio que no Brasil o preconceito é grande. Além da supervalorização dos autores internacionais, há aqueles que acham que literatura nacional se limita aos clássicos e não vê a literatura fantástica produzida aqui com bons olhos.

Infelizmente é comum críticos que são especializados em clássicos, falar mal dos novos autores nacionais, muitas vezes baseados em gosto pessoal ou em poucas referências, pois em geral as críticas não se sustentam. Umas fazem comparações absurdas entre autores que não possuem qualquer semelhança em seus trabalhos para tal”, critica. Simone Mateus, editora da Giz Editorial acredita que a barreira entre o público e a literatura fantástica de hoje vem se abrindo cada vez mais depois que o público descobre os livros e suas histórias fantásticas: “não sei se é resultado de uma barreira, mas, quando o leitor tem contato com a literatura de fantasia é comum ele se surpreender. Geralmente escutamos a seguinte frase: ‘nossa, não esperava que fosse tão bom. E ainda é de escritor nacional’, esclarece. Simone completa:”acredito que a maior barreira é o pouco contato do leitor com a nossa literatura fantástica, que é muito competente e não fica a dever para ninguém”.

Para Celly Borges e M.D Amado editores da Estronho, eles ainda encontram uma certa dificuldade em publicar livros do gênero fantástico já que nem todo mundo aceita:“como a divulgação ainda é feita a maior parte através de internet, é preciso trabalhar bastante para que chegue até aquelas pessoas que gostam da boa literatura, mas não conhecem muitos autores brasileiros.O fato é que hoje em dia tudo mudou para a literatura fantástica. Já é possível ver pessoas lendo livros fantásticos no ônibus ou metrô e a literatura fantástica nacional vem ganhando cada vez mais espaço com novos autores e editoras querendo divulgá-los.

Nos dias atuais as pessoas não te olham mais com cara feia se você admitir que tem predileção pela literatura fantástica”,concluem os editores..Isso só vem provar que a literatura fantástica nacional chegou para ficar e que está quebrando todas os preconceitos passados, fazendo com que mais leitores mergulhem nas páginas de nossos autores, viajando com eles em seus universos fantásticos.
>> O ESTADO RJ – por Louise Duarte


FREUD E O ESTRANHO – CONTOS DO INCONSCIENTE

domingo | 5 | fevereiro | 2012

“Freud e o estranho – contos do inconsciente”, organizado por Bráulio Tavares (Casa da Palavra, 350 págs.), mesmo sendo irregular, não deixa de ser interessante. Em primeiro lugar, pela caprichada apresentação do volume, com notas bastante explicativas acompanhando os contos, além de comentários reunidos ao final do volume.

Foi provavelmente a partir do sucesso da antologia organizada por Ítalo Moriconi, Os 100 melhores contos brasileiros do século(Editora Objetiva, 2000) que as antologias de contos viraram moda no mercado editorial brasileiro. Não que haja algo de errado com isso, muito pelo contrário: essas antologias, quando bem organizadas, são meios importantes para a divulgação de literatura de qualidade. E nos últimos anos surgiram boas antologias no Brasil, especialmente no que se refere à literatura fantástica. Os contos de horror do século XIX, escolhidos por Alberto Manguel, e os Contos fantásticos do século XIX, escolhidos por Ítalo Calvino (ambas editadas pela Editora Companhia das Letras), talvez sejam mesmo as mais famosas. Mas houve outras coletâneas altamente recomendáveis, como os Clássicos do sobrenatural (Editora Iluminuras), organizados por Enid Abreu Dobránszky, e Os melhores contos fantásticos (Editora Nova Fronteira), organizados por Flávio Moreira da Costa. Houve ainda antologias sobre loucura, morte, violência, vampiros e lobisomens, apenas para ficarmos nos temas que tangenciam a literatura fantástica.

Neste contexto, Bráulio Tavares tem feito um trabalho bastante interessante com a Editora Casa da Palavra. Sempre com ilustrações de Homero Cavalcanti, Tavares organizou, primeiramente, Páginas de sombra: contos fantásticos brasileiros (2003), cujo maior mérito é recuperar textos quase esquecidos, como “Os olhos que comiam carne”, de Humberto de Campos, e colocá-los ao lado de autores contemporâneos, como Rubens Figueiredo e Heloísa Seixas. O resultado é um panorama que, mesmo sem ser exaustivo, dá uma boa mostra das diferentes vertentes do fantástico nacional.

Depois, veio uma idéia à primeira vista inusitada: recolher, em uma antologia, contos cujos temas se aproximassem do universo literário de Jorge Luís Borges. O livro, Contos fantásticos no labirinto de Borges (2005), é muito bom e, de fato, consegue achar uma linha de contato entre contos de diferentes épocas, que representassem algumas das leituras mais caras a Borges: de Edgar Allan Poe a Franz Kafka, passando por Hawthorne e Chesterton.

Mas o título do último livro organizado por Bráulio Tavares é ainda mais inusitado: Freud e o estranho – contos fantásticos do inconsciente. O tema, agora, é o célebre ensaio “O estranho” (“Das Unheimlich”, 1919), em que Freud analisa o conto de E. T. A. Hoffmann, “O homem de areia”. Tavares reúne, então, histórias anteriores ou contemporâneas de Freud e que desenvolvam temas presentes no referido ensaio. Como sempre, estão reunidos alguns grandes autores, como o próprio Hoffmann, Guy de Maupassant e Arthur Schnitzler, e contistas menos conhecidos, como Charlotte Perkins Gilman e F. Marion Crawford.

Gênero amplo

Em seu prefácio, Bráulio Tavares explica que o termo “inconsciente”, tendo se popularizado imensamente, pode abranger um número muito variado de histórias. Essa amplitude está presente também na própria acepção de “literatura fantástica” utilizada aqui: ao contrário do que pregam alguns teóricos, para os quais o fantástico é um gênero datado e com regras bastante definidas, Tavares toma o gênero em sentido mais amplo, entendendo como fantástica “qualquer modalidade não realista da narrativa”, o que inclui contos de fada, a ficção científica, além dos contos de terror propriamente ditos. Essa amplitude é, na verdade, um índice de liberdade criativa:

Como a linguagem dos sonhos, o Fantástico se permite qualquer tipo de livre associação, deslocação, condensação de imagens ou de cenas, paradoxos do tempo e do espaço, de acordo com a intuição do autor. Permite lidar com criaturas, lugares e circunstâncias inexistentes em nosso mundo cotidiano. Nesse sentido, o Fantástico não é uma fuga ou um recuo diante do Realismo, mas um passo além, contando histórias que o Realismo não pode contar pela sua limitação auto-imposta.

Não à toa, Freud recorre à literatura fantástica para descrever “o estranho”, “aquela categoria de assustador que remete ao que é conhecido, velho, e há muito familiar” [1]. Bráulio Tavares, porém, deixa de lado as análises psicanalíticas e se preocupa em elencar aqueles temas nos quais, segundo Freud, o Estranho pode ocorrer com mais freqüência: o retorno do reprimido, a indefinição entre fantasia e realidade, a loucura, o sonho, membros decepados que tomam vida, o retorno dos mortos, as repetições inexplicáveis, o autômato e sua semelhança com o homem.

Deste vasto repertório, o tema mais comum da coletânea é a animação de objetos supostamente inanimados. O resultado é irregular, e algumas vezes bastante ingênuo, como no caso de “Inexplicável”, de L. G. Moberly: uma mulher conta como ela e o marido são assombrados por uma mesa, entalhada com imagens de crocodilos, e que exala um cheiro forte de pântano. Aparentemente, uma das formas de madeira toma vida. Efeito semelhante é provocado pelo primeiro conto do livro, “O papel de parede amarelo”, de Charlotte Perkins Gilman, que também trata de um casal mudando-se para uma nova casa. Como convém ao gênero fantástico, ele é um médico, cético, que “não tem paciência para crenças, odeia superstições e ridiculariza abertamente qualquer conversa envolvendo coisas que não podem ser vistas e traduzidas em números”, enquanto ela ― que narra a história em um diário ― sofre de alguma perturbação psicológica que o médico define como histeria, e que a torna suscetível ao inexplicável. E, neste caso, o sobrenatural manifesta-se através de um estranho papel de parede, cujos desenhos escondem formas humanas. Mais especificamente, imagens de uma ou de várias mulheres rastejando, forçando sua saída para fora do desenho. A leitura mais evidente para o conto é feminista, com a imagem do papel de parede metaforizando a condição da narradora.

Contos inofensivos

Algumas histórias, como estas, trazem clichês bastante evidentes. No conto “Anima” ― na verdade uma história bastante interessante, apesar de um ou outro lugar comum ― um dos personagens conclui deste modo a reflexão sobre a existência de um “ghoul”, um espírito maligno: “Posso acreditar que não exista nenhum em Rhode Island ― o cônsul disse. ― Estamos na Pérsia, e a Pérsia fica na Ásia”. É bastante comum nos contos fantásticos que os eventos sobrenaturais transcorram em locais distantes do imaginário europeu, o que não é necessariamente ruim, e pode ser literariamente eficiente (é claro que esse artifício respeita uma noção de “exótico” muitas vezes datada e caricata, comum no discurso colonialista). Mas expor didaticamente esse procedimento equivale a transformá-lo naquilo que o próprio organizador, evocando a opinião de Freud, chama de “fórmulas que um leitor experimentado podia perceber num relance”. Quanto mais evidente a fórmula do conto, mais “domesticado” e inofensivo o efeito de estranhamento, menos perturbador o efeito do fantástico. Lembremo-nos que a maioria os contos da antologia é da virada do século 19 para o 20, quando as formas do conto fantástico já estavam cristalizadas há muito no imaginário do leitor. No já citado conto “Inexplicável”, a ingenuidade chega a ponto da personagem narradora se dirigir diretamente ao leitor, supostamente “estimulando-o” com uma interrogação: “Você consegue encontrar alguma explicação?”.

Há contistas, porém, que conseguem provocar um efeito de terror bastante eficiente a partir de conflitos aparentemente ingênuos. Como no caso do conto de Bram Stocker, “A pele-vermelha”, em que um evento banal ― a morte acidental de um filhote de gato ― provoca desdobramentos e um desfecho impressionante. O mistério do conto está na sugestão de que a gata vingativa esteja tomada pelo espírito de um índio pele-vermelha, capaz da vingança mais cruel. O resultado é sangrento, destoante do tom idílico do começo da história: na gradual transição entre o idílico e o horrível é que se encontra a qualidade do conto.

Em outros casos, a saída é o humor. Este parece ser o caso de “A caveira que gritava”, de F. Marion Crawford (ainda que o humor talvez não seja de todo proposital) e, principalmente, “A besta de cinco dedos”, de William F. Harvey, uma pérola do humor negro. A besta do título é, obviamente, uma mão decepada, a materialização de um tema muito em voga no início do século 20, a escrita automática (proposta pelos surrealistas) e a dissociação mental. O diretor da adaptação cinematográfica chegou a ser acusado de plágio por Luis Buñuel, para quem o tema da mão decepada era bastante caro.

Merecem destaque ainda os contos de Maupassant e Schnitzler, este último conterrâneo de Freud, com quem manteve uma relação de amizade e correspondência. Em uma carta curiosa reproduzida por Tavares, Freud explica a Schnitzler que havia evitado sua companhia por temer encontrar-se com seu duplo. Freud reconhecia nas criações do escritor muito do seu próprio pensamento sobre o inconsciente, as convenções sociais, a relação entre amor e morte. Pode-se dizer que a obra de Schnitzler despertava no pai da psicanálise uma sensação de estranha familiaridade.

Clássicos inesquecíveis

Freud e o estranho – contos do inconsciente, não é, enfim, tão bom quanto seu antecessor, Contos fantásticos no labirinto de Borges. Neste, mesmo nos contos mais fantasiosos, como os de Ray Bradbury e H. G. Wells, havia um efeito de fantástico bastante incomum, que fugia dos clichês do gênero. Mas a presente antologia, mesmo sendo mais irregular, não deixa de ser interessante. Em primeiro lugar, pela caprichada apresentação do volume, com notas bastante explicativas acompanhando os contos, além de comentários reunidos ao final do volume. Neste aspecto, a cultura “fantástica” do organizador se destaca, quando ele traça interessantes relações entre autores distantes, como Julio Cortazar e Hugh Walpole, E. T. A. Hoffmann e Philip K. Dick, Cleveland Moffett e Guimarães Rosa. Além disso, a antologia pode ser muito útil aos leitores de Freud, considerando que reúnem alguns contos citados em “O estranho”, como “A aranha” e “Inexplicável”, história que sequer é nomeada por Freud, mas cujo enredo lhe serve de exemplo.

Mas, acima de tudo, como acontece nos melhores contos fantásticos, há certas imagens que, finda a leitura do volume, deverão acompanhar o leitor: a aparição do conto de Maupassant, “A máscara de prata” velando pelo sono tumultuado de sua proprietária, a misteriosa moça à janela em “A aranha” e, claro, os olhos arrancados do autômato em “O homem de areia”, sem dúvida um clássico absoluto do fantástico, e o melhor texto desta antologia.
>> DIPLÔ Le Monde Diplomatique – por Gregório Dantas


OS BURACOS DA MÁSCARA: SETE NARRATIVAS GÓTICAS

terça-feira | 24 | janeiro | 2012

As histórias de Karen Blixen – em Sete narrativas góticas (Cosac Naify, 480 págs.) – negam as obviedades da tradição que evocam no título. Antes, sugerem novas sombras, disfarces e duplos. A começar por aquele que é o grande tema do livro, a identidade. [1]

A biografia da escritora dinamarquesa Karen Blixen tornou-se tão célebre quanto suas histórias. Casada com o barão sueco Bror von Blixen Finecke, acompanhou o marido para o Quênia, onde viveu entre 1914 e 1931. Além da fazenda de café endividada, que administrou até a bancarrota, Blixen também herdou do marido promíscuo uma doença com a qual conviveria pelo resto da vida, e que por fim a mataria: a sífilis. Após seu divórcio, em 1926, iniciou um caso amoroso com um piloto do exército britânico, Denys Finch Hatton, que morreria em um acidente de avião em 1931. Este relacionamento, como grande parte de sua experiência na África, foi narrado no romance autobiográfico A fazenda africana (Out of Africa, 1936), celebrizado pela adaptação cinematográfica protagonizada por Meryl Streep e Robert Redford. Foi durante a lenta e inevitável decadência de sua fazenda que a escritora escreveu suas Sete narrativas góticas [2] (1934). Escrito em inglês, inicialmente recusado pelas editoras, o livro foi publicado sob o pseudônimo de Isak Dinesen e se tornou um enorme sucesso de público, motivando a autora a se dedicar exclusivamente à carreira literária.

Na época em que as Sete narrativas góticas foram lançadas, houve quem criticasse a autora por causa do tom irreal de suas histórias, e a acusasse de exercer a arte pela arte, sem qualquer implicação social. Trata-se de um preconceito tolo, é verdade. Mas é indicativo do quanto os contos de Karen Blixen parecem deslocados de seu contexto original. Quase anacrônicos, mesmo.

São contos longos, quase novelas, cujos enredos se passam nos séculos 18 e 19, e tratam de certa nobreza que, mesmo decadente, ainda está muito ligada a determinadas tradições ancestrais. O início do conto “O dilúvio em Nordeney”, que abre o volume, é bastante representativo: estamos no início do século 19, em um balneário litorâneo freqüentado por “damas e cavalheiros elegantes”, e o ambiente está tomado por aquele espírito romântico

que se rejubilava diante de ruínas, espectros e lunáticos, e fazia de uma noite tempestuosa na charneca e de um profundo conflito passional regalos mais requintados para o conhecedor do que as amenidades de salão e a harmonia dos sistemas filosóficos […]. A proximidade de algum naufrágio, com os restos da embarcação ainda visíveis na maré baixa, como um escuro esqueleto petrificado e salgado, tornou-se um dos locais prediletos para piqueniques, nos quais artistas armavam seus cavaletes. (p. 9)

São facilmente reconhecíveis nas Sete narrativas góticas muitos dos temas e procedimentos da literatura fantástica, como o já citado gosto pelo passado, a exploração dos sonhos, a metamorfose, as máscaras, o espelho, as referências à bruxaria e às superstições locais. Mas não se trata de contos fantásticos, no sentido mais estrito do termo. Isso porque aquela hesitação entre a explicação racional e a sobrenatural para os eventos descritos, hesitação que é central para o fantástico, não é o mais importante destas Sete narrativas góticas. Em algumas delas, o sobrenatural é apenas insinuado; em outras, possui um importante papel, mas surge com relativa naturalidade.

Como em “A ceia em Elsinore”: por motivos que fogem à compreensão da sociedade da região portuária de Elsinore, as irmãs De Coninck nunca contraíram núpcias. Encantadoras, nunca lhes faltaram pretendentes; mas elas permaneceram fechadas ao assédio, dedicadas à casa da família e à memória do irmão, ex-corsário e desaparecido misteriosamente. Já solteironas, e vivendo sozinhas em Copenhague, as irmãs continuavam sedutoras e entretidas com eventos sociais. Certa noite, enquanto recebiam um grupo de amigos, chega-lhes de visita sua antiga empregada, senhora Baek, agora responsável pela propriedade de Elsinore. O passado, na forma de um fantasma, parece rondar a casa. Não há grandes sustos ou questionamentos sobre a natureza sobrenatural dos eventos narrados, e o conflito principal está na maneira como os personagens envolvidos lidam com seu passado.

Histórias dentro de histórias

Também é recorrente nas histórias fantásticas que os objetos ou seres sobrenaturais sejam oriundos de países distantes. Lembremos da longínqua Transilvânia, terra natal do conde Drácula; da misteriosa Índia dos contos de Rudyard Kipling, a mesma Índia de onde veio “A pata do macaco” do conto de W. W. Jacobs; ou até mesmo daquele país exótico, o Brasil, de onde surgiu a estranha raça de vampiros descritos no clássico de Maupassant, “O Horla”. É claro que, em todos os casos, está em jogo uma noção de exótico e misterioso que tem muito de esquemático, e que varia com o tempo.

Nas Sete narrativas góticas, essa região exótica e fantástica é Zanzibar. De lá vem o macaco que dá título a um dos melhores contos do livro e protagoniza um dos desfechos mais inusitados de que se tem notícia. E é nas proximidades de Zanzibar que se inicia a história de “Os sonhadores”. Aqui, porém, a autora inverte totalmente a lógica tradicional do fantástico. É o explorador inglês que conta uma história aos nativos, história passada na distante, fria e civilizada Europa. Mira Jama, o contador de histórias local, fisicamente mutilado (simbolizando a decadência de seu ofício?), terá ao final a chance de contar uma fábula. Mas que servirá apenas como mais um desdobramento ― ou versão ― da(s) história(s) do inglês.

“Os sonhadores” é um conto exemplar de um dos procedimentos mais importantes para Karen Blixen, as histórias que surgem dentro da história principal. No caso, uma única personagem é descrita por vários homens que a conheceram, de modo que ela só é acessível ao leitor através de diferentes pontos de vista, de homens vitimados pelo delírio amoroso. Desse modo, a percepção das coisas é contaminada por um estado onírico em que prevalece a ambigüidade das formas. É assim também com o jovem apaixonado de “O poeta”, cujos

pensamentos faziam com que as coisas adquirissem proporções descomunais ― como nas montanhas as imensas sombras que os viajantes projetam em meio à neblina e que os enchem de terror ―, gigantescas e de certo modo grotescas, como objetos que se movem um pouco à margem da razão humana. (p. 395)

A articulação entre diferentes histórias é particularmente complexa em “Os caminhos em torno de Pisa”, em que relações entre os personagens são mais sugeridas do que mostradas. Um jovem conde, atormentado por problemas no casamento, conhece uma velha dama cuja carruagem se acidentara. A senhora, debilitada, conta-lhe a história de sua vida, e pede-lhe um importante favor: que o conde procure por sua neta, a fim de se reconciliarem. Durante a viagem, porém, o conde presencia uma estranha discussão em uma estalagem, e é impelido a testemunhar um duelo mortal entre os contestantes. De modo que surgem histórias que se desdobram dentro daquela que julgávamos a história principal.

O verdadeiro sentido do conto (e das histórias que, mesmo sem uma ligação aparente, espelham-se uma às outras) será sugerido por dois elementos aparentemente banais: um pequeno objeto, que revela relações insuspeitas e passadas entre os personagens; e um corriqueiro teatro de marionetes que, visto de passagem pelo conde em sua viagem, parece compor a principal metáfora do conto. O grande trunfo do destino é fazer-nos crer no acaso. Como a ilusão de um teatro de marionetes.

Sem obviedades

Não à toa, outro motivo recorrente nesses contos é o do autômato. De maneira discreta, diversos personagens são comparados a bonecos ou seres inanimados. A metáfora é literariamente eficiente, não apenas porque evoca um motivo caro à literatura fantástica (pensemos no “estranho”, ou Unheimlich, que Freud identificou em “O homem de areia”, de E. T. A. Hoffmann), como reforça a idéia da marionete, do homem como um joguete do Destino. Um Destino que, onipresente, parece manipular, um pouco arbitrariamente, o andamento do enredo e sua verossimilhança.

Como decorrência dessa aparente arbitrariedade, há uma flagrante artificialidade no modo como personagens que julgávamos secundários tomam a palavra e narram suas vidas. Bem como no tom filosófico e nas citações eruditas que facilmente tomam conta de uma conversa entre estranhos. O narrador de “O velho cavalheiro”, por exemplo, tem o capricho de interromper sua narrativa para explicar devidamente a natureza das mulheres de sua época, e descrever o quanto as vestimentas das damas diziam de suas personalidades. Essas pausas são recorrentes: os personagens ― e o narrador através deles ― estão sempre dispostos a discorrer a respeito dos assuntos mais graves e, para tanto, não hesitam em recorrer a citações eruditas ou a versos memoráveis.

Mario Vargas Llosa já havia identificado como algumas das principais qualidades de Blixen certa “elegância ligeiramente passada de moda, sua esquisitice e irreverência, seus jogos e desplantes de erudição, e seu escasso, para não dizer nulo, contato com o inglês vivo e falado da rua” [3]. Neste sentido, o texto de Karen Blixen é indisfarçadamente “literário”. Mas a sofisticação de sua prosa suplanta qualquer “artificialismo”. E suas narrativas negam as obviedades da tradição gótica que evocam no título. Antes, sugerem novas sombras, disfarces e duplos. A começar por aquele que é o grande tema do livro, a identidade. Metamorfoses, disfarces e conflitos de personalidade estão presentes em todas as histórias: jovens moças disfarçadas se passam por homens, uma velha senhora sem peruca adquire as feições de um ancião, uma mulher madura e casta forja para si mesma um passado de devassidão.

Como no caso de “O dilúvio em Nordeney”: quatro pessoas que não se conhecem encontram-se, devido a situações adversas, isoladas em um celeiro cercado pelas águas. Enquanto aguardam a manhã e a subseqüente ajuda, eles contam cada um a sua história. Ninguém é quem parece ser. Caem as máscaras sociais e se revelam os vícios ― o orgulho, principalmente ― que mantêm os disfarces. “Não é pela expressão que se deve conhecer o homem, e sim pela máscara” (p. 87), diz um dos personagens. O final do conto, em aberto, é desconcertante.

Máscaras, bonecos, disfarces: o referido “artificialismo” dos contos de Karen Blixen tem algo de teatral. E o leitor, como o personagem da obra-prima “O macaco”, não deve ser “tão dogmático a ponto de acreditar que é indispensável haver tablado e luzes de ribalta para se estar no teatro” (p. 156). Karen Blixen é uma escritora para aqueles que aceitam as convenções literárias e o quanto há de onírico em todas as histórias. E aceitam a idéia de participar de um baile de máscaras em que nunca se revelarão, senão por sutilizas e discretos buracos na máscara, as identidades de seus convivas.

[1] O título dessa resenha é uma referência ao conto de Jean Lorrain, chamado precisamente de “Os buracos da máscara” e que pode ser lido em Contos fantásticos do século XIX, escolhidos por Ítalo Calvino. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

[2] BLIXEN, Karen. Sete narrativas góticas. Trad. Cláudio Marcondes. São Paulo: Cosac Naify, 2007.

[3] LLOSA, Mário Vargas. “Os contos da baronesa”. In: A verdade das mentiras. Trad. Cordélia Magalhães. São Paulo: Arx, 2004.

>> DIPLÔ – por Gregório Dantas


“WEIRD TALES”: O PULP QUE APRESENTOU A LITERATURA FANTÁSTICA AO MUNDO

terça-feira | 17 | janeiro | 2012

Na primeira década do século XX, o que ocupava a cabeça e esvaziava os bolsos de jovens e muitos adultos eram magazines mensais com contos de ficção científica e fantasia heróica. Trazendo quase sempre em suas capas personagens exóticos ou garotas voluptuosas correndo perigo, estas “revistas” eram feitas da parte mais barata do papel, conhecido como “polpa” e deram origem ao termo “Pulp”.

A revistas “pulp” não tinham pretensão literária e se destinavam à entretenimento despretensioso, rápido e barato. Mas mesmo assim grandes escritores iniciaram suas carreiras nelas, gente do calibre de Isaac AsimovDashiell Hammett e Raymond Chandler. E as histórias em quadrinhos começaram sua trajetória como uma “evolução” dos pulps, já queGil Kane (Lanterna Verde, Esquadrão Atari), Mort Weisinger (co-criador do Arqueiro Verde e do Aquaman) e Julius Schwartz (lendário editor da DC Comics) também escreveram nestes revistas também.

E dentre as centenas de revistas que existiam na época, uma ostentava o slogan “Uma Revista Sem Similar”. Seu nome era Weird Tales.

Foi criada em 1923 por J. C. Henneberger, um ex-jornalista que possuía um peculiar gosto por histórias macabras fossem reais ou fictícias.  O segundo editor da revista foi Fransworth Wight, que tentando equilibrar a Weird Tales entre as exigências do mercado e seu gosto por literatura fantástica, deu a publicação uma identidade única.

Já publicava contos de H. P. Lovercraft (preciso mesmo explicar quem é esse cara?), quando, em julho 1925, teve em suas páginas o conto “Lança e Presa”, de Robert E. Howard. Daí em diante o Howard foi ficando cada vez mais frequente, ganhando sua primeira capa em abril de 1926 com o conto “Sombras Vermelhas”, onde apresentou o personagem Salomão Kane, um puritano do XVI que vaga pelo mundo caçando, monstros, demônios e feiticeiros, armado somente com uma espada e uma pistola. Outros personagens de Howard que fizeram sucesso foram Kull e Bran Mak Morn.

E em dezembro de 1932 temos a estréia de Conan da Ciméria com o conto “A Fênix na Espada”. Mesmo com Howard sendo um dos autores favoritos dos leitores, estréia do bárbaro não ocupou a capa da revista. Aqui temos Conan já em idade avançada como rei da Aquilônia tentando sobreviver à uma tentativa de assassinato.

O personagem foi bem recebido e não tardou para ser um dos pilares da revista, estrelando diversas capas. A Weird Tales não limitou-se a publicar somente contos, mas diversos poemas de Howard envolvendo seus personagens tiveram espaço nas páginas da revista.

Quando Wight morreu, a revista mudou sua linha editorial. Em meio a concorrência com livros de bolso, histórias em quadrinhos e novelas de rádio, a editora passou por dificuldades financeiras e a Weird Tales foi cancelada em 1954. A revista ressuscitou em 1970 com quatro edições e foi cancelada novamente. Uma nova surgiu em 1981 e dura até hoje, como revista bimestral. Clique aqui e conheça o site oficial da revista!

>> CONTRAVERSÃO – por Aléssio Esteves


NA CALADA DA NOITE

sexta-feira | 13 | janeiro | 2012

Medo, a emoção mais antiga so ser humano inspira o horror na literatura, no cinema e na TV

Medo de olhar debaixo da cama e pela fresta do guarda-roupa, medo do escuro. Em seu clássico livro, O horror sobrenatural em literatura, o escritor norte-americano H. P. Lovecraft (1890-1937) afirma que a emoção mais antiga da humanidade é o medo e o mais forte tipo é o do desconhecido. “Embora o medo seja universal, suas causas variam muito no tempo e no espaço. Cada sociedade tem os seus medos próprios, e a boa literatura de horror é justamente aquela que identifica esses pavores, trazendo-os de modo realista ou alegórico para o terreno da ficção”, diz Júlio França, professor de Teoria da Literatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Não é possível determinar, com certeza, em que momento da história social apareceram os relatos relacionados ao horror. Contudo, a tradição literária reconhece o romantismo gótico do final do século 18 como o marco inicial, na era moderna, de uma literatura que tem na produção e na tematização do medo seu traço essencial.

“A ficção gótica é a literatura do pesadelo. Entre suas manifestações, encontramos as trilhas de fuga representadas pelos sonhos produzidos por seus autores, os quais desenvolveriam, sem saber, a potencialidade de um modelo estético que explora os medos mais profundos do ser humano”, diz Danielle da Costa, professora de Literatura e autora de A orquídea de sangue: o dandismo de Lestat de Liouncourt na obra de Anne Rice, dissertação apresentada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2004.

O Castelo de Otranto (1764), de Horace Walpole, é o primeiro romance gótico e conta a clássica história de um castelo amaldiçoado. A obra virou referência para Edgard Allan Poe, Bram Stoker, Ann Radcliffe, Clara Reeve, Charles Maturin, Mary Shelley, Daphne Du Maurier e tantos outros. A história em questão fala de Manfredo, príncipe do condado de Otranto, que sofre com uma maldição de gerações de sua família. Ela tem início no dia do casamento de seu filho, que é assassinado. É assim que começa a saga do protagonista para solucionar o mistério.

Ainda no século 18, o poeta alemão Heinrich August Ossenfelder traz para a literatura a temática de vampiro ao escrever Der Vampir. O poema trata da jovem Cristina, que recusa um pretendente a conselho de sua mãe por acreditar que ele vinha de uma região assolada por vampiros. Inconformado com a decisão da moça, o homem assume impulsos de vingança com a intenção de invadir o leito da donzela.

Outro autor de extrema influência na literatura de horror é Matthew Gregory Lewis, que detalhava cenas sangrentas e sádicas, além de criar uma atmosfera mais densa e sombria que seus antecessores. Sua obra mais popular é The Monk (1796). Situado em um convento sinistro em Madri, é um conto cheio de ambição, assassinato, incesto e centra-se na luta de um monge para manter seus votos em face da tentação e da obsessão sexual.

Mas o mais cultuado autor de horror de todos os tempos é o também norte-americano Edgar Allan Poe (1809-1849). Poeta, crítico e, sobretudo, contista, ele dominava como poucos as técnicas de narrativa e concebia a obra como um artefato produtor de emoções. “Talvez o fato de ter sido tão atento aos efeitos da literatura sobre o leitor ajude a explicar seu sucesso, já que o gênero se define, fundamentalmente, pela produção de um efeito de recepção: o medo”, afirma Júlio França.

Em seu ensaio The Philosophy of Composition, de 1846, o escritor descreve os princípios de sua criação: “Tendo escolhido um assunto novelesco e depois um efeito vivo, considero se seria melhor trabalhar com os incidentes ou com o tom – com os incidentes habituais e o tom especial ou com o contrário, ou com a especialidade tanto dos incidentes, quanto do tom – depois de procurar em torno de mim (ou melhor, dentro) aquelas combinações de tom e acontecimento que melhor me auxiliem na construção do efeito.”

Para França, Anne Rice, Stephen King e Clive Barker são autores da atualidade que conseguem, como Poe, captar e reproduzir as tensões, as angústias e os medos do mundo contemporâneo. “Arrisco dizer que obras como Entrevista com o vampiro(Rice) (esgotado)O iluminadoCarrie, a estranha (King) e Livros de sangue (Barker, esgotado) farão parte, se é que já não fazem, do cânone da literatura de horror ocidental”, diz o professor da UERJ.

TERROR OU HORROR?

Uma das dúvidas mais usuais entre os leitores e estudiosos do gênero é exatamente sobre a diferença, o porquê de alguns títulos serem rotulados de horror e outros de terror. Escritores como Ann Radcliffe e Stephen King consideram o terror uma emoção mais psicológica do que o horror, que seria mais sensorial. “Estar aterrorizado” dependeria, portanto, de um trabalho da imaginação, que especularia sobre a possibilidade de algo terrível acontecer.

Já, “estar horrorizado” seria o resultado da concretização da ameaça sendo normalmente acompanhado por uma sensação de repulsa diante da cena explícita. Mas, tanto explícito como imaginário, por que alguém procuraria, na ficção, emoções que, na vida real, são desagradáveis? Para França, buscamos o efeito catártico, o alívio após experimentarmos emoções terríveis vividas por personagens com os quais nos identificamos. “Embora tais emoções sejam por nós vivenciadas intensamente, elas não são uma ameaça real ao nosso ser. Elas produzem o efeito terapêutico de purgar nossas próprias paixões”, explica.

O HORROR NAS MÍDIAS

O horror espalhou-se pelas mídias a partir do século 19, quando as grandes obras foram rapidamente adaptadas para o teatro. O cinema, desde suas origens, valeu-se do gênero em filmes clássicos como O Golem (1920), Nosferatu (1922) e O fantasma da ópera (esgotado) (1925). Até hoje, Hollywood produz filmes de horror que são sucesso de bilheteria.

Esse tipo de história também é tema de Thriller, o mais famoso vídeoclipe de todos os tempos. Lançado por Michael Jacson em 1982, o vídeo entrou para o acervo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, por ser considerado “culturalmente significativo”.

No Brasil, programas como Incrível! Fantástico! Extraordinário!, apresentado por Almirante, na Rádio Tupi, entre 1947 e 1958, e Além, Muito Além do Além, de 1967, na TV Bandeirantes, com Zé do Caixão – personagem criado por José Mojica Marins –, exploraram o medo e o sobrenatural. No papel coveiro do cruel e sádico, Marins também esteve no cinema em À meia-noite levarei sua alma (esgotado). Nos quadrinhos, revistas como Calafrio e Kripta tiveram grande sucesso comercial.

Uma nova geração de escritores brasileiros adotou o horror como tema de seus livros. Autores como Giulia Moon, André Vianco, Santiago Nazarian, Martha Argel, Roberto Sousa Causo, Rosana Rios e Helena Gomes, entre outros, começaram a escrever em sites e blogs, sendo considerados hoje em dia os principais responsáveis pela produção do gênero no país. “Muitos de nós começamos nas redes sociais e hoje temos livros publicados”, diz Helena Gomes, co-autora de Sangue de lobo, ambientado no interior de Minas Gerais, que tem um lobisomem como protagonista.

Helena diz que não sabe as razão, mas havia um preconceito de ler história de horror que se passassem no Brasil. “Graças a Deus, isso está mudando, nosso território é muito propício para uma história de medo.”
>> REVISTA CULTURA – por Gérson Trajano


MUNDO POVOADO POR SERES FANTÁSTICOS DÃO FÔLEGO A JOVENS ESCRITORES

quinta-feira | 12 | janeiro | 2012

O paulistano André Vianco publicou 14 obras, com 700 mil cópias vendidas e faz projeto piloto para série de tevê.

A popularização da literatura de fantasia levou alguns escritores brasileiros a trilharem os caminhos desse gênero. O mundo habitado por guerreiros, vampiros, lobisomens, demônios e anjos está ganhando cada vez mais espaço entre as publicações nacionais e diminuindo a dependência da criatividade estrangeira para satisfazer leitores adeptos ao estilo.

A fantasia nacional soma algumas dezenas de títulos, como as séries vampirescas de André Vianco; A batalha do Apocalipse, de Eduardo Spohr; e a trilogia Dragões de éter, de Raphael Draccon. O fenômeno editorial ocorreu no momento em que o mundo vislumbrava a magia de Harry Potter e o cinema resgatava a saga de O senhor dos anéis. Mas as inspirações dos escritores daqui foram várias, passando por J. R. R. Tolkien, J. K. Rowling, C. S. Lewis e chegando a nomes do passado, como o criador do Conde Drácula, Bram Stoker.

Um dos precursores e disseminadores dessa tendência no país foi o paulistano André Vianco, 35 anos. Em 2000, ele lançou Os sete, livro que conta a história de sete vampiros que desembarcam no litoral brasileiro, e ainda hoje figura entre os mais vendidos. “A internet inverteu o fluxo de como as editoras decidiam o que publicar. A indústria do entretenimento passou a ver que os leitores liam também na internet. Então, começaram a entrar os autores nacionais de fantasia e terror. Perceberam que havia bons escritores aqui e começaram a ver que os leitores queriam ler esses autores, sim. Porque, mesmo sem existir na loja, o escritor tem o seu blog, o seu público, as editoras vão atrás deles também. Hoje, com as redes sociais, existe uma fidelização do público leitor, o que está fortalecendo esse nicho que até então era ignorado”, analisa.

Dono de um recorde de 700 mil cópias vendidas, com 14 livros publicados e um em produção, André Vianco ensaia os primeiros passos como diretor de uma série de tevê baseada na trilogia O turno da noite. A produção é independente, e conta apenas com o episódio piloto até o momento. “São passos tímidos ainda, mas os leitores adoram. É aquela coisa bem brasileira, bem autoral. Eu escrevi o roteiro, dirigi e abri minha produtora”, acentua.

Receita para o sucesso não existe, mas Vianco sempre dá dicas nas palestras que faz pelo Brasil a jovens que pretendem tornar-se escritores: “É gostar de escrever e sobretudo gostar de ler. Ser perseverante, porque o mercado não é fácil”.

Medieval e tecnológico
O estilo do carioca Raphael Draccon, 30 anos, é diferente, sem seres sanguinários. Autor da saga Dragões de éter, com mais de 50 mil exemplares vendidos, Draccon lançou-se no projeto de escrever um livro para ser como Bruce Lee. De tanto assistir a Operação Dragão na infância, ele prometeu para si que também seria escritor e faixa-preta, e trabalharia com cinema. “Precisei de 20 anos para cumprir toda a promessa”, brinca.

A trilogia Dragões de éter é uma releitura de vários contos de fada compartilhando a mesma trama, com uma linguagem para adolescentes, e não para crianças. Contém ação e magia na mesma medida, em um cenário medieval e tecnológico. Ninguém escapa. Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, a Branca de Neve e os sete anões, estão todos lá, com uma dose farta de cultura pop, vinda principalmente do rock.

A trilogia ganhou forma em meio a uma rotina agitada. Raphael estudava cinema de manhã, dormia à tarde, dava aulas à noite e escrevia de madrugada. O esforço rendeu, à época, um original de 400 páginas, entregues nas mãos do editor. A edição publicada tem cerca de 1.400. “Eu havia produzido uma capa simbólica, os personagens impressos em papel especial. A ideia era resgatar o que a minha geração sentia ao assistir a A caverna do dragão. Uma obra envolvendo um cenário sombrio, suavizado por uma visão juvenil”, explica Draccon.

Quando publicou os livros pela primeira vez, cinco anos atrás, a realidade era outra. “Hoje, o mercado é um pouco mais aberto a novos autores. Há alguns anos, aí podemos utilizar autores como Vianco e Spohr como exemplo, escritores nacionais de fantasia não eram best-sellers ,e nem editoras nem leitores confiavam tanto neles como atualmente”, resume.

Fada Mel
Mesmo dentro do gênero fantasia, o público é bastante diversificado. Distante das batalhas épicas e confrontos violentos, o livro A fada, de Carolina Munhoz, paulista de 22 anos, vencedora na categoria literatura do Prêmio Jovem Brasileiro 2011, é uma história de esperança diante de dificuldades.

A inspiração que Harry Potter deu a Carolina foi tanta que até a cidade onde a trama se desenrola é a mesma onde o bruxo morava: Londres. “Eu sempre fui apaixonada pelo local, pela história do Rei Arthur. Harry Potter intensificou e resolvi usar Londres como cenário. Antes de relançar o livro por uma outra editora, passei um mês lá e usei essa experiência para colocar mais detalhes na obra”, comenta Carolina.

As aventuras da personagem principal, a fada Mel, surgiram na imaginação dela aos 16 anos. Quatro anos depois, a história foi publicada e reeditada. “Eu nunca tive uma conexão muito grande com fadas, mas esse livro veio para mim em um sonho e no outro dia eu comecei a escrever.”

Já Bruna Torres não é escritora, mas é fã da obra de André Vianco. Aos 6 anos, leu Chapeuzinho Vermelho e, alguns anos depois, As aventuras de Robson Crusoé. Conheceu a obra de Vianco por meio de um parente. “Meu primo tinha uns 12 anos e lia a série que começou com Os sete. Ele me falava tanto dela que me interessei e acabei até presenteando amigos com livros do André. Até o meu namorado, que não lia nada, tomou gosto pela leitura. Hoje, conheço o André Vianco pessoalmente e sempre o encontro quando ele vem a Brasília”, completa.

Leitora dedicada, a brasiliense de 25 anos põe Vianco no patamar dos melhores escritores brasileiros. “São livros de excelente qualidade, que merecem leitura. Indico para todas as idades. São cheios de detalhes, personagens e histórias fascinantes”, descreve.
>> CORREIO BRAZILIENSE – da Redação


HEROÍNAS DA LITERATURA FANTÁSTICA

quarta-feira | 11 | janeiro | 2012

As heroínas são personagens que, envolvidas em confusões e mesmo que precisem de uma ajudinha de amigos ou mesmo de um herói, conseguem agir sozinhas. Porém a característica mais marcante de uma heroína, que a difere das mocinhas de histórias, é que elas não são conformistas. Enquanto as mocinhas, geralmente indefesas, sempre esperando pelos “príncipes encantados” para salvá-las, as heroínas vão brigar pelo direito de pensar por elas mesmas, certas ou erradas, com unhas e dentes.

Kara dos livros Alma e Sangue Imagem: Websérie Alma e Sangue

Na literatura fantástica é onde mais se encontra heroínas. Porque na literatura mundial, infelizmente, o número de mocinhas ainda é muito grande, o que mostra o quanto a sociedade literária ainda é machista. Porque as mocinhas são o verdadeiro exemplo da figura feminina idealizada por uma cultura patriarcal, onde o homem é o forte e corajoso, enquanto a mulher é a bela “donzela”, cobiçada por todos, que precisa ser salva pelo melhor entre todos os homens.

Já uma heroína é uma personagem feminina de temperamento forte, com defeitos e qualidades que a coloca em igualdade com um herói. Algumas chegam a condição de anti-heroínas de tão do contra que são. Porém as heroínas da literatura são mais realistas e diferem muito da maioria vista nos quadrinhos, por exemplo, as quais geralmente usam roupas sexy (e muitas vezes ridículas) só para agradar o público masculino, que ainda é maioria em publicações do tipo.

Conheci em minhas leituras, desde que iniciei o Projeto Literatura Nas Ondas Do Rádio, algumas heroínas e anti-heroínas bem legais. Tanto na literatura estrangeira como na nacional.

A tendência mundial atual são as Heroínas Adolescentes, entre as quais se destacaram, e/ou caíram no gosto do público em geral, a Hermione de Harry Potter, a Bella da saga Crepúsculo e Claire de Os Vampiros de Morganville. Curiosamente no Brasil, a tendência entre os autores brasileiros são Heroínas Adultas, mas encontrei algumas adolescentes bem interessantes como a Kaori, criação de Giulia Moon(Kaori – Perfume de vampira e Kaori 2 – Coração de Vampira), e Kôra, criação de Ana Flávia Abreu (Kôra – O Pressentimento do Dragão e Kôra e a Masmorra de Atro).

Na literatura fantástica mundial, poucas foram as Heroínas Adultas que achei até agora. Há muitas interessantes dentro do mundo dos quadrinhos, mas pouquíssimas são as que encontrei na literatura, as quais fossem cativantes como a detetive particular Vicki Nelson da série literária Blood Book de Tanya Huff, que, infelizmente, ainda não foi traduzido para o português (pelo que eu saiba). Porém alguns fãs de séries de TV fantásticas e/ou vampirescas, provavelmente, a conhecem, pois o livro foi inspiração para a série Blood Ties.

No entanto, os autores brasileiros conseguiram suprir a falta de tais personagens brilhantemente. Porque se falta heroínas lá fora, ou é apenas o mercado editorial por aqui, que ignora o fato dos brasileiros adultos curtirem LitFan (até mais que o público infanto-juvenil), o fato é que no meio nacional há várias e cada uma mais interessante que a outra.

Entre as personagens femininas com características de heroína ou anti-heroína da literatura nacional fantástica, eu tive o prazer de conhecer algumas que hoje estão na lista das minhas favoritas, como é o caso da Clara de Martha Argel (Relações de Sangue e Amores Perigosos), Kara de Nazarethe Fonseca (Alma e Sangue) e Jessi de Vivianne Fair (A Caçadora). As três personagens fazem parte de histórias de vampiros, mas há outras bem interessantes, que pertencem a outros universos fantásticos, como é o caso da Mestra Anna do livro O Castelo das Águias de Ana Lúcia Merege.

Também encontrei várias heroínas, entre adultas e adolescentes, em contos nacionais, como as personagens:
– Maya dos contos de Giulia Moon (Coletâneas Vampiros no EspelhoA Dama-Morcega e Luar de Vampiros).
– Sophie de Gabriel Arruda Burani, Barbara da Celly Borges, Berta da Nazarethe Fonseca e Luísa de Louise Duarte (Antologia Sociedade das Sombras da Editora Estronho).
– Anelisa da Cristina Rodriguez, Carolina da Adriana Araújo, Lili da Nazarethe Fonseca e Nix da Giulia Moon (Livro 1 da coleção Amores Proibidos da Editora Draco, Meu Amor é um Vampiro).

Essas personagens são apenas alguns exemplos, entre aquelas que eu mais gostei, ou que me chamaram atenção por alguma característica marcante, ao ponto de desejar continuações de suas histórias. Há várias outras personagens interessantes na LitFanBR, sem contar os livros que ainda estão na minha lista de leitura (que atualmente é enorme).Então se gosta de uma boa histórias com heroínas, tem para todos os gostos. E para quem não aquenta mais os inúmeros reality show e programas sensacionalistas das TVs brasileiras, que se repetem irritantemente a cada ano, eu recomendo a leitura de livros fantásticos. Vai gastar melhor seu tempo e pode se divertir muito mais… Assim, quem sabe, com um audiência baixa, as redes de TVs no Brasil comecem a investir em programação de qualidade e boas histórias para seus roteiros.
>> CONTOS SOBRENATURAIS – por Anny Lucard

TUPI OR NOT TUPI. ESTA NÃO É A QUESTÃO

quarta-feira | 11 | janeiro | 2012

Cacique Raoni, líder da tribo dos Kayapó.

Recentemente voltou a cena o Manifesto Antropofágico da Ficção Científica Brasileira, de Ivan Carlos Regina, pela mão de Tibor Moritz, que levantou a bola, e deixou o pessoal fazer algumas embaixadas. Porém a bola caiu no chão e pingou, pingou e Bráulio Tavares deu outro chute levantando um novamente a bola, que nos pés de Roberto Causo e do próprio Moritz voltou a pingar no meio do fandom.

Eu estou vendo a bola vir em minha direção e resolvi arriscar um chute ou uma cabeçada e não espero atingir o gol, pois péssimo jogador de futebol, nem sei onde ele está. Aliás, parece que ainda ninguém sabe, mas o importante é que a bola continue no ar a espera de que alguém saiba onde está o gol ou construa um.

Para iniciar a minha reflexão sobre o assunto antes de colocar a bola novamente em campo partiu dos textos já citados, dos Manifesto da Poesia Pau Brasil e Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, do Triste fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto, de minhas leituras de FC & F e outros gêneros de todos os cantos do mundo e da Opera Madame Butterfly sob a ótica de Katsuhiro Otomo, no curta Magnetic Rose presente do DVD Memories.

Alguém poderia estar perguntando, por que Madame Butterfly? Afinal não estamos falando de literatura brasileira de Ficção Científica?

Eu pergunto: quando pensa em madame Butterfly, qual o primeiro país que aflora a mente? Japão!  Só que ela é uma opera italiana (escrita por Puccini) que se apropria de alguns elementos culturais japoneses e de um momento histórico, onde ocorria justamente a dominação econômica e cultural americana nas terras nipônicas.

E o que fez Katsuhiro Otomo? Criou uma história onde uma nave especial com uma tripulação multinacional (não há um japonês sequer) segue um sinal de SOS que é justamente uma ária de Madame Butterfly. O destino é um grupo de asteróides com um perigoso campo magnético, Sargasso, nome de um mar onde na ficção é palco de naufrágios misteriosos.

Mesmo sem ver o filme, só por esta sinopse percebe-se que o local é uma armadilha. A atração magnética, a atração física por uma mulher, a atração por uma cultura diferente, a busca do lucro fácil e a ilusão de que se pode viver através das memórias compõe o quadro dramático do curta.

Apesar de todas as referencias não serem japonesas, sentimos que estamos diante de uma obra genuinamente japonesa. Por quê? Talvez pela forma? O tipo de narrativa? Ou o aprendizado de mais de um século que tivemos de ver Madame Butterfly como uma referência ao Japão?

Já em o Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto coloca um personagem patético que tenta sozinho salvar o país através de três projetos: um linguístico, um econômico e um político.

Nos interessa o linguístico, já que estamos envolvidos no uso da linguagem como forma de expressão. Quaresma é menosprezado primeiro por querer estudar violão, depois por estudar sem ter formação acadêmica e, por fim querer adotar uma visão nacionalista extrema, ao propor o uso do tupi como língua oficial.

Este é o perigo que temos que evitar. Até onde deve ir nossa busca do nacionalismo? Enfiar um índio numa história de FC fará meu texto ser mais brasileiro?

Eu particularmente penso que somos estrangeiros nesta terra. Nossas origens são européias e se queremos colocar elementos indígenas em nossas histórias temos que fazer um mergulho em suas tradições e crenças, criar uma boa história (um bom exemplo é o herói Tajarê, de Roberto Causo) e… lidar com uma possível rejeição do publico leitor.

Agora, vamos ao texto base, o Manifesto Antropofágico de Ficção Científica Brasileira:

“Precisamos deglutir urgentemente, após o Bispo Sardinha, a pistola de raios laser, o cientista maluco, o alienígena bonzinho, o herói invencível, a dobra espacial, o alienígena mauzinho, a mocinha com pernas perfeitas e cérebro de noz, o disco voador, que estão tão distantes da realidade brasileira quanto a mais longínqua das estrelas.

A ficção científica brasileira não existe.

A cópia do modelo estrangeiro cria crianças de olhos arregalados, velhinhos tarados por livros, escritores sem leitores, homens neuróticos, literaturas escapistas, absurdos livros que se resumem as capas e pobreza mental, colônias intelectuais, que procuram, num grotesco imitar, recriar o modus vivendi dos paises tecnologicamente desenvolvidos.”

O que seria este deglutir? Me vem a imagem de sandálias de dedo feitas a partir de garrafas pet. O Cacique Raoni de óculos e beiço de botocudo. Ou o Visconde de Sabugosa, com um laboratório de faz-de-conta. Alias Monteiro Lobato, apesar de não ter aderido ao movimento, é mestre nisto: seus livros infantis têm Saci e Peter Pan, Cuca e Gato Felix, onça e Tom Mix (caubói do cinema mudo). O sítio não vai ao universo, o universo vem ao sítio.

Me vem novamente a imagem de Madame Butterfly, mastigada e cuspida por Katsuhiro Otomo em forma de destroços.

Temos celulares de ultima geração, mas eles nos são roubados nos ônibus apertados. O saci fuma uma pedra de crack em seu cachimbo, acendendo-a com um isqueiro Zipo. A pesquisa é interrompida porque a verba foi desviada pra fazer um jardim na casa do ministro. É esta realidade que não é retratada, segundo Ivan Carlos Regina.

Por fim o próprio texto de Oswald de Andrade nos dá um tema pra uma boa obra de ficção especulativa, se alguém se dispuser a escrevê-la:

“Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.”

Infelizmente o que restou dos Caraíbas está prestes a ser inundado pela usina de Belo Monte.
>> BLOG DO PAI NERD – por Alvaro Domingues


“FANDEMÔNIO nº 1”: PARA DEGLUTIR O FUTURO

terça-feira | 10 | janeiro | 2012

Nos dolorosos estertores finais de 2011, o escritor e blogueiro Tibor Moricz, autor do romance O Peregrino (Draco, 2011), resolveu balançar a canoa da comunidade de fãs e autores de ficção científica – conhecida como fandom – com dois textos provocadores. Neles, lamenta a falta de discussões e de polêmicas nesta altura do ano, e pergunta: “Só a antropofagia nos unirá?”

A pergunta remete diretamente ao “Movimento Antropofágico da Ficção Científica Brasileira”, lançado em 1988 pelo escritor paulista Ivan Carlos Regina nas páginas do fanzine do Clube de Leitores de Ficção Científica, o Somnium. Moricz já havia levantado a mesma peteca antes, quando divulgou no seu É Só Outro Blogue o “Manifesto Antropofágico da Ficção Científica Brasileira”, de Regina, e o entrevistou.
Na década de 1990, esse movimento, inspirado numa das principais tendências do Modernismo brasileiro, dividiu opiniões, causou polêmica, produziu declarações e ensaios publicados em fanzines, e, com erros e acertos, constituiu-se na questão literáriacaracterística da Segunda Onda da FC Brasileira (de 1982 ao presente). Além de Regina, se declararam simpáticos ao movimento Cesar Silva, Fábio Fernandes, Marcello Simão Branco, Roberto Schima e eu mesmo.

Hoje sabemos que a discussão de como ou por que trazer uma perspectiva brasileira ou terceiro-mundista à ficção científica já era discutida antes, durante a Primeira Onda (1958-1972), como atestam as perguntas que o escritor Walter Martins (1932-2010) dirigiu aos participantes internacionais do Simpósio de FC, o histórico evento realizado em 1969 no Rio de Janeiro.

O Movimento Antropofágico da FCB encerrou-se por volta de 1995, depois de Regina compreender que seu poder de mobilização e de debate havia alcançado seus limites. Mas é interessante que agora, quando se apresenta uma Terceira Onda de escritores de FC no Brasil, a discussão das idéias do movimento retorne com a intensidade que Moricz conseguiu provocar no seu blog. Parece que aqueles limites ainda não tinham sido atingidos.

O retorno da discussão vem no rastro de declarações muito recentes que o respeitado escritor e antologista Braulio Tavares fez à imprensa, por ocasião do lançamento da sua antologia Palavras do Futuro: Contos Brasileiros de Ficção Científica (Casa da Palavra, 2011). Para o jornal O Globo, ele fez esta declaração: “Tem muita gente lendo e gostando do gênero, e isso é ótimo. Mas há um cordão umbilical que precisa ser partido de uma vez por todas. O Brasil precisa se descolar dos Estados Unidos. Precisa trazer para a ficção científica o que os modernistas fizeram em 1922.”

A afirmativa se aproxima muito da proposta de Regina, e na discussão do É só Outro Blogue, Tavares fez novo esclarecimento: “Na entrevista ao Globo (por telefone), eu disse à jornalista que essa atitude antropofágica vem, pelo menos, desde que Ivan Carlos Regina publicou nos anos 1980 o ‘Manifesto Antropofágico da FC Brasileira’. Esta informação não apareceu na matéria final, o que lamento.” Já em matéria de 3 de janeiro de 2012, escrita por Luiz Zanin Oricchio para O Estado de São Paulo, tem-se a afirmativa: “Não por acaso, um autor como Ivan Carlos Regina publicou, em 1988, seu Manifesto Antropofágico da Ficção Científica Brasileira. Inspirado nos modernistas de 1922, Ivan entende ser necessária a deglutição radical dos nutrientes estrangeiros para a produção da proteína nacional.”

Braulio Tavares é a fonte desse comentário, como se vê pelacrônica que ele fez para o Jornal da Paraíba, em 23 de dezembro de 2011, na qual afirma que “O manifesto de [Ivan Carlos Regina] critica os autores brasileiros que preferem imitar o modelo norte-americano de FC, repetir os mesmos temas, os mesmos clichês, a mesma linguagem – porque, vamos e venhamos, é muito mais fácil fazer ‘fanfic’ do que literatura. (A ‘fanfic’, a ficção produzida por fãs, é quando os leitores de Harry Potter, Star Trek, etc. escrevem suas próprias histórias utilizando esses personagens e contextos. Não tem propósito criativo estrutural; apenas o prazer de produzir variantes das obras originais.)” Nisso, ele vai ao encontro da condenação de Cesar Silva, um dos editores do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, de que boa parte dos autores brasileiros de FC são apenas fãs que se contentam em firmar sua adesão ao gênero, sem o propósito de se expressarem ou de conduzi-lo a novas direções. Para Tavares, o lado crítico do movimento “permanece tão atual quanto em 1988”. “Deglutir, devorar, antropofagizar”, afirma, “implica sempre em destruir, ‘quebrar’ aquele material em seus elementos constitutivos, usá-lo como eventual banco de dados para produzir uma literatura que não venha do impulso de imitar, mas de dizer verdades pessoais. Literatura é a verdade pessoal de cada um, e para essa verdade emergir precisa desligar esse piloto-automático que gera a fanfic e a imitação.”

A conclusão de Tavares marca um posicionamento dele que não havia sido expresso durante os primeiros anos do movimento. Sua primeira reação foi relutante e cautelosa quanto a qualquer coloração nacionalista ou prescritiva que o movimento pudesse ter. Para o meu fanzine Papêra Uirandê, ele escreveu que o mais importante para o desenvolvimento da FC brasileira era a vantagem implícita que teríamos pela localização cultural do país, que nos permitiria absorver influências múltiplas – de dentro e de fora da FC anglo-americana, de dentro e de fora da própria literatura brasileira como um todo. Não é uma declaração conflitante com a antropofagia cultural, mas também não foi adesão clara às idéias de Regina. A crônica do Jornal da Paraíba e suas novas declarações parecem bem mais próximas dessa, talvez porque a distância temporal clarifica perspectivas – ou porque o momento atual da nossa FC justifique ainda mais um retorno desse debate.

E com certeza, o debate voltou. Os comentários à breve provocação de Moricz somaram setenta manifestações (no momento em que escrevo este texto). Mesmo excluindo respostas perfunctórias e ecos de comentários anteriores, é mais do que tudo o que foi discutido por escrito, entre 1988 e 1995.

O que esses comentários expressam acabou sendo, não obstante, muito próximo das polarizações e posicionamentos apressados daquele primeiro debate em torno do movimento. São imediatamente lançados apelos contra “patrulhas”, “ufanismo extremo”, “xenofobia”, “extremismo”, “postura brasilianista” – e, fora desse contexto em particular, contra o emprego de “estereótipos culturais”.

Além da advertência, há e houve argumentos opositivos, do tipo “regional vs. universal”, hoje transmutados na evocação do globalismo como tendência inescapável, que poria de lado qualquer projeto de se apresentar a “experiência brasileira” (expressão quase universalmente ausente do debate literário) como singular ou significativa, ou de se explorar criticamente a nossa realidade.

O que é “regional”, o que é “universal”? Muitas vezes, o que se diz é que a ficção seria mais universal se carecer de índices particulares. Se abrir mão do detalhe específico, se for vaga em relação a de onde,de como e para quem o autor se dirige. A despeito de qualquer apelo que o minimalismo possa ter, é difícil acreditar que uma literatura possa ser mais, por meio da insistência em ser menos. Leon Tolstoi recomendou: “Canta a tua aldeia e serás universal.” E para o crítico francês Antoine Compagnon (in O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum, 1998), citando o ensaísta Michel de Montagne, “Cada homem traz em si a forma completa da condição humana”. Muda a conjuntura em que a condição humana se expressa, mas atravessando o outro, experimentando a vida pelo ponto de vista dos personagens e do autor, se atinge o universal.

Na Terceira Onda, um dos elementos centrais da retórica que emerge da interação entre esses novos escritores parece ser a noção da identificação do autor e do conteúdo que ele produz, com um público leitor ideal. Esse público seria jovem, de classe média, maioria masculina e branca e com formação universitária, interessado em novidades tecnológicas e conhecedor da FC principalmente via televisão, cinema, quadrinhos e videogames. Resulta daí uma busca pelo universal a partir de um único particular, mas um particular que se apresenta como dominante. O risco maior da postura seria a extrapolação exclusiva de um só conjunto de coordenadas sócio-culturais que pertenceriam a essa geração de autores.

Risco porque a ficção científica é a literatura da mudança, do estranho, do inesperado e daquilo que hoje é apenas vislumbrado, mas que tem o potencial de alterar dramaticamente as nossas vidas. Como escreveu (na antologia Future on Fire; 1991), Orson Scott Card, um dos grandes escritores que a FC já produziu, “Dúzias, centenas, milhares de vezes [os leitores de FC] viveram o processo de apreensão de uma realidade surpreendentemente nova. Não importa o que o futuro seja, eles já conhecem o processo: reconhecer a contradição entre a visão familiar do modo como as coisas são, e a nova ordem; extrapolar das contradições um novo sistema de causa e efeito; reconstruir uma visão do modo como as coisas são que inclua e acomode as antigas contradições; inventar o seu próprio papel na nova ordem; agir de acordo com o seu novo papel e sua nova visão da realidade.”

Esse seria o efeito geral da ficção científica como gênero. Mas não significa que cada narrativa de FC o realize. O escritor tem de buscá-lo intencionalmente, deliberadamente construindo, a partir das suas habilidades e experiências individuais, sua visão de mudanças potenciais e de reações possíveis. Por que uma literatura com esse potencial visionário deveria se ater a um único conjunto de valores, em nome de uma estratégia de mercado? Não haveria nisso um amesquinhamento da literatura – e em termos sociais, uma falta de solidariedade para com aqueles que são diferentes?

Recentemente, a escritora mainstream Martha Medeiros declarou no Rascunho: O Jornal de Literatura do Brasil de dezembro de 2011: “A literatura derruba paredes… Acho que nos liberta da mediocridade, faz com que a gente transcenda. Porque a nossa vida é muito estreita, muito reduzida.” Por que a ficção científica deveria andar na contramão desse entendimento?

O próprio processo de globalização tem nuances que o fazem escapar da idéia de que um conjunto de valores irá colonizar todas as instâncias do planeta. O antropólogo argentino Néstor García Canclini adverte (in Diferentes, Desiguais e Desconectados: Mapas da Interculturalidade; 2004): “Dizer que a redução do cultural ao mercado e à sua globalização neoliberal condiciona todas as relações interculturais induz hoje a renovados estereótipos de universalização inconsciente.” E a seguir afirma: “Os lugares continuam a existir por continuar a existir alteridade no mundo”, e que “ler o mundo na chave das conexões não elimina as distâncias geradas pelas diferenças nem as fraturas e feridas da desigualdade”.

Também posso citar, numa indicação de Nelson de Oliveira, o sociólogo brasileiro especialista em globalização, Renato Ortiz, que opina: “A globalização é uma totalidade que nos envolve a todos, ela cria uma nova situação. Sua abrangência é global, mas isso não significa que o mundo seja homogêneo. A situação de globalização redefine o nacional e o local, mas não os elimina. […] A discussão da diversidade só faz sentido num mundo que se globalizou. Valoriza-se a diferença por que estamos todos na mesma situação.” Mas com a ressalva: “Fica evidente hoje que o processo de globalização constitui uma totalidade na qual as diferenças se manifestam. O mundo é um todo, mas nada tem de homogêneo. Tampouco ele é plural, como diziam os pós-modernos; as diferenças encontram-se hierarquizadas e constituem relações de poder bem determinadas.”

Enfim, sobre os que criticam esforços de valorização local, ele diagnostica: “Os críticos, ao se afastarem do que eles consideram como provincianismo nacionalista, cultivam a ilusão de serem cosmopolitas, cidadãos do mundo. Diante da estreiteza da visão particular, afirma-se pretensamente um universalismo abstrato. No caso brasileiro, existe ainda a herança colonial, isto é, o fato de o país situar-se na periferia. […] A valorização do estrangeiro termina sendo um elemento de autoafirmação.”

Por sua vez, uma ficção científica consciente deveria abordar todas as faces da alteridade, as possibilidades de diferença em relação às estruturas dominantes ou hegemônicas. No debate em torno do Movimento Antropofágico da FCB, eu lancei uma metáfora para o que a nossa FC deveria propor: “Assim como o Brasil dos muitos biomas é detentor da maior biodiversidade do planeta, nossa literatura deveria refletir a mesma diversidade – a diversidade cultural do Brasil urbano e do rural, do Brasil que fabrica satélites artificiais e do que constrói casas de barro e sapé, do Brasil do Primeiro Mundo e do Paleolítico internado na selva” (in Os Melhores Contos Brasileiros de Ficção Científica: Fronteiras; 2010 ). Nesse sentido, Canclini também observa, que, “Assim como cada vez mais tende a aceitar-se a necessidade da diversidade biológica como condição para garantir o desenvolvimento conjunto da humanidade, a diversidade cultural e o reconhecimento das minorias começam a ser vistos como requisitos para que a globalização seja menos injusta e mais inclusiva.”

Um dos grandes problemas do movimento foi dar seqüência às idéias do manifesto de Regina, aprofundando-as, fornecendo exemplos positivos e oferecendo recomendações diretas. Regina insistia que seu manifesto era texto literário, talvez temendo que ele se descaracterizasse se fossem adotados desdobramentos ensaísticos ou acadêmicos. Talvez temesse uma interpretação prescritiva das suaãs posições, ou apenas se sentisse embaraçado se fosse preciso apontar posturas ingênuas dos seus pares. É difícil, por exemplo, chamar de outra coisa a oposição automática entre “regional” e “universal”, já que ela ignora um sem-número de complexidades a que Canclini e Ortiz se referem.

O que existe além do horizonte retórico do movimento, e que o limitaram gravemente, são de fato expressões bastante difíceis de dirigir aos nossos pares: ingenuidade literária, colonização cultural, alienação, submissão ao mercado, derivação, subserviência intelectual. Muitas delas foram atiradas contra mim ao longo de minha carreira, e posso atestar que deixam cicatrizes. Atualmente, Cesar Silva é a única personalidade da área que empunha impunemente esses chicotes, porém mais para fustigar o fandompropriamente, do que a autores individuais.

Mas o Movimento Antropofágico teria sido de algum modo prescritivo ou dogmático, em sua curta existência? Talvez eu tenha sido (em minha correspondência, especialmente), na minha própria ingenuidade e insegurança, mas o movimento como um todo foi bastante aberto. Em termos formais e de uma recuperação da herança modernista brasileira, foi a corrente tupinipunk da FC brasileira que realizou o projeto de Ivan Carlos Regina – e o fez remetendo-se diretamente a essa herança, sem tomar conhecimento do seu manifesto. São obras formalmente mais complexas e experimentais, como o romance Santa Clara Poltergeist (1991), de Fausto Fawcett, que Tavares cita como paradigma antropofágico.

Minha abordagem pessoal foi diferente (só estou me aproximando do tupinipunk agora), e encontrei meus próprios modelos, fora do movimento, do que seria interessante para a escrita de uma FC mais interessada da experiência brasileira – como histórias de Ivanir Calado e Gerson Lodi-Ribeiro. Em nenhum momento, porém, Ivan Carlos Regina veio me dizer que eu me afastava dos seus ideais, ou que meu caminho era equivocado.

Num sentido mais extremo, seria possível dizer que a afirmação dos ideais do movimento significariam uma ameaça para quem não os partilha? Se ele firmasse um paradigma, isso implicaria em julgar a totalidade da FC brasileira pela sua régua? Dificilmente. Os primeiros participantes do movimento têm sido cuidadosos em apontar interesse e valor literário num amplo espectro, e é impossível não reconhecer que muitos escritores podem contribuir fortemente para a evolução do gênero no Brasil, sem tocar diretamente na realidade ou na cultura brasileiras. Obras como Piscina Livre (1980), de André Carneiro, Do Outro Lado do Protocolo (1985), de Paulo de Sousa Ramos, ou O 31.º Peregrino (1993), de Rubens Teixeira Scavone, estão entre os melhores exemplos.

Além disso, parte da lógica subjacente ao movimento e sua denúncia da imitação de clichês (e da aceitação acrítica da ideologia que muitas vezes vem com eles) pressupõe uma consciência do lugardo qual falamos. E o lugar específico da FC no sistema literário brasileiro ainda é perfeitamente secundário e periférico. O lugar do movimento antropofágico dentro da FC brasileira é ainda maissecundário. Sua voz francamente miúda e minoritária não tem poder de realizar qualquer patrulhamento, mesmo que quisesse. Tudo o que faz é lançar breves conclamações e fornecer umas poucas metáforas que poderiam orientar uma abordagem, uma busca que venha substanciar a emersão daquela “verdade pessoal” de cada escritor, de que Braulio Tavares falava.

Essa voz recebeu um poderoso reforço com as novas opiniões de Tavares, mas não se tornou menos minoritária, como deixou claro a resposta a esta que foi claramente a segunda rodada do debate antropofágico.

Mas a resposta também deixou claro que nunca esse debate foi tão necessário. Individualmente, autores podem se isolar, mas as questões literárias são o sangue e a alma de uma literatura. No finalzinho de 2011, o Movimento Antropofágico da Ficção Científica Brasileira retornou para sugerir que ainda tem fôlego para ser uma questão viva, entre os autores da Terceira Onda.
>> O BULE – por Roberto de Sousa Causo

ROBERTO DE SOUSA CAUSO é autor dos livros de contos A Dança das Sombras (Caminho, 1999), A Sombra dos Homens (Devir, 2004), dos romances A Corrida do Rinoceronte (Devir, 2006) e Anjo de Dor (2009), e do estudo Ficção Científica, Fantasia e Horror no Brasil (Editora UFMG, 2003), que recebeu o Prêmio da Sociedade Brasileira de Arte Fantástica. Seus contos foram publicados em revistas e livros de dez países. Foi um dos três classificados do Prêmio Jerônymo Monteiro (1991), da Isaac Asimov Magazine, e no III Festival Universitário de Literatura, com a novela Terra Verde (2000); foi o ganhador do Projeto Nascente 11 (da USP e do Grupo Abril) em 2001 com O Par: Uma Novela Amazônica, publicada em 2008. Completando um trio de novelas de FC ambientadas na Amazônia, Selva Brasil foi lançado em 2010 pela Editora Draco. Causo escreveu sobre os seus gêneros de interesse para o Jornal da TardeFolha de S. Paulo e para a Gazeta Mercantil, para as revistas ExtrapolationScience Fiction StudiesCultCiência HojePalavra Dragão Brasil. Mantém coluna quinzenal sobre ficção científica e fantasia no Terra Magazine (http://terramagazine.terra.com.br), a revista eletrônica do Portal Terra. O jornal A Tarde disse sobre ele: “Roberto de Sousa Causo é um dos mais atuantes escritores brasileiros de FC, horror e fantasia.” Vive em São Paulo, com esposa e um filho.


“AMOR OCULTO”, DE LAURA ELIAS

segunda-feira | 9 | janeiro | 2012

Contar uma boa história em volta da fogueira é uma imagem idílica, até certo ponto mitológica, que não me abandona. Quem consegue, através de sua narrativa, fazer com que suas palavras permaneçam impressas atrás de minhas retinas desta maneira merece todo o meu respeito.

Ao ler Amor oculto (Mythos, 2011 – 126 páginas)esta é a impressão que tenho. Laura Elias domina as palavras, é uma contadora de histórias experiente, sabe jogar com o leitor, foi forjada na arte de escrever e se formou pela receptividade dos leitores. Deveria ser uma fórmula de sucesso. Mas o reconhecimento por aqui é difícil, a internet quebra barreiras, mas não diminui o abismo com o que vem de fora. O descaso com que nossos autores são tratados muitas vezes me deixa enojado.

Já escreveu mais de 30 livros, quase todos publicados, muitos deles de banca, sob pseudônimos Loreley McKenzie, Laura Brightfield, Suzy Stone, Elizabeth Carrol, Sophie H. Jones. Experiência não lhe falta. Depois de saber desta história através de uma comunidade, quis conhecer mais sobre a autora e trocamos algumas palavras e alguns emails, que me fizeram fã, por sua postura e ainda mais por sua imensa simpatia.

Partamos para o que realmente interessa – a narrativa desta escritora genial. Como todos podem observar gosto de ligar narrativas a imagens de outros livros ou de filmes para que possamos fazer inferências, para que tudo se torne um pouco mais claro a quem ainda não tem contato com alguns autores.

No caso de Laura Elias, não consegui fazê-lo. Seria isso então originalidade? Não diria isso, mas é difícil classificá-la.  Ela tem sua fórmula: mistério + paixão. Tem um público alvo, mas ainda assim consegue despertar em qualquer público o prazer da leitura. Muitos são os diálogos, que tornam o livro saboroso, pois eles são a alma de uma boa narrativa.

Antes do prólogo, uma espécie de prenúncio já dá o teor do que virá pelo livro:

A barreira da ética profissional dissolvia-se diante do que lhe era oferecido, diante do que ele tanto queria, diante da tentação que via em seus olhos, não mais serenos, mas ardentes como as fogueiras pagãs.

Pronto, já estamos fisgados, e o que vem depois é “hot” muito “hot”. O livro conta a história de Bervely Manson, escritora, que após matar sua personagem principal acaba matando sua inspiração. Resolve então acompanhar uma amiga a um antiquário e encontra lá um caderno cheio de histórias inacabadas. Ela decide terminar as histórias, sua inspiração renasce. Porém, há uma advertência feita pela antiga dona dos cadernos. Ela não dá nenhuma importância a ela. Daí coisas estranhas começam a acontecer, tudo o que escreve passa a acontecer. Seria uma maldição? Aha… não irei contar mais nada. O inexplicável geralmente nos perturba e o livro está repleto de coisas que irão se encaixar apenas no final.

“… como fugir da realidade quando ela se torna ainda mais bizarra que o sonho? Como fugir se nem mesmo dormindo havia paz? Se os fantasmas e demônios alheios passaram a habitar sua vida?

E não poderia deixar de colocar aqui alguns trechos para deixar a todos um pouco mais alvoroçados:

O desejo:

“… olhou para ela, ainda segurando-a pelos ombros. Sentia vontade de tocá-la, passar os dedos por aqueles mamilos que a blusa insinuava, beijar-lhe a delicada linha do queixo, os lábios sedentos, os olhos serenos… explorar aquela mulher com força, com carinho, com sofreguidão.

A sedução:

“… balançou lentamente a cabeça de um lado para o outro, a malícia dançando em seus olhos. Com um gesto rápido, ergueu-se e arrancou o vestido, expondo-se, despudorada, em sua calcinha negra, rendada, por onde os pelos loiros apareciam, qual tesouro guardado apenas para ele.”

O embate:

“Apalpou-lhe as formas e depois se deixou pesar em seu corpo, apenas para ouvi-la gemer. Sua voz penetrava-lhe os ouvidos e o deixava cada vez mais excitado.”

É claro que cortei os diálogos e as partes mais quentes. Portanto, podem correr! Leiam e me contem depois se Laura é ou não dona de uma imaginação fértil e diabólica. Estamos totalmente desarmados quando ela começa a contar suas histórias. E citando um trecho de seu próprio livro: Que segurança as armas poderiam oferecer contra a imaginação?
>> LITERATURA DE CABEÇA – por Rodolfo Euflazino


A DIVERSIDADE SEXUAL NA LITERATURA FANTÁSTICA

quinta-feira | 5 | janeiro | 2012

A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

Enquanto a mídia discute a temática da diversidade sexual à medida que os governos do mundo todo começam a adotar políticas que finalmente param de fechar os olhos a algo que já é realidade há muitos anos, observamos que a literatura começou a incluir personagens gays em suas histórias.

E, como não poderia deixar de ser, gostaria de focar na literatura fantástica, que, por natureza, é a que atinge os jovens e consegue chamar a atenção deles para os mais diversos assuntos, mesmo que de forma sutil. Li ultimamente livros de grande sucesso internacional (entre os best-sellers do The New York Times) que traziam personagens gays no núcleo protagonista.

A série Morada da Noite (House of Night, no original), de PC Cast e Kristin Cast, traz Damien como um dos melhores amigos da personagem principal, assim como a série Os Imortais, de Alison Nöel, traz Miles, também gay, no círculo das principais amizades da protagonista.

As duas séries tem muito em comum, já que surgiram na onda dos romances sobrenaturais, e Miles e Damien se parecem muito: são legais, adoráveis, e um tanto estereotipados.

No entanto, as histórias não são sobre eles. Os rapazes, nos livros em que aparecem, são apenas coadjuvantes, de cuja vida nem ficamos sabendo muito. Na verdade, salvo poucas palavras, e o papel que desempenham na vida da protagonista, poderiam sumir da história ou serem trocados por uma amiguinha, e não faria a menor diferença.

Isso é bom ou ruim?

Se a proposta é mostrar que os gays estão sendo incluídos, é péssimo, porque não os inclui. Por outro lado, podemos considerar que a inserção de um personagem homossexual acabou ficando tão natural que nem é preciso grande alarde para o fato. E, nesse caso, é um pouco hipócrita, porque a sociedade ainda teima em segregar essas pessoas como se fossem realmente diferentes de todo o resto – os normais, os héteros.

Um amigo meu uma vez escreveu em algum canto, talvez no Twitter, que não é que os gays queiram dominar o mundo. Eles simplesmente querem ter o direito de ler um livro ou ver um filme em que o foco da história seja um casal gay. E isso não precisa ser ofensivo para quem é hétero, porque há décadas e décadas todos leem e assistem o que está passando. Sempre a mocinha e o mocinho apaixonados passando por uma espécie de conflito e vivendo felizes para sempre depois.

JK Rowling revelou, fora do ambiente de Harry Potter, que o mago e mentor de Harry, Dumbledore, era gay e apaixonado por seu maior inimigo e antes melhor amigo, Grindenwald. Alguns falaram que a autora não quis revelar essa informação antes porque seria muito estranho os dois andarem juntos sendo que o velho diretor era gay. Pessoalmente, acho que nada foi mencionado no livro porque a informação não cabia no contexto da história.

É de extremo mau gosto a enxurrada de comentários sobre Dumbledore ser um pedófilo que se seguiu ao anúncio de Rowling. Isso só prova o quanto a sociedade continua preconceituosa, e os parcos progressos legislativos são hipócritas quando os comparamos às notícias de agressões.

A literatura sempre teve o papel de conversar conosco. Então, porque não permiti-la mostrar o que uma boa corrente da sociedade está tentando dizer há tempos? O óbvio: que os gays são simplesmente gays. Nada mais além disso. Que não há nada de errado, imoral ou qualquer outra coisa que as pessoas queiram pregar contra. Que a opção sexual de um indivíduo faz parte de sua identidade, e não há nada para ser ‘aceito’ ou ‘mal visto’.

Essa foi a premissa da coletânea A Fantástica Literatura Queer, publicada em dois volumes pela Tarja Editorial, pioneira no tema em solo brasileiro – mas também uma das primeiras a decidir tratar o tema da diversidade sexual dentro da literatura fantástica.

Li apenas o volume vermelho, por enquanto, e, de minha parte, posso dizer que li contos dos mais brilhantes em que já coloquei os olhos.
>> REVISTA FANTÁSTICA – por Carol Chiovatto


ESPECULANDO O RETROFUTURISMO DE 2012

terça-feira | 3 | janeiro | 2012

“Turning here, looking back in time”

logos sociais 2011 foi um ano dificílimo e complexo de ser apreendido por uma só ótica. Mobilizações e manifestações de cunho político, social, econômico, cultural, etc (ok, não é possível traçar linhas entre essas categorias ou tampouco delineá-las dados os embates de interesses cada vez maiores) através dos sites de redes sociais ganharam novos contornos e pautaram a mídia de referência (ou massiva ou mainstream, whatever). As guerras entre fandoms de gêneros musicais, bandas ou artistas; o ativismo político foi tudo trend topic. A rua e a tecnologia estiveram cada vez mais entrelaçadas através do fluxo de postagens e produção de conteúdos disponibilizados via celulares, tablets e dispositivos móveis em geral.

Ao contrário das previsões de alguns catastróficos, os blogs não morreram. Eles ganharam outras apropriações, voltadas a nichos cada vez mais específicos e se integraram à circulação e à re-circulação através de práticas como a da re-blogagem. Eis ai o excesso cognitivo e o destaque que o Tumblr ganhou nesse ano, sobretudo no que diz respeito à velocidade do humor e dos memes que “contagiaram” boa parte do que foi postado, sobretudo no Facebook e no Twitter. Curtir, retuitar, timeline, o vocabulário da computação social popularizou de tal forma que esteve presente nos mais diversos lugares como salões de beleza, almoços de família e discussões de bares. O excesso de conteúdo também nos deu momentos de estresse informacional por vezes divertidos e sociais  – como na cobertura de eventos como o Rock in Rio por exemplo – por vezes estúpidos em casos de racismo, homofobia, discriminação, etc. Tudo isso tem muito menos a ver com as plataformas e suas materialidades, mas com as misérias da humanidade. Contudo, O silêncio e a desconexão também são necessários.

Desde sempre visualizei o entrelaçamento dos ambientes, conteúdos, emoções, pessoas, mas em 2011 ficou tudo muito mais explícito com tantos aplicativos que congelam momentos da vida ou nos dão pistas e tracejados dos caminhos escolhidos. A instagramização da vida cotidiana; os amigos encontrados via geolocalização e a constante vigilância 4squareana do todos vêem, todos sabem; os angry birds da vida presencial nos atirando pedras a cada erro. A música e os videoclipes continuaram fluindo através do YouTube e seus comerciais insuportáveis; pelas nuvens cada vez mais populares do SoundCloud e o “modelão” de negócios do iTunes chegou ao final do ano no Brasil. A tensão entre o comércio,  as estratégias de marketing e as liberdades e anonimatos entraram em disputa várias vezes.

ABC

Em termos de cultura pop, 2011 apostou no revival, sobretudo tirando o mofo das camisas xadrezes e coturnos do grunge dos armários e guarda-roupas com os 20 anos de Nevermind, o retorno do Foo Fighters – com um álbum declaradamente nostálgico, Wasting Light – as referências em seriados (como Californication e outros) e filmes. O álbum tributo à Achtung Baby do U2 (1991) fechou um círculo de influenciáveis e influenciados com o Garbage do Butch Vig, o NIN de Trent Reznor e o eterno Depeche Mode (também produzido por Flood em Violator, outro grande álbum noventista).O dubstep virou pop e deu vida aos remixes de Justin Biber a Katy Perry, e o witch-house assombrou a música eletrônica.

A fantasia, ainda bem, retornou em grande estilo ao horário nobre da televisão com Game of Thrones sendo disparado o melhor seriado do ano (na minha opinião, claro). O horror e a bizarrice neo-gótica da América do Norte também teve seu espaço com American Horror Story oscilando entre o riso nervoso e o surrealismo fetichista. O retrô das mais variadas épocas deu a tônica em muitos momentos de 2011. Nunca se falou tanto nas redes  sobre as mais diversas épocas: o neovitorianismo steampunk; o fantástico medieval; os anos 90 nas festas e produções musicais. Até a realeza britância deu os ares de sua graça transformando novamente o ritual de um casamento real em um espetáculo global televisionado ao vivo, tuitado, blogado, etc. A curadoria de informações é um instrumento metodológico cada vez mais relevante, vejam só.

Não tenho bola de cristal, sou apenas uma pesquisadora das culturas emergentes, embora tenha os dons “cayce pollardianos de mediunidade semiótica coolhunting das ruas” (Fabio Fernandes All Rights Reserved). Especulo a partir de todo esse Zeitgeist – no sentido da especulação utilizado pela ficção-científica – que esse iníciozinho dos anos 10 (que começa com mais força agora em 2012) vai ser muito pautado por essa ambivalência experimental de sensações de tempo e espaço. Ainda estamos nos acostumando, enquanto sociedade, a nos apropriar dos meios, a nos estender tecno-social e materialmente pelos territórios, a compreender nossos corpos, desejos, sentimentos e pensamentos dentro desse contexto (re)mediado full-time, o que não é nada fácil, dai o apelo tão forte da nostalgia na construção de um futuro em constante conexão. E é nesse ponto que uma (an)arqueologia midiática se torna tão rica para observamos o presente e vislumbres do futuro dos artefatos e suas trajetórias narrativas, que contam cada um do seu jeito, nossas histórias/estórias.

Nesse sentido, desejo um 2012 repleto de narrativas, de grandes conquistas, de prazeres diários. “Celebrate the life and times of splendor” diz o VNV Nation em Space & Time, uma das melhores faixas de Automatic (2011), não por acaso um álbum conceitual acerca das tecnologias e estéticas dos anos 30, retrô-futurismo indicando até mesmo minha última songpost do ano. Em 2012, mais Victories Not Vengeances!
>> AS PALAVRAS E AS COISAS – por Adriana Amaral

Space & Time

VNV Nation

Tear apart the life and times of familiar faces
And tracing lines to what connects me and binds me to
Images of the remote and never-changing
Grand designs, style and grace
And am i

Lost in thoughts on open seas
Let the currents carry me
If i could would i remain
Another life or another dream

No turning back, face the fact
I am lost in space and time
Turning here, looking back in time

One and all let us celebrate the rise and fall
Celebrate the life and times of splendor
Desire and love constant and never-changing
The flow of times, closed in lines
Can’t tell if i’m just

Lost in thoughts on open seas
Let the currents carry me
If i could would i remain
Another life or another dream

No turning back, face the fact
I am lost in space and time
Turning here, looking back in time


LITERATURA FANTÁSTICA BRASILEIRA

terça-feira | 3 | janeiro | 2012

Vector light renderSe aquilo que escrevemos é oriundo do imaginário, o fantástico é fruto dos sonhos. Isso coloca a literatura fantástica brasileira como tendo uma gênese semionírica tinta de verde e amarelo.

Seria querer fechar os olhos a quem nos traz um legado tão importante dizer que o gênero fantástico no Brasil é algo que nasceu nas últimas décadas. Lembro-me de quando li Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, ainda na adolescência: ignorar que seja literatura fantástica (chamar de quê? realismo criativo? histórias pseudorreais sanguinolentas? ultra-romantismo?) é querer negar que em 1855 um brasileiro, mesmo que postumamente, teve sua narrativa fantástica publicada.

Não podemos querer usar eufemismos aqui, como bem aponta Nilto Maciel, na revista de contos Bestiário: não se trata do maravilhoso, do sobrenatural aceito, do hiperbólico, exótico ou mesmo estranho ou grotesco. Existe alguma razão prática para se negar que se produz literatura fantástica no Brasil? Por ser uma literatura de entretenimento deve-se colocá-la num patamar menor, como se fosse uma pequena arte? – isso se for considerada arte…

Temos, sim, autores de literatura fantástica. Escrevemos histórias maravilhosas e exóticas e estranhas e até mesmo grotescas, mas tudo isso é apenas a manifestação do fantástico. Seja carregado de simbolismo ou tão direto quanto o autor deseje, é assim que se produz a literatura fantástica brasileira.

É claro que há expoentes lá fora: Tolkien, Martin, Rowling, Poe, Le Guin… Mas não ofusquemos nossos olhos ao ver o brilho que trazem sem ousarmos conhecer o quão brilhantes são nossos autores. Temos obras tão profundas, e tão divertidas, quanto as que são traduzidas… Muitas delas na estante da livraria próxima da sua casa ou apenas a um clique de distância em lojas virtuais. Mas existem barreiras para se conhecer tais livros?

Ainda existem. Às vezes parece que o que se escreve em território nacional não é visto com bons olhos. Dizem que é problema de preconceito… Eu, contudo, acredito que seja apenas falta de divulgação.

Como já disse em outros momentos, se o leitor não sabe que a obra está à venda, é como se ela não tivesse sido escrita: ninguém lê o que não sabe que existe. Felizmente existem iniciativas como o Fantasticon que primam pela divulgação e fortalecimento da literatura fantástica brasileira. É uma estrada longa a ser percorrida, mas já estamos dando os primeiros passos.

Para que ajudemos esse gênero fantástico que tanto amamos a crescer, basta quatro simples passos, que consolido como princípio EDEN (afinal, o Paraíso é também um lugar fantástico, não?):

  • Escrever
  • Divulgar
  • Enfrentar
  • Nobilitar

Os autores nacionais de literatura fantástica devem Escrever sempre, aprimorando suas técnicas de narrativa, buscando inspiração e colocando no papel o melhor que puderem. É preciso ter obras de qualidade para que se busque o reconhecimento (que vem, naturalmente, com o tempo).

Leitores, autores e editores devem Divulgar a literatura fantástica brasileira. Gosta de um livro? Faça uma resenha, recomende para um amigo… Ou melhor: dê livros de presente. Editores que apoiam seus autores e buscam estar presente em eventos literários também são ferramentas inestimáveis.

Fundamentalmente, é preciso Enfrentar as barreiras do preconceito. Assumindo que a literatura fantástica seja divulgada (ver princípio acima), uma das coisas que pode impedir a leitura é o preconceito de ver o nome de um autor nacional na capa. Ajude as pessoas a formar conceitos, deixando de lado quaisquer ideias preestabelecidas.

E, por fim, é preciso Nobilitar a literatura fantástica brasileira. Nobilitar significa tanto enobrecer como celebrar, e devemos tanto fazer dessa arte algo nobre (e, portanto, respeitada) como também devemos comemorar as vitórias que conseguimos no dia a dia. Cada leitor novo que reconhece o valor das narrativas fantásticas, cada livro publicado, cada manuscrito pronto… Tudo isso representa um grandioso avanço para todos nós.

Sonhemos. E realizemos. Só assim conseguiremos uma realidade fantástica onde nossas histórias terão excelso valor.
>> LETRA IMPRESSA – por Marcelo Paschoalin


CRESCE NÚMERO DE ESCRITORES BRASILEIROS QUE TRABALHAM O MEDO EM SEUS LIVROS

domingo | 1 | janeiro | 2012

 (Arquivo Pessoal)

O escritor André Vianco é um dos autores de Literatura Fantástica mais vendidos do Brasil

O medo é o objetivo. E o limite entre o terror e a tranquilidade faz a diferença na hora de atrair leitores jovens. A literatura de terror produzida por autores contemporâneos brasileiros não tem contornos definidos e muito menos a pretensão de criar qualquer tradição de gênero, mas cresce, revela nomes e envereda por caminhos ainda muito ancorados nas referências de língua inglesa. O terror brasileiro herdou as criaturas e fantasmas geradas no Hemisfério Norte. Em alguns casos, incorporou pimenta própria com cores locais. Há seres saídos das lendas brasileiras diretamente para a tramas protagonizadas por vampiros e almas penadas. Ou então cenários favoráveis com especificidades urbanas que atendem os requisitos para se equiparar às metrópoles melancólicas típicas de certas histórias. Mas tradição, não há.

Na análise do paulistano André Vianco, 36 anos, o cenário mudou muito desde o ano 2000. “Há 10 anos, as editoras eram bastante reticentes quanto a receber fantasia e terror por parte dos autores nacionais, mas eu sabia que tinha esse público, gente que queria ler uma literatura de terror que não fosse infantil e escrita por brasileiros.” Vampiros foram os primeiros parceiros do escritor na empreitada que rendeu mais de 13 livros, a maioria publicada pela Novo Século. No mais recente, O caso Laura, lançado pela Rocco, as criaturas ficaram de fora e o terror se voltou para um suspense mais humano.

Vianco também gosta de inserir, nas narrativas, algumas referências brasileiras, como o Curupira e outras criaturas lendárias. Alimentado pelo cinema, ele prefere se concentrar no conteúdo e deixar a forma de lado. “Cresci assistindo muita coisa na tevê, lendo quadrinhos, jogando videogame e os autores contemporâneos vão se apropriando disso tudo. É claro que há aqueles que gostam mais da literatura clássica de terror. No meu caso, dou mais valor à história e não a como ela vai ser apresentada. A gente vive disputando atenção do leitor com playstation, internet, seriado na tevê e isso também traduz nossa linguagem.”

O leitor jovem é maioria nas apresentações e eventos dos quais Vianco participa, mas ele garante também conversar com vovós, mães e pais que acompanham a prole na leitura. É o mesmo público visado por Douglas MCT e Ademir Pascale, nomes do topo da lista de livros de terror da Draco, editora especializada em fantasia e ficção científica. Roteirista de games, Douglas publicou o primeiro romance no ano passado. Necrópolis — A fronteira das almas traz a saga da alma perdida de um garotinho que precisa ser resgatada pelo irmão mais velho. É o primeiro de uma série de três e o segundo está previsto para 2012. Nascido no interior de São Paulo, Douglas, 28 anos, confessa ter explorado temores pessoais para escrever a história.

Fã de Stephen King e Guillermo del Toro, ele levou para o livro a mescla de bizarro, horror épico e terror psicológico comum nas narrativas desses autores. “O público são jovens pós-Restart e adultos, ainda que adolescentes mais novos tenham se interessado também, como apontam as estatísticas da rede social livreira Skoob. Mas gosto de dizer que o público é aquele que busca um frescor em tramas de fantasia e terror. Daqueles que gostam de sentir medo por meio de uma mídia”, garante. Ademir Pascale, autor de O desejo de Lilith, acrescenta à fórmula algumas mensagens de superação. Para o paulistano de 35 anos, o medo contido na trama de terror só é justificável se conduzir a uma espécie de “lição”.

Fórmula do medo

 “Numa história de Terror
não pode faltar a imersão: levar
quem lê para a profundeza, na
qual ele possa sentir na pele
a possibilidade daquilo, temer
junto do personagem e morrer
junto dele, se possível”, 


Douglas MCT, autor de Necrópolis —
A fronteira das almas 


“Tem que ter aproximação com o leitor, colocar o leitor juntinho com as personagens que estão encenando a história e essa proximidade vai dar toda a atmosfera. Por mais fantasiosa que seja a premissa do romance, (o autor tem que) fazer o leitor acreditar naquilo “, 

André Vianco,
autor de O caso Laura 

“Gosto do terror abstrato.
É o terror que tá dentro da pessoa.
É uma pessoa que acorda de
noite com síndrome do
pânico e começa a ver coisas onde não
existe, esse é o terror realmente bom,
que me dá medo”, 


Heloísa Seixas, autora de O pente de Vênus — Histórias do amor assombrado

>> CORREIO BRAZILIENSE – por Nahima Maciel


“GARRA CINZENTA”: A PRIMEIRA HISTÓRIA EM QUADRINHOS DE TERROR DO BRASIL ESTÁ DE VOLTA

sexta-feira | 3 | junho | 2011

Garra cinzenta Ampliada

Se parar para pensar que em 1937 heróis comoBatman e Super-Homem ainda não existiam e que a Marvel nem havia sido fundada, o surgimento deGarra Cinzenta neste ano é nada menos que revolucionário.  Publicada pela primeira vez no jornal paulista A Gazeta, a obra é tida por muitos como a primeira HQ de terror do Brasil, já que traz no personagem-título um vilão insano e maquiavélico com face sinistra semelhante a uma caveira. Considerada uma das obras mais cultuadas, discutidas e pouco conhecidas da história dos quadrinhos no país, de acordo com vários estudiosos Garra Cinzenta  teria influenciado diversas HQs italianas e até a própria Marvel Comics, criada dois anos depois, através de sua exportação para países como México, França e Bélgica, onde fez grande sucesso.

Além do interesse despertado por seu conteúdo – roteiros baseados em filmes norte-americanos e desenhos inspirados no gênero noir -, a lendária história em quadrinhos têm diversos outros pontos intrigantes. Um deles é a identidade de seu autor, que até 2008 se acreditava ser de um jornalista chamado Francisco Armond, mas que na verdade se tratava do pseudônimo de Helena Ferraz de Abreu, diretora da Livraria Civilização e dos jornais Gazeta de São Paulo e Correio Universal. Livro com valor de documento histórico não apenas para os quadrinhos mas para a reconstrução do passado brasileiro, Garra Cinzenta ganha merecida edicação de luxo pela Conrad, já disponível no site da editora por R$ 39,90.
>> OS ARMÊNIOS – por Fone Bone


LITERATURA FANTÁSTICA: A HORA DO ESPANTO

segunda-feira | 23 | maio | 2011

Autores gaúchos tentam, na raça,
popularizar a literatura fantástica no Estado

Eles não têm medo de assombrações. E, se for o caso, não hesitam em escrever sobre elas – ou sobre vampiros, bruxas, ETs e até entidades do folclore campeiro

São os exemplares heroicos mas cada vez mais numerosos de uma geração de escritores que quer quebrar o preconceito contra a literatura de gênero produzida no Estado. Uma turma – porque não são um movimento – interessada não apenas em ser uma “cena”, mas em chegar ao público.

Depois que Harry Potter e a saga Crepúsculo ampliaram ao longo da última década e meia o alcance da literatura fantástica para milhões, esse tipo de narrativa se popularizou também no Brasil – chamando atenção mesmo para autores que já estavam por aí bem antes, como o paulista André Vianco, campeão nacional de vendas com histórias de vampiro anos antes da saga Crepúsculo.

– Para surgirem publicações de fantasia, é preciso uma geração de editores que cresceram lendo fantasia. Cada geração tem potencial para formar a próxima, ainda maior. A fantasia épica chegou mais tarde ao Brasil. Surgiram umas poucas editoras nos anos 80 e 90, que fomentaram as editoras novas que estão agora publicando as suas próprias obras. Imagino que a geração Harry Potter vá aumentar ainda mais este fenômeno – diz Christopher Kastensmidt, americano residente em Porto Alegre e conhecedor de ambos os mercados, o de lá e o daqui.

No Rio Grande do Sul, os últimos anos viram surgir antologias voltadas para a literatura de gênero. A série Ficção de Polpa, da Não Editora, organizada por Samir Machado de Machado e já em seu quarto número, é uma delas. As Sagas, da Editora Argonautas, fundada pelos também escritores Cesar Alcázar e Duda Falcão, estão no segundo volume. Ambas apresentam contos de autores locais e nacionais, oferecendo um panorama abrangente da ficção de gênero no Brasil. São experiências que podem ajudar a quebrar a grande barreira entre os autores e o público – erguida principalmente pelos problemas de distribuição e edição do mercado literário tradicional.

– As novas editoras usam a inteligência para ocupar o vácuo deixado pelas grandes. São espaços que outrora foram ocupados por escritores famosos que vendiam muito literatura fantástica, como Cortázar ou Borges. Na ausência de novos grandes, as editoras acabam se contentando com relançamentos. É aí que entram as pequenas, lançando autores menos conhecidos, com contos inéditos para alimentar os apreciadores de novidades do gênero – diz Cleo de Oliveira, autor de Descontágio (Scortecci Editora) – livro em que alguns contos se valem de recursos do fantástico.

As vertentes da fantasia no Estado vão desde jovens escritores que criam histórias usando os temas recorrentes na atual ficção internacional de gênero, como vampiros, seres imortais ou anjos, a autores que aproveitam a realidade nacional e os temas de seu folclore para criar sua narrativa. Kastensmidt foi recentemente indicado ao Nebula, um dos prêmios internacionais mais importantes dedicados à literatura fantástica, narrando o encontro de um aventureiro holandês com o Saci-Pererê no Brasil do século 17. Outra autora que se utiliza da matriz local para contar suas histórias é Simone Saueressig, nascida em Campo Bom mas residente hoje em Novo Hamburgo. Seu recentemente lançado Aurum Domini: o Ouro nas Missões (Artes & Ofícios), é uma aventura histórica passada no século 19 que explora a lendária fortuna em ouro supostamente guardada pelos jesuítas nas missões.

– Tenho confiança no valor do nosso material próprio, nosso folclore, nossa história. Nossas lendas são um material tão rico quanto qualquer outro para se fazer literatura. Sempre tenho aquela noção de que um livro estrangeiro vem cheio das noções de moral, de honra, de postura política do país ou do segmento em que ele foi escrito. Então creio que nós autores nacionais temos de apresentar nossa visão, também, como espécie de resposta – diz Simone.

Rede macabra
Internet concentra os debates e populariza a literatura fantástica
Dois fenômenos formam o eixo da literatura fantástica produzida no Estado: o uso da internet como ferramenta de divulgação e um bom número de trabalhos produzidos por autores do Interior. Ambos estão relacionados: com a rede, quem produz fora da Capital ganha leitores e se sente encorajada a continuar produzindo.

Muitas das publicações de e sobre literatura fantástica no Estado estão na internet. Uma das mais conhecidas revistas virtuais sobre o gênero é a Fantástica, editada por um escritor que trabalha em Porto Alegre e mora em Sapucaia: Luiz Ehlers, 30 anos. A Fantástica traz resenhas, ensaios e reportagens com foco na ficção produzida exclusivamente no Brasil, de sucessos como André Vianco, Eduardo Spohr (A Batalha do Apocalipse) e Rafael Caldela (gaúcho autor da série Tormenta, da editora Jambô), até jovens cuja repercussão ainda se dá principalmente no universo online. Conta, também, com articulistas de todo o Brasil.

– Muitos colaboradores ficaram surpresos quando a revista surgiu, acharam estranho que uma iniciativa dessas fosse editada aqui em vez de em São Paulo, por exemplo – diz Ehlers, engenheiro-químico de formação mas escritor fantástico por opção.

A Fantástica é um dos elementos mais visíveis de um fenômeno com a marca da web: a proliferação de fóruns, revistas, portais e blogs que servem como espaço de crítica e reflexão sobre a literatura de gênero à margem da grande imprensa. Feitos na base da paixão comum, muitos desses sites angariam colaboradores de todo Brasil e são mantidos por gente jovem disposta a compartilhar suas leituras. É o caso do Sobre Livros, blog editado desde 2009 por dois jovens da cidade de Encantado: os gêmeos Tiago e Rafael Casanova, 22 anos. O blog tem parcerias com editoras e funciona como um portal do cenário nacional da ficção de fantasia – no espírito “faça você mesmo” que caracteriza a geração das redes sociais:

– Planejávamos criar uma rede social literária e constatamos que não havia muitos sites voltados apenas para literatura de gênero no país. Nenhum dos poucos sites encontrados preenchia os requisitos pensados por nós, decidimos criar o Sobre Livros, para tentar conseguir e propagar essas informações – dizem ambos, em entrevista por e-mail.

A rede também tem servido para publicar – há um bom número de obras publicadas diretamente na internet. Vencedor do Fumproarte para um financiamento do seu primeiro livro, a fantasia infanto-juvenil O Rei e O Camaleão, Christian David, 38 anos, publicou recentemente uma antologia online e gratuita de ficção fantástica local: O Mal Bate à sua Porta.

– O potencial da internet ainda engatinha na literatura. A parceria com os blogs é interessante, porque eles fazem um trabalho de divulgação muito joia que dá visibilidade ao autor. No portal Skoob 50 leitores resenharam meu primeiro livro, espontaneamente – diz David.
>> ZERO HORA – por Carlos André Moreira


INDICAÇÕES FANTÁSTICAS: “CYBER BRASILIANA”, DE RICHARD DIEGUES, ESTREIA NOVO PROGRAMA

segunda-feira | 23 | maio | 2011

A escritora Carol Chiovatto colocou no ar na Revista Fantástica sua nova coluna: INDICAÇÕES FANTÁSTICAS.

Trata-se de um projeto que pretende indicar livros em forma de resenha/entrevista em vídeo com os autores dos livros.

Os vídeos terão periodicidade quinzenal, alternando com textos.

Indicações Fantásticas 01


6º CINEFANTASY – HORROR, FICÇÃO CIENTÍFICA E FANTASIA

segunda-feira | 25 | abril | 2011


“OS SETE SELOS”, DE LUIZA SALAZAR

segunda-feira | 18 | abril | 2011
Sinopse: Lara Carver é uma jovem de 21 anos que trabalha para a Agência, um local especializado em estudar, localizar e conter fenômenos paranormais. Um evento inesperado tira Lara do conforto da Agência em Londres e a leva para Paris, onde ela descobre que uma força muito além de qualquer coisa que a Agência já enfrentou assolou a cidade à procura de um artefato milenar. Lara precisa se unir a um velho amigo e ex-agente, Jason e a um demônio, Lucius, inimigo declarado de Lara desde sua infância, para descobrir quem está atrás do artefato e porque ele é tão importante. No entanto, a jornada de Lara vai lhe mostrar coisas que ela jamais esperava sobre perigo, amor, amizade e acima de tudo, sobre os estranhos e poderosos segredos do seu próprio passado.

Ontem terminei de ler o livro Os Sete Selos, o que podeia dizer deste livro?Surpreendente.

O livro conta a história de Lara Carver, ela trabalha para a “Agência” uma instituição especializada em fenômenos paranormais.

Lara é chamada para resolver um caso de ataque a um Bispo que trabalhava para a Agência, chegando na Igreja em que o Bispo foi morto Lara fica sabendo que quem matou o Bispo foi o Anjo Gabriel, o maior de todos os Anjos.

Gabriel e Lúcifer como todos sabem queriam acabar com a humanidade, porém Gabriel acabou desistindo do plano e “traindo” Lúcifer.

Lara é designada a resolver este caso porém terá que “aguentar” a presença de Lucius, o demônio que anos antes assassinou o pai de Lara e agora vai ajudar na investigação.

Com a condição de levar Jason, um antigo amigo e agente, Lara concorda em trabalhar com Lucius. A partir desde momento a história começa a ganhar vida.

Achei que a história fosse ser de uma menina que se apaixonaria pelo Anjo e pelo Demônio, que ficaria mais focado no romance ou em Lara. Ai que me enganei, o livro conta a história de uma Guerra travada desde os confins da Terra, pelo poder, a ganância de dois Anjos que são tão parecidos e se dizem tão diferentes um do outro.

Os Sete Selos conta com Gárgulas, espectros, armas de última geração, romance, traição e os principais valores da humanidade, Amor e Amizade.

O livro tem vários cenários, isso é que é o mais legal. Lara viaja por vários países, e várias dimensões. Indo do mundo dos mortos até o paraíso.

No meio da história acaba entrando para o grupo Roseanne, uma amiga de Jason que vai ajudar a desvendar os mistérios da busca pelo Objeto que Gabriel tanto deseja para exterminar a humanidade.

Os Sete Selos é um livro sobre anjos e demônios, a luta do bem e do mal em seus mais variados pontos de vista. Nem sempre os Anjos são Anjos como deveriam ser.

Para quem quer ler este livro, prepare-se pois você vai encontrar aventura do começo ao fim do livro.

O livro superou as minhas expectativas, pois a história acabou sendo totalmente diferente do que eu achava que fosse ser.

super recomendo e espero que o livro tenha continuação, pois Luiza autora do livro deixa abertura para novas histórias e aventuras, talvez com a Lara, mais de outros personagens.

Espero que tenham gostado da resenha, tentei falar um pouco do livro sem contar muito a história. Eu Adorei Os Sete Selos. Adorei os personagens e consegui montar na minha cabeça todas as passagens do livro. Sempre gostei de mitologia Grega e Religião, então pra mim Os Setes Selos foi um “prato cheio”.
>> MEU LIVRO ROSA PINK – por A Leitora


A ESTÉTICA DO COMO PUDE ACREDITAR?

domingo | 17 | abril | 2011

Por que motivo os personagens dos folhetins e telenovelas são tão crédulos? Uma resposta cínica nos diz que se não o fossem não haveria história a ser contada, porque histórias dessa natureza requerem que certas mentiras sejam acreditadas durante cem capítulos, para serem desmascaradas no derradeiro. A credulidade, no entanto, nem sempre é sinônimo de ingenuidade. Nem todo personagem acredita por ser ingênuo, embora qualquer folhetim que se preze necessite de um bom contingente de pessoas ingênuas, pessoas de coração puro e mente passiva, daquelas que adoram cair numa conversa bonita.

Acontece que um vilão de folhetim não é apenas um sujeito mau e sem escrúpulos. Vilão bom é aquele em quem pressentimos uma inteligência superior. Um vilão meramente truculento e maldoso é uma peça desconfortável do enredo, é um caroço indigesto que precisa ser extirpado pelo herói. Muitos vilões da pulp fiction são assim. Mas gostamos quando percebemos que o vilão, além de canalha e sem escrúpulos, é também inteligente, perceptivo, tem conhecimento sutil das fraquezas humanas, tem jogo de cintura, tem senso de humor. São qualidades que de certo modo temos esperança de possuir; e o vilão deixa de ser apenas um obstáculo para ser também, provocantemente, um modelo. Ao invés de incômodo, é sedutor.

Se nós, leitores, somos vulneráveis aos encantos e aos argumentos de um tal vilão, qual não será a sorte de um pobre personagem? Acreditam, sim, deixam-se embair pelo papo-de-derrubar-avião do nosso Fantomas ou Fu-Man-Chu. Às vezes esses personagens intermediários chegam de arma em punho ao reduto do Senhor do Crime, prontos a livrar a humanidade daquela presença pestilencial; mas basta que o Anjo da Treva erga a mão e peça dois minutos de atenção para que tudo esteja perdido. O vingador acreditará, e isto é mais pungente ainda quando nós, leitores, percorremos aqueles parágrafos e pensamos cá conosco: “Ih, rapaz… pois não é que, de certa forma, sob um certo ponto de vista, ele tem mesmo razão?!”

Os personagens acreditam, e num piscar de olhos estão desarmados, manietados e jogados num calabouço. Ou, melhor ainda, estão livres e de volta ao mundo, só que com o ponto-de-vista reformatado. Olham o Herói com uma desconfiança sombria, porque agora estão sabendo das suas intenções turvas, dos seus propósitos inconfessáveis. Tudo que pensavam antes foi modificado por aquela meia hora de conversa. De agora em diante, perseguirão o Herói, sabotarão suas iniciativas, trabalharão dia e noite para derrotá-lo ou pelo menos para estorvar seus passos. Cheios de intenções nobres, farão o possível para ajustar sua conduta àquelas poucas mas terríveis verdades que o vilão, com ar compungido e falando quase que a contragosto, lhes revelou. Até que, no desfecho, quando o Herói derrotar o vilão e, enfim, toda a terrível verdade for mesmo revelada, exclamarão, com um sobressalto de horror: “Como pude acreditar?!”.
>> MUNDO FANTASMO – por Bráulio Tavares


LITERATURA E GAMES: PARCERIA CADA VEZ MAIOR

sábado | 2 | abril | 2011

Para acadêmicos e críticos mais conservadores, trata-se, certamente, de uma parceria inesperada. De um lado, a literatura, expressão tida como difícil, associada em geral às esferas da alta cultura; do outro, o videogame, visto por muitos como um mero produto industrial baseado na diversão frívola e na violência gratuita. Pois não é que as duas linguagens, aparentemente tão distantes entre si, andaram criando laços fortes nos últimos anos?

Se no exterior jornais e revistas já dedicam longos e elaborados artigos que legitimam os jogos eletrônicos como arte, no Brasil partiram dos escritores as mais consistentes tentativas de diálogo entre os games e as demais formas de expressão. São, em sua maior parte, autores nascidos e criados na era do Atari, do Sega e dos computadores domésticos, e que hoje tentam, de alguma forma, absorver e projetar em seus escritos as experiências vividas em frente às telas. Nessas obras, o universo dos games pode aparecer em uma referência superficial ou explícita, como nos romances Mãos de cavalo (Companhia das Letras, 2006), de Daniel Galera, ou Nerdquest (7Letras, 2008), de Pedro Vieira. Mas a relação também pode ir além, fazendo com que a própria linguagem narrativa dos games(sim, afinal, eles contam uma história) influencie diretamente a obra literária.

É o caso da carioca Simone Campos. Celebrada aos 17 anos por seu primeiro romance – No shopping (7Letras,2000), a jovem autora está terminando de escrever Owned!, livro-jogo interativo em que se pode escolher a própria aventura, exatamente como em um videogame. O leitor, no caso, assume o controle de um personagem – André, um técnico de informática viciado em games que vai tentar conquistar pelo menos uma dentre sete garotas. Basta clicar em uma das opções no final de cada trecho de história, dando rumo à vida do herói. Dependendo das suas escolhas, é possível salvar o jogo e ler/jogar quantas vezes quiser.

“Quando veio a ideia, tive um pouco de medo de parecer invencionice barata, mas percebi que certas coisas só podiam ser ditas usando esse formato e comecei a trabalhar nele”, conta Simone. Exemplo típico de uma geração educada tanto pelos games quanto pela literatura, Simone foi estimulada desde cedo a entrelaçar os dois universos. Aos 7 anos, quando seu pai adquiriu o primeiro XT, aprendeu a processar texto e a jogar. Sua escola também tinha a mente aberta: sentava os alunos na frente de computadores com a vaga desculpa de aprender inglês ou ensaiar rudimentos de programação.

“Eu sabia que queria ser escritora desde criança”, conta ela. “Eu era séria, muito séria. E tinha padrões. Sempre li muito. De repente, no meio da adolescência, passei uns três anos quase sem ler, só jogando. Tem um limbo entre livros inteligentes de criança e livros inteligentes de adulto que eu só consegui preencher jogando videogames de todo tipo, todo dia, por horas e horas a fio. Diria que nessa época comecei a usar os videogames para suprir (ou gastar) aquela pulsão destruidora que, dizem, é o lado B da criação. No fim desse período, no 2º e no 3º ano do ensino médio, voltei a ler e a escrever, mas sem parar de jogar. Foi quando saiu No shopping, meu primeiro livro.”

Simone já fizera outras tabelinhas com o mundo dos games – tem conto, Campo minado, e romance, A feia noite (7Letras, 2006) repleto de referências a ele. Mas Owned! é um mergulho muito mais radical na experimentação, já que é o primeiro a colocar o formato de um jogo eletrônico no centro da própria narrativa. O conceito inovador está reservando grandes surpresas no processo de escrita.

“É um formato que oferece uma dimensão bem interessante de identidade: se você é moldado pelas suas escolhas ou tem um Destino com D maiúsculo”, explica Simone. “Tive, por exemplo, que produzir trechos-curinga, que se encaixassem em mais de uma situação. A negociação de informações novas ao leitor é difícil, tenho que medir muito bem o que vou dar a cada momento; e brinco com isso. Preparo ciladas; às vezes, falsas ciladas. Como há vários finais, escondo informações a respeito de um final no caminho para outro final. É uma forma de obrigar, ou de condicionar, o leitor a jogar mais de uma vez o jogo – se possível, a exaurir os caminhos oferecidos. Despertar uma sede de saber mais.”

Gamer inveterado, o gaúcho Antônio Xerxenesky também estabeleceu uma relação frutífera com os jogos. A premissa de seu primeiro romance, Areia nos dentes (Não Editora, 2008, 1. ed.; Rocco, 2010, 2. ed.), uma espécie de faroeste com zumbis, veio do survival horror Alone in the dark 3, terceiroopusde uma série de games que viraram mania nos anos 1990 – e ela própria inspirada em um conto do autor de ficção-científica britânico H. P. Lovecraft.

“Joguei o primeiro Alone in the dark aos 10 anos, e o jogo literalmente me tirou o sono”, recorda Xerxenesky. “Como sou um gamer nostálgico, lá pelos 20 e poucos anos revisitei a série. O terceiro jogo me chamou a atenção por ser uma mescla completamente absurda de elementos que eu adorava no cinema – o faroeste e o terror. Caubóis zumbis, rituais xamânicos, o jogo tem de tudo. É um verdadeiro caos. E essa redescoberta do jogo plantou um desafio na minha cabeça: como seria possível escrever, nos dias de hoje, no Brasil, um faroeste com zumbis? Como fazer desse livro algo além de uma bobagem trash? Como, a partir desse cenário fantástico, criar uma narrativa de impacto emocional?”

Para um novo grupo de escritores, a força de um game pode causar tanto impacto no imaginário quanto o acorde de uma música, a cena de um filme ou o verso de um poema. Colega de Xerxenesky na Não Editora, Samir Machado de Machado escreveu um capítulo inteiro de sua novela O professor de botânica (Não Editora, 2008)  sob a forte influência de uma das fases de Metal gear solid 3.

“Indiretamente, o impacto que a enxurrada de referências pós-modernas indiretas de um jogo como Fallout 2 me provocou só teve paralelos comigo quando li Thomas Pynchon pela primeira vez”, compara Machado. “Em termos narrativos, uma coisa que costumo dizer é que jogos de mundo aberto como FalloutAssassins creed ou Red dead redemption me dão uma sensação de ser e estar num espaço físico ou contexto histórico que, para um escritor, são tão valiosas quanto uma pesquisa.”

Incorporados no cotidiano, os games já fazem parte da cultura. Por isso, o escritor que quiser retratar com fidelidade o período em que vive encontrará na relação dos jovens com os jogos digitais um contexto fascinante. Em uma cena de  Mãos de cavalobildungsroman (romance de formação) contemporâneo do escritor Daniel Galera, três amigos jogam Stunts, jogo emblemático que permite disputar corridas de carros em pistas delirantes, repletas de loops, ziguezagues e circuitos em forma de saca-rolhas. A citação não era gratuita: símbolo no imaginário de uma geração, a disputa eletrônica funcionava, na cena, como simulacro dos rumos que a amizade dos três amigos iria tomar. Elemento marcante na vida dos personagens, ogameé usado por Galera como uma tradução preciosa de seus estados de espírito.

Não por acaso, o autor é um dos principais embaixadores dos games. Galera diz que os jogos entraram em sua vida bem no início da infância, ao mesmo tempo em que a música, o cinema e os livros, e que nunca os viu como uma modalidade muito diferente das outras mídias e artes. Autor de ensaios sobre o tema, chegou a criar um blog para debatê-los.

“Não creio que os videogames tenham influenciado minha literatura no nível estético ou da linguagem”, avalia Galera. “O diálogo possível entre as duas linguagens não é algo que me interessa muito. Todavia, os videogames me interessam muito como tema, pois são um componente importante da formação cultural da minha geração. Em outras palavras, as pessoas jogam videogame, assim como leem livros, trepam, trabalham e se apaixonam. É parte da vida e tem significado pra minha geração e todas que a sucedem. Assim, muitos de meus personagens jogam videogames e têm suas vidas marcadas por eles.”

Não mais simples produtos de consumo, e sim autênticas obras de arte

Super Mario é o “Diderot dos games”? E Morrowind, “um animal monstruoso e dificilmente domesticado”? E que tal discutir o “saneamento de linguagem” de Shadow of the colossus ou a “reflexão pop artalucinada” de No more heroes 2? Para os franceses da revista multimídiaChronic’Art, falar sobre videogame é quase um compromisso filosófico. Nas bancas desde 2001, a publicação quinzenal foi pioneira em tratar os jogos eletrônicos não mais como simples produtos de consumo, e sim como autênticas obras de arte. A Chronic’Art trocou os limitados testes de jogabilidade dos veículos especializados por elaboradas análises sobre as possibilidades estéticas e narrativas dosgames. Tanto em sua versão eletrônica (www.chronicart.com) quanto na impressa, seus críticos comentam o último lançamento de empresas eletrônicas como Sega ou Konami com a mesma seriedade com que criticam os filmes do tailandês Apichatpong Weerasethakul, resenham um romance de Don de Lillo ou um álbum da banda indie El Perro Del Mar. O que no início poderia ser visto como uma excentricidade isolada acabou virando tendência na França. Hoje, alguns jornais como o Libération já possuem os seus especialistas, e até a tradicional revista de cinema Cahiers du Cinéma chegou a dedicar um número especial ao assunto.

Somos de uma geração que cresceu com os videogames, antes mesmo da chegada dainternet”, explica o editor Cyril De Graeve. “Como é parte integrante da nossa cultura, tratamos e teorizamos os games da mesma forma que os outros territórios já conhecidos, como cinema, literatura, música ou HQ.” A turma da Chronic’Art identifica na figura do programador um verdadeiro artista – um criador capaz de imprimir sua marca pessoal em cada um de seus jogos, com suas obsessões e visões de mundo. Como muitos cineastas de grandes estúdios, ou escritores sujeitos às revisões editoriais, penam para driblar as limitações criativas impostas pelas convenções do mercado. “Os videogames são realizados por autores que até hoje não foram colocados na dianteira da política dos editores, que sempre privilegiou a marca e não os seus criadores de fato”, analisa De Graeve. “Mas essa situação começa a mudar: alguns nomes já começam a ser destacados nessa indústria suculenta que é o videogame.”

Nos últimos anos, a revista tratou de revelar os métodos e o temperamento artístico dos grandes gênios da programação, como o criador da série Metal gear solid, Hideo Kojima – um personagem atípico, cujos jogos estão perfeitamente ligados à sua forte personalidade. A lista de entrevistados inclui outros nomes celebrados, como Shigeru Miyamoto (ZeldaMario Bros.), Peter Molyneux (PopulousBlack & White) ou Will Wright (The SimsSim City). Com seus textos repletos de termos sofisticados, aChronic’Art ajudou a quebrar a visão estereotipada sobre o consumidor padrão dos games. Sai o nerd que joga de modo automático, devorando fases sem espírito crítico, e entra o consumidor capaz de apreciar as experiências estéticas oferecidas pelos melhores jogos. “As possibilidades de imersão, implicação e identificação do espectador-jogador são únicas novideogame”, compara De Graeve. “Passamos 1h30 em um filme enquanto é possível ficar mais de 50 horas em um jogo. Claro que isso depende da qualidade do jogo, da exigência dos autores, mas podemos colocar em um jogo muito mais de nós mesmos do que num filme. Podemos ir muito mais longe no território da experimentação, sabendo que cada jogador pode, por definição, absorver de forma diferente a obra em questão de acordo com a sua maneira de jogar. É então, no absoluto, um território artístico muito mais aberto, complexo, promissor e interativo.”

Os escritores e seus games favoritos

Simone Campos
Prince of Persia | “O primeiro, de plataforma, do Jordan Mechner. Montanha-russa de emoções. Quando não me angustiava até a úlcera, me fazia perder por excesso de poesia. Tem vários jogos com esse ‘defeito’: SonicCastlevaniaQuackshot, até Myst. Depois me davam pesadelos bem bizarros e interativos.”

Antônio Xerxenesky
Elder Scrolls IV: Oblivion | “Talvez tenha sido o último grande jogo que ‘vivi’. Uso o termo ‘vivi’ nesse caso porque Oblivion foi uma experiência de imersão total. Desenvolvi grande carinho pelos personagens, sofri com as escolhas morais que tive que fazer. O dia em que fui obrigado a matar um orc deprimido me partiu o coração. Morei umas 40 horas nesse universo do Oblivion e não me arrependo de nada.”

Samir Machado de Machado
The Dig | “De todos os adventuresda LucasArts, este sempre foi meu favorito, talvez por ser o mais sério (o roteiro era de Orson Scott Card, se não me engano). E, fora a questão de deslumbre estético com os cenários e as geometrias alienígenas, foi o primeiro jogo que me prendeu simplesmente por ter uma história muito boa.”

Daniel Galera
“Impossível citar um só. The Secret of Monkey Island 2Beyond Good and EvilSuper Mario Bros. 3Shadow of the ColussusReturn Fire (do 3DO) e Secret of Mana são alguns que vêm à mente de imediato, mas a lista completa teria dezenas ou centenas de títulos.”

>> SARAIVA – por Bolívar Torres


ANNE RICE: AUTORA DE “ENTREVISTA COM O VAMPIRO” PARTICIPARÁ DA BIENAL DO LIVRO NO RIO DE JANEIRO

sábado | 2 | abril | 2011

anne_rice

A precursora dos livros sobre vampiros românticos, Anne Rice, virá ao Rio de Janeiro em setembro, participar da próxima Bienal do Livro. A informação é da editora Rocco.

A escritora norte-americana, autora de “Entrevista com o Vampiro” e “A Rainha dos Condenados”, ambos adaptados para o cinema, já vendeu mais de 75 milhões de cópias de seus livros em três décadas de carreira.

Detentora dos direitos de publicação dos livros da escritora no Brasil, a Rocco – que desde 2009 vem reeditando a obra completa da autora com novo projeto gráfico – prepara para o segundo semestre o lançamento de “De Amor e Maldade”, continuação do recém-lançado “Tempo dos Anjos”.
>> PIPOCA MODERNA – da Redação


“CREPÚSCULO – AMANHECER”: VAZAM VÁRIAS FOTOS REVELADORAS

sábado | 2 | abril | 2011

Uma grande quantidade de imagens das duas partes de “A Saga Crepúsculo: Amanhecer” vazaram na internet. Por conterem muitos SPOILERS, você pode conferi-las (se quiser) mais abaixo. Entre as imagens, você pode ver pela primeira vez o visual de Bella como vampira. A primeira parte chega aos cinemas em 18 de novembro de 2011, enquanto a segunda estreia em 16 de novembro de 2012.

[SPOILERS] Grande parte das fotos, que foram publicadas pelo Perezhilton, mostram a lua-de-mel de Edward e Bella, mas também vemos uma imagem da gravidez da moça, sua transformação, seu visual de vampira, sua filha já crescida e a luta final contra os Volturi.
>> CINEMA COM RAPADURA – por Camila Fernandes

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VII FANTASPOA: HORROR Á ITALIANA

sexta-feira | 1 | abril | 2011

Daqui a três meses, no dia 1º de julho, terá início a VII edição do Fantaspoa – Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre. O festival irá ocorrer até o dia 17 de julho.

O Fantaspoa está com as suas inscrições abertas, para curtas e longas-metragens até o dia 22 de abril.  Os interessados em obter maiores informações podem acessar o site http://www.fantaspoa.com.

O convidado homenageado desta edição é o ilustre diretor italiano Lamberto Bava.  Lamberto é a terceira geração de cineastas da família Bava. Seu avô, Eugenio Bava, era câmera e especialista em efeitos ópticos nos primórdios do cinema mudo italiano. Seu pai, o renomado Mario Bava, trabalhou como diretor de fotografia, roteirista e diretor, tendo trabalhado em mais de 70 filmes ao longo da sua carreira e é lembrado como um dos grandes nomes da era de ouro do Cinema de Horror Italiano.
Após trabalhar 15 anos com seu pai, como assistente de direção e roteirista em diversos filmes, e tendo colaborado com Dario Argento e Ruggero Deodatto, partiu para a direção  de seu primeiro filme Macabro (Macabre), roteirizado por, entre outros, o grande cineasta Pupi Avati, em 1980. Lamberto dirigiu mais de 30 filmes em sua carreira, contando com títulos para o cinema e para a televisão, tendo realizado três novos filmes em 2010 e 2011.

A mostra que será apresentada no Fantaspoa conta com 16 títulos: 8 filmes dirigidos por Lamberto Bava e 8 filmes dirigidos por Mario Bava.
O diretor estará presente em Porto Alegre entre os dias 05 e 08 de julho, participando de debates com o público diariamente.


“BEING HUMAN” GANHA QUARTA TEMPORADA

quarta-feira | 16 | março | 2011

O canal BBC3 anunciou a renovação da série criada por Toby Whithouse, “Doctor Who” e “Torchwood”.

A quarta temporada de “Being Human” terá oito episódios, com previsão de estreia para 2012, na Inglaterra. A história dará continuidade à trama do ponto em que ela parou, introduzindo novos personagens.

Produzida pela Touchpaper Wales, “Being Human” vem se tornando uma produção cultuada entre seu público alvo, que compreende a faixa etária entre 16 e 34 anos.

A terceira temporada registrou a maior audiência da série até o momento, com cerca de 1.8 milhões de telespectadores (somada a exibição ao vivo, reprises e disponibilização de episódios em novas mídias).

Em função disso, o canal decidiu exibir no dia 20 de março a webserie “Becoming Human“, que já foi disponibilizada na Internet, registrando cerca de 1.5 milhões de telespectadores até o momento.

O interesse do público pela série fez com que o canal SyFy produzisse uma versão americana, que estreou em janeiro nos EUA.
>> VEJA – por Fernanda Furquim


“CRIPTA”: MYTHOS LANÇA O PRIMEIRO VOLUME COM AS MELHORES HISTÓRIAS DAS REVISTAS EERIE E CREEPY

domingo | 13 | março | 2011

Cripta - Volume 1

Em abril do ano passado, a Mythos anunciou que lançaria, no segundo semestre de 2010, uma coleção baseada na série Eerie Archives, publicada nos Estados Unidos pela Dark Horse e que figurou na lista dos mais vendidos do jornal New York Times.

Depois do atraso, a editora anuncia, para os próximos dias, a chegada ao mercado, com venda em distribuição setorizada, do álbum Cripta – Volume 1 (formato 20,5 x 27,5 cm, 240 páginas, capa cartonada, R$ 48,90), que deve fazer a alegria dos fãs dos clássicos quadrinhos de horror, pois as histórias ficaram muito tempo à espera de republicação.

A edição de estreia, com capa de Frank Frazetta, traz grandes nomes. Nos roteiros, destaque para Archie Goodwin, Ron Parker, Carl Wesser, E. Nelson Bridwell, Eando Binder e Larry Ivie; e na arte, Eugene Colan, Jack Davis, Reed Crandall, Steve Ditko, Frank Frazetta, Rocco Mastroserio, Gray Morrow, Joe Orlando, John Severin, Jay Taycee, Angelo Torres, Alex Toth, Al Williamsom, Wallace Wood, Donald Norman e Dan Adkins.

Cada álbum reúne cinco edições de Eerie (incluindo as capas originais em cores), com todas as aventuras completas e na ordem de publicação original.
Essas aventuras saíram no Brasil de 1976 a 1981, na revista Kripta, que utilizava material dos títulos EerieCreepy, lançados nos Estados Unidos uma década antes pela editora Warren Publishing.

Confira abaixo um preview (clique nas imagens para ampliá-las) de Cripta – Volume 1, que foi traduzida e editada por Fernando Bertacchini.

>> UNIVERSO HQ – por Sidney Gusman

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“VAMP”: NOVELA SERÁ REPRISADA NO CANAL VIVA EM ABRIL

sexta-feira | 25 | fevereiro | 2011

Trama jovem de Antonio Calmon foi exibida pela TV Globo há 20 anos.
História trazia Claudia Ohana como vampira-roqueira
que sonhava ser mortal

A atriz Claudia Ohana em "Vamp" (Foto: Divulgação)

A atriz Claudia Ohana, a heroína de caninos afiados de "Vamp".

Sucesso da década de 90, a novela “Vamp” será reprisada pelo Canal Viva a partir de 11 de abril. A trama jovem escrita por Antonio Calmon foi originalmente exibida pela TV Globo, entre 1991 e 1992, na faixa das 19h.

“Vamp” tinha como protagonista a atriz Claudia Ohana, que interpretava Natasha, uma roqueira brasileira de sucesso internacional que guardava um segredo: era uma vampira. A moça havia vendido sua alma em troca do sucesso para o conde Vald, vivido por Ney Latorraca.

Outra protagonista da novela era a família do capitão Jonas Rocha (Reginaldo Faria), baseado na fictícia cidade praiana de Armação dos Anjos. Viúvo e pai de seis filhos, o capitão se casava com Carmem Maura (Joana Fomm), viúva e mãe de seis filhos – daí o núcleo jovem da trama, que tinha no elenco os atores Fábio Assunção (Lippi) e Luciana Vendramini (Jade).

No núcleo dos vilões – que também fazia às vezes de núcleo cômico – o destaque era a família Matoso. O clã de vampiros era liderado por Matoso (Otávio Augusto), Mary Matoso (Patrícia Travassos), Matosão (Flavio Silvino) e o mortal Matosinho (André Gonçalves).

Com a direção geral de Jorge Fernando, “Vamp” substituirá “Quatro por quatro” na faixa das 15h30 no Canal Viva.

A emissora tem se destacado na audiência da TV a cabo exibindo novelas da TV Globo, como “Vale tudo” (1988) e “Por amor” (1997).
>> do G1, em São Paulo

Flavio Silvino, Guilherme Leme, Ney Latorraca, Patricia Travassos e Otávio Augusto em cena de 'Vamp'.  (Foto: Divulgação)

Flavio Silvino, Guilherme Leme, Ney Latorraca, Patricia Travassos e Otávio Augusto em cena de 'Vamp'.

 


“CREPÚSCULO – AMANHECER”: ATRIZ ESTREANTE SERÁ FILHA ADOLESCENTE DE EDWARD E BELLA

sexta-feira | 25 | fevereiro | 2011

A atriz estreante Christie Burke entrou para o elenco de “A Saga Crepúsculo: Amanhecer”. Ela viverá a versão adolescente de Renesmee, a filha de Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson).

Na primeira parte da produção, a versão criança da personagem será interpretada por Mackenzie Foy (série “FlashForward”), de 10 anos. Renesmee vai aparecer em diversas idades durante a segunda parte de “Amanhecer”.

No último capítulo da “Saga Crepúsculo”, que será adaptado para o cinema em duas partes, a jovem Bella Swan (Kristen Stewart) finalmente se casa com o vampiro Edward Cullen (Robert Pattinson), mas ainda humana engravida e dá a luz a uma menina, que é meio humana e meio vampira. Isso causa a ira dos Volturi, que consideram o nascimento um desrespeito à lei e partem para Forks no intuito de destruir os Cullen.

A primeira parte de “A Saga Crepúsculo: Amanhecer” chega aos cinemas no dia 18 de novembro de 2011 e a Parte 2 no dia 16 de novembro de 2012
>> PIPOCA MODERNA – por Caio Arroyo


“MARCHLANDS, UM CONTO SOBRENATURAL”: DOS EUA PARA A INGLATERRA

sexta-feira | 4 | fevereiro | 2011

Vocês já tentaram imaginar quem foram as pessoas que já viveram em suas casas em décadas passadas? Quem eles eram, com o que sonhavam, como eram seus estilos de vida, que tipo de relações tiveram e o que aconteceu com elas? Quando o roteirista David Schulner (Tell Me You Love Me) se mudou para sua nova casa, ele começou a imaginar quem eram as pessoas que já tinham vivido ali. Assim surgiu o esboço de um roteiro que mais tarde contou com a colaboração de Michael Cuesta (Dexter).

Disputado pela ABC, CBS e Fox, o projeto foi parar ‘nas mãos’ desta última, que chegou a encomendar a produção de um episódio piloto. A ideia era transformar “The Oaks” em uma série de TV, com previsão de estreia para a temporada de 2008-2009.

Mas, na época, passando por uma greve de roteiristas, a produção do episódio piloto não contou com a supervisão de Schulner e Cuesta. O resultado não agradou a diretoria da Fox, que pediu mudanças, chegando a sugerir que o drama fosse transformado em dramédia. Nem assim “The Oaks” ‘viu a luz do dia’, sendo engavetado.

Em 2008, o canal inglês ITV firmou parceria com a Fox, através do qual desenvolveriam novos projetos. Assim, “The Oaks” foi resgatada sendo transformada em minissérie de cinco episódios. Com base no roteiro original de Schulner e Cuesta, o roteirista inglês Stephen Greenhorn (Doctor Who) adaptou “The Oaks”, que agora estreia no dia 3 de fevereiro na Inglaterra com o título de “Marchlands”.

O elenco de “Marchlands” (Foto: ITV/Divulgação)

A minissérie apresenta a vida de três famílias que vivem na mesma casa, mas em períodos diferentes. A primeira família é formada pelo casal Paul (James Thomas King) e Ruth (Jodie Whittaker), que vive na casa na década de 1960. Eles passam pela terrível experiência de perder a única filha, Alice (Millie Archer), uma menina de oito anos que morreu afogada na piscina.

Na casa também vivem os pais de Paul, Robert (Denis Lawson) e Evelyn (Tessa Peake-Jones), que mantém um comportamento austero e opressivo em relação ao filho. Assombrada pelo fantasma da filha, Ruth tem dificuldades em aceitar a morte da menina, bem como o distanciamento do marido, que prefere não conversar sobre o assunto.

A segunda família é formada por quatro pessoas: os pais Eddie (Dean Andrews) e Helen (Alex Kingston) e os filhos Scott (Ethan Griffin/Daniel Casey), de 15 anos, e Amy (Sydney Wade), de oito anos, que vivem na casa na década de 1980. A vida da família parece tranquila, até que Amy começa a conversar com sua amiga imaginária, a quem ela culpa por todos os ‘incidentes’ que começam a acontecer na casa.

A terceira família é formada por Mark (Elliot Cowan) e Nisha (Shelley Conn) que vivem as expectativas do nascimento de sua primeira filha. Grávida de cinco meses, Nisha encontra a fotografia de Alice escondida na casa e começa a investigar a história da menina.

A narrativa paralela entre o passado e o presente faz com que as três famílias se tornem uma só para os olhos do público. Por sua vez, na história, elas estão unidas pelo fantasma da menina que em 1968 morreu sob circunstâncias misteriosas.

A minissérie é dirigida por James Kent (The Secret Diaries of Anne Lister). No elenco também estão Nick Sidi, James Rastall, Claire Murphy, Jennifer Hennessy, Martha Bryant, Sophie Stone, Elizabeth Rider, Ryan Prescott, Jonathan Linsley, Roger Ringrose, Sarah Ball, Katie Wimpenny, Morag Siller e Faith Edwards.
>> VEJA – por Fernanda Furquim


A FANTÁSTICA LITERATURA QUEER

quinta-feira | 3 | fevereiro | 2011
A Fantástica Literatura Queer

A Fantástica Literatura Queer

Querida pessoa certa na hora certa,

Esta chamada que você está preste a ler é uma proposta de parceria para um projeto como nunca houve igual na literatura brasileira. Trata-se da intersecção de duas tendências que têm em comum o fato de terem sido historicamente constituídas como marginais: o universo queer e a literatura fantástica.

A Fantástica Literatura Queer será a primeira coletânea de contos de ficção científica e fantasia brasileira dedicada à diversidade sexual, e esclarecemos que nosso objetivo não é meramente publicar um livro, mas criar um marco para a literatura de gênerosobre gêneros ao compor uma aliança de escritores fantásticos pela promoção da diversidade sexual na cultura brasileira, incluindo não somente a luta pela cidadania de gays, lésbicas e transgêneros, mas também a derrubada de tabus e preconceitos enferrujados dentro da nossa própria literatura.

Esta é uma proposta que diz especialmente respeito a nós, organizadores, e a você, convidado. Desejamos que A Fantástica Literatura Queer esteja bem representada por excelentes escritores gays e lésbicas assumidos, razão pela qual ficaremos muito honrados com a sua participação!

Vamos agora ao que interessa!Gay Humano, Alien e Robô

No começo havia uma subcultura tão “sub” que era chamada de gueto. E como ocorre a todo gueto, as pessoas que pertenciam a ele eram rotuladas, apontadas, diminuídas, ridicularizadas… Naturalmente, muitas tinham vergonha de assumir e ficavam de rosto vermelho e pernas bambas cada vez que suas preferências eram submetidas ao escrutínio alheio. Era um período obscuro de ignorância e incompreensão, o preconceito não dava tréguas, e não é de admirar que durante décadas tantos preferiram negar, disfarçar, omitir…

Algumas dessas pessoas descobriram à força a natureza mesquinha dos rótulos, que foram feitos para grudar e nunca mais, nunca mais nos deixar em paz. E quem não teme rótulos tão perigosamente grudentos? E quem não considerou, uma vez que seja, viver livre deles?

Mas os novos tempos encetaram uma reviravolta sem precedentes! E o resultado é que hoje eu, você e muitos de nós vencemos o medo do rótulo e temos orgulho de dizer que somos escritores brasileiros de ficção científica e fantasia!

E independentemente de sexo, cor, idade e outros dados tão meticulosamente registrados em nossas certidões de nascimento, carteiras de identidade, títulos de eleitor e perfis no facebook, todos nós já experimentamos a sensação de pertencer a uma minoria, e é exatamente desse sentimento que trata a proposta que você acaba de receber.

A coletânea “Queer” é uma proposta muito especial: será a primeira coletânea de contos brasileira dedicada à literatura fantástica queer, ou seja, relacionada ao universo de gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais e transgêneros. E se você pensa que existe alguma bandeira ideológica por trás deste projeto, saiba que não poderia estar mais redondamente certo! A coletânea “Queer” estará comprometida com a afirmação, a visibilidade e a comemoração da diversidade sexual e literária!

Quem pode participar?

Uma vez que a palavra mágica é “diversidade”, o convite está aberto a todos os autores, independentemente da orientação sexual, identidade de gênero, time do coração, fruta favorita ou praia que gosta de frequentar.

Como você pode participar?

Enviando um conto bem escrito que corresponda de forma interessante à proposta da coletânea e que esteja dentro das especificações do projeto.

Quais os critérios de participação?

As histórias deverão obrigatoriamente aludir à diversidade sexual. A presença de personagens gays e lésbicas é desejável, mas não é compulsória. Destacamos que mais importante que o retrato será o questionamento – em outras palavras, serão priorizados os textos que induzam a pensar sobre o tema.

Como exemplo, o autor poderá apresentar a intracultura de minorias sexuais em contextos alternativos e/ou explorar sua interface com outras culturas; poderá debater papéis de gênero, preconceito e discriminação; fazer referências e reinvenções históricas; construir e desconstruir paradigmas afetivo-sexuais, etc. O importante é que o conto responda de forma criativa à proposta.

Os contos deverão se enquadrar dentro da literatura fantástica em sua ampla definição: ficção científicafantasiaterror (e seus inúmeros subgêneros: ficção científica hard, ficção científica softspace opera, utopia/distopia,cyberpunk, steampunkweird fictionnew weird, pós-humanidade, slipstream, história alternativa, ficção alternativa/mashup, horror, terror, fantasia mitológica, fantasia medieval, fantasia urbana, dark fantasy, etc). Sem restrições quanto ao conteúdo erótico.

Os contos deverão ser inéditos para o meio impresso, e ter entre 5 e 20 páginas (com fonte 12 e espaçamento simples). Cada autor poderá enviar quantos contos quiser, porém apenas um poderá ser selecionado.

Os textos deverão ser enviados em arquivo .doc ou .docx para o e-mail: queerfiction@tarjaeditorial.com.br até o dia 31 de março de 2011.

Todos os contos serão avaliados e apenas serão aceitos aqueles que alcançarem os critérios de qualidade estabelecidos pelos (exigentes) organizadores.

Quantos contos serão escolhidos?

A composição da coletânea será norteada pela qualidade dos contos recebidos e os organizadores incluirão os textos de maior mérito. A estimativa é publicar cerca de 10 contos, mas reiteramos que o critério qualitativo terá prioridade.

TemplariosNada ficará no armário!

A coletânea “Queer” está comprometida com a transparência e a visibilidade, portanto não serão publicados contos sob pseudônimos desconhecidos! Os autores participantes deverão estar dispostos a “mostrar a cara”, o que inclui autorizar a publicação de sua foto na contracapa do livro.

Não serão aceitos:

Contos mal escritos, contos excepcionalmente fora das especificações de tamanho, contos anônimos ou sob pseudônimos desconhecidos, textos em qualquer outro formato que não seja conto, contos que não correspondam à proposta da coletânea “Queer” ou que apresentem conteúdo ofensivo e discriminatório de qualquer natureza.

Como será a publicação?

Os autores estarão isentos de despesas. Todos os custos da publicação (incluindo revisão, diagramação, arte de capa e impressão) serão arcados integralmente pela Tarja Editorial. A coletânea será publicada no formato 14cm X 21cm, com tiragem inicial de 300 exemplares.

Os direitos autorais serão divididos igualmente entre os autores publicados na coletânea “Queer” e cada um poderá escolher a forma na qual deseja receber o pagamento, que poderá ser em dinheiro ou em livros.

Previsão de Lançamento:

A organização tem por objetivo lançar a coletânea “Queer” em junho de 2011, ou seja, no mês do orgulho gay e em data próxima à Parada GLBT de São Paulo, no intuito de inserir o lançamento do livro na agenda de eventos da cidade.

Cordialmente,
Cris Lasaitis & Rober Pinheiro
(os organizadores)


“VAMPIRO AMERICANO” CHEGA AO BRASIL E DEVOLVE O MITO DO VAMPIRO ÀS NARRATIVAS DE HORROR

quarta-feira | 26 | janeiro | 2011

ENFIM, UM MONSTRO
Vampiros sempre estiveram na pauta da cultura pop, mas poucos se arriscaram a remodelar suas características românticas e repetidamente utilizadas. É por isso que Vampiro Americano, de Scott Snyder e desenhada pelo brasileiro Rafael Albuquerque (revista mensal Vertigo, 100 págs, R$ 10) é uma das obras mais interessantes das várias que apareceram nos últimos tempos tendo sanguessugas como mote.

» Leia um preview de Vampiro Americano

Publicada nos EUA pela Vertigo e pela revista de mesmo nome aqui no Brasil, a série consegue dosar uma narrativa bem construída de referências históricas e trama complexa com cenas cheias de violência e impacto. Skinner Sweet é o primeiro vampiro a ser criado nos EUA e a HQ mostra a sua trajetória e todo o sangue derramado por onde passou.

Escrita em parte pelo celebrado Stephen King, a série nem precisou da fama do escritor para se firmar como uma das melhores HQs lançadas pelo mercado norte-americano este ano. Quem se destacou mesmo foi Rafael. Ele chamou atenção no mercado internacional e mostrou ecletismo no seu estilo.

Os vampiros daqui não conservam a humanidade que alguns outros produtos recentes mostram, vide True Blood e Crepúsculo. Se aproximam mais das lendas europeias que os mostram como monstros. Sweet é feroz e tem os poderes derivados do sol. Além dele, a HQ foca atenção na vida de Pearl Jones, uma jovem atriz figurante na Hollywood dos anos 1920.

Até a sexta edição, Stephen King assina uma história curta que funciona mais como um painel para ambientar o leitor no horror da história de vampiros na primeira metade do século passado. American Vampire fez muito sucesso nos EUA na época do seu lançamento e críticos a tomam como o melhor da linha Vertigo. A Panini vem dando destaque para o título em sua revista mensal com histórias do selo adulto da DC Comics.
>> REVISTA O GRITO! – por Paulo Floro


“CRIPTA”: CLÁSSICOS DO TERROR EM QUADRINHOS

quarta-feira | 26 | janeiro | 2011

Cripta - Volume 1 (Mythos Editora)Eerie Creepy — provavelmente as revistas de horror mais clássicas de todos os tempos — circularam no Brasil originalmente entre 1976 e 1981, pela revista Kripta. Uma briga, que durou vários anos pelos direitos autorais impediu novas reedições e republicações das HQs.

Passados tantos anos, finalmente os fãs de quadrinhos de terror terão a oportunidade de lerem e relerem as histórias em uma versão digna dos colecionadores mas exigentes.

Mythos Editora finalmente anunciou para esse mês o lançamento de Cripta Volume 1. A edição irá reunir histórias de horror, suspense e ficção científica  em um encadernado de luxo, com 5 edições completas da Eerie, incluindo as capas originais coloridas.

A revista trará figuras como Gray Morrow (Homem-Aranha no final dos anos 60), Frank Frazetta (Conan), Alex Toth, Neal Adams, Steve Ditkoe vários outros.

Cripta – Volume 1 tem 244 páginas e custa em torno de R$ 48,90. Ainda não existe previsão para os próximos volumes.
>> OS ARMÊNIOS


STEAMPUNK: MAIS DO QUE UMA MODA, UMA CULTURA

quinta-feira | 5 | agosto | 2010

steampunk

“Retrofuturismo” é a palavra que melhor define o steampunk. Conceituado como um subgênero da ficção científica nascido em meados da década de 80, quando Kevin Wayne Jeter tentava rotular seus trabalhos e os de seus colegas escritores Tim Powers e James Blaylock, que escreveram uma série de romances entre 1979 e 1986 cuja característica principal eram histórias de Ficção Científica passada na época Vitoriana, com tecnologia “retro” e claras influências de clássicos da literatura de Ficção Científica.

No caso o paradigma da Revolução Industrial impulsionava os motores a vapor e a adaptação da nossa tecnologia atual para a época, e restaurava valores hoje perdidos pelas mudanças da sociedade.

Constantes inspirações no gênero SteamPunk, os romances de Ficção Científica do século XIX, como “20.000 Léguas Submarinas” e “Da Terra à Lua”, ambos de Julio Verne; “A Máquina do Tempo” e “Guerra dos Mundos”, de H. G. Wells; “Frankenstein”, de Mary Shelley; e “A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court”, de Mark Twain, não escapam, atualmente, de serem associados ao novo gênero.

Esta nova linha de Ficção Científica se estende a várias outras mídias além da literatura como HQs, Mangás, Animes, Moda, Games, RPG e ao Cinema e, quem costuma apreciar a cultura SteamPunk, se começa a identificar a estética do novo gênero – seja ela intencional ou não – em filmes como “Metropolis”, “1984″, “Brazil – o Filme”, “Delicatessen”, “Jovem Sherlock Holmes”, “De Volta para o Futuro”, “A Cidade das Crianças Perdidas”, “As Aventuras do Barão de Munchausen”, “Wild Wild West” esse inclusive um grande exemplo do modo de vida americano na era da rainha Vitória, “Pacto dos Lobos”, “SteamBoy” – um dos animes mais conhecidos do gênero, “O Cavaleiro sem Cabeça”, “Liga Extraordinária” – que juntou vários heróis da era vitoriana em uma super ação e com elementos tecnológicos, “Van Hensing”, “Hellboy”, “O Grande Truque”, “A Bússola Dourada”, “9 a salvação” e muitos outros.

Com uma estética por vezes bela, por vezes inusitada e, por que não, por vezes grotesca, o SteamPunk conquistou o público Gótico, Cyber, Industrial e Punk sem dificuldade, bem como todos os que apreciam a riqueza de detalhes, que é fruto da colisão entre a tecnologia moderna e os recursos e a estética Vitoriana, repleta de bronze, couro, cobre, pano, vapor e eletricidade.

E nesse conceito de unir arte, história e tecnologia muitas pessoas se unem para promover o movimento. Em 2010 o Steampunk sai de um gênero para uma cultura. Aqui no Brasil diversas cidades têm seus conselhos, ou lojas como também são conhecidas (fazendo referência aos tradicionais maçons), onde eventos são realizados, oficinas para montagens de peças steampunk e customização de objetos, jogos de RPG, moda e muito mais.

Se interessou? Para saber mais, visite: www.steampunk.com.br e confira se na sua cidade o Conselho já está presente, se não está é uma ótima oportunidade para  começar um, certo?
>> 1000 COMBOS – por Gisaiagami


JANE AUSTEN SE TORNA UMA VAMPIRA EM LIVRO

quinta-feira | 5 | agosto | 2010

O que uma simples livraria localizada numa pequena cidade ao norte de Nova York pode esconder? Edições esgotadas de livros e uma atendente excêntrica? Na pacata cidade de Brakeston, a livraria Flyelaf oculta muito mais: uma vampira de 233 anos, que além de esconder sua natureza, precisa manter sua verdadeira identidade em segredo.

Chega às livrarias de todo o país, pela editora Lua de Papel, o divertido romance Jane Austen – A Vampira.  Na trama, criada porMicheal Tomas Ford, a famosa escritora inglesa do século XVIII figura como personagem principal. Depois de ser transformada em vampira por uma antiga e desprezível aventura amorosa, Jane deixa a Inglaterra e passa a viver nos Estados Unidos, sob a identidade de Jane Fairfax.

Além de administrar seu pequeno negócio, Jane busca uma editora para publicar seu romance inédito, já que os seus livros não lhe rendem mais nenhum centavo de direitos autorais, afinal, ela está morta, ou deveria estar. E como se não bastassem todos os problemas, um antigo romance mal resolvido volta para atrapalhar os planos de Jane. Vida de vampiro, ou o que quer que isso signifique, não é nada fácil.

Jane Austen – A Vampira proporciona uma releitura de grandes clássicos da literatura, como a poesia de Lord Byron e as obras das irmãs Brontë, com uma pitada de humor negro e um gostinho de sangue.

Uma das autoras mais lidas de todo o mundo, Jane Austen teve sua popularidade renovada nos últimos anos graças a novas adaptações para o cinema e livros satíricos, com destaque para Orgulho e Preconceito e Zumbis, escrito por Seth Grahame-Smith, que elogia a nova obra: “É impossível não amar a perspicácia de Michael Thomas Ford e os dentes afiados de Jane Austen…“.

Jane Austen – A Vampira tem 310 páginas, formato 14 x 21 cm, tradução por Carlos Szlak e preço sugerido de R$ 39,90.

Michel Thomas Ford é autor de diversos livros juvenis e adultos, dentre eles, Alec Baldwin Doesn´t Love Me That´s Mr. Faggot To You. Seu trabalho recebeu excelentes críticas e, por duas vezes, ganhou o prêmio de Melhor Livro de Humor. Recentemente tornou-se membro da Horror Writers Association, após ter sido premiado com o Bram Stoker Award.

A editora Lua de Papel é uma das mais importantes do grupo LeYa – formado por 18 editoras em Portugal e que acaba de ser fundada no Brasil. Seguindo o caminho da matriz e com o objetivo de criar uma identidade própria e firmar-se como uma das grandes editoras no país, a editora Lua de Papel tem como Publisher, Pedro Almeida, e conta com uma equipe própria de editorial, marketing e comercial.
>> HQ MANIACS – por Leonardo Vicente Di Sessa


“ALMA E SANGUE”: NOVO LIVRO RELEVA SEGREDOS E TERÁ LANÇAMENTO NO FANTASTICON 2010

segunda-feira | 2 | agosto | 2010

Editora Aleph está lançando Kara e Kmam – Segredos de Alma e Sangue, livro que, como o título já diz, revela segredos da saga de sucesso Alma e Sangue.

A nova obra é uma aventura surgida da saga de sucesso Alma e Sangue, da escritora Nazarethe Fonseca. Neste livro, a autora maranhense, que conquistou milhares de fãs pelo país, apaixonados pelo universo vampiresco, faz um mergulho no universo particular de seus protagonistas.

De um lado está Jan Kmam, um vampiro de 400 anos e muitos poderes; do outro, Kara Ramos, sua jovem, bela e enigmática amada, que acaba descobrindo o mundo vampiro guiada por um mestre e amante sem igual. Para não decepcionar Kmam, Kara precisa abandonar os resquícios da antiga condição humana e assimilar as cobranças e regras próprias do modo vampiresco de ser e existir. Tem de ser a melhor no que faz e conseguir se superar cada vez mais para se adaptar a esse mundo.

Porém, um segredo está prestes a ser revelado e colocará o amor de ambos à prova. Sem que a jovem perceba, tal mistério vai colocá-la diante de Ariel Simon, o rei dos vampiros, que acabará por enredá-la numa teia de sedução e desejos proibidos.

Leitura obrigatória para os fãs de Alma e SangueKara e Kmam é também a chave para desvendar os segredos da série. Assim como nos outros livros da autora, os vampiros são retratados como criaturas bem próximas da realidade dos humanos, com capacidade para amar e sofrer, mas também para odiar.

O terceiro volume da saga, Alma e Sangue – O Pacto dos Vampiros, será lançado pela Aleph na segunda quinzena de outubro. A editora já lançou auteriormente Alma e Sangue – O Despertar do Vampiro Alma e Sangue – O Império dos Vampiros.

Nazarethe Fonseca nasceu em São Luís, Maranhão. Começou a escrever aos 15 anos, após um sonho que se tornaria seu primeiro livro, uma trama policial. Além da saga Alma e Sangue, também publicou contos nas coletâneas Necrópole: Histórias de Bruxaria eAnno Domini. Mora atualmente em Natal, Rio Grande do Norte.

Kara e Kmam – Segredos de Alma e Sangue tem 168 e preço sugerido de R$ 33,00, o formato não foi especificado pela editora.
>> HQ MANIACS – por Leonardo Vicente Di Sessa

Lançamento no dia 28 de agosto, Sábado, às 16 horas
FANTASTICON 2010 – IV Simpósio de Literatura Fantástica
Biblioteca Viriato Corrêa
Rua Sena Madureira, 298 – Vila Mariana – São Paulo, SP
Tel.: 11 5573-4017 e 11 5574-0389


“CONTOS OBSCUROS DE EDGAR ALLAN POE”: LIVRO ORGANIZADO POR BRAULIO TAVARES TERÁ LANÇAMENTO NO FANTASTICON 2010

sábado | 31 | julho | 2010

O escritor Bráulio Tavares organizou “Contos Obscuros de Edgar Allan Poe”, uma antologia de contos pouco conhecidos de Poe.Com narrativas científicas, misteriosas, permeadas de terror, horror, suspense e policialescas.

Edgar Allan Poe (1809-1849) foi adotado, encampado ou dissecado pelo surrealismo, pela psicanálise, pelo estruturalismo, pela semiótica e outros movimentos. Inventou o conto analítico detetivesco e foi um dos precursores da ficção científica, sem esquecer que figura também como um dos mais importantes nomes da literatura de terror. Inspirou notáveis compositores, de Debussy a Beatles e Bob Dylan, e foi admirado por escritores como Fernando Pessoa, Machado de Assis, Julio Córtazar. Mas Poe é, sobretudo, o grande mestre do conto. Um lugar inconteste na história da literatura mundial.

Ao longo de quase dois séculos, seus contos foram consagrados e largamente traduzidos e editados. Porém, há ainda alguns pouco conhecidos, exatamente por não figurarem nas correntes antologias do escritor. E é para trazê-los a público que a editora Casa da Palavra lança Contos obscuros de Edgar Allan Poe, organizado pelo escritor Braulio Tavares, especialista em ficção científica e literatura fantástica, autor de celebradas antologias do gênero.

Ao optar pelos contos menos conhecidos do escritor norte-americano, cujo bicentenário foi celebrado em 2009, Braulio buscou se distanciar dos textos célebres e comumente encontrados em edições em todo o mundo. “A maioria das coletâneas de contos de Poe concentra-se em dez ou 15 textos que fizeram sua fama como autor. Esta antologia pretende deixar de lado esses contos mais famosos e oferecer ao leitor outras histórias que também têm qualidades notáveis, mas que foram pouco traduzidas no Brasil”, explica Braulio.

Os 16 contos selecionados oferecem um painel ampliado da expressão literária de Poe, apresentando os contos “Metzengerstein”, “Manuscrito encontrado em uma garrafa”, “Morella”, “O rei Peste”, “Sombra – Uma parábola”, “Silêncio – Uma fábula”, “Como escrever um artigo à moda Blackwood”, “Uma trapalhada”, “Descida no Maelström”, “Três domingos numa semana”, “A balela do balão”, “Um conto das montanhas Fragosas”, “O Anjo do Bizarro”, “Tu és o homem”, “A milésima segunda história de Sherazade” e “A esfinge”.

Em um alentado posfácio, Braulio oferece uma apresentação sobre a vida e a obra do escritor, fazendo ainda uma análise minuciosa dos 16 contos escolhidos. Ao fim dessa jornada é possível entender por que Edgar Allan Poe continua sendo, 160 anos após sua morte, um dos mais contemporâneos escritores da literatura ocidental.

Ilustrado pelo artista plástico paraibano Romero Cavalcanti, Contos obscuros de Edgar Allan Poe, acaba por atender a busca permanente do próprio Poe: a diversidade. É ele quem diz: “Se todos os meus contos estivessem agora à minha frente e eu tivesse a incumbência de compor uma nova seleção, o critério que primeiro ocuparia minha atenção seria o de diversidade e variedade”.

O autor
Braulio Tavares nasceu em 1950, na cidade de Campina Grande, Paraíba. Escritor e compositor, ganhou a premiação portuguesa Caminho da Ficção Científica pelo livro de contos A espinha dorsal da memória (1989). É autor dos livros A máquina voadora (1994), Mundo fantasmo (2002) e ABC de Ariano Suassuna (2007). Publicou as antologias Páginas de sombra: contos fantásticos brasileiros (2003), Contos fantásticos no labirinto de Borges (2005) e Freud e O Estranho – contos fantásticos do inconsciente (2007), todos pela Casa da Palavra e com ilustrações de Romero Cavalcanti.

Lançamento no dia 28 de agosto, Sábado, às 18 horas
FANTASTICON 2010 – IV Simpósio de Literatura Fantástica
Biblioteca Viriato Corrêa
Rua Sena Madureira, 298 – Vila Mariana – São Paulo, SP
Tel.: 11 5573-4017 e 11 5574-0389


“SEJA LEGAL COM OS NERDS”: A VEZ DO ARO GROSSO

terça-feira | 13 | julho | 2010

Os nerds dominam a internet, o cima, os seriados, a economia,
as novas tecnologias e até a moda
.

A frase do autor de livros sobre educação Charles J. Sykes, atribuída erroneamente a Bill Gates em vários sites, foi um alerta: “Seja legal com os nerds. Você poderá acabar trabalhando para um deles”. A hipótese ameaçadora transformou-se em verdadeiro desejo para alguns. O estilo Steve Jobs de gerenciar vem se tornando referência em livros sobre liderança. Sugestivos títulos como A cabeça de Steve Jobs, O fascinante império de Steve Jobs e Faça como Steve Jobs sinalizam a mudança de paradigmas e a força do modelo de gestão a ser seguido. “No passado, os maiores exemplos de sucesso estavam ligados a executivos de grandes empresas ou a astros de Hollywood. Eles detinham o poder de intervir no mundo. Na nossa sociedade, quem entender melhor sobre a tecnologia terá essa capacidade”, diz o psicólogo Marcio Berber Diz Amadeu, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática, da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Se no mundo dos negócios osnerds já demarcaram sua posição (o topo), entre os jovens, ambiente tradicionalmente problemático para esse grupo, eles também vêm ganhando respeito e pelos mesmos motivos que os consagraram no âmbito financeiro – a habilidade diante da tecnologia. “Eles detêm as melhores ferramentas para lidar com o mundo de hoje, compreendem computadores, objetos eletrônicos e, especialmente, a internet, com seu papel fundamental em nossa cultura”, explica Marcio Amadeu. 

Para Marshall McLuhan, visionário teórico da comunicação que anteviu as consequências dos avanços tecnológicos, “cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em todos e por todos os seus sentidos” (citação de Os meios de comunicação como extensões do homem). Não à toa, a internet vem operando mudanças culturais profundas, dentre as quais a capacidade de transformar um grupo, até há pouco tempo conhecido por seu visual deslocado, em ícone fashion – a inversão de papéis tornou-se, literalmente, moda. A editora de projetos especiais da revista Vogue e professora do Istituto Europeo di Design, Silvana Holzmeister, aponta que esse grupo de pessoas é responsável pelo surgimento recente do estilo geek chic. “Vejo os geeks como uma versão atualizada dos nerds e o geek chic como o estilo que tomou conta da moda jovem”, diz. Autora do livro O estranho está na moda – A imagem dos anos 90, que será lançado em agosto, Silvana acredita que a influência deriva da profusão de tribos dessa década e diz que ocorre, atualmente, com a ascensão do visual desse grupo na moda, um movimento semelhante do punk, que surgiu das ruas e invadiu as passarelas. “O geek chic reúne elementos típicos do visual nerd, como óculos pesados e corte de cabelo mais certinho, jaqueta, blazer e meias no estilo old school”, classifica. O estudante de informática Felipe Cordeiro Alves da Silva, de 19 anos, prefere ser chamado de geek. Ele não vê essa difusão de maneira positiva e defende que o uso do estereótipo causou uma banalização da imagem do grupo. “A cultura nerd e todas as suas subcategorias estão em ascensão, isso é visível nas ruas. No entanto, nem tudo é legítimo desse universo. Ser desse grupo é mais do que uma representação pela aparência, muitos se enganam nesse mundo de imagens. Vejo pessoas usando óculos imensos querendo se passar por nerds ou geeks, outras comprando gadgets que mal sabem ligar. Do que adianta alguém ter um smartphone se só irá fazer e receber ligações?”, questiona. 

DIA DA TOALHA 
Leonard, Sheldon, Howard ou Rajesh, de The Big Bang Theory; Rusty, de Greek; Artie, de Glee; os rapazes do reality show As gostosas e os geeks. Há um número considerável de personagens nos programas americanos, exibidos no Brasil em canais por assinatura, caracterizados como nerds ou geeks. “O tema ganhou projeção no mainstream justamente pelos casos de sucesso ligados à informática e à internet. De repente, um bando de garotos dessa tribo estava ficando bilionário e mudando a forma como o mundo se comunicava. Seria incomum se o tema não ficasse em evidência”, argumenta Alexandre Ottoni, editor geral do blog Jovem Nerd, nascido em 2002 para “fazer piada” sobre esse universo, mas que hoje se tornou um negócio e mudou a vida de seus criadores. A representação das personagens nas produções audiovisuais recentes não esbarra necessariamente na atitude comum de escárnio, como o faziam as antigas representações, promovendo a identificação da tribo. “Acho bons os seriados, pois ajudam as pessoas a compreender mais esse grupo e é uma forma de divulgá-lo”, conta Luis Ricardo Manrique, 26 anos. Especialista em Linux e assumidamente nerd, ele diz já ter sofrido preconceito no trabalho e na escola por sua postura, mas acredita que a situação está diferente. “Hoje em dia, é muito mais fácil a aceitação, porque o ponto de vista das pessoas mudou. Antes era pejorativo e agora é quase um elogio”, diz.

A satisfação de ser dessa tribo tem até ocasião marcada para ser expressa. Desde 2006, é comemorado em 25 de maio o Dia do Orgulho Nerdou Geek. A data escolhida é a da estreia do primeiro filme da saga Star Wars e também a da morte de Douglas Adams, autor do Guia do mochileiro das galáxias. Em alusão à passagem do livro sobre a importância da toalha para os mochileiros das galáxias, a data também é conhecida como Dia da Toalha e, na ocasião, é comum encontrar nerds portando o objeto como bandeira.

Em 25 de maio último, os estudantes de jornalismo da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ) decidiram registrar a data de maneira diferente: lançaram um blog sobre o assunto, o Jornal dos Nerds. Batizado de Nerdlândia, é o jornal-laboratório da turma, que elegeu o tema e a versão virtual no lugar da impressa por ampla maioria em votação. “É incrível como os alunos são cada vez mais nerds, eles já nascem sabendo tudo de tecnologia. O que era um subgrupo e, como qualquer minoria, discriminado, está se tornando dominante. Eles cresceram, se tornaram bem-sucedidos, celebridades”, diz a professora e jornalista Cristiane Costa, coordenadora do projeto. A equipe de cerca de 20 estudantes também organizou um evento para marcar o lançamento do blog, com mesas de discussão e ampla divulgação na mídia. Segundo a coordenadora, “o blog é direcionado a um público enorme, com sua própria linguagem, interesses e definição de gêneros artísticos, mas que, na grande imprensa, não encontra muita informação que o interesse. A gente descobriu que é um filão”, conta.

O MUNDO É UM JOGO DE RPG 
role playing game (RPG) surgiu em 1974, de uma variação dos wargames (jogos de batalhas de miniaturas). O inventor foi Gary Gygax, que criou um sistema relativamente simples se comparado com os jogos de interpretação atuais. O que o criador de Dungeons & Dragons, o primeiro jogo, não poderia prever é que o RPG teria tanta capacidade de evoluir e influenciar. O arquiteto, escritor e designer de jogos Marcelo Del Debbio explica que, atualmente, existem três modalidades: de mesa; o tradicional, em que o jogo se desenrola na imaginação das pessoas; olive action, que é uma modalidade de teatro de improviso; e os RPGs eletrônicos, como World of WarcraftTibia e Ragnarok. Além dos jogos propriamente ditos, o repertório do RPG também influenciou os games e o cinema. “Desde sua origem, o RPG esteve totalmente imerso na cultura nerd e influenciou livros como Senhor dos anéis e Entrevista com o vampiro”, conta. Marcelo, que é autor de mais de 40 livros de RPG e inventor de métodos de jogo, também aponta outras vantagens: “Estimula a leitura, a imaginação, a oratória, a construção de histórias, a estratégia e o planejamento, além de servir como dinâmica de grupo”. Por esses motivos, os jogos também podem ser aplicados para fins didáticos. “O RPGQuest, por exemplo, é usado em escolas para treinar contas de somar, subtrair, dividir e multiplicar com crianças em fase pré-escolar. O aluno fica entretido e não percebe que, ao longo de uma tarde de jogo, fará de 300 a 400 contas de cabeça”, explica. E não é apenas em educação ou entretenimento que o recurso está presente. Já existe uma espécie de gincana envolvendo aspectos lúdicos e de atividade social, semelhante ao RPG, aplicada em empresas. “Desenvolvi um sistema que foi usado algumas vezes para treinamento de grupos”, diz Marcelo. 

HERÓI MARGINAL 
AvatarSenhor dos anéisMatrixLost… Alguns sucessos do cinema e da TV são adorados por nerds e geeks e tornaram-se novos emblemas dessa tribo urbana, compartilhando o posto com clássicos, como Guerra nas estrelas e Star Trek. Para o professor de cinema da Universidade Anhembi Morumbi, Vinícius Del Fiol, a realidade paralela dessas produções é responsável pela adesão desse público específico. “É uma possibilidade de fuga, pois o mundo tão estranho e singular apresentado na ficção é capaz de acolher todas as tribos, inclusive a dos nerds”, diz. Del Fiol acredita que a figura de “herói torto”, hostilizado pela maioria, presente nesses filmes, contribui como fator de identificação. “Apesar de todo esse recolhimento, os personagens são capazes de atitudes notáveis e libertadoras. Dessa forma, eles servem como projeção para esses jovens”, conta.

Outra questão importante, segundo o professor, é que a tecnologia está presente em grande parte dessas produções. “Muitas das relações humanas nesses mundos são mediadas pelo computador, tal como na vida desses jovens. Nesse ambiente tecnológico, as pessoas têm possibilidade de experimentar um mundo fantasioso e vivências que a realidade não permite”, explica
>> REVISTA CULTURA – por Douglas Galan

DERIVAÇÃO OBSCURA
Os dicionários de língua inglesa registram os verbetes “nerd” e “geek” com significados depreciativos, como “pessoa chata” e “fora de moda”. Para o professor Bento Carlos Dias da Silva, da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Araraquara (SP), as palavras são sinônimas dentro de certo contexto. “Conforme atesta o Random House Webster’s Unabridged Dictionary, o termo inglês “geek”, datado de 1915-20 e considerado uma variante provável do termo dialetal escocês “geck” (tolo), provém do termo “gek” (louco, maluco), do holandês, que, por sua vez, provém do termo “geck” (gritos), do baixo alemão. Já o termo “nerd”, datado de 1960-65, está sinalizado nessa obra como americanismo e ‘formação expressiva de derivação obscura’”, explica. Alexandre Ottoni, do blog Jovem Nerd, concorda com a semelhança das expressões: “Nós defendemos que é tudo farinha do mesmo saco, apesar de dizerem por aí que os geeks são nerds com habilidades sociais. Talvez a diferença maior entre os dois termos seja um interesse maior dos geeks por tecnologia, gadgets, enquanto os nerds curtem mais a cultura pop de Star Wars, Senhor dos anéis, quadrinhos e literatura fantástica”, diz. Na internet, entre os diversos sites e blogs que abordam o assunto, a origem imprecisa ganha outras explicações, como o nascimento da palavra “nerd” na década de 1970 no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, ou para designar os frequentadores do laboratório Northern Electric Research and Development (daí viria a sigla), atual Nortel, no Canadá. Outra possível explicação vem da tradição oral, oriunda da palavra “knurd”, uma inversão da palavra “drunk” (bêbado em inglês, escrito ao contrário), para designar que o grupo era oposto àqueles que usavam álcool. Seja qual for a explicação, duas palavras já não bastam para classificar o heterogêneo grupo dos nerds. No site Geek Code são apresentados mais de 20 estilos de geek. “Nos dias atuais, há diversos subgrupos nesse universo, como o nerd que gosta de computadores, o que gosta de gadgets, o que gosta de estudar, o que gosta de videogames, o que gosta de RPG e assim por diante”, explica o psicólogo Márcio Amadeu, que vê “na informação especializada a um clique do mouse de distância” o motivo para o crescimento de aficionados em praticamente tudo e razão para o surgimento de mais e mais nerds. Quem resistirá ao lado geek da força? .


LÚCIFER É UMA ENTIDADE REAL OU ALGO INVENTADO PELA RELIGIÃO?

domingo | 11 | julho | 2010

Portador da Luz ou perpetuador das trevas?
Príncipe da mentira ou responsável por trazer
o conhecimento à humanidade?
Alguns o entendem como uma simples representação
de nossos demônios internos.
Outros o vêem como a personificação do Mal.
Contudo, quem é na realidade essa força chamada Lúcifer?

Segundo alguns, o mundo em que vivemos não é exatamente aquele que imaginamos. Nós não estamos salvos, como as religiões cristãs dão a entender, mas nos encontramos sob o domínio do Mal. Jesus não nos salvou com seu suplício, como a Igreja afirma, mas falhou na tentativa de penetrar em um mundo dominado por seu inimigo, ainda que tenha deixado ensinamentos compreendidos apenas por uma elite.

Tais afirmações podem parecer estranhas à maioria das pessoas, acostumadas com a noção de que o ser humano é regido basicamente pelo Bem. Na verdade, dizer o contrário pode parecer uma ficção alucinada – o que não deixa de ser verdade, uma vez que alguns escritores de ficção científica dedicaram incontáveis livros sobre a predominância do Mal no universo. Essa ideia, contudo, tem um embasamento histórico e muitos estudos já foram dedicados a ela ao longo dos tempos.
Para os adeptos dessa teoria, nós não conseguimos perceber que o mundo é controlado pelo Mal justamente porque o Mal representa o “não conhecimento”. Ele nos enreda em sua teia de ilusões e nos cega para a verdadeira natureza do planeta em que vivemos, da vida que levamos e de nós mesmos. É uma noção que, guardadas as devidas proporções, pode ser comparada à do véu de maya, presente na filosofia hindu, que nos ilude e impede de ver a realidade em todos os seus aspectos.

O conceito de ilusão, ou sobre a sedução do Mal, tem norteado uma série de atividades em nosso planeta, e talvez já fosse tempo de perceber a verdadeira natureza e o tamanho da encrenca em que nos encontramos. O século 20, por exemplo, foi fortemente marcado pela atuação política, assim como o 21 também está sendo. Para muita gente, isso é a marca indelével do Mal: ódio, guerras, mortes, massacres, violências inimagináveis, preconceito, dissimulação, escravidão, roubos descarados, pobreza, fome, a superficialidade nos relacionamentos com nós mesmos e os demais – enfim, a mentira sendo elevada à categoria de arte.

Seguindo a história, podemos citar o Gnosticismo como uma das fontes desse modo de pensar. Segundo alguns, desenvolvida na Alexandria durante os primeiros três séculos da era cristã – segundo outros, um conhecimento bem mais antigo, pré-cristão –, a filosofia se dividiu em dezenas de seitas e sofreu influência de praticamente todas as religiões existentes na época. Essas seitas entendiam, por exemplo, que o mundo material não tinha sido criado por um Deus supremo, mas pelo Demiurgo, também conhecido por Iadalbaoth, que para alguns historiadores é simplesmente Lúcifer. Tendo criado o mundo visível a partir da matéria, ele só poderia ser imperfeito. A seita gnóstica dos ofitas entendia que Iadalbaoth era orgulhoso, ignorante e vingativo.

Estava insatisfeito com sua criação e quis destruí-la por meio de Eva. Sophia, a Sabedoria, resolveu então enviar a serpente para fazer com que o homem comesse o fruto da árvore da sabedoria, sobre a qual o demônio havia fixado um tabu, desejando que o homem se mantivesse no estado de ignorância. Ao adquirir sabedoria, o homem tornou-se capaz de combater Iadalbaoth.

O Velho Testamento é visto pelo Gnosticismo como a representação dessa luta, que se estende à vinda de Cristo e sua morte, por instigação de ninguém menos que Iadalbaoth. Jesus não morreu, segundo esse ponto de vista, para nos salvar, mas para nos dar o conhecimento, a gnosis. Por outro lado, esse conhecimento limitou-se aos iniciados, que muitas vezes formaram grupos fechados, buscando preservar o conhecimento sobre a verdadeira natureza da vida no planeta.

A Queda
Segundo certos historiadores, o Gnosticismo não conseguiu se sustentar e foi massacrado sob os intermináveis debates entre as diferentes seitas, mas a discussão acerca da natureza do mundo e do Mal que nele reside continuou. O historiador Kurt Seligmann diz que essa noção de Luz e Trevas, divididas e antagônicas, travando uma luta eterna, não fazia parte das religiões da Antiguidade, nas quais o Mal participava do divino, com ambos os princípios se interpenetrando.

É assim que, na religião egípcia, o destruidor Seth surge como irmão do bondoso Osíris, e na Pérsia a entidade do Mal, Ahriman, tem como origem um pensamento duvidoso de Ormuzd, o deus da Luz. Da mesma forma, os textos apócrifos do Velho Testamento também não apresentam essa noção tão clara, embora os dogmas oficiais da Igreja tenham evoluído de forma tão radical que qualquer explicação diferente da oferecida pela Igreja Católica tornou-se passível de punição, muitas vezes violenta.

O melhor exemplo sobre a atuação do Mal segundo a visão cristã, mais especificamente a católica, é a famosa passagem bíblica sobre a queda dos anjos. Segundo a tradição, Lúcifer era a mais bela das criaturas angelicais e se rebelou contra Deus, caindo em desgraça junto com seus seguidores celestes. É apenas no Novo Testamento que Lúcifer passa a ser visto como um ser maligno, muitas vezes chamado de Satanás e uma série de outros nomes. No Antigo Testamento, ele é tido como “o portador da Luz, a estrela da manhã”, associado ao planeta Vênus.

A noção de portador da Luz significa, segundo algumas interpretações, que Lúcifer foi o responsável por trazer o conhecimento à humanidade. Só que, ao fazer isso, ele também trouxe as Trevas, uma vez que só o conhecimento pode promover a distinção entre Bem e Mal.

Estamos diante de duas propostas ligeiramente diferentes, ainda que parecidas. Se Lúcifer trouxe o conhecimento, como ele pode manter a humanidade ignorante sobre a verdadeira natureza da vida? Se o mundo é marcado pelo “não conhecimento”, pelas mentiras, ilusões e seduções criadas pelo anjo caído, ele não pode ser a bondosa entidade à qual alguns estudiosos se referem. Ou então, Lúcifer não tem poder sobre o planeta e a humanidade, mas tenta constantemente fazer com que saibamos a verdade sobre o que nos cerca.

Segundo o historiador Doucet, a presença de Lúcifer no mundo material causou vários problemas ao pensamento cristão: se Deus é onisciente e onipotente, por que permite a existência do Mal? Muitos pesquisadores entendem que essa questão é impossível de ser resolvida, e que a figura do diabo tradicionalizada pela religião não está de acordo com a realidade dos conhecimentos contidos nos antigos textos. Muitos movimentos e seitas provenientes do Cristianismo, como os cátaros, albigenses e, segundo Doucet, também a Ordem dos Templários, fundada em 1118, propunham leituras diferentes do Velho e do Novo Testamento, vendo Lúcifer como o portador da Luz, banido do Céu injustamente.

Sedução
Tudo isso posto, fica uma pergunta: de onde viria a atração pelas Trevas, que parece dominar a raça humana desde tempos imemoriais? Houve época em que inúmeros filósofos procuravam definir como seria o primeiro homem, intocado pelo Mal. Chegaram a imaginar que, em algum lugar do planeta, essa pessoa teria existido em uma espécie de paraíso terrestre.

Séculos mais tarde, os pensadores davam a impressão de ter abandonado a ideia do homem puro e decretado a morte de Deus, desiludidos com as ações humanas. Alguns chegaram a afirmar ter visto a face do demônio esculpida a fogo no cogumelo formado por uma explosão atômica, como se Lúcifer estivesse mostrando ao mundo, de uma vez por todas, quem mandava no pedaço.

Os psicólogos, por sua vez, passaram a explicar que Bem e Mal se encontram dentro de nós, e que todas as histórias sobre a queda do homem são uma representação inconsciente de nossa própria incapacidade para lidar com o meio ambiente, para domar nossos demônios interiores. Ainda seguindo essa ideia, Lúcifer e Deus seríamos nós mesmos, e jogar numa entidade suprema a culpa do que é ruim não passaria de uma desculpa para justificar nossos erros, que vêm se repetindo há milênios.

Muitos pesquisadores propuseram uma outra alternativa, imaginando que os deuses de antigamente eram, na verdade, de carne e osso, ou quase isso: seres vindos de outros planetas, com elevado conhecimento científico e tecnológico, que lutavam para dominar a Terra pelos mais variados motivos. Os aspectos gerais dessa luta teriam sido gravados em nossa memória ancestral, e o tempo se encarregou de fornecer explicações místicas ou religiosas para algo que não conseguíamos compreender.

As linhas que estudam a possível presença de OVNIs e seres extraterrestres em nosso planeta entendem que essa situação continua existindo até hoje. São inúmeros os relatos de conflitos entre diferentes raças extraterrestres – algumas compondo governos paralelos do planeta, conspirando com seres humanos para o controle total da humanidade, enquanto outras tentam impedir que tal situação se concretize.

A ficção científica encampou essas idéias e as apresentou em livros muito interessantes. O escritor cristão C.S. Lewis, por exemplo, imaginou que cada planeta tinha o seu próprio deus, e que o deus da Terra havia se tornado maléfico. Para conter suas ações, as demais divindades o isolaram, bem como o planeta, de certa forma confinando o Mal. Philip K. Dick, autor de Blade Runner, baseou-se no Gnosticismo para imaginar o Bem e o Mal como forças reais, brigando pelo poder no universo. Segundo ele, o Mal realmente domina a Terra, impedindo que o Bem entre, a não ser por meio de uns poucos enviados e algumas mensagens, como a de Jesus Cristo – que, no entanto, não impediram que o planeta continuasse fechado às ações mais efetivas do Bem. O escritor chegou a imaginar que os emissários do Bem teriam colocado uma espécie de satélite em órbita terrestre, enviando mensagens às pessoas que as conseguissem captar, e em determinada época de sua vida afirmou ter recebido uma dessas mensagens. Estamos falando de uma civilização tecnológica extremamente avançada, cujos conhecimentos científicos nos pareceriam, mesmo nos dias atuais, pura magia. Carl Sagan referiu-se a essa possibilidade em seus estudos sobre vida em outros planetas, imaginando uma civilização tão adiantada que não nós teríamos base para sequer começar a entender sua ciência.

E a sensacional escritora Doris Lessing, uma das maiores escritoras vivas, elaborou uma série de livros que se inicia com Shikasta, nos quais a Terra é vista como foco dos interesses de duas forças opostas. A do Bem é representada por Canopus, e a do Mal por Shammat. Devido a um desalinhamento cósmico, as energias passam a fluir de forma negativa no planeta, e Shammat aproveita para fomentar situações de conflito, uma vez que se alimenta dessas forças.

Conflito
Estudiosos dizem que a atração pelo Mal, e mais especificamente, a atração pela figura de Lúcifer, representa uma possibilidade de transgressão numa sociedade excessivamente ordenada, repleta de dogmas e proibições. Em seu livro As Seitas Luciferinas de Hoje, Jean-Paul Bourre vai mais além e diz que o luciferismo foi uma ciência autêntica, que buscava a reconquista dos poderes perdidos, um saber que permitiria ao homem transgredir as leis do tempo e tornar-se igual aos deuses. O ser humano tem natureza divina, mas com a queda se esqueceu de seu passado, que pode ser relembrado e desperto por meio de ensinamentos específicos.

Os que defendem a presença de extraterrestres no passado longínquo de nosso planeta vêem nesse ponto de vista um exemplo claro de suas ideias. Ao longo da história das culturas, em praticamente todos os pontos do mundo, sempre existiu um ser superior que trouxe conhecimentos fantásticos e possibilitou o desenvolvimento das civilizações. Tem sido assim desde a Suméria, com o deus Oannes, que veio do mar para ensinar a escrita, a matemática, a agricultura, a arquitetura, a astronomia e muito mais. Outros seres, que vinham de outros espaços, entendiam que a humanidade deveria permanecer intocada, desenvolver-se por conta própria, e a divergência resultou num conflito que se estendeu a praticamente todo o planeta. E que ainda não chegou ao seu fim.

Não é por acaso que muitos pesquisadores falam da destruição nuclear de Sodoma e Gomorra, entre outras cidades da Antiguidade; ou que Charles Fort (1874–1932), autor do Livro dos Danados, afirmava que uma guerra estava sendo travada no espaço próximo à Terra, e que as sobras desse confronto estavam caindo no planeta; ou que o psiquiatra Wilhelm Reich (1897–1957) afirmava categoricamente que dois tipos diferentes de extraterrestres estavam se digladiando nas imediações do mundo em busca do orgônio. Claro que nem todo mundo concorda com essas ideias, mas é quase uma unanimidade o fato de que o conflito entre duas forças antagônicas – ainda que não necessariamente de naturezas opostas – esteja em curso. O problema é que nós estamos no meio e, talvez, sejamos o prêmio.

Mas, afinal, será possível determinar a real situação do mundo em que vivemos? Que entidade ou deus domina nosso planeta, se é que isso realmente acontece? Se Lúcifer, que teria sacrificado a eternidade pelo mais nobre dos ideais – trazer a Verdade e a Luz aos homens como parte de sua rebelião contra o poder opressivo de seu criador –, foi realmente transformado em Satanás, uma criatura de puro ódio, podemos dizer que ele está fazendo um trabalho muito bom. Sua ação tem sido tão efetiva que nunca na história conhecida da humanidade houve um período sem guerras e destruições – muitas delas levadas a cabo por aqueles que se diziam os representantes do Bem na Terra. E a situação chegou a tal ponto que vários cientistas acreditam ser impossível reverter o processo de envenenamento e destruição do planeta.

Com frequência temos ouvido que a Nova Era está trazendo novas formas de pensamento à humanidade. Por outro lado, o que podemos constatar é que a sedução e os argumentos do Mal nunca estiveram tão fortes e divulgados, a ponto de ser difícil perceber, dentro dos próprios movimentos tidos como “do Bem”, a verdadeira natureza das coisas. Por outro lado, esse período tão conturbado e de tantos conflitos também parece trazer consigo oportunidades únicas de crescimento. Conhecimentos que, até pouco tempo, só eram acessados por alguns poucos, estão sendo oferecidos abertamente. Hoje não é mais necessário passar por árduos períodos de treinamento, ou viajar até as gélidas imensidões do Himalaia para receber uma iniciação espiritual. Em muitos casos, ela pode ser obtida na casa ao lado da sua.

Em outras palavras, enquanto a atração das sombras parece estar no apogeu, as portas da Luz se escancaram. E por mais irônico que pareça, segundo o pensamento de muitos, a única coisa capaz de permitir ao homem escolher entre esses dois caminhos é justamente aquilo que Lúcifer, o chamado perpetuador das Trevas, trouxe para o mundo depois de sua queda: o conhecimento entre o Bem e o Mal.

Erro de Interpretação
Para certos estudiosos é preciso separar luciferismo de satanismo. O primeiro se define como uma busca por conhecimentos ocultos; o segundo seria uma forma deturpada de magia, que já foi origem de muitos atos de violência e assassinatos. Jean-Paul Bourre levanta essa questão ao analisar os desvios tipicamente humanos que motivam, por razões unicamente pessoais, alguns indivíduos a interpretar os rituais à sua própria maneira, transformando-se em monstros cruéis na realização de rituais de sangue sem qualquer sentido prático.

O puro e simples desejo de poder, supostamente conferido pela suprema autoridade do Mal, nada tem a ver com a recuperação de conhecimentos ancestrais. Segundo Bourre, portanto, a verdadeira razão para a queda de Lúcifer foi despertar o homem para sua própria divindade.

Muitos historiadores confirmam que os cultos a Satã desenvolveram-se, em grande parte, devido à própria ação da igreja – além de tornar o diabo atrativo, ela impôs uma série de dogmas que, entre outras coisas, proibiam a utilização de conhecimentos antiquíssimos. Esses cultos tornaram-se, então, uma espécie de anticlericalismo. As formas horrendas atribuídas ao demônio e aos seus auxiliares surgiram justamente nessa época.

Seligmann diz que o século 13 foi o período de maior prosperidade para o diabo, quando ele passou a ser apresentado, definitivamente, como a antítese do Bem.
>> VIMANA – por Gilberto Schoereder


“VAMPIRE SUCK”: PRIMEIRO TRAILER DA SÁTIRA DE “CREPÚSCULO”

sexta-feira | 9 | julho | 2010

Até que demorou um pouco, se levarmos em conta que Hollywood produz paródias de seus filmes mais famosos tão rápido quanto possível, mas Vampires Suck, filme que tira sarro da saga Crepúsculo, está prestes a estrear nos EUA.

A 20th Century Fox lançará o filme no dia 18 de agosto e o primeiro vídeo acaba de ser revelado.

Seguindo a tradição do gênero, não só Crepúsculo vira alvo, mas outros famosos filmes e ícones pop recentes também são vítimas, infelizmente sem o mesmo brilho das paródias do anos 80.

Vampires Suck tem direção de Jason Friedberg & Aaron Seltzer e traz no elenco Ken Jeong, Matt Lanter, Anneliese van der Pol, Charlie Weber, entre outros.
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


“CLUBE DE VAMPIROS”: CHEGA AO BRASIL O TERCEIRO LIVRO QUE INSPIROU A SÉRIE “TRUE BLOOD”

sexta-feira | 9 | julho | 2010

Eventos de “Clube dos Vampiros” coincidem
com trama da terceira temporada

Clube dos VampirosO selo Benvirá, da editora Saraiva, está publicando no Brasil Clube dos Vampiros (Club Dead), a continuação deVampiros em Dallas e terceiro volume da série As Crônicas de Sookie, que deu origem à série de TV True Blood.

O volume três das histórias escritas por Charlaine Harriscoincide com os eventos narrados na terceira temporada da telessérie, atualmente sendo exibida na HBO dos EUA e do Brasil. Não por acaso, a capa do livro usa um pôster do ano três nas telinhas.

Clube dos Vampiros tem 256 páginas e preço sugerido de R$39,90. O livro foi publicado nos EUA em 2003. Ao todo, até agora, a série literária tem 11 volumes.
>> OMELETE – por Marcelo Hessel


“SALOMÃO VENTURA, CAÇADOR DE LENDAS: A MALDIÇÃO DO SACI”

sexta-feira | 9 | julho | 2010

 

Esqueça a versão infantilizada do personagem saltitante, de uma perna só, de cachimbo na boca e gorro vermelho na cabeça

Em “Salomão Ventura, Caçador de lendas: A maldição do saci!” (PB, 24 páginas, R$ 3), HQ independente de Giorgio Galli, o moleque é uma figura assustadora e apenas o primeiro de uma série do autor inspirada em “Geografia dos mitos brasileiros”, do folclorista Luís da Câmara Cascudo.

Mas o saci não é o personagem principal da HQ de terror (premiada em concurso do gênero promovido pela empresa de telefonia Oi), e sim Salomão Ventura, o caçador de lendas do título, que parece ser um John Constantine tupiniquim. O curupira será a aterrorizante estrela do próximo número.
>> GIBIZADA – por Télio Navega


“ESCRITORES DE LIVROS DE VAMPIROS SÃO BEM NORMAIS NO FUNDO”, DIZ ANDRÉ VIANCO

sábado | 3 | julho | 2010

Escritor André Vianco vendeu mais de 500 mil livros no Brasil; publicou 14 pela Novo Século e agora é autor da Rocco também.

Arrastar uma sequência frenética de acontecimentos para deixar o leitor apaixonado pela história. É desta forma que o escritor André Vianco prende o leitor não só pelo pescoço, com suas tramas vampirescas, mas pela curiosidade.

Vianco já vendeu mais de 500 mil livros no Brasil. É um dos autores mais conhecidos pelo público, que tem apreço pelos seres da noite.

Especialista em narrativas de suspense, o autor agora também publicará seus livros pela editora Rocco, além da Novo Século. O escritor faz questão de honrar os fãs e agradecê-los pela repercussão de seus exemplares.

Seu primeiro livro, “Os Sete”, caiu nas leituras do público graças à sua persistência. Desempregado, chegou a vendê-lo de porta em porta até que conseguiu uma editora. Hoje, tem 14 títulos publicados, dois a caminho e uma trilogia prevista para 2011, além de um piloto para adaptar os volumes de “O Turno da Noite” para a televisão.

Em entrevista à Livraria da Folha, Vianco fala sobre a literatura de horror no Brasil, os vampiros adolescentes que ocupam as prateleiras e a atração que essas criaturas exercem sobre as mulheres.

*

Livraria da Folha: Por que você decidiu escrever sobre vampiros?
André Vianco: Eu desde pequeno assistia e lia muitas histórias de terror. O vampiro dividia um espaço ali no panteão das criaturas noturnas, lado a lado com lobisomens, almas penadas e congêneres. Quando cheguei à adolescência, comecei a escrever minhas histórias e aos 23 anos de idade eu escrevi meu primeiro romance pra valer, carregado por anjos e demônios em guerra [“O Senhor da Chuva” ] e, quando terminei esse primeiro livro, pensei, agora quero escrever uma história de vampiros, foi aí que surgiu “Os Sete” em minha cabeça.

Como foi o processo de criação dos seus primeiros livros? Qual foi o primeiro livro de vampiros que você leu? Gostou, se identificou?
O processo de criação dos primeiros livros foi bem espontâneo, aquela coisa de experimentação, de não saber muito bem como é que se faz a coisa, mas tendo dentro de mim uma vontade danada de contar uma história. A primeira coisa que li sobre vampiros nem romance era, foram HQ’s da “Cripta do Terror”, adorava aquilo.

O que você acha da retomada da produção literária de romances com temática de vampiros?
Nem enxergo muito isso como uma retomada, quem gosta de literatura de terror e fantasia nunca passou vontade quando o assunto era vampiro, sempre tem um livro ou outro saindo por aí que aborde os sanguessugas. Meu primeiro livro de vampiros saiu em 2000, “Os Sete”, de lá para cá já bateu os 100 mil livros vendidos.

Você já leu “Crepúsculo”? O que você acha da escrita da Stephenie Meyer?
Li um trecho do primeiro romance. Dá pra ver que ela é uma boa contadora de histórias e acertou em cheio com a saga Crepúsculo.

Como você explica o sucesso desses romances com o público feminino?
No meu entender, creio que isso vem acontecendo desde que o cinema aplicou suas fórmulas comerciais nos filmes com vampiros, aos poucos eles foram deixando de ser os monstros terríveis que eram para passar a disputar a mocinha com mocinho e bem, agora, com os livros da Meyer, encarnaram o próprio mocinho. Toda mulher sonha em ter na vida um parceiro maravilhoso. Edward não é adorado só porque tem super poderes vampíricos, é adorado porque é super parceiro, super romântico e etc.

Concorda com aqueles que acusam esses novos autores de deturparem o mito do vampiro?
Não, não concordo. O mito do vampiro é mutante por natureza e acho que em literatura e cinema vale muito extrapolar, subverter o mito, buscar um jeito diferente de contar a mesma história.

O que você acha da produção de literatura de terror/horror no Brasil?
Acho que está crescendo em volume e qualidade, mas essa produção ainda se ressente de um pouco mais de ousadia. Falta ousar escrever histórias mais piradas. A maioria dos escritores fica olhando demais o que andam fazendo lá fora e tentando emular aqui no Brasil.

Você tem planos de escrever livros que não sejam de temas sobrenaturais?
Sim, tenho. Uma coisa que não me falta é ideia para uma boa história. Da última vez que contei, tinha mais de 70 argumentos para desenvolver uma narrativa. E no meio disso tenho comédias, roteiros de cinema, peças de teatro, séries para TV, romance sertanejo, tem de tudo um pouco.

Você tem contato com outros escritores brasileiros que tratam de vampiros? Se sim, conte-nos como é.
Tenho contato com colegas que escrevem um bocado e escrevem bem, como Kizzy Ysatis, Giulia Moon, Martha Argel, Nelson Magrini e muitos outros. Frequentamos eventos ligados ao terror e fantasia e, vira e mexe, acabamos numa mesa de bar, batendo papo. Escritores de livros de vampiros são bem normais no fundo, no fundo.

Por que decidiu mudar da Novo Século para a Rocco? Perguntamos, porque durante sua palestra na Bienal do Livro do RJ 2009 você declarou que havia recebido várias propostas, mas permaneceria na Novo Século.
Permaneceria e permaneci. Não mudei da Novo Século, primeiro porque tenho uma relação que transcende o mero contato profissional. A Novo Século acolheu meus textos, me orientou no início da carreira e continua fazendo isso até hoje, é uma editora e tanto. A Rocco chegou para ampliar meus horizontes e não tenho a menor dúvida de que será uma parceira de tanto valor quanto a da Novo Século.

Você continuará publicando também pela Novo Século. Gostaríamos de saber se haverá alguma diferença entre os tipos de narrativas publicadas pela Novo Século e pela Rocco?
A Rocco irá trabalhar com meus textos novos de fantasia, romance romântico e contos. Temos um projeto muito interessante que será trabalhado ao longo dos próximos anos, é um projeto grande e desafiador. A Novo Século continuará publicando minhas histórias de terror. Para o leitor, resta a certeza de que tem muita história boa vindo por aí e tratada por boas mãos.

Você está produzindo um episódio piloto de uma série televisiva baseada nos três volumes de “O Turno da Noite”. Será exibido em qual canal? Você teve que realizar muitas mudanças para adaptar a narrativa ao roteiro que lhe foi exigido?
Existem alguns canais interessados, mas a série ainda não foi vendida. Como ainda é um projeto independente, pude trabalhar mudando pouquíssima coisa, mais ajustando para a linguagem e aos meios de produção.

“O Caso Laura” será lançado quando pela Rocco? É um livro policial, certo? Fale um pouco sobre a história.
Exato. “O Caso Laura” é um policial dark, bem misterioso. A história gira justamente ao redor de Laura, que toda tarde, na hora de seu almoço, se encontra com um homem. Quando o investigador particular contratado para flagrar Laura passa a prestar a atenção nesse estranho homem é que a coisa pega fogo. Não posso falar muito mais do que isso, do contrário o mistério perde a graça.

Já “A Noite Maldita”, seu décimo título sobre vampiros para a Novo Século, sai quando?
Passei da metade de “A Noite Maldita”, mas ainda não tenho uma previsão para o lançamento, o que sei é que sai neste ano ainda.
>> FOLHA DE SÃO PAULO – por Paula Dume


“A TRÍADE”: ESPADA TEMPLÁRIA É PRÊMIO DE GINCANA FANTÁSTICA NO RPGCON 2010

quinta-feira | 1 | julho | 2010

A busca pela espada d’A Tríade

Quer ganhar a réplica de uma espada templária?

Você pode conseguir participando da jornada em busca dos segredos de A Tríade no RPGCON 2010.

A corrida pelos prêmios vai acontecer durante o evento. O campeão será presenteado com a verdadeira espada de André de La Rochelle, o último templário, e receberá o romance A Tríade em casa, antes de todo mundo. E os nove que chegarem depois dele, não se arrependerão.

No entanto, a pesquisa pelos mistérios já começa agora.

Esteja preparado.

Qual é o meu domínio?

Para te ajudar, espalharam-se pistas por todos os cantos da ciberrealidade.

Além de serem aperitivos especialmente preparados pelos autores, cada uma delas também é um enigma.

Procure os textos e responda:

  • Qual o nome do anjo injustiçado?
  • Qual é a cor do manto do mercenário francês que serve aos Templários?
  • Qual o nome do Rei?
  • Que relíquia foi encontrada pelos nove?
  • Quem é o portador de pragas?

Então, envie a resposta de cada enigma para o email enigma@atriade.com.br

Para cada resposta certa você receberá um pedaço do pergaminho onde está escrita a resposta para o enigma principal: qual é o meu domínio?

Quem tiver a resposta desse primeiro segredo estará muito mais perto da conquista final durante o evento.

Entretanto é bom que saiba que, independente de qualquer resultado, sua jornada só está começando.

“Não tema nada, a morte é o destino do homem”

[abaixo os cinco links para hiperlinkar com as palavras sublinhadas da frase: “Para te ajudar, espalharam-se pistas por todos os cantos da ciberrealidade]

http://www.paragons.com.br/busque-a-triade-na-rpgcon/#comments

http://www.ogoblin.com.br/2010/06/a-triade-dica-exclusiva/

http://rpgdm.erickpatrick.com/sede-de-vinganca/

http://www.roleplayer.com.br/site/2010/06/a-triade/

http://d3system.com.br/um-anjo-um-templario-e-um-vampiro/


VAMPIROS, ZUMBIS E LITERATURA CIENTÍFICA

quinta-feira | 1 | julho | 2010
Robert Pattinson e Kristen Stewart? Não, Christopher Lee e Barbara Shelley!

Robert Pattinson e Kristen Stewart? Não, Christopher Lee e Barbara Shelley!

 Confesso que não sinto lá muito apreço pela “Saga Crepúsculo”. Isso provavelmente tem uma causa geracional: tendo assistido, no fim da adolescência, à transformação dos vampiros, de monstros vorazes, em emos incompreendidos — sim, meninos, eu estava lá no auge da Era Anne Rice — vejo que acabo sentindo falta dos primeiros e com muito pouca paciência para os segundos. Ainda mais porque o papel de monstro-voraz-e-contagioso acabou sobrando para os zumbis, no geral estúpidos demais para render bons vilões.

(Repare que na esmagadora maioria dos filmes de zumbi, o verdadeiro vilão é um ser humano ou uma característica humana — orgulho, vaidade, cobiça, covardia…)

Mas, enfim: a estreia do novo blockbuster vampirístico me fez lembrar de dois artigos científicos que andaram chamando atenção na imprensa em anos recentes, porque usam monstros cinematográficos como parte essencial do argumento

O mais antigo, de 2007, chama-se Cinema Fiction vs Physics Reality: Ghosts, Vampires and Zombies (”Ficção cinematográfica versus realidade: Fantasmas, Vampiros e Zumbis”), e chegou a ser uma espécie de “hit” de Halloween, quando foi apresentado como recurso educacional para o ensino de ciências.

A parte a respeito de vampiros, por exemplo, rende uma boa aula (ou questão de prova!) sobre progressão geométrica. Os autores supõem que, no início do ano 1600,  havia apenas um vampiro no mundo, que a população humana mundial em 1600 era de cerca de 580 milhões e que cada vampiro transforma um ser humano normal em outro vampiro a cada mês.

Isso leva à extinção da raça humana em junho de 1602.

O segundo artigo, mais recente — de 2009 — rendeu até matéria na Wired. Com o título When zombies attack!: Mathematical modelling of an outbreak of zombie infection (”Quando zumbis atacam!: Modelo Matemático de uma epidemia de infecção de zumbi”), ele usa a zumbificação para criar um modelo abstrato que, segundo os autores, poderia se aplicar a situações como o caso de doenças que demoram a se manifestar ou “aliança a partidos políticos”.

(Pois é: matematicamente, decidir apoiar um partido político pode ser indistinguível de ter seu cérebro devorado por um morto-vivo. Por que isso não me surpreende?)

Uma última nota: além de significar um morto ressuscitado,  o termo “zumbi” é usado, em filosofia da mente e da consciência, para se referir a uma entidade hipotética que seria idêntica, em suas ações e reações observáveis, a um ser humano, mas totalmente desprovida de subjetividade — uma espécie de androide capaz de rir, chorar, conta piadas, fazer sexo mas incapaz de realmente vivenciar alegria, tristeza, saborear humor ou sentir atração. O debate em torno  da possibilidade (ou impossibilidade) prática e conceitual desse tipo de criatura é muito interessante, mas não cabe neste blog.
>> O ESTADO DE SÃO PAULO – por Carlos Orsi


“ACADEMIA DE VAMPIROS” RUMO AOS CINEMAS

quarta-feira | 30 | junho | 2010

Preger Entertainment comprou os direitos de adaptação para o cinema de Vampire Academy, série de livros escrita por Richelle Mead que no Brasil é publicada pela editora Nova Fronteira com o nome Academia de Vampiros.

A série infanto-juvenil, um best-seller am vários países, lida com o crescimento de seus personagens em meio a aventuras e romances paranormais. Além de vampiros, o elenco traz elementos de fantasia, alquimia e magia.

A personagem principal é Rose Hathaway, uma Dhampir, meio humana e meio vampiro. Ela é a guardiã dos Moroi, uma raça de vampiros mágicos, mas pacífica e mortal. Os Moroi se alimentam de doadores voluntários de sangue, podem se locomover de dia, envelhecer e morrer quase normalmente.

Escondida nas floresta de Montana está a Academia São Vladimir, onde os Moroi e Dhampirs aprendem seus lugares na sociedade. Rose tem que dominar suas habilidades como Dhampir e conseguir a aprovação do Conselho Real como guardiã daPrincesa Lissa. Rose e Lissa são melhores amigas e essa última é a única herdeira de uma das doze famílias reais dos Moroi. Fora da Academia está o maior perigo de todos: os Strigoi, uma raça de vampiros imortais, sedentos de sangue e predadores dos Moroi.
>> HQ MANIACS – por Leandro Damasceno


“RELAÇÕES DE SANGUE”, DE MARTHA ARGEL: CLÁSSICO DA LITERATURA BRASILEIRA DE VAMPIRO É LANÇADO EM NOVA EDIÇÃO

segunda-feira | 28 | junho | 2010


Maria Clara Baumgarten levava uma vida bem normal, até conhecer a vampira Lucila, cujos olhos castanhos grandes e inocentes enganariam até o mais desconfiado dos humanos, quanto mais a pobre Clarinha.

Um vampiro traz o outro, e logo ela está às voltas com Daniel, um inescrupuloso vampiro de programa. Moreno, alto, bonito e sensual, ele precisa da ajuda das duas para encontrar o assassino em série que está atacando suas “clientes”.

Mas… e se o assassino encontrar Clara primeiro?

Relações de Sangue é um clássico da literatura vampírica brasileira. Publicado originalmente muito antes da recente febre de vampiros, o romance de estreia deMartha Argel ainda é adorado por uma legião de fãs.

Num estilo ágil e bem humorado, Relações de Sangue traz uma história de mistério, suspense e sedução ambientada na São Paulo dos dias de hoje, capaz de prender a atenção do início ao fim.

Com esta nova edição, uma vez mais a Giz Editorial brinda os leitores com a prosa elegante e tão característica de Martha Argel, que já há algum tempo firmou-se como um dos nomes mais importantes da Literatura Fantástica nacional.
>> CRIANDO TRESTÁLIOS – por Cristiano Rosa

E não deixe de acompanhar o blog da autora.


LEITORES FINANCIAM EDITORA BELGA

sexta-feira | 25 | junho | 2010

SandaweA editora belga Sandawe foi criada por Patrick Pinchart, que foi editor-chefe da revista Spirou de 1987 a 1993.

O que diferencia a Sandawe das outras editoras é a sua proposta de financiamento para publicação de novas HQs. A Sandawe está financiando suas publicações com dinheiro dos leitores, usando o conceito de crowdfunding.

Crowdfunding é um conceito no qual um grupo – geralmente grande – de interessados, neste caso os leitores de HQs, financiam projetos que de outra forma não se tornariam realidade, com quantias pequenas.

No caso da Sandawe, os autores de uma história em quadrinhos propõem sua publicação aos “investidores” anunciando o resumo do enredo e divulgando imagens das páginas. À medida que o projeto gera interesse, os leitores anunciam sua intenção de investir € 10,00 (R$ 22,00) na HQ.

No mercado francófono, esse valor está próximo do preço de um álbum. Um volume de Asterix, por exemplo, custa aproximadamente € 8,50 (R$ 18,70) por exemplar. Tintim custa € 10,50 (R$ 23,10). Alguns álbuns estão um pouco acima desta faixa e são vendidos a € 13,50 (R$ 29,70).

A primeira HQ financiada por este esquema será Il Pennello, de Allais e Serge Perrotin, que conseguiu arrecadar 36 mil euros (R$ 79.200,00) depois de cinco meses de financiamento. O álbum terá 80 páginas.

Outros dez projetos estão com financiamento em curso usando este esquema. Outras vantagens do crowdfunding é a possibilidade imediata de ver o interesse do público no álbum; e a divulgação da HQ feita pelos “investidores”, que participam ativamente do “boca a boca”.
>> UNIVERSO HQ – por Sérgio Codespoti

Um preview de Il Pennello pode ser visto abaixo